Estreia nesta sexta-feira em todo o Brasil, A Sombra do Inimigo, novo longa que tem Alex Cross, personagem dos livros de James Patterson, como protagonista. O filme na verdade é um reboot da franquia, anteriormente representada nos cinemas por Beijos que Matam e Na Teia da Aranha, ambos com Morgan Freeman no papel central. Na nova produção, Cross é vivido por Tyler Perry. Mas a função deste post é revisitar os anteriores para tentar jogar uma luz sobre o que esperar deste reinício.
Beijos que Matam – É 1997, apenas 2 anos após Se7en, de David Fincher, chegar aos cinemas trazendo uma história original sobre um serial killer que ainda encontrava espaço para filosofia e comentários sociais. Beijos que Matam tenta capitalizar com o sucesso do longa trazendo inclusive, um de seus atores para viver o personagem principal. A escolha de Morgan Freeman foi certeira, assim como a escolha do livro, que nem é o primeiro com Alex Cross resolvendo crimes. Obviamente, outra trama com um assassino em série é muito mais chamativa do que uma história sobre seqüestro de crianças. O problema é: enquanto em Se7en sobrava ambição e competência, Beijos que Matam não consegue sair do básico ou do medíocre. A película, dirigida por Gary Fleder, traz o psicólogo criminal se envolvendo numa caçada ao assassino Casanova, que seqüestra jovens universitárias. Uma das garotas seqüestradas é sobrinha de Cross, o que dá ao caso um aspecto pessoal que por conta do roteiro falho, não é levado muito em consideração, apenas quando a história pede. O filme ainda traz Ashley Judd como uma sobrevivente do criminoso que está disposta a ajudar em sua captura. Freeman parece interessado a se distanciar de seu Sommerset da obra de Fincher e não demonstra os traços de niilismo ou falta de esperança na sociedade. Muito pelo contrário. Cross é mostrado como alguém disposto a dar aulas de boxe à jovens carentes ou se arriscar em uma negociação para fazer a justiça prevalecer. O ator carrega praticamente tudo nas costas graças ao seu habitual carisma e sua capacidade em interpretar personagens sinceros e inteligentes. Há bons momentos de suspense, que acabam remetendo à outra obra cinematográfica, O Silêncio dos Inocentes, mesmo sem o mesmo nível de qualidade. Beijos que Matam tem falhas, segue uma cartilha mais do que batida de narrativa e não entrega nem metade do que poderia, principalmente levando em conta a competência de seu ator principal. Mas, a história é interessante o suficiente pra manter o espectador atento.
Na Teia da Aranha – Lee Tamahori é o responsável por comandar esta adaptação, agora sim, do livro que apresentou Alex Cross para o mundo. Sem qualquer vestígio de continuidade, além da presença de Freeman e do ator Jay O. Sanders como um agente do FBI que havia aparecido também no anterior, é aqui que tudo desmorona. Se o primeiro longa era formulaico e sem muito a oferecer, senão duas horas de suspense sem compromisso, Na Teia da Aranha é uma bagunça total. Inúmeros plot twists, furos de roteiro e situações constrangedoras (como a “pegadinha” entre o casal de sequestradores) sondam a produção a todo o momento. É inconcebível que um personagem inteligente e culto como Alex Cross demore tanto para, por exemplo, estabelecer um paralelo entre o seqüestro da filha do senador com o caso semelhante do bebê Lindbergh (mesmo com tantas pistas). Sem entregar motivações convincentes para os vilões, o longa se perde numa trama cheia de reviravoltas desinteressantes. Apenas Freeman se leva a sério a ponto de fazer valer a sessão. E é uma pena o ator se dedicar tanto a um roteiro tão ruim. Mas não é apenas com o texto que Na Teia da Aranha sofre. A direção confusa de Tamahori, que falha miseravelmente em estabelecer a geografia de uma rua na sequência da Embaixada Russa (tentem entender a distância do carro de Cross até o local em que o seqüestrador tenta raptar o garoto) e a pesada e equivocada trilha de Jerry Goldsmith também ajudam a tornar a obra uma experiência mais do que aborrecida.
Com isso, as expectativas para A Sombra do Inimigo não são as melhores. A verdade é que os livros de James Patterson não são obras-primas da literatura e irão render, no máximo, um entretenimento barato. Duas horas de um sábado a noite sem muitas opções de diversão, por exemplo. Independente de qualquer coisa, uma continuação já foi encomendada pelo estúdio, que pretende manter Tyler Perry na pele de Alex Cross. Já que a vontade para continuar a franquia é tanta, quem sabe um dia alguma idéia possa surgir para entregar uma adaptação que, mesmo se distanciando do material original, possa trazer um pouco de ambição a este universo de crimes.