Jogos Mortais X: Um retorno às origens, conduzido por Kevin Greutert

Jogos Mortais X: Um retorno às origens, conduzido por Kevin GreutertJogos Mortais X é um dos lançamentos mais aguardados do ano de 2023, não só por retomar o personagem central da saga, com John Kramer sendo o protagonista, mas também por ser um retorno as origens e não mais uma tentativa de soft reboot da franquia Jogos Mortais.

Dirigido pelo veterano dentro da franquia Kevin Greutert, a trama se passa entre filmes, na interseção entre Jogos Mortais de James Wan e sua sequência direta Jogos Mortais 2. Mostra uma história no México, onde o John de Tobin Bell vai atrás de um procedimento experimental, tentando se curar do câncer terminal que carrega. No caminho, ele percebe que é um golpe, decide então pregar uma peça moral nos que estavam envolvidos com esse golpe.

Além do já citado Bell, o elenco desse se destaca especialmente por trazer de volta também Shawnee Smith, a interprete de Amanda Young, a mais célebre aprendiz de Jigsaw, mas não a única, já que houve uma série de discípulos terríveis, especialmente depois de Jogos Mortais 4.

O roteiro ficou a cargo da dupla Josh Stolberg e Peter Goldfinger, que juntos, fizeram Pacto Secreto, Piranha 3D, JogosMortais: Jigsaw e Espiral: O Legado de Jogos Mortais. O longa é produzido por Mark Burg e Oren Koules, com produção executiva de James Wan, Leigh Whannell, Daniel J. Heffner, Ketura Kestin, Stacey Testro e Gregg Hoffman, in memorian. Mais uma vez foi rodado pelo estúdio Twisted Pictures e foi distribuído pela Lionsgate.

A equipe técnica segue com alguns nomes já conhecidos, como o compositor Charlie Clouser. É editado mais uma vez por Greutert, que acumula essa função e a direção geral. Entre os aspectos técnicos que mudaram foram a direção de fotografia, que agora cabe a Nick Matthews - de Red Light - e o design de produção de Anthony Stabley, que foi diretor de arte de Stigmata e Brother: A Máfia japonesa em Los Angeles, além de ter feito efeitos especiais em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final e Feitiço Mortal.

A narrativa não tem qualquer receio de mostrar Tobin Bell em ação. Já inicia o trabalho mostrando Kramer agindo.

É bem curioso que esse se passe após Jogos Mortais, uma vez que Kramer não parece ser tão resoluto em sua crueldade poética. Há de lembrar que, cronologicamente, Jigsaw havia aparecido apenas no primeiro Saw, ficando deitado em uma poça de sangue por quase todos os minutos de filme.

Jogos Mortais X: Um retorno às origens, conduzido por Kevin Greutert

Mas estando em um filme dez é impossível ignorar que ele não seria tão positivo e esperançoso como acaba sendo em vários trechos.

Considerando que essa é uma franquia repleta de flashbacks e retcons quase infinitos, mostrar uma emoção improvável sendo explorada não é um pecado tão grande assim.

Qualquer pessoa que viveu momentos de desespero, seja por luto, por doença de familiares ou por estar desenganado sabe que possibilidades de frear uma doença terminal é naturalmente algo que enche qualquer pessoa de esperanças. Ao menos o roteiro de Stolberg e Goldfinger é esperto o suficiente para fazer piada com isso. Mais de uma vez é citada a ironia de gente desonesta ter tido o azar de tentar enganar justamente um assassino serial obsessivo.

A construção desse novo momento de John não é apresentada como um argumento ou artifício que engana. Greutert mostra momentos dignos da cafonice e pieguice, acaba desdenhando de filmes adocicados, copiando parte da estética dos melodramas feitos para a TV nos anos 2000.

Há trechos que lembram os filmes dramáticos que saem nas épocas de festas de fim de ano, ou os longas cristãos repletos de mensagens de autoajuda, onde a fotografia é toda clara, com luz estourada. Não fica claro se foi proposital ou não, se foi, a jogada foi genial, pois os momentos são engraçadíssimos, ainda mais se considerar tudo pelo qual passou Kramer e seus alunos.

Bell está bem, não parece estar de saco cheio, tal qual tinha sido em Jogos Mortais 6, Jogos Mortais: O Final e até em Jigsaw. Ele parece de fato querer interpretar a parte onde seu personagem está sendo enganado, simplesmente pelo ineditismo desse trecho.

Fica claro que exercer um papel diferente do que o ator fez em 8 dos nove filmes da saga era um desafio que valia a pena se dedicar.

Os personagens novos são muito aprofundados. São meio genéricos no geral, exceto uma, Cecilia Pederson, doutora feita por Synnøve Macody Lund, que é filha de um grande médico oncologista.

Seu esquema é caro, preocupado em ocupar todas as fragilidades possíveis para quem vê de fora. Até certo ponto, parece algo legítimo embora a forma como ela é mostrada já denuncie desde sempre que há algo errado ali.

