Pequenos Guerreiros : O pequeno conto antimilitar de Joe Dante

Pequenos Guerreiros : O pequeno conto antimilitar de Joe DantePequenos Guerreiros é um filme voltado para o público infantil, que lida com os gêneros de comédia de humor negro e aventura, carregando também temperos de ficção científica e até terror. Conduzido pelo icônico diretor Joe Dante, se trata de uma história de bonecos que saem do controle, se voltando contra outros brinquedos e contra a humanidade que os criou.

Pensado para ser uma obra leve, a realidade é que a obra carrega elementos que não combinam nada com produções voltada para crianças, com acenos ao cinema B e a temáticas normalmente não encontrada em filmes mais pueris.

Lançado em 1998, o longa que faz 25 anos se chama originalmente Small Soldiers. Ele se localiza em uma época de baixa na carreira de Dante. Ele vinha de duas produções para a televisão, A Segunda Guerra Civil (97) e The Warlord: Battle for the Galaxy (98), que por sua vez, veio logo após alguns filmes que não fizeram o sucesso esperado. Gremlins 2: A Nova Geração (90) foi aquém do que se esperava, até Matinee - Uma Sessão Muito Louca (93) deixou a desejar, ao menos na visão dos estúdios.

Aqui ele volta a trabalhar com os grandes estúdios de cinema. Esse é feito em conjunto com a DreamWorks Pictures e Universal Pictures, e com o selo Amblin Entertainment, do produtor executivo não creditado Steven Spielberg, companheiro contumaz do cineasta.

A obra veio na esteira da animação Toy Story, embora tenha uma abordagem bem diferente. Dante afirma que foi chamado para fazer um filme juvenil mais ousado, com liberdade para lidar com temas mais espinhosos.

O plano dos estúdios era possivelmente suavizar a linguagem, caso patrocinadores entrassem no projeto, especialmente empresas de brinquedos. Como os conglomerados não injetaram dinheiro e nem colocaram suas marcas, o cineasta poderia brincar como quisesse aqui, podendo enfim colocar suas ideias mais ousadas, mas o produto final tentou ser um híbrido de uma comédia infantil com elementos de um humor mais maduro.

Dante teve liberdade, o que ele quis filmar ficou no corte final, exceção a algumas explosões, que foram suavizadas no trecho final, para não tornar a classificação indicativa do filme em algo impeditivo. Acabou sendo PG-13, fato que não atrapalhou por exemplo a comercialização de brinquedos e derivados.

Mesmo com essas mudanças, houveram alguns elementos que modificaram o modo de consumo e merchandising, inclusive, nas redes de Fast Food.

O Burger King decidiu retirar a comercialização de parte brinquedos do filme em kits de refeições infantis, mas não exatamente pelo conteúdo do longa, e sim por conta de uma polêmica externa. Um adolescente matou os seus pais no Oregon, em seguida, partiu para um tiroteio na Thurston High School em Springfield, matando 2 alunos e ferindo outros 25.

Não havia qualquer ligação entre ele e o filme, no entanto, seu nome Kip Kinkel, lembrava o do personagem Kip Killigan. Essa versão do boneco foi retirada das lojas no Oregon, para evitar ambiguidades.

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Esse crime não marcou tanto a produção, cuja bilheteria mais que dobrou o orçamento. Ainda assim as projeções da Dreamworks e Universal é que o filme rendesse ainda mais.

O roteiro ficou a cargo do quarteto Gavin Scott, Adam Rifkin, Ted Elliott e Terry Rossio, fato que ajuda a explicar o motivo do texto ser tão bagunçado, afina, tem quatro escritores. Foi produzido por Michael Finnelln e Colin Wilson.

Todos esses nomes parecem subalternos, diante dos profissionais de direção, elenco e de efeitos especiais e isso, não é à toa. Antes até dos créditos primários aparece um comercial da Globotech, a empresa de tecnologia e entretenimento, comandada por Gil Mars (Denis Leary), que fizeram os protótipos dos bonecos de ação que serviriam como protagonistas e vilões do longa.

Aqui já se percebe um aceno ao mundo dos brinquedos, já que Mars tem esse sobrenome em referência a empresa de fabricação de armas, MARS, liderada pelo comandante Destro, que por sua vez, é um dos comandantes do exército vilão de G.I. Joe ou Comandos em Ação, como era conhecido no Brasil.

