Review: The Flash S02E02 - Flash of Two Worlds

O texto abaixo contém spoilers do episódio.

O conceito de multiverso se tornou parte primordial do universo DC nos quadrinhos na Era de Prata. Foi uma saída bem pensada para não desperdiçar alguns personagens da Era de Ouro que haviam sido substituídos por versões mais modernas para a época, além de ter aberto a possibilidade para que os roteiristas não ficassem presos à linha temporada padrão, podendo criar histórias com heróis e vilões alternativos aos medalhões da editora. O Flash original, Jay Garrick fora substituído alguns anos antes por Barry Allen, que usava um uniforme bem diferente e tinha uma personalidade bem distinta do velocista de capacete prateado. Algo semelhante aconteceu com o Lanterna Verde e assim por diante.

Na série de TV do Flash, esse conceito de múltiplas Terras (que nas HQs deu origem à infinitas sagas) finalmente começa a ser abordado, abrindo possibilidades interessantes de narrativa, ao mesmo tempo que amplia o universo televisivo, que já conta com tantos personagens. Embora este segundo episódio da nova temporada, Flash of Two Worlds, indique problemas pontuais que ainda precisam ser corrigidos, se apresenta satisfatório ao dar chances do multiverso ser apresentado e explicado, além de introduzir Jay Garrick, vivido por Teddy Sears com uma bem-vinda aura de sinceridade e heroísmo.

O conflito inicial, construído na base da desconfiança de Barry quanto à improvável história de Jay, mostra como o protagonista voltou mudado para a segunda temporada, algo que faz muito sentido por ter sido enganado pelo Dr. Wells por tanto tempo. E a dinâmica que vai sendo desenvolvida aos poucos, funciona, pavimentando o caminho para o relacionamento de aluno e mentor, que parece ser o objetivo aqui. Muito bem aproveitado também é o visual do personagem, totalmente fiel aos quadrinhos, algo que sempre pareceu impossível de ficar bom em live action, mas que soa orgânico, principalmente para abordagem mais fantasiosa do design mostrado nas cenas da Terra-2.

A entrada de Garrick para a equipe vem acompanhada de uma tensão sexual com Caitlin que surge como um sintoma típico do CW. E incomoda um pouco, uma vez que a moça praticamente acabou de ficar viúva. É estranho imaginar que a personagem se sentisse atraída tão rapidamente nessas circunstâncias, sendo que com 23 episódios, esse relacionamento poderia vir de forma mais natural no futuro.

Mas não foi apenas o "Joel Ciclone" a fazer sua estreia em Flash. Shantel VanSanten entra para o elenco regular interpretando Patty Spivot, um novo par romântico para Barry. E a química entre ambos é excelente. A destemida e determinada policial representa um lado do protagonista que Iris nunca conseguiu suprir: a personalidade enérgica. Com a série investindo em ambos como um casal, será bem interessante como essa relação irá se desenrolar. Por outro lado, é evidente o quanto a filha do Det. West cresceu como personagem. Partindo para uma participação mais ativa e se tornando um porto seguro para Barry tomar certas decisões, Iris finalmente encontra seu lugar na equipe.

Aos poucos, a temporada também vai revelando os poderes de Cisco. E é ótimo que Carlos Valdés tenha a oportunidade de ser mais que o mero alívio cômico. A angústia demonstrada ao perceber que é diferente e ao questionar a origem de suas habilidades é bem sentida e coerente. O ator tem um bom alcance dramático, até pela simpatia e carisma exibidos durante todo esse tempo.

