O bom e o mau. Quem acompanha American Horror Story desde o início, sabe muito bem que um dos maiores trunfos da série é o de não julgar seus protagonistas. O roteiro sempre acaba transgredindo convenções sem delinear limites para o desenvolvimento dos personagens, tornando-os humanos e de fácil identificação com poucos minutos de tela. Freak Show não se faz de rogada quando o assunto é potencializar a tridimensionalidade destas personas através do brutal – ainda estamos falando de horror, não é mesmo? –, mas é fácil perceber que esse quarto ano quer, pela primeira vez no cânone do programa, deixar claro quem são os “heróis” da história.
Massacres and Matinees guarda na sua condução o mesmo tato que Asylum tinha para desconcertar o espectador, ao passo que cria uma identidade visual própria apostando cada vez mais nas cores fortes e representativas do universo circense. Os tons pastéis da mansão dos Mott se contrastando ao vivaz vermelho/azul dos monstros de Elsa, por exemplo, projetam imagens difíceis de ser esquecidas. Ainda assim, é animador notar, já nessa segunda hora, que não é só o visual que tomará a frente do roteiro, pois Ryan Murphy e sua trupe já dizem a que vieram ao apresentar, de forma orgânica, novos personagens que só enriquecem e fortalecem a trama principal.
É aí que entram Dell Toledo e Desiree Dupree, os freaks de Michael Chiklis e Angela Bassett respectivamente. O casal chega à Jupiter para pedir abrigo a Elsa, após fugirem de um último circo em Chicago. As circunstâncias que os colocaram em fuga fazem referência ao tom brutal de construção mencionado anteriormente, mas é no inspirado subtexto destinado a Dell que a apresentação deles se faz fantástica. Desiree é uma hermafrodita de três seios, e se levarmos em conta que a antiga mulher de Dell era Ethel, a mulher barbada do show de horrores, há aí uma velada conotação referente à sexualidade do personagem de Chiklis, que não precisa ser explicitada para se fazer notar.
Em contrapartida, os assassinatos na cidade põem Jimmy numa missão de provar que ele e seus amigos não precisam ser os primeiros da lista de suspeitos – mesmo que ironicamente os freaks já carreguem uma morte nas costas – só por conta das suas diferenças. É uma subtrama forte, necessária e que deixa a história de Freak Show ainda mais impressionante. A sequência na lanchonete, por exemplo, é linda na execução, sendo capaz de despertar um incômodo sentimento de angústia e fragilidade, desconfortando tanto quanto o ultimato de Dell sobre eles se resumirem a atrações e bilhetes de circo. Novamente, um ótimo antagonismo se forma e a batalha de ideais que será travada entre Dell e Jimmy (pai e filho, a propósito) será ótima de acompanhar.
Se a primeira aparição dos Mott já deixava claro que algo sinistro se escondia na indulgente fala compassada de Gloria, o roteiro de Tim Minear, neste segundo episódio, apresenta seus próprios Norman e Norma Bates ao focar na bizarra relação entre mãe e filho. O temperamento de Dandy, a superproteção de Gloria e a predileção do rapaz por dissecar alguns animais da vizinhança são mostrados na tela em inspiradas sequências, que só poderiam ter sido entregues pela mão do diretor Alfonso Gomez-Rejon. Porém, sem o empenho de Frances Conroy (sempre comprometida com a estranheza hipnotizante das suas personagens) e Finn Wittrock (o melhor novo integrante do elenco) nada disso seria possível.
Logo, é com um sorriso nervoso no rosto que a gente aceita a visita de um familiar palhaço, convidado com doçura e inocência por Gloria, para divertir seu entediado primogênito. Sim, as primeiras aparições do macabro psicopata na cold open do episódio é das sequências de horror mais bem conduzidas que eu vi no gênero esse ano. A predileção da trama por tornar o assassino em uma espécie de mentor para Dandy também é promissora nas possibilidades que se abrem e deixam tudo ainda mais convergente, se pararmos para pensar que o show de horrores será o futuro alvo dos dois monstros.
Mesmo com todas essas tramas, o episódio não abre mão da atração principal do show de Elsa. Portanto, Bette e Dot tem um espaço especial aqui. A revelação de que a alma artística das irmãs pertence à Dot é um baque não só para Bette, como também para a dona do circo, que começa um desesperado jogo de manipulação para por um fim nas suas headliners. Todas as cenas entre Sarah Paulson e Jessica Lange são um espetáculo a parte, e não é de se estranhar que o pedido sussurrado de Elsa na calada da noite deixa os momentos finais do episódio explodindo em ápices.
Ápices estes que só se sustentam com o sombrio e comovente cliffhanger envolvendo o penoso destino do mais inocente dos freaks. Para levar essa temporada até o fim, devemos nos preparar para tudo. Tem que ter estômago forte e um psicológico bem condicionado também. Freak Show será uma experiência extrema, conduzida por extremos e só isto já é instigante o suficiente.
P.S.1: Não comentei sobre ela no primeiro episódio, mas Pepper está entre nós novamente. Ah, e sendo estranhamente fofa como sempre.
P.S.2: Será que tem close na “saudável” arcada dentária do palhaço até o fim da temporada?
P.S.3: Mostraram Meep na cadeia, falaram do irmão de Harry Houdini (o mestre da fuga) e cada vez mais eu acho que o quinto ano se passará numa prisão.
Muito bem bolado a história de Desiree Dupree e a suposta "cura" da homossexualidade kkkkkk . Muitoo triste pelo Meep… coitado =~~
meep =~~~~
Muita dó!!! =(
A trama foi das mais inspiradas que teve na história da série!! Me diverti com a bizarrice (Feliciano conhecesse essa cura hein?)… ahahahahahaha
Sobre o Meep… fiquei bem mau no fim do episódio. =( Essa temporada vai ser difícil.
Olá Zé, olha nós aqui outra vez. Mais uma vez parabenizo suas reviews impecáveis! Sofremos com Coven, vislumbro grandes felicidades com n Freak Show. Vamos aguardar!
Eita moça, já estava sentindo falta dos seus comentários! \o
Ah, e obrigado pelos elogios. Tenho certeza que seremos bem mais felizes com Freak Show.
Um abraço.