A linha de soldados da Hasbro também é a principal fonte de inspiração para o Commando Elite, que é o grupo de bonecos militares que imitariam os esquadrões de soldados brucutus das fitas de ação dos anos 1980.

Também dá para notar semelhanças entre eles e os SOS Comandos, brinquedos que no Brasil foram vendidos pela Gulliver, mas tiveram origem na Diamond Toymakers, em 1985, lançados em atenção ao filme Comando Para Matar.

O vídeo propaganda da empresa é forçado. A ironia é tão forte que parece retirada de Trpas Estelares, filme de Paul Verhoeven de 1997. Há muitas semelhanças com a programação de intervalo comercial de época de guerra espacial.

Na propaganda se tenta provar que a empresa tem capacidade para produzir armamentos para o governo e entretenimento para as famílias, mas na prática a coisa é diferente, não só por ser um cobertor curto, mas por obviamente haver uma falta de competência na fabricação armamentista.

A divisão da Globotech responsável pelos brinquedos chama-se Heartland Play System. Essa foi uma empresa recém comprada pela megainvestidora, não à toa sua introdução se dá com uma música instrumental com tambores, regida por Jerry Goldsmith, semelhante ao visto em marchinhas militares.

Irwin Wayfair (David Cross) e Larry Benson (Jay Mohr) são os primeiros personagens humanos introduzidos. Um deles é um programador e desenhista de brinquedos mais romântico, tem saudades da época onde a empresa projetava sonhos paras as crianças. Já o outro é mais materialista, preocupado com dinheiro e com vendas. Em uma reunião com Gil os dois apresentam suas ideias, decidindo então juntar as ideias dois dois na mesma linha de brinquedos.

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Os exploradores alienígenas Gorgonautas (ou Gorgonóides, dependendo da tradução) seriam programados como vilões do Comando Elite, em ideias completamente diversas do pensamento de ambos, especialmente Wayfair, que pensou suas criações para serem personagens exploradores, não guerreiros.

O CEO dá a eles a função de projetar os brinquedos em tempo recorde, sua assistente Kegel (Alexandra Wilson) avisa então que os dois teriam três meses para trazer os protótipos, tendo acesso a tecnologia utilizada pela Globotech, de maneira irrestrita.

O personagem Cross é cheio de piadinhas e micro sacadas humorísticas de qualidade duvidosa. No entanto, o humorista é bem subaproveitado. Ele faz um papel bem diferente do que normalmente apresentava, é contido, tem seu humor resumido a uma ou outra referência, como a sua senha, Gizmo, que remete diretamente a um dos personagens Gremlins, filme também de comédia e horror, dirigido por Dante.

Essa acaba sendo uma chave importante para virada na história, uma vez que para atingir a expectativa irreal do chefe, Larry pesquisa chips de ponta. Ele seleciona um com baterias de lítio, cuja carga é eterna, fato que descartaria uso de pilhas e encomenda material que só não foi usado em armas militares por conta da fragilidade a radiação.

É curioso porque não utilizar pilhas eliminaria um incômodo, de caçar bateria, no entanto certamente encareceria o produto. Ainda que o filme não aborde a venda em detalhes, é fato que haveria um preço bastante alto para tais figuras de ação.

Como o filme não se dedica tanto a discutir assuntos econômicos, não há qualquer problema nessa questão. O aspecto adulto mais abordado é o uso da violência e até aspectos de sexualização de soldados e mulheres.

Benson não lembra a sua própria senha, mas lembra a do amigo. A utiliza, abrindo seu login com os dados dele. O filme poderia usar esse caminho para talvez culpar Irwin, mas isso jamais ocorre pelo ocorrido, mas a falta de vigilância da Globotech é tanta que eles só se dão conta do problema quando ele escalona horrores. Fato é que brinquedos são equipados com processadores de armas de fogo, se tornando então mini robôs, com total anuência da empresa global, mesmo que essa movimentação seja obviamente perigosa.

O visual dos brinquedos por sua vez foi projetado pelo mago dos efeitos Stan Winston e a cena das máquinas manufaturando os bonecos é sensacional. Mesmo sendo uma sequência em uma fábrica totalmente automatizada, o fabricar parece algo mágico.

