Alerta Trilhas 03 - The Village – Unreleased Cues

É difícil começar um texto ou escrever mais de uma linha falando sobre a trilha que provavelmente é a minha favorita. E digo isso tendo sido fã de trilhas sonoras a minha vida inteira e sempre escutado inúmeros exemplares musicais que acompanham filmes. O que coloco aqui para que não seja logo atacado por uma multidão esbravejando “John Williams” ou “Ennio Morricone” de pulmões cheios de ar e ignorância. E não é uma trilha que caminha sozinha, porém, ao escutá-la sem o acompanhamento da película há uma experiência absurda, especialmente em se tratando do release que estou analisando aqui, que é uma reunião de peças não lançadas oficialmente na época do filme. E a trilha que será comentada aqui está em um patamar que poucas alcançaram: o de ir além de seu âmbito, o de se transportar para uma outra camada de qualidade estética, o de se tornar algo eterno e com tanta aura (estética) que ao se ligar a alma de quem a escuta consegue fazer uma dança belíssima de sentidos única.

O foco em questão está na composição primorosa de James Newton Howard para a obra-prima (muito mal interpretada) “A Vila”, de M. Night Shyamalan. Uma peça distinta do mundo dos soundtracks, a peça passeia por caminhos sombrios e belos da vida, trazendo uma nostalgia leve consigo e pairando sob uma névoa clara de sentimentos poderosos ligados ao amor e a morte. Carregada de cordas leves que pesam em momentos dramáticos e pontuais, a obra traça uma pequena jornada dentro de si, passando por cenários obscuros e trazendo sons mais pesados que emanam um ar sempre noturno (as cenas mais assustadoras acontecem ao luar) e contrastante dentro de si mesmos, onde temos faixas como a belíssima “That is Why I Am on this porch” que define isso perfeitamente, ao apresentar uma gama interminável de conflitos sonoros onde momento, sim, está romântica e emanando uma clareza esperançosa, e em outros, um ar trevoso carregado de tristeza e falta de vida.

A minha intenção não é fazer um texto longo repleto de faixas citadas que podem ser uma fantástica experiência, até porque considero todas as faixas aqui essenciais. Mas algo tem que ser citado, que é o trabalho da violinista Hilary Hahn, que com seus solos, traz o tema principal da obra e acarreta a maior chuva de emoções que se pode conseguir. Inclusive o próprio James Newton Howard ficou pasmo ao ouvi-la tocar seu tema pela primeira vez, e falou que ela trouxe algo que a trilha nunca teria sem ela. Esse algo é uma extrapolação do universo sonoro absurda, onde o ar dos pulmões do ouvinte se tornam pétalas, leves e praticamente inexistente, mas com uma ternura absurda. O que eu quero dizer é que é algo tão belo que faz com que qualquer um que ouça se transporte para um universo mais bonito dentro de si mesmo, uma fuga rápida, mas que ao som terno das notas de Howard tocadas por Hahn se torna algo atemporal.

Para não me perder em mais babação de ovo e elipses que possam parecer exageros, paro por aqui. Mas com um único pedido: Ouçam o quanto antes e me digam se não é algo único quando se diz respeito ao belo.

Tiago Batista

Comente pelo Facebook

Comentários

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta