Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay Thai

Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay ThaiOng-Bak: O Guerreiro Sagrado é um filme consideravelmente recente do fenômeno popular do cinema de artes marciais. A obra foi tão falada e propalada em 2003 que acabou se tornando um clássico instantaneamente e ficou profundamente conhecida por conta de seu herói e protagonista Tony Jaa.

O artista marcial faz Ting, um simples camponês da província de Nong Pradoo, que vai até a cidade grande atrás de um ladrão que rouba a cabeça da estátua de Buda de sua pequena vila. A história é um pretexto, repleta de clichês, a desculpa perfeita para mostrar o corpo e os golpes de seu protagonista.

Tony Jaa era um lutador que buscava popularizar sua arte marcial pelo mundo e claramente conseguiu, uma vez que o Muay Thai hoje é bastante popular entre outros fatores graças a esse filme e a outro que também conta com ele como principal chamariz, no caso, O Protetor de 2005.

Do original Ong-Bak, o longa é dirigido por Prachya Pinkaew, dos filmes de ação tailandeses, entre eles o já citado O Protetor, Chocolate (2008) e do americano Olho por Olho (2011). Já o roteiro fica a cargo do trio Pinkaew, Panna Rittikrai e Suphachai Sittiaumponpan.

O filme inicia com uma cena curiosa, quase conceitual com homens e rapazes sujos de barro subindo em uma grande árvore antiga, com vários deles se batendo a fim de chegar ao topo, para pegar uma bandeira. Quem a pega é Ting, personagem que mesmo estando coberto de lama, não deixa de parecer estar no auge da forma física.

Seu corpo é forte, os braços e pernas bem definidos, ele tem o abdômen rasgado, agilidade nos quadris e nos membros superiores e inferiores. É forte mesmo sem parecer grande.

Enquanto golpeia com movimentos que lembram os pré-programados conhecidos como Katas ele reverencia de forma simbólica pessoas e guerreiros do passado, reverencia também - dessa vez literalmente - um mestre religioso, um monge e diz que não desperdiçará os ensinamentos do Muay Thai com alunos não dedicados.

O texto trata a arte marcial como algo perigoso, capaz de corromper a vida do homem justo. Deve ser usado com parcimônia e não por diversão. Isso por si só já determina a ideia central do filme como algo bem confuso.

Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay Thai

A estrutura da narrativa mostra os desafios do protagonista de forma crescente, com uma estrutura que lembra o enredo de games de luta, no estilo beat'em up. O primeiro opositor é Don, personagem de Wannakit Sirioput, um bandido que rouba os mantimentos do templo budista e também é o responsável por pegar a cabeça do Buda da vila.

Jaa cresceu consumindo a cultura pop do ocidental e parte de sua ambição era em ser popular na parte oposta onde nasceu, ele queria fazer sucesso no Oeste do mapa global. Mirava em figuras que fizeram sucesso na América, no caso os três astros mais conhecidos no ocidental do Globo.

Ele tinha como referencial figuras populares, que fizeram sucesso nos Estados Unidos também, especialmente o trio Bruce Lee, Jackie Chan e Jet Li. Jaa também tentou entrar no circuito de Hollywood, tendo breves participações em xXx: Reativado (2017), Monster Hunter e Jiu Jitsu (2020), mas também em filmes de Hong Kong como Comando Final 2: Hora das Consequências que foi lançado em 2015.

Uma coincidência que ele tem com Lee mira o fato de que ele também fez uma variação de uma arte marcial, como Bruce fez o Jeet Kune Do.

Seu estilo o Muay Boran é mais plástico do que os estilos clássicos de Muay Thai. É voltado para defesa, mas mira a utilização das nove armas - com pares de pés, joelhos, cotovelos, mãos e mais a cabeça - e não oito, já que o Muay Thai como esporte, não inclui cabeçadas.

Por ter experiência com dublês, ele aplicava golpes com adaptações, para ficar mais plásticos, para serem mais bonitos diante das câmeras.

Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay Thai

O filme é cuidadosamente trabalhado para angariar atenção de plateias estrangeiras. Isso se percebe no conjunto de lutas clandestinas que ocorrem, em cenários de boates com mulheres dançando que lembram bares de filmes americanos. Também há alguns bandidos, gangsteres bastante caricatos, que lembram os personagens de obras policiais dos anos 1990.

Há inclusive um homem idoso, que fala através de um microfone via buraco de traqueostomia, chamado Komtuan (Suchao Pongwilai), sujeito que parece inofensivo e passivo, mas que aos poucos se demonstra ser um grande vilão corporativo.

No bar/boate que serve de cenário para as primeiras lutas há uma sucessão de campeões apresentados, lutadores de estilos e modos de luta diferentes, que estão lá basicamente para apostar dinheiro e para servir de sparring para o herói, sendo a preparação para o conflito final tão esperado.