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Além dessa sequência que imita elementos de O Exterminador do Futuro, há um comercial sui generis, do Commando Elite, onde o Major Chip Hazardé apresentado com a música de 2001, a mesma que utilizaram recentemente em materiais de trailers e no início de Barbie de Greta Gerwig., referência essa muito bem vinda, por sinal.

A trama principal é mais mundana, menos ligada a discussões empresariais. A pequena cidade de Winslow Corners, lugar fictício, localizada no estado de Ohio.

Uma das prioridades da produção era construir uma aura de naturalidade em torno da pequena cidade. Esse esforço é visto em pequenos gestos. As cenas foram rodadas na Califórnia, tanto em tomadas externas quanto em estúdio, mas os elementos de cenário demarcam a localidade do nordeste dos Estados Unidos. As bancas de jornais venderam The Plain Dealer, um periódico de Cleveland, o código de área no telefone é 330, o mesmo usado na área de Akron, até o caminhão de entrega de Heartland tem placas de Ohio no estilo dos anos 1990.

Outro aspecto típico de cidadezinhas expostas em filmes é o apelo ao infantil. A primeira pessoa de origem mundana e comum apresentada é um menino, chamado Alan Albernathy.

O personagem de Gregory Smith é um garoto problema, que se mudou recentemente para a vizinhança e tem fama de encrenqueiro. Ele gasta seu tempo na loja de antiguidades do seu pai, Stuart (Kevin Dunn), gosta de brinquedos, mas não parece ter o mesmo apego ao passado que seu parente.

Ele conversa profundamente com o entregador Joe (Dick Miller), sujeito trabalhador, que reclama da falta de concorrência no mercado e do monopólio de grandes empresas. Mesmo com a diferença de idade entre eles, os dois são bem íntimos, amigos que conversam sobre tudo, tanto que o senhor não só abre uma caixa de brinquedos com ele - mesmo sem autorização para tal - como também discute assuntos mais sérios, como tentativas malfadadas de fraudar seguros de lojas.

Depois de abrir a caixa e saciar a sua curiosidade, Joe deixa o menino ficar com os 12 brinquedos da nova linha, mesmo que esses estejam preparados para chegar as prateleiras somente no início da outra semana.

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Não fica claro como se faz o acordo, só é dado que o homem mais velho tem um fraco pelo menino e pelo seu pai. Para ele, permitir que o garoto tenha acesso bonecos de preço alto, antes de todos e sem garantia de retorno é possivelmente uma forma de estabelecer uma justiça poética.

Nas primeiras interações os bonecos de Chip Hazard e Archer já demonstram um comportamento estranho.

Eles começam timidamente, se entreolham, depois um ameaça o outro, mostrando a programação de rivalidade estabelecida desde a reunião entre o executivo e os engenheiros.

Eles são ativados por comandos de voz, frases que Joe e Alan dizem quase como se as tivessem decorado. Os dois podem ter lido na caixa essas ordens, mas fica a impressão de que não foi o caso. Uma justificativa para isso talvez tenha a ver com o fato de que eles já sabiam das falas graças a material de divulgação em televisão ou por informações que Joe já tenha ouvido antes, nos corredores de sua empresa.

A família do rapaz é mostrada como um grupo de pessoas bastante geniosas. Seu pai, Stuart é um sujeito confuso, que vive perdendo seus pertences, esquecendo as chaves e até a passagem para um evento de vendas que iria. Nos momentos de introdução é dado que ele tem apego pela natureza e pelo passado.

Odeia artefatos tecnológicos, tanto que tem brigas com o vizinho Phil Fimples (Phil Hartman), que por sua vez, é pai de Christie, o interesse romântico do menino, interpretada por Kirsten Dunst.

A mãe do menino, Irene (Ann Magnuson) é apresentada como uma mulher recatada, calma, que tem dificuldades de controlar os rompantes emocionais dos outros dois homens da família, sendo bem-sucedida nisso na maior parte das vezes. Ela surpreende perto do final, se mostrando proativa e até agressiva nos momentos mais derradeiros.

Alan tem uma relação estranha com os parentes, uma vez que Stuart é bastante rígido e sua mãe é muito preocupada. No entanto, sobra amor e preocupação entre eles. Os pais se preocupam com o filho, que teve alguns problemas de comportamento em outras escolas, tanto que ele tem a fama de ter sido expulso de vários colégios.

