Os Observadores é um dos lançamentos do cinema de horror e suspense cujo maior chamariz certamente é o fato de ter a direção uma pessoa que é filha de celebridade. Estrelado por Dakota Fanning, o filme tem como figuras mais celebres o produtor M. Night Shyamalan, o mestre do cinema repleto de plot twists e tem direção de sua filha, Ishana Shyamalan, que estreia aqui como diretora de cinema.
Ela também escreveu o roteiro e curiosamente, acabou fazendo o seu filme ter a mesma pegada das produções recentes que seu pai dirigiu, acrescentando só horror e elementos de sci-fi como também pitadas de fantasia.
A história acompanha uma moça de gênio forte e personalidade depressiva acaba caindo em estranha floresta no oeste da Irlanda, enquanto estava em uma viagem de trabalho. Depois de se perder nessa estranha localidade, ela encontra um abrigo, mas fica presa nele, ao lado de estranhos, que são observados por criaturas que todas as noites a partir do momento em que caem nessa área.
O roteiro é baseado no livro The Watchers de A.M. Shine. O filme foi produzido por Nimitt Mankad, Ashwin Rajan além do já citado Shyamalan, que foi o maior financiador do filme, quase como um fiador do mesmo, sendo também um produtor executivo não oficial. Já Stephen Dembitzer e Jo Homewood são os produtores executivos de fato.
O nome original do longa é The Watchers. Ele foi posteriormente chamado como The Watched no Reino Unido e na Irlanda para evitar confusão com a série da Netflix, The Watcher.
Na Áustria e Alemanha é chamado de They See You. Também é conhecido como Observados, em países de língua latina como Argentina, Chile, Colombia, Mexico e Uruguai. No Canadá é Les guetteurs, na Croácia é Promatrači, na Estônia é Jälgijad, na França é Les Guetteurs. Na Itália é The Watchers - Loro ti guardano, na Espanha é Los Vigilantes e em Portugal é conhecido como The Watchers: Eles Veem Tudo.
Os estúdios por trás do filme são New Line Cinema, Blinding Edge Pictures, Bord Scannán na hÉireann / The Irish Film Board, Inimitable Pictures e claro a Warner Bros, que distribuiu o filme nos Estados Unidos e no Brasil.
Essa é uma coprodução irlandesa e americana, com filmagens na Irlanda.
Ishana dirigiu episódios de Servant, foi produtora e co-produtora da mesma, além de ter escrito episódios para o programa. Ela foi assistente de direção de segunda unidade em Tempo.
Nimitt Mankad foi produtor de Não Olhe para Trás e Trumbo: Lista Negra, foi produtor executivo em Capitão Fantástico e Trauma.
Ashwin Rajan produziu parte da filmografia de Shyamalan, especialmente em Vidro, Tempo, Batem a Porta. Foi produtor executivo em Wayward Pines, Fragmentado e Servant. Foi co-produtor em Demônio e Depois da Terra.
Shyamalan geralmente produz apenas os próprios filmes, como boa parte dos já citados. O último que ele produziu sem dirigir foi Demônio, que é baseado em um texto seu.
O começo do filme se dá com uma narração bastante intrusiva e esquisita, que teima em aparecer no início, para nunca mais retornar. Também aparece uma tomada aérea de drone, interrompida por um fugitivo, que corre pela floresta, de modo muito semelhante ao começo do recente (e criticado) thriller Os Estranhos: Capítulo Um.
O personagem é John, rapaz interpretado por Alistair Brammer, que só seria devidamente apresentado muito tempo depois dessa aparição. O sujeito caminha pela noite e passa pela mesma placa, que indica ponto de não retorno número 108.
Ele parece estar em um espaço que compreende uma falha do espaço, que desemboca em uma espécie de looping bizarro, que visa repetir a localidade, como se fosse aquele um espaço distorcido por uma força externa, que transforma o lugar em algo limitado e viciado.
Sem qualquer explicação esse rapaz é atacado por uma ave, que o faz cair de uma árvore. No chão ele vê algo, mas ao público não é permitido enxergar quem ou que é, ele simplesmente é pego e dragado, para longe, fugindo da vista da câmera do cinematógrafo Eli Arenson, de Inimigo Próximo e Cordeiro.
Nesse trecho já aparece algo que causa bastante irritação: a neblina. O aspecto enevoado turva a visão do público, fazendo com que as coisas fiquem confusas visualmente, fato que torna o trabalho do cinematógrafo em algo terrível e difícil até de compreender.
No rádio se anuncia acontecimentos bizarros no Condado de Wicklow, mas a trama vai para a parte urbana da Irlanda.
Depois disso a trama acompanha uma atendente de pet shop, no caso a personagem de Dakota Fanning, chamada Mina. Ela fuma um cigarro eletrônico, mas seu chefe educadamente pede para ela não fumar na loja, já que irrita os bichos.
Mostra a ela uma raça de ave, conure dourada, que seria uma encomenda cara, que mais tarde, moveria a trama para frente. O animal tem um aspecto visual semelhante ao de um papagaio ou arara, tem uma cor amarela forte, bastante bonita.
