Quadrilha de Sádicos é mais um dos bons filmes de Wes Craven que miram a desconstrução do sonho americano. Sua historia narra uma viagem para a California, de uma família de Cleveland, os Carter de Cleveland e no caminho eles se deparam com um bando de canibais mal intencionados e de aparência deformada.
Tal qual foi em Aniversário Macabro, lançado cinco anos antes, o elenco é formado por atores inexperientes ou sem grandes dotes, que estão no filme apenas para registrar como uma pessoa normal agiria em um momento de desespero.
O roteiro de Craven possui diálogos expositivos e situações típicas de filmes de terror, mostrando o sujeito da urbano subestimando a inteligência e a malícia de quem mora longe dos grandes centros.
O diretor distribui ao longo da trama pistas do que acontecerá, deixando pequenos indícios das tragédias que ocorrerão em pequenos elementos de tela.
Boa parte do efeito surpresa é anulado com a tentativa dos personagens nativos em alertar os turistas do perigo que se avizinha, inclusive com apelação para o tipo de personagem conhecido como Crazy Joe, ou o velho louco, que normalmente destaca que o perigo está rondando os heróis da jornada.
Depois da estreia de Craven como diretor de filmes "normais" e do circuito comercial comum - ele havia feito algumas participações no cinema pornográfico underground - claramente houve a intenção de abrir mão da violência extrema, ao menos em comparação com o filme de 1972. A fala do diretor é de que ele havia sido mal interpretado:
"Aquele filme (Aniversário Macabro) foi tão controverso que as pessoas me olhavam como se eu fosse louco. Eu não queria fazer outro filme de horror. Resisti até que estava quebrado financeiramente, e então (Peter) Locke me procurou novamente e disse para escrever uma história sobre o deserto“,
O enfoque em Quadrilha dos Sádicos é na crueldade humana e isso se estabelece através de sentimentos básicos: o primitivismo e a selvageria. Para dar esse enfoque é mostrado um bando de pessoas excluídas que retribuem o mal e a rejeição que sofreram a vida inteira, além de referências de que os habitantes do deserto são assim por conta de ações dos ditos normais, que fizeram muitos testes nucleares pela área.
A sua maneira, os monstros se vingam dos descendentes brancos dos exploradores. Eles fazem o papel não só das vítimas de experiências macabras e irresponsáveis, mas também o dos indígenas nativos da América, simbologia essa bem presente nas roupas e signos indígenas que a tal família usa.
As criaturas são mostradas timidamente, a luz apenas do luar ou das chamas das fogueiras no início. Destaque para o ator Michael Berryman, contumaz parceiro de Craven, que tem aqui um papel de considerável importância, mas longe de ser um protagonista mesmo entre os vilões.
Os homens da família Carter parecem não entender a tragédia nem mesmo quando seus parentes começam a perecer. As reações deles não são de pessoas que perderam entes queridos ou que testemunharam o deflorar de suas mulheres, longe disso, parecem anestesiados, alienados de sentimentos mundanos.
Essa questão abre duas possibilidades, ou eles estavam assim por causa do choque, tão grande em essência que paralisa os personagens e os deixa sem reação (o que seria compreensível) ou os atores não tinham dotes dramáticos o suficiente para representar gente tão fragilizada. O pêndulo parece pender mais para essa última possibilidade.
Há de lembrar também que o orçamento do filme era baixo, de pouco mais de 200 mil dólares, e a equipe tinha em torno de dez pessoas na produção. A atenção maior estava claro nos aspectos técnicos, na construção de uma atmosfera crível - e acertada- e na exímia maquiagem de Dave Ayres e Ken Horn. O foco nas atrocidades certamente resultou numa baixa atenção nas atuações como um todo.
Se na década de 1960 o espírito era de paz e amor com os hippies, no cinema da década de 1970 havia uma predileção pela desesperança e pela valorização do vazio existencial.
Craven consegue trazer uma obra que mostra a desolação sentimental da família americana, dilacerada e vilipendiada, se valendo do que sobrou dos Carter para fazer um comentário sobre os tempos sombrios de 77, e colocar dois tipos de pessoas se enfrentando até a morte, tal qual as batalhas de gladiadores do Coliseu.
Quadrilha de Sádicos captura a indignação de sua geração, apelando para uma violência sensacionalista que condiz com o caldeirão cultural de sua época, e mesmo sem garantir tanto sucesso ou notoriedade ao seu realizador, certamente ajudou a traçar tendências dentro exploitation do terror dos Estados Unidos nos anos seguintes.