O que se percebe de real é que ele é um adolescente chato e murmurador, incapaz de aceitar mínimas contrariedades sem ser enormemente dramático. Ele assumiu que inundou banheiros na escola e fez pequenas travessuras no antigo colégio, mas nada tão grave que se compare a irresponsabilidade de tomar posse de brinquedos não licenciados ainda.

Mesmo com todas essas regras estabelecidas, o filme não se demora a mostrar a ação. O menino vive conversando com Archer, uma vez que ele entrou na mochila dele, enquanto Alan não estava vendo. Ele fugiu do major, mas está preocupado com os seus pares, que não tiveram a mesma sorte de fuga, até por não estarem expostos em um primeiro momento.

O seu erro cobra um grande preço. Entre as tentativas de impressionar a garota e de fazer a loja render algum dinheiro, a loja do pai de Alan acaba sendo a cobaia do Commando Elite. Eles destroem a loja, depois perseguem o rapaz, já que ele está com um dos gorgonóides.

Não demora até que um dos soldados, Brick Bazooka, tente atacar a bicicleta do menino. Ele cai e se acidenta, quebra na metade. A cena é bem agressiva, ainda mais se considerar que o filme é feito para crianças.

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Joe Dante queria que o elenco de O Predador dublasse ao Commando Elite, mas ele não conseguiu trazer Arnold Schwarzenegger e companhia. Quem fato dublou foi Tommy Lee Jones, que faz o Major Chip Hazer, Bruce Dern que faz Link Static além de parte do elenco de Os Doze Condenados, George Kennedy como Brick Bazooka, Jim Brown é Butch Meathook, Ernest Borgnine dubla Kip Killigan e Clint Walker dá voz a Nick Nitro.

Já os Gorgonites tem o visual inspirado na franquia de brinquedos de He-Man e os Mestres do Universo. São dublados por gente do elenco This Is Spinal Tap. O experiente Frank Langella é o líder Archer, Christopher Guest faz a dupla Slamfist/Scratch-It, Michael McKean dubla Insaniac e Troglokhan, Harry Shearer é Punch-It, enquanto Jim Cummings dubla Ocula.

Da parte do visual o que se percebe é um trabalho muito bonito, que mira a naturalidade. A movimentação dos brinquedos é fluída, com passos precisos e realistas.

Winston foi pesquisar junto a Hasbro, fez laboratório com eles para estudar o funcionamento dos brinquedos, para tornar a estrutura o melhor que poderia. A experiência dele foi tão intensa que ele disse ter aprendido como funcionam as juntas dos brinquedos e toda a mecânica que os envolve.

O mago dos efeitos ajudou a criar a linha de brinquedos do filme, que foi vendida pela própria Hasbro, que inclusive, deu mais dinheiro que a bilheteria e demais verbas relacionadas diretamente ligadas ao lançamento nos cinemas.

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Uma das primeiras questões estéticas para equipe foi determinar que os bonecos seriam grandes, tal qual eram os colecionáveis Action Figures, mas tinham que se movimentar de uma maneira que ficasse bonita em tela.

O escultor e pintor Joey Orosco disse que se divertiu demais ao conceber e manipular os bonecos. Dizia que os fantoches eram as estrelas do filme, afirmava que queria que os brinquedos atuassem como atores reais, com gestos e emoção.

Os funcionários da Universal e da Amblin que haviam trabalhado recentemente com dinossauros de seis metros e sistemas hidráulicos em grande escala em Jurassic Park: Parque dos Dinossauros poucos anos antes se viram usando mecanismos parecidos, mas minúsculos, do tamanho de relógios e encaixando-os em corpos de doze polegadas de altura.

John Rosengrant, supervisor de efeitos e co-fundador da Legacy Effects. disse ter estranhado a diferença de escalas entre os seres pré-históricos e os brinquedos. Ele dizia que era mais fácil trabalhar em Small Soldiers, mas reclamava de ter que levar uma mala pesada, com bonecos frágeis o tempo inteiro. Era incomodo andar com eles e ter que tomar tanto cuidado.

Como em O Mundo Perdido: Jurassic Park haviam ainda mais dinossauros do que no primeiro, a equipe já tinha uma certa experiência com mecatrônicos menores. O plano de produção original era filmar a maioria das cenas de brinquedos de ação ao vivo com fantoches, colocados na frente de uma tela azul. A Industrial Light & Magic (ILM) então comporia esses elementos de CGI, encaixando nos sets reais.