O guerreiro é honrado, não aceita dinheiro e só quer saber onde Don está. Para tentar achar o sujeito ele angaria o auxílio de seu primo, o engraçado Humlae (Phettai Vongkumlao). Mas a realidade é que faltam adversários a altura do herói, que é um aspecto bem semelhante ao que ocorria nos primeiros filmes de Bruce Lee.

Também há um cuidado para misturar humor ao drama, como eram os filmes chineses e estadunidenses de Chan. De fato Ting só corre perigo quando é encarado por muitos adversários, como na perseguição onde dezenas de bandidos vão atrás dele.

A sequência aliás é maravilhosa, com poucos cortes durante a sequência, tendo variações das cenas de saltos e acrobacias do herói, que passa em meio a arames, a obstáculos redondos e pequenos, utilizando móveis e até comida para atrasar os opositores.

Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay Thai

A trilha sonora é divertida, conta com uma música incidental com instrumentos de sopro e de percussão que ajudam a criar uma identidade própria ao longa. Ainda se pontua com uma linha grave de contrabaixo, em um volume que não é tão alto e que facilita a absorção dos combates e as manobras de parkour.

Quando Ting retorna ao cenário da luta anterior, no clube onde ficam os mafiosos, o chefão diz que quer que ele enfrente o Grande Urso, um outro lutador, mais forte e de maior nível que o anterior.

Os personagens dos vilões são tão ridiculamente malvados que soam exagerados. Um deles chega a assediar uma garçonete só para chamar a atenção do herói, que decide enfrentar o sujeito depois que ele espanca um rapaz.

A ideia de subir níveis e enfrentar novos desafios, que por sua vez são cada vez maiores, conversa com a tradição presente em jogos de video games de artes marciais, que por sua vez, pega isso emprestado também do cinema, especialmente de O Jogo da Morte de 1978.

Entre os opositores, um se destaca, o lutador Cachorro Louco (David Ismalone), que basicamente usa os elementos do cenário para bater no herói, arremessando cadeiras, pratos, garrafas e mesas nele.

O desejo do longa é deixar claro como o Muay Thai é superior as outras artes marciais e os desafios de Ting dão lastro para pensar isso. A coisa escala bizarramente, chegam ao cúmulo de subir as escadas ao andar onde os chefões do crime estão, fazendo a demonstração literal de que o estilo de luta é móvel e não estático, não se pode permitir capturar ou encapsular o artista.

O texto é pueril, os eventos encaminham o herói para a localização de artefatos sagrados escondidos na água sem muito motivo de ser. Ele está em uma sequência de ação de repente cai na parte molhada do cenário das docas e acaba sem querer encontrando estátuas antigas no lugar que desagua para o oceano

Ainda assim ele só consegue a cabeça do Buda depois de um acordo com o chefão do crime, que por sua vez organiza um torneio de luta na fronteira do país. Ting é obrigado a lutar a fim de recuperar de alguma forma o dinheiro perdido em apostas e no contrabando capturado.

No torneio ele enfrenta El Tigre, personagem de Chatthapong, um lutador tatuado e que auto injeta uma substância estranha, que aparentemente retira dor dele. Dessa vez Ting cai, apanha bastante.

O chefão criminoso verbaliza o confronto entre o homem materialista, que se julga acima de tudo graças ao dinheiro e ao poder, contra as deidades e divindades budistas. Em sua arrogância, desdenha da mitologia budista e a trata como algo banal, fato que obviamente ofende o herói, que parte para justificar o nome de suas deidades.

Ong Bak - Guerreiro Sagrado: o clássico de Tony Jaa sobre o Muay Thai

Dessa forma, Ting se torna um guerreiro sagrado de fato, um homem que luta não só por sua localidade, mas também pelas autoridades espirituais.

Seja por essa motivação ou pelo fato dele encarar El Tigre sem as tais injeções, ele vence facilmente o seu adversário, que após cair, simplesmente injeta muitas seringas de uma vez, apelando para super dosagem.

A equipe do mafioso escavava um espaço repleto de areia, onde acharam uma cabeça de Buda gigante. Esse artefato cai em cima do mafioso, de uma maneira que pode ser encarada como mágica, provando que a divindade é maior que o homem e que o sagrado pode subjugar o sujeito materialista, ao contrário da fala que o mafioso antes proferiu.

Ong Bak é um filme cuja narrativa é bem comum, sendo abaixo da mediocridade na maior parte dos pontos, mas seus momentos de luta são sublimes e o desempenho de Tony Jaa é algo que surpreende. É uma pena que o ator não tenha feito tanto sucesso depois desse e de O Protetor, mas essa obra se basta, valorizando enfim o Muay Thai como a nova alternativa para o fã de filmes de luta.

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