O chefe pede que a menina leve o animal até um zoológico, perto de Belfast, no interior do país.
No caminho, a menina decide que vai utilizar o bicho como despejo dos seus problemas, simplesmente desabafa com uma ave que pode aprender a repetir frases. Ela o chama de Darwyyn e em meio ao discurso, solta que sua mãe morreu, assumindo assim que ainda sente culpa por essa perda.
Nesse ponto, ela para a ave não morrer e o bicho repete essa fala, especialmente, reforçando a atmosfera de terror, que até então, só teve menção lá no início.
Se nota um cuidado por registrar quase todos os momentos com cores quentes, baseadas no laranja, coral ou abóbora.
É assim na loja, especialmente nas cápsulas onde os animais ficam, também na casa da menina e até na boate, onde ela vai "fantasiada", fingindo ser uma outra pessoa, usando inclusive uma peruca para disfarçar sua real identidade.
A questão de ela imitar bem pessoas, gostando de repetir falas e clichês - incluindo aí a relação com Darwyn - e também a condição de usar disfarces fez com que muitas pessoas que viram o filme achassem que haveria um plot twist com a "filiação" de Mina.
Aparentemente, pelo menos nos indícios do filme, nada ocorreu nesse sentido. A personagem tem dificuldade em mostrar quem realmente é, possivelmente sofre com uma crise de identidade, que obviamente tem ligação com a vida órfã que teve. No caminho ela ouve uma gravação telefônica de Lucy, cuja voz também é de Dakota Fanning, ou seja, as duas são irmãs gêmeas.
Uma outra possibilidade é que Mina usa perucas para se diferenciar de sua irmã, embora pareça ter apreço por ela. Ela não despreza a irmã, tanto que ouve em looping a mensagem que ela lhe mandou. Há ali algo mal digerido, dito inclusive por sua irmã, que lamenta o seu sumiço e sua ausência, que inclui até o fato dela não ter visto os seus sobrinhos crescerem.
Há uma coincidência entre esse e o livro Drácula, escrito por Bram Stoker, já que Lucy e Mina são os primeiros nomes de personagens centrais da trama do conde vampiro. Não há qualquer menção mais enérgica a criaturas vampirescas no filme.
Curiosamente, mais tarde na trama, a personagem de Fanning ficaria em uma posição de duplo, diante de espelhos boa parte da trama.
Lucy é carinhosa, a chama de Meens, mas nem isso comove a irmã. O máximo de tratamento pessoalizado dedicado a ela é o fato de Mina ter repetido o que a irmã disse na mensagem que estava na caixa postal - outro sinal de que ela poderia ser um dos tais observadores.
A protagonista é tão viciada em viver em seu mundo particular e pensa tanto em seus próprios problemas que não percebe nada, não percebe a vida passando, os quinze anos da morte de sua figura materna, tampouco nota um mural cheio de avisos de pessoas desaparecidas, que fica ao lado de uma das paradas por onde passa.
Ela então chega a uma área florestal, parecida com a do início do filme e não vê como passar de carro por ali. Decide sair, levando consigo o pássaro na mão, para atravessar o pedaço de floresta. Pensando de maneira pragmática, não haveria motivo para ela fazer isso, visto que ela não iria passar uma floresta toda a pé. Ela sequer tem tempo de pensar nisso, já que se perde, mesmo tendo dado poucos passos, não encontra sequer o próprio carro, mesmo que tenha acabado de desembarcar dele.
O mistério nesse cenário cinzento passa a se dissipar quando ela encontra uma senhora de cabelos grisalhos, chamada Madeline. Ela é uma personagem de Olwen Fouéré, atriz veterana, que passou a ficar conhecida após participar de fitas de terror recente.
Ela esteve em Mandy: Sede de Vingança e O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface.
Curiosamente sua caracterização lembra o visual de uma bruxa anciã, é magra, de cabelos brancos, embora pareça alguém preocupada com o bem-estar da menina.
Ela a chama a menina para correr com ela, a fim de entrar em um ambiente fechado, chamado Coop, onde tem mais algumas pessoas. Junto as duas, estão Ciara e Daniel, personagens respectivamente feitos por Georgina Campbell de Noites Brutais e Oliver Finnegan de Outlander.
Se colocam em uma fila onde as pessoas ficam lado a lado, para serem vistas pelos tais observadores (watchers) eles ficam primeiro diante de uma imagem refletida.
Quando isso acaba ela tenta ir embora, mas não consegue. Darwyn inclusive repete o mantra, para ela não morrer... Madeline a encontra, diz que essa floresta causa alucinações nas pessoas, mas, coincidência ou não, praticamente não há mais distorções da realidade após ela falar isso, exceto por um momento desprezível, perto do final.
Há regras na floresta, assim como na Coop e aparentemente, quem estabeleceu os limites foi alguém que Ciara e Daniel chamam de Professor. As normas pedem para não virar as costas para o espelho, não abrir a porta depois de escurecer, não chegar perto das tocas além de mandar ficar sempre na luz.