Joe Dante abandonou a ideia, preferindo uma abordagem de ação ao vivo na câmera, com os brinquedos ali mesmo em seus sets, interagindo com os atores. O cineasta usou uma justificativa lúdica, de que profissionais de cinema vivem em um mundo de fantasia, por isso tem a predileção de preferir usar brinquedos do que apelar só para inserção digital.

Isso facilita a interpretação dos atores, no entanto, no corte final, usaram bem mais CGI do que o pensado antes. Ele afirmou:

"Estávamos planejando usar muito os bonecos de Stan Winston. Ele havia feito alguns muito elaborados que podiam fazer muitas coisas, mas descobrimos na prática que era muito mais simples e barato deixar o pessoal do CGI fazer o trabalho (...) eu diria que é um terço de fantoches e o resto CGI, embora a ideia original fosse fazer quase tudo com brinquedos."

O filme é pontual, tem momentos cômicos que funcionam bem, como a reação da mãe de Alan, que acredita que ele está usando metanfetamina escondido, já que ele coloca a culpa do sumiço das ferramentas nos brinquedos.

Da parte narrativa, há um comportamento diferenciado entre os Gorgonóides e seus rivais. As criaturas alienígenas são todas bonitas, tem um visual diferente para cada um e sua programação natural é de fugir, de se esconder. Fica claro que a ideia é associar eles a povos que sofreram com guerras, em especial, com os herdeiros do judaísmo na Segunda Guerra Mundial

Eles só aparecem novamente com 50 minutos, dentro de uma lata de lixo, onde se percebe também algumas referências - como um brinquedo de Gizmo, de Gremlins. Outro ponto curioso é a reconstrução de Troglokhan, que foi quebrado pelos Elite e aqui virou uma versão miniatura do monstro de Frankenstein, unido ao rádio AM do pai de Alan.

Pequenos Guerreiros : O pequeno conto antimilitar de Joe Dante

Dante segue em sua jornada de fazer piada com o capitalismo e suas fragilidades, utilizando a indústria de Hollywood para refletir sobre a irresponsabilidade de projetistas, que colocam processadores de armas em brinquedos.

O cientista que Robert Picardo faz tem um discurso que reflete de maneira inteligente sobre essas responsabilidades ou sobre a falta dessas atitudes nos engenheiros, propondo que seria errado colocar um material mecânico tão avançado em qualquer artigo, seja algo para crianças, como os bonecos, ou as armas, manejadas por adultos e governos.

Também é dado que havia uma fraqueza nos processadores, que pifavam em contato com radiação. Em um campo de guerra há picos de radiação em todo tempo, já em pequenas cidades, não.

O filme segue com boas sacadas, como a variação entre a exibição de filmes de guerra na tv do Fimple e a interação dos Commando com a casa e familiares de Christie. Nesse trecho, o destaque obviamente é o acréscimo das bonecas Gwendy, que são despertadas pelo chip do soldado morto pouco tempo depois.

A transformação delas aliás é um trecho é curioso. Já é pitoresco pelo fato delas serem dubladas por Sarah Michelle Gellar, a Buffy: Caça Vampiros e Christina Ricci, a Wandinha de Família Addams.

Segundo por que no momento de despertar, toca a música tema de A Noiva de Frankenstein, é meio macabra, termina com bonecas deformadas e seminuas, e ainda guarda curiosa semelhança com filmes famosos lançados anos depois. A ressurreição do Superman de Henry Cavill em Liga da Justiça lembra bastante esse, nas duas versões do longa, diga-se.

Pequenos Guerreiros : O pequeno conto antimilitar de Joe Dante

Os soldados tentando fazer experiências, até se entende, afinal os seus processadores são avançados, no entanto quase tudo que Chip Hazard tenta, ele consegue.

Aqui a suspensão de descrença é posta a prova, mas também chama a atenção que o Major teve um maior cuidado, tanto dos programadores de brinquedos quanto dos roteiristas do filme. Todas as boas ideias saem dele, todos os outros soldados são só músculos em ação, são bastante burros.

De resto, o conjunto de situações bizarras soam charmosa, especialmente por serem pitorescas e irreais. Como o longa não se leva tão a sério, faz sentido.

O que realmente pode tirar o espectador do filme é o fato de que os jovens de Winslow Corners são fanáticos por Led Zeppelin, banda famosa vinte anos antes da realização desse filme. Evidente que crianças podem gostar do som de Robert Plant e Jimmy Page, mas seria mais provável gostar de uma banda mais contemporânea.