Apesar de não repetir totalmente os problemas narrativos relacionados ao vilão do episódio anterior, a chegada do Demônio da Areia não chama atenção. Se na primeira temporada a série não demorou para abandonar o "meta-humano da semana", parece que a trama da Terra-2 e a ameaça de Zoom servirão como desculpa para o retorno desse elemento já batido em séries procedurais. Tomara que isso seja apenas para acostumar o espectador com a ideia de novas ameaças vindas de um universo paralelo e a história parta para uma abordagem mais direta logo. O público não se interessa mais por essa fórmula. Ao menos os efeitos visuais que dão vida aos poderes do antagonista são melhores do que aqueles mostrados com o Esmaga-Átomo. Outro detalhe que parece um tanto desproporcional: é o segundo vilão seguido a morrer na luta final. E dessa vez a intenção do Flash parecia mesmo matar o personagem, afinal, se a ideia era transformá-lo em vidro, o que imaginaram que aconteceria depois? E o roteiro passa por cima disso, como algo corriqueiro. Ao menos com a ameaça da semana passada parecia haver algum remorso por parte dos heróis.

Duas coisas ainda soaram um tanto artificiais: a chegada da mãe de Iris, que parece repetir a trama com a mãe da Laurel em Arrow e a rápida aparição do Dr. Wells na cena final. Como muito se falou quanto a identidade de Zoom durante o episódio, fica aquela dúvida: será que o Dr. Wells da Terra-2 é o vilão de novo? Tomara que não. E fica no ar também a questão de qual será o papel do personagem nessa temporada? Como será o encontro de sua versão alternativa com os protagonistas e o que isso irá trazer de bom para a série, fora a vontade dos fãs de poderem conferir mais do Tom Cavanagh.

Flash of Two Worlds traz o que a série sempre teve de melhor: o clima irreverente, que abraça conceitos absurdos em favor da diversão, trazendo um clima típico da Era de Prata. Por outro lado, seus pontuais problemas dão sinais de alerta que merecem atenção. Podem atrapalhar mais do que contribuir. Claro que o programa merece o benefício da dúvida pela excelente primeira temporada, mas não dá para esconder a preocupação, tendo em vista a tradição das séries do CW em apelar para elementos de folhetim.

 

Alexandre Luiz

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4 comments

  1. Avatar
    carla machado 15 outubro, 2015 at 14:09 Responder

    Já tinha lido aqui dos vários Fhashes , mas foi bom eu entender, porque não via muito sentido …
    Por que diabos a Caitlin casou hein? Na hq tem isso? Vai ter alguma consequência?
    Na hq , o Reverso tb morre?

    • Avatar
      Alexandre Luiz 15 outubro, 2015 at 14:56 Responder

      Carla, nas HQs a ligação entre a Caitlin e o Nuclear é diferente, eles não são um casal. Quanto ao Flash Reverso… olha, é um tanto confuso. Nos quadrinhos Flash Reverso é mais um conceito do que um nome. São varios vilões que tinham o poder da velocidade e fizeram parte das galerias de todos os Flashs, funcionando como "reversos" dos heróis. O Eobard Thawne nas HQs é, na verdade, o Zoom. Por isso a desconfiança quanto a versão da Terra-2 também ser o vilão nessa temporada…

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    Allan Gomes 17 outubro, 2015 at 01:04 Responder

    Também me incomodou o assassinato do vilão, mas visto que o recurso da prisão dos Stars Labs não foi abandonado tô desconfiado que pro Barry "bandido bom é bandido morto".

    Tu acha que o Joel Ciclone vai ficar a temporada inteira e fazer parte do elenco fixo? A dinâmica mentor-aluno pode ficar meio batida aqui, como se o Barry, pela característica jovial, fosse sempre carecer de uma rede de pessoas mais velhas e sábias pra lhe darem conselhos e direcionarem seu crescimento.

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      Alexandre Luiz 17 outubro, 2015 at 10:02 Responder

      Acho que o Jay fica até o final, sim, até por conta do Zoom ser vilão da Terra-2 na série. A dinâmica mentor-aluno pode funcionar, acredito que irá. A série já estabeleceu o Barry como herói em formação, sempre aprendendo mais sobre os limites da força da aceleração e tal, faz sentido ele ter contato com essas figuras mais experientes. Claro que isso precisa ser trabalhado de forma a evoluir o personagem sempre, pra não parecer que ele não aprende muita coisa. Por exemplo, a habilidade de girar os braços ele aprendeu na s01 e está usando. Temos que sentir que ele está aprendendo isso tudo.

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