Os quatro estão no território dos observadores, eles que permitem o quarteto viver, desde que fiquem dentro da área de controle, dentro da estrutura levantada, que está ali há um bom tempo.
Dentro do galpão também predominam cores quentes e calorosas, ou seja, há mais luz laranja. Isso aparentemente teria algum significado oculto, mas não é explorado.
Os sobreviventes se exibem, como se estivessem em um palco. Ao se verem no reflexo do espelho, também são contemplados pelos observadores.
O pouco que se entende desses "monstros" é que eles não podem andar de dia, se fizerem, morrem. Também não conseguem sair da ilha, sob pretexto de perecer igualmente. Eles imitam os humanos, tem poderes de transmutação, por isso observam tanto, já que imitam homens e mulheres, a espécie que está no topo da cadeia alimentar da Terra.
Tentam assim parecer o máximo possível com a humanidade. Dentro do bunker há uma televisão, onde passa um estranho e bizarro reality show de namoro, onde os participantes são pessoas vazias, com sotaque britânico fortíssimo, insuportável.
Aparentemente, parte da reflexão das criaturas tem a ver com esse reality show, já que são parte das fitas gravadas que há no coop, mas elas não são tolas, tanto que tentam imitar o quarteto de estranhos que residem naquele espaço.
Nas partes diurnas, Mina entra em uma caverna, vê um túnel subterrâneo, além de uma bicicleta subindo por uma corda, além de imagens desconexas, que podem ser reais ou confusão mental.
O filme varia pouco entre situações, eventualmente cada uma das regras da estabelecidas são quebradas. Dessa forma é possível contemplar um pouco da parte externa do Coop, com os observadores aparecem na forma monstruosa e original deles, mas sem grandes detalhes de qual é aparência que eles possuem.
O movimento dramático do filme gira desnecessariamente em torno do trauma de Mina, dela se sentindo culpada pela morte de sua mãe, já que ela se foi em um acidente veicular, que só ocorreu graças a um ato de desobediência infantil dela. Ao menos é isso que ela acha.
Essa é uma espécie muita antiga, tanto que há lendas sobre eles, muitos nomes, como changelings, fadas, povo alado. Depois de todo esse discurso expositivo, da parte de Madeline, o quarteto acaba percebendo uma comporta escondida embaixo da mesa, justamente em um ataque quase acertado da parte dos observadores.
A partir daqui falaremos com mais spoilers. O aviso está dado.
Fica bem evidente que alguém daquele grupo está mentindo, mas essa revelação demora a ocorrer.
Ao descerem eles veem muitos equipamentos, livros, camas, até comida estocada. Daniel cita que não precisariam caçar mais, embora de fato mal tenha sido mostrado qualquer ato desse tipo, ao menos de maneira clara, exceção a uma ordem ou outra que Madeline dava a Daniel. É curioso também que por ter tanta comida ali, não fique a dúvida sobre se é seguro comer ela ou não, pois estava ali há muito tempo.
No computador há vídeos, arquivos velhos, narrados pelo tal professor, que agora recebe nome e rosto. Ele é Rory Kilmartin, interpretado por John Lynch de O Jardim Secreto e Morte Negra.
As gravações são antigas, datadas de 2009. Neles, afirma que fez uma fortaleza impenetrável, que ele chama de País das Maravilhas, em atenção ao livro com Alice, do autor Lewis Carroll.
Ele documentou os estudos de observação dessas criaturas, cita vários fatos bizarros, como a questão de levar 13 pessoas lá para trabalhar todos os dias. Mesmo vendo essas pessoas serem dragadas, ele estranhamente subestima as capacidades dos opositores, especialmente de emulação, se surpreende principalmente que eles imitem tão bem, talvez não seja um sujeito tão genial quanto pensa.
Com quase 80 minutos, os personagens conseguem enfim sair da floresta, mas não sem perdas. Acabam ficando apenas as meninas.
A protagonista então decide ir a uma universidade, a que foi citada nos vídeos do professor. Vai analisar os papéis dele e descobre fatos sobre as "fadas" e seus filhos, além de teorias de Kilmartin. Ela marca de conversar com Ciara, avisa que tem novidades a respeito de Madeline.
Desnecessário falar mais a respeito disso, o filme cai no clichê do doutor e homem genial que não consegue superar o luto, que faz experiências e traz algo perigoso para humanidade, unicamente para suprir uma carência sua.
Os momentos finais têm muitas incongruências e desnecessárias conveniências. O plot twist é frágil e fica pior quando encontra com o discurso piegas, humano e baseado no amor. Os Observadores não promete muito e ainda assim entrega muito pouco. Tem bons atores, na maioria subaproveitados e tem um texto fraco de Ishana. Poderia ser legal, não fosse o fato de tentar surpreender com suas várias tentativas de viradas dramáticas. Resulta em uma boa premissa, muito mal explorada.
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