Dante inclusive coloca uma música mais atual, como Wannabe das Spice Girls, para tocar alto, incomodando os vizinhos da região, que não se moveram enquanto os Fimple e Albernathy eram atacados, mas acordam e reclamam demais quando a música da Girld Band britânica toca em altos falantes.

Toda a sequência das Gwendy é sensacional, tanto no nascedouro delas, como zumbis despertado por choque, como nos ataques dos brinquedos, com elas estando queimadas, derretidas e deformadas. Lembra Monstros (Freaks) de Tod Browning, ainda termina com os Commando fazendo os humanos de refém.

O filme é uma montanha-russa emocional e acerta no tom da transformação na personagem de Christie, permitindo que ela tenha algum protagonismo, assassinando as Gwendy, em uma demonstração de um certo sadismo. Ela tem alegria em matar as bonecas, passando assim por um rito de transição, já que a menina abandona o fascínio pelas bonecas Barbie para adentrar na fase de mulher.

Mas o filme é todo dos Commando. Eles são muito engraçados e inventivos. O Major então é visionário, entende logo a sua condição de ser pequeno, de apenas poucas polegadas.

Desenvolve então armas de disparo, que solta CDs em chamas, também improvisa veículos com rodas, que funcionam quase como as bigas romanas, cuja referência mais fácil e óbvia certamente são os filmes da franquia Mad Max.

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Claro que há muitos exageros, sobretudo perto do final, mas o brilhantismo maior da obra de Dante certamente reside nessa construção de personagens e na obstinação de Chip Hazard, que mesmo chamuscado e ferido após sofrer uma explosão, consegue ainda ir ao centro de distribuição da Heartland, pega um caminhão para organizar um ataque.

Dá para encarar o terror familiar e o cerco com uma evolução do quadro dos Gremlins, com as famílias dos vizinhos finalmente embarcando e apoiando a suposta loucura das crianças, mas a análise mais interessante é a rivalidade entre brinquedos.

O Commando Elite tenta se inspirar nos feitos militaristas e armamentistas americanos, tanto que faz algumas referências a filmes como Platoon, Apocalipse Now e Patoon: Rebelde ou Herói, no entanto a ideologia deles tem mais semelhanças com o III Reich do que com os Aliados, uma vez que eles querem exterminar a raça dos gorgonóides, basicamente por eles serem escória, inferiores, ao menos segundo o próprio crivo deles.

O revide dos monstrinhos cabe bem, mostrando que nessa história a reparação não precisaria de uma imitação de um Tribunal de Nuremberg, afinal, essa ainda é uma obra feita para crianças.

Mesmo com toda a demonstração de engenhosidade de Hazard, é patético que ele se ache páreo para um humano, utilizando uma pequena lâmina para tentar ferir os dedos de Alan. Caso o menino não estivesse no alto de um poste elétrico, certamente não haveria nenhum perigo, pior, ele mesmo se contradiz, uma vez que antes ele mesmo quebrou as armas de brinquedo.

Achar que machucaria alguém com 10 vezes o seu tamanho com um objeto tão pequeno não faz sentido. A superioridade dos humanos é obviamente um fator, não à toa Christie é mostrada dirigindo um pequeno carrinho sugador, que absorve para o seu interior as figuras de ação.

Novamente a futura interprete de Mary Jane mostra seu anseio assassino, triturando os brinquedos, pouco antes do curto geral que derrubaria eles. Nesse trecho, se dá a entender que poderia derrotar o exército sozinha.

O roteiro se torna cínico no final, mostrando o chefe da Globotech distribuindo cheques pomposos, que serviriam para calar os personagens. O conglomerado venceu mais uma vez, provando que o capitalismo não tem limites, assim como a pieguice e conveniência presente no fato de que todos os Gorgonites sobreviveram.

Pequenos Guerreiros é divertido, bem feito e com personagens carismáticos. Peca um pouco por seu protagonista humanos ser chato, mas é visualmente surpreendente em sua simplicidade, com uma boa mistura entre efeitos práticos e CGI. Seus subtextos são muitos, em alguns pontos, é de um deboche tremendo, mas funciona, especialmente no que tange temas como obsolescência programada, Complexo de Frankenstein e consumismo desenfreado.

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