A Carga do 7º de Cavalaria é um filme de faroeste que cuja história passa pelo período conflituoso e famoso da Guerra Civil dos Estados Unidos, colocando frente a frente um batalhão de soldados sulistas que se aliam aos apaches para atacar os militares das colônias do norte que estavam no Forte Worth.
Graças a sua estética, há quem defenda que ele é um Western Spaghetti, mas há quem acredite que não, que ele é um protótipo do estilo, já que guarda mais semelhanças com o tipo de cinema que se fazia nos Estados Unidos, não tendo muitas semelhanças com o que fazia o cinema "clássico" de bangue-bangue que Sergio Leone, Sergio Corbucci e companhia propagavam.
Lançado em 1965 e estrelado pelo ator britânico Edmund Purdom, essa é uma coprodução Espanha e Itália, que tenciona parecer com uma obra estadunidense, tanto que sua equipe de produção usa pseudônimos anglicanos.
O longa tem direção de Albert De Martino, que como diretor assina Martin Herbert. O roteiro é de Martino, que inverte o nome, se chamando Herbert Martin e Eduardo Manzanos, que faz também o argumento e é creditado como Silver Bem.
Na Itália o longa-metragem estreou no dia 17 de dezembro de 1964. Na Alemanha Ocidental chegou aos cinemas dia 21 de maio de 1965 enquanto em Madrid na Espanha estreou no dia 25 de julho de 1966.
O título original é Gli eroi di Fort Worth. Em países de língua inglesa se chamou Assault on Fort Texan mas também pode ser encontrado como Charge of the Seventh Cavalry e Heroes of Fort Worth.
Na Alemanha Ocidental foi chamado de Vergeltung am Wichita-Pass, na Bélgica era apenas Fort Texan, no Canadá e França é conhecido por L'assaut du fort Texan, No México é La carga del séptimo escuadrón, na Espanha 7° de caballería no título de DVD e El séptimo de caballería nos cinemas.
O estúdio por trás da obra foi o Fénix Cooperativa Cinematográfica. A distribuição na Itália ficou com a Warner Bros, na Alemanha foi da Piran-Film e na Espanha da J.J. Films S.A..
Alberto De Martino trabalhou bastante em filmes épicos de capa e espada. Sua filmografia inicial variava entre clichês de gladiadores e de cowboys. Se destacam os filmes Os 7 Invencíveis, Os Gladiadores Espartanos, O Triunfo de Hércules e Cem Mil Dólares para Ringo.
Ele tem experiência com cinema de horror, fez o infame O Anticristo, conhecido como a imitação italiana de O Exorcista. Fez também o soturno Sombras Estranhas num Quarto Vazio e o "heroico" O Homem Puma.
Eduardo Manzanos escreveu Sangue de Toureiro e Pistoleiro do Vale Maldito. Depois escreveu Fujam, Sartana Chegou!, o giallo O Estranho Vício da Senhora Wardh e o thriller giallo A Cauda do Escorpião. Ele dirigiu Cabaret e Suspenso en Comunismo.
Edmund Purdom vinha dos filmes bíblicos O Egípcio, O Filho Pródigo e Herodes o Grande. Esteve no western A Última Cavalgada, