Review: The Flash S01E01 - City of Heroes

flash01sideExiste uma ideia um tanto errada quanto a DC Comics. Muita gente acha que todo título da editora é sombrio e pesado como o Batman. Sim, depois dos anos 70, principalmente na década seguinte, os roteiristas da Distinta Concorrente passaram a ter uma liberdade maior para inserir conflitos mais humanos em seus heróis. Mas, lá no fundo, uma das maiores características da DC é ter personagens que poderiam até ser considerados antiquados, quando analisados em sua natureza, com uma função muito clara: salvar vidas e inspirar o bem. Mas a corrente atual é a de pender para o sombrio na hora de adaptá-los para as mídias audiovisuais. Com o Arqueiro Verde é exatamente essa a abordagem. Por sorte, quando os mesmos produtores de Arrow resolveram ampliar o universo da série criando um spin-off baseado no Flash, a ordem foi mostrar o outro lado da moeda: a parte iluminada.

Central City não é uma cidade corrupta. Claro, deve haver em seus núcleos de autoridade alguns frutos podres, mas não é regra. Os policiais fazem seu trabalho, e a falta de segurança da população não é diferente de toda cidade grande e progressista (o crime existe em qualquer lugar, o que muda é como se está preparado para lidar com ele). Por isso, o que leva Barry Allen (Grant Gustin, esbanjando carisma) a usar uma roupa de super-herói é o surgimento de um novo tipo de criminoso, um que a polícia não está pronta para enfrentar. Tudo graças ao acidente com o acelerador de partículas do S.T.A.R. Labs, visto já na segunda temporada de Arrow e relembrado agora neste piloto de The Flash, que liberou uma quantidade massiva de energia, responsável por dar poderes a algumas pessoas.

Inicialmente, esse conceito lembra bastante a idéia de Smallville, que toda semana colocava o jovem Clark Kent para enfrentar alguém afetado por pedaços de meteoro derivados da explosão de Krypton. Mas os produtores já garantiram que nem sempre os vilões terão super-poderes e vários usarão da tecnologia para cometer seus crimes. Se a série encontrar o equilíbrio entre “caso da semana” e uma trama contínua, como a adaptação do Arqueiro fez em seu primeiro ano, já é um ponto positivo. Seriados baseados em quadrinhos são perfeitos para esse tipo de narrativa, trazendo vilões conhecidos dos fãs a cada nova aventura.

O episódio em si é extremamente sólido e, por incrível que pareça, não sofre do mal de vários pilotos que parecem querer contar tudo em apenas 44minutos. É uma das poucas estréias dos últimos anos que não soa desnecessariamente apressada (sem intenção de trocadilhos) ou que precisa de mais 44 minutos para satisfazer o espectador. Os relacionamentos ficam muito bem estruturados e cabe ao restante da temporada evoluí-los. O tema também é claro, mostrando que o Flash será o herói para inspirar as pessoas, fazê-las rir novamente, apesar do trauma causado pelo acidente do acelerador de partículas. Essa característica vem representada pela personagem Caitlin Frost (Danielle Panabaker), uma das ajudantes do herói, em uma estrutura bem parecida com Arrow. A comparação neste sentido é inevitável, pois são vários paralelos, como a garota que serve de interesse amoroso do protagonista ser filha de um policial, que também é um aliado. Mas isso é um elemento tão “quadrinhos” que mesmo soando repetitivo, e perde pontos de originalidade por isso, acaba se revelando como referência às origens nas HQs e se torna aceitável.

O elenco parece já estar bem a vontade e Candice Patton (Iris), Jesse L. Martin (Joe) e Carlos Valdes (Cisco) não fazem feio, mesmo que os diálogos não ajudem muito (é uma série do CW e sobra exposição). No entanto, é Gustin que se destaca e carrega o episódio, com seu jeito desajeitado e inteligente, sem cair no estereótipo de “herói forte de queixo quadrado”. Seu maior trunfo é o intelecto, além é claro da supervelocidade, que seria apenas uma habilidade “cool” se o protagonista não fosse esperto o bastante para usá-la corretamente. Tom Cavanagh é outro ponto positivo com o seu Harrison Wells, o cientista que deixa uma enorme dúvida no ar quanto as suas intenções.

Tomando emprestadas algumas idéias de O Espetacular Homem-Aranha, como a personalidade nerd/cool de Barry ou a promessa feita ao Detetive Joe West no final, o roteiro procura não ousar muito e faz o básico. A vantagem é que funciona. Neste caso, o básico é o melhor a ser feito, até porque os envolvidos sabem das limitações técnicas da série e, claro, das intenções da emissora quanto ao público-alvo. É um programa para jovens adultos e mesmo que esse argumento pareça defesa para fraquezas eventuais do texto,não significa que a série tome o espectador por idiota. Há muito ainda a ser abordado e é por cautela que os roteiristas dividem tão bem as subtramas na estréia. Melhor não prometer muito para evitar  pontas soltas demais caso o cancelamento seja prematuro (algo difícil em se tratando do CW, principalmente se conseguirem pegar a audiência de Arrow).

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Quem está preocupado com os efeitos visuais, pode ficar tranqüilo. São convincentes, assim como o uniforme improvisado do Flash, que funciona muito bem em live action. O vilão da estréia também não compromete, por não chamar demais a atenção para si, uma vez que neste piloto o mais importante é a relação dos personagens e a descoberta das habilidades de Barry. E por mais que pareça coincidência sua aparição justo no dia que Allen sai do coma, é importante ressaltar que o texto dá a indicação que outros meta-humanos já apareceram pela cidade.

Com uma estréia eficiente, um bom elenco e uma trama que parece ter ainda muito para desenvolver, The Flash tem tudo para agradar quem já acompanha Arrow e, principalmente os fãs do velocista da DC, com uma adaptação bem fiel às histórias recentes do personagem. Fica a torcida para que essa abordagem mais leve e otimista consiga redefinir para o público, o significado de heroísmo. É bom terminar uma história do gênero com um sorriso no rosto, para variar.

Alexandre Luiz

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