Por bem ou por mal, Arrow contém mesmo inúmeros elementos das histórias em quadrinhos. Há aquilo que todo leitor adora ver seu herói preferido fazer, mas também surgem pontos fracos na história, nem toda edição (ou, neste caso, episódio) é favorável e alguns conceitos simplesmente não funcionam. Quando The Secret Origin of Felicity Smoak começa, há um enorme potencial a ser explorado, mas o roteiro de Ben Sokolowski e Brian Ford Sullivan se perde no meio do caminho.
Para entender a oportunidade jogada fora é bom voltar um pouco no tempo. Nos anos 90, Buffy - A Caça-Vampiros moldou uma geração inteira de seriados de ação, estabelecendo dinâmicas entre personagens que seriam copiadas à exaustão. Um destes "templates" foi narrativo e apresentado no episódio The Zeppo. A ideia básica é colocar o ajudante mais "fraco" do herói, ou ainda, o mais normal, enfrentando sozinho uma crise enquanto os protagonistas estão ocupados, mostrando que o heroísmo não está somente embutido naquele com os maiores músculos. Até Doctor Who já trabalhou esse conceito e seus roteiristas reconhecem a influência. Pois bem, este quinto episódio da terceira temporada de Arrow começa com grandes indícios que o roteiro buscaria essa abordagem, inclusive usando do humor inerente à personagem de Emily Bett Rickards, mas abandona isso em menos de 15 minutos para focar em uma subtrama tola e uma amontoado incômodo de clichês.
O primeiro ato de The Secret Origin of Felicity Smoak é muito inspirado. Com um início empolgante mostrando três núcleos da série em treinamento (em uma sequência muito bem montada, inclusive), parte logo para apresentar o que seria um dia comum na vida da ajudante do Arqueiro, que recebe as visitas inesperadas de sua mãe (Charlotte Ross) e Ray Palmer, quase ao mesmo tempo. Neste começo, as cenas com Donna e Felicity são ótimas, principalmente quando ambas interagem com outros personagens. A habilidade das duas em deixar as pessoas desconfortáveis é muito bem explorada e dá um tom leve e agradável ao episódio, uma quebra na sequência pesada de conflitos que se instauraram desde a estreia da temporada. Mesmo quando surge a grande ameaça da semana, um hacker que se denomina Brother Eye (referência ao Irmão Olho da DC) e toma controle de Starling City, o ritmo se mantém ágil, com os heróis tentando controlar a situação. Mas, aí, os flashbacks de Felicity começam a revelar uma ligação do que está acontecendo com o passado da moça e tudo fica extremamente previsível: da real identidade do vilão até os motivos que a levaram a se transformar de adolescente gênio e rebelde em trabalhadora comportada do mundo corporativo.
O episódio passa a focar ainda no conflito familiar entre Felicity e sua mãe e do segundo ato em diante, isso se torna combustível para um dramalhão que arrasta a trama desnecessariamente, já que a relação das duas é extremamente clichê. Dos motivos aos diálogos, o espectador já sabe exatamente o que vai acontecer. Se a ideia era dar um passado para a hacker do Time Arqueiro, a dupla de roteiristas poderia ter investido em algo que valeria a pena ser contado e não em conflitos facilmente previstos pelo que a garota já havia falado de seu background na segunda temporada. E, como se não bastasse o problemático segundo ato, o episódio chega a seu clímax de forma desastrosa, com o Arqueiro respondendo ao chamado de Felicity em tempo recorde. Parece até que confundiram a série com a do Flash.
Como Arrow costuma também dar atenção às subtramas que seguirão ao longo da temporada, há algum desenvolvimento de Laurel, com direito à um interessante momento em que a moça percebe o quanto o luto pela morte de Sara está influenciando em suas decisões. E é bom que o episódio trate de fazer a personagem reconhecer isso e buscar ajuda, uma vez que, a ideia aqui é mover sua história para frente e não fazer sua jornada se tornar uma queda em espiral.
Uma coisa que o episódio faz bem é focar suas atenções nas mulheres presentes na vida de Oliver Queen. É centrado em Felicity, desenvolve a trama de Laurel e ainda encontra tempo para mais um passo na reconciliação do protagonista com sua irmã, Thea. A moça bolou uma boa desculpa para explicar sua situação financeira. Mas há uma falha por parte do roteiro. Se desde o reencontro dos irmãos, Oliver tem se mostrado desconfiado quanto ao que sua caçula andou fazendo nos últimos meses, por que ele, que já se revelou extremamente precavido à respeito daqueles que o cercam, sequer cogita haver mais na história da moça usar o dinheiro de Malcolm?
A maior surpresa da semana, no entanto, é deixada pelo gancho para o próximo episódio, que será focado em Roy. Como o personagem ainda não mostrou a que veio nesta temporada, é bom ver que o roteiro irá direcionar suas atenções à ele, mesmo que, provavelmente, a revelação apresentada aqui seja apenas uma pista falsa. Se não for, há um destino sombrio a espera do parceiro de Oliver.
Com mais problemas do que destaques, Arrow entrega seu exemplar mais fraco este ano, que serviu também para revelar algumas fragilidades da série quando diz respeito aos seus realizadores. Graças à cena final, no entanto, o ritmo da temporada deve voltar aos eixos nos próximos capítulos, para continuar trazendo ao fã aquilo que ele quer ver, assim como uma boa história em quadrinhos.
Ótima avaliação, realmente esse episódio foi muito enjoativo de tão clichê. E ainda tenho esperança de que Ra's Al Ghul ressuscite a Sarah, porque essa Laura é muito chata e sem noção.
Ótima análise. Parabéns!
Além de Roy, outro personagem que ainda não mostrou a que veio e já tá ficando chato é o Ray Palmer.
O Ray é "slow burner", vai ser desenvolvido aos poucos até a origem do Eléktron e não duvido nada ele pular pra The Flash só pra os poderes dele serem desenvolvidos também. Imagino que só vamos ver uma evolução real do Palmer depois do hiato de fim do ano.
Realmente eu esperava mais do episódio.