Como a sinopse já demonstra a maldade dela, não há qualquer trabalho em esconder que ela é uma pessoa de caráter ruim. Lund atua bem nesse sentido, mais tarde, quando ela vira a chave, é canastrona, mas ainda muito carismática.

A principal preocupação dos fãs é que esse tivesse boas armadilhas. Dessa vez, os produtores trabalharam bem. Há jogos sangrentos, violentos e bastante sujos.

Jogos Mortais X: Um retorno às origens, conduzido por Kevin Greutert

São disparadamente melhores que o que foi visto nos três últimos longas. O design das máquinas é legal, parecem mesmo terem sido feitas por Kramer, e não por um discípulo sem os mesmos talentos e predicados.

O que pega um pouco é a participação de Shawnee Smith. Sua Amanda é reintroduzida meio sem surpresas. Até há um trabalho de colocar ela entrando em cena acompanhada de uma montagem videoclíptica característica, que carrega em si a assinatura de Greutert, mostrando ela ajudando John em momentos pontuais, mas ainda assim, parece deslocado. O visual de Young é indiscutivelmente bem mais velho do que ela estava em Jogos Mortais.

O rosto de Smith está completamente diferente, parece mais inchado, é como se ela tivesse passado por maus bocados depois do primeiro filme, mas voltou a parecer bela e jovial pouco antes de entrar na casa que serve de cenário para o segundo filme.

Não houve muito esforço da maquiagem nisso. Ao menos não houve a tolice de tentar rejuvenescer ela com CGI. Melhor que ela esteja fingindo ser mais nova, tal qual Isabelle Fuhrman em A Orfã 2: A Origem, do que colocar um boneco digital terrível.

Jogos Mortais X: Um retorno às origens, conduzido por Kevin Greutert

A personagem tem vários bons momentos, se apresenta de uma forma engraçada, cheia de tiradas cômicas, parece mesmo uma aluna buscando conhecimento junto ao seu mestre.

Ela se desdobra para servir John, é mostrada como alguém muito dependente emocionalmente dele, acaba assim retirando um pouco da sensação ruim de moça possivelmente apaixonada por seu algoz, como havia sido aventado em Jogos Mortais 3.

O que é indiscutivelmente ruim é a trama emocionante, envolvendo um menino dos arredores da clínica onde a operação de John aconteceu. Tudo que gira em torno desse personagem é tosco, bobo e desnecessariamente sentimental.

Ora, a clínica era apenas um armazém, uma fachada bem protegida, onde se fingia ocorrer procedimentos médicos tão perigosos que eram ilegais. O pai do menino era o caseiro do local, é ridículo como o pai dele de maneira conveniente, quando precisa. Ele é capturado a noite, provavelmente na madrugada, ao lado de casa e não gera qualquer suspeita.

O roteiro está longe de ser redondo. Há muitas pontas soltas, tantas que daria para fazer um artigo de revisão dessa obra, descortinando mais detalhes de bastidores e até o desenrolar dramático da obra. O que de fato é estranho e já condenável em um primeiro review é a tentativa de transformar um serial killer psicopata em um herói ou anti-herói.

De resto, há muitos ardis, provas para os vitimados, muitas enganações, muita violência gráfica e um grande louvor ao Torture Porn. Para os aficionados por filmes de matança e pela saga em si, é indiscutivelmente um prato cheio, inclusive com a cena pós-crédito, que acena para futuras sequências, mais ou menos nessa toada, mas que carregam os mesmos problemas de caracterização que Smith passou.

Essa versão pesa a mão bastante em melodrama. Poderia ter menos isso, certamente diminuiria a longa duração - há quase 120 minutos totais em sua duração.

Ao menos tem uma boa entrega de Tobin Bell, que se mostra um personagem que se sente traído, para além de ser só rancoroso. Pouco importa que ele está bem mais velho, pouco importa que não faça qualquer sentido ele pegar as vítimas mesmo estando doente. Pouco importa que a tal organização enganadora não tenha sequer cortado a pele do sujeito, para pelo menos fingir que ele passou por uma cirurgia.

Tudo é apenas um pretexto, para mais uma demonstração de revanche de Jigsaw. Pega mal, claro, a possibilidade de Pederson já saber que Kramer era o assassino serial. Se de fato ela falou a verdade, se ela sabia de antemão que o homem era um assassino, é simplesmente ridículo que ela seja tão arrogante ao ponto de cometer o golpe contra ele. É uma burrice infinita, inexplicada até dentro dos clichês de filme de horror.

Jogos Mortais X tem mais coisas positivas do que negativas. Greutert sabe muito bem que seu produto é medíocre, inclusive faz aqui sua obra cinematográfica mais madura. A depender do desempenho desse, pode-se esperar que hajam novos capítulos da saga, nesse estilo, em períodos de tempo entre filmes, que podem ou não trazer personagens antigos à tona, com a mesma canastrice de fingir que os atores não envelheceram nada.

Só se espera que eles usem bonés, para perder alguns anos diante de tela, afinal esse é um tipo de fan service irônico que caberia maravilhosamente.

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