A canção do cisne. Não é fácil colocar American Horror Story no mesmo patamar narrativo das séries atuais. A criação máxima de Ryan Murphy e Brad Falchuck tem uma cadência peculiar na condução de suas tramas, que sempre dita o tom da nova antologia de forma cirúrgica e impressiva. Bullseye e Test of Strength são justo as duas horas determinantes deste quarto ano, e não é coincidência que os episódios tragam a estreia de dois roteiristas que estiveram no staff criativo de todas as outras temporadas para finalmente estabelecer a direção definitiva de Freak Show. John J. Gray e Crystal Liu, respectivamente, entregam os diálogos mais dolorosos e bem argumentados do quarto ano, sem desdizer a construção dos inúmeros personagens que vimos até aqui. O resultado é uma ópera louca e angustiante, no melhor sentido para uma produção do gênero.
O sexto episódio dá espaço para Paul e retoma a participação de Grace Gummer como a anárquica e apaixonada Penny. Confesso que me surpreendi bastante com todo o desenvolvimento concebido para conduzir a história do casal, e foi ainda mais gratificante ver a impulsividade do seal man ser traduzida na forma de um affair secreto com Elsa. A fraülein, a propósito, esteve numa busca obsessiva por um número que a colocasse no mesmo patamar dramático das gêmeas, porém ela só conseguiu gerar mais e mais desconfiança por parte dos seus devotos protegidos, chegando inclusive a receber uma ameaça comovente de Ethel.
A estadia de Bette e Dot na mansão dos Mott tomou um rumo inesperado, e todas as cenas entre elas e Dandy foram fantásticas. No momento eu sei que muita gente questiona o sonho de Dot em fazer a operação, mas esta subtrama dá força não só à condição bizarra que as irmãs compartilham em vida como também promete momentos de horror de dar arrepios. Aqui também é visível o empenho do roteiro em dar unidade à trama, ao colocar Jimmy no encalço das gêmeas graças a uma suspeita levantada por Paul. E é no mesmo ritmo que o violento primeiro ato do número de Elsa quase põe fim à vida do ex-amante, justificando até mesmo um retorno de Penny ao show de horrores.
No entanto, o que põe Bullseye como um prólogo torto para a verdadeira ameaça em Freak Show é a trama do ambicioso Stanley. Foi de parar o coração toda a caminhada de Maggie e Ma Petite em direção ao galpão. A hedionda busca do mercenário pelos cadáveres dos freaks vai aos poucos dando o mesmo tom de urgência que as aparições do palhaço Twisty conseguiam imprimir. Tanto é que o desfecho do memorável Test of Strength rima diretamente com todo o suspense gerado aqui, dando inclusive, a maior pancada emocional do quarto ano com um cliffhanger desolador.
Dell, por exemplo, continuou se mostrando odiável mesmo ganhando camadas com o seu complexo processo de aceitação. Michael Chiklis, entretanto, esteve tão bem nas cenas do homem forte, que o misto de emoções passadas pelas decisões de Dell (mediante a chantagem de Stanley) comovia, ainda que causasse ódio. O lado humano do personagem só ganhou espaço quando Jimmy entrou na jogada, e aqui eu sou só elogios para Evan Peters, que esteve de arrepiar tanto no número musical ao som do Nirvana, quanto na penosa cena em que suplica pelo amor do pai que sempre negou existir.
O deleite visual, que costumeiramente faz história em American Horror Story, veio do jogo de gato e rato construído por Dot e Elsa. Reclamem o quanto quiserem, mas ver a montagem de uma cena como a do “antes e depois” no espelho para logo após ganharmos outro inspirado uso de split screens numa leitura de bilhetes, me faz querer gritar que eu sou xiita mesmo da série. Freak Show veio com uma carga imagética ainda mais forte que Asylum, e isso é simplesmente emocionante para um verdadeiro fã da sétima e oitava artes.
Com o grotesco encerramento para a história de Penny e Paul, Test of Strength poderia muito bem terminar feliz ao alcançar o propósito de causar pesadelos nos espectadores, porém uma dolorosa e anunciada despedida foi o gancho mais forte entregue aqui. Freak Show segue firme a cartilha de horror que já aprendemos a venerar. A festa de sangue está apenas começando.
P.S.1: Ainda estou tentando assimilar aquela exposição no museu de morbidades. Foi doloroso demais.
P.S.2: Eve sendo uma das coadjuvantes mais adoráveis deste quarto ano. Que surra bem dada hein?
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