Review: The Flash S03E05 - Monster

É bem comum o uso da expressão "o mundo não é preto e branco" para argumentar sobre as mazelas do planeta, as falhas de caráter e a natureza dúbia da humanidade. Em narrativas atuais, o cinismo envolvido tenta justificar a falta de elementos heroicos neste ou naquele personagem. Quando adaptado aos novos tempos, o herói de quadrinhos "precisa" exibir camadas que, no entendimento de muitos roteiristas e de uma parcela do público, significa descaracterização para as audiências conseguirem enxergar naquele superser alguém falho e passível de erros. Caso essa análise soe familiar, talvez seja porque a DC tem exibido esse comportamento na construção de seu universo cinematográfico. Nos quadrinhos e na TV, no entanto, a coisa muda bastante, com os personagens da editora voltando à velha forma, que muitos podem achar antiquada, mas que, em uma história de super-heróis bem escrita, pode ser usada para comentar as falhas do ser humano, sem que para isso precise fazer o espectador ou leitor deixar de acreditar que uma pessoa possa fazer a diferença. Em Monster, The Flash discute esses temas e ainda usa um grande monstro como metáfora para preconceito e distanciamento.

Embora seja uma série de super-herói, obrigada a semanalmente trazer um desafio ao protagonista e efeitos visuais que justifiquem o uso de seu uniforme colorido, a adaptação do Velocista Escarlate jamais escondeu que sua maior força está na ligação existente entre seus personagens principais e coadjuvantes. O início desta terceira temporada, por exemplo, sofreu o escrutínio de seu público por usar a saga Flashpoint não para trazer inúmeros fanservices que uma realidade alternativa geralmente proporciona, mas para desenvolver ainda mais Barry e sua equipe. Monster é um episódio que exibe certas similaridades com esse pensamento. Embora contenha um monstro enorme que assusta a população de Central City, o roteiro de Zack Stentz não está interessado em grandes sequências de ação. O importante aqui, assim como foi o excelente The Runaway Dinosaur, também escrito por Stentz, é focar nos temas, na discussão e, com isso, dar tridimensionalidade a alguns personagens, principalmente ao vivido por Tom Felton.

Julian Dorn foi apresentado aos fãs da série como um empecilho na vida de Barry e logo no começo deste episódio isso é levado às últimas consequências pelo texto. Há até alguma semelhança com o Draco da franquia Harry Potter, mas conforme a trama se desenrola, fica clara a intenção de desconstruir o personagem. No final, não apenas a sua atitude é vista de outra forma, mas também, é dado um grande destaque à influência do Flash. Como herói, ele não é apenas responsável por salvar vidas, mas também por servir de inspiração. Essa é a natureza menos "cinza" deste universo televisivo da DC. Aquele que veste a roupa colorida pode, sim, ser um símbolo de esperança. E, no mundo atual, quando uma parcela enorme da população se rende a preconceitos para justificar perseguição à minorias, construções de muros e outros absurdos sub-humanos, mostrar que o diferente não é o problema, e sim as condições e o cenário, torna este quinto episódio da terceira temporada não apenas rico, mas tematicamente relevante.

Outro lado da situação pode ser observado no relacionamento entre Caitlin e sua mãe, a Dra. Tannhauser (Susan Walters). Em um cenário de culpa e afastamento, ambas precisam resolver problemas do passado. Mas, depois de tudo que Snow já passou e da forma fria como foi tratada na infância e adolescência, fica a sensação de que seu lado sombrio pode mesmo se manifestar conforme usa seus poderes de meta-humana. Novamente, a culpa não é por ela ser diferente, mas de sua bagagem emocional. Caberá ao Time Flash, como sua última cena mostra, resolver esse problema. A família de Caitlin é, hoje, a formada por seus colegas de trabalho e não pelas ligações de sangue. A execução da subtrama da futura Nevasca, no entanto, é um pouco trôpega e, mesmo orgânica aos temas do episódio, parece deslocada do ritmo imposto pelo texto e traz uma virada envolvendo um dos empregados de sua mãe que, infelizmente, não funciona como deveria. Muito se deve a interpretação caricata do cientista, que subitamente se transforma em um vilão digno de um episódio de Scooby-Doo.

É quando explora seus personagens que Flash se sai melhor, mas ainda assim, há problemas aqui e ali com algumas "arestas" que poderiam ser aparadas e abordadas em outros momentos. A relação de Joe com a Promotora, por exemplo, não se desenvolve, mas o episódio a aborda assim mesmo, algo que poderia fazer em uma ocasião futura, que não desse ao episódio uma sensação de inchaço. Por outro lado, o destaque dado ao novo Wells traz elementos de humor pontuais e ainda não deixa que a desconfiança se alastre por várias semanas. O personagem de Tom Cavanagh também enfrenta "preconceitos" e se encaixa bem no que Monster traz à luz do debate.

No final, a criatura a ser derrotada é uma que pode, sim, destruir vidas, mas que nada tem a ver com superpoderes. O monstro do preconceito, se alimentado continuamente, não afeta apenas aqueles que são perseguidos. E, se histórias de super-herói são contos morais que devem inspirar o público, The Flash certamente traz sua parcela de mensagens para afetar positivamente a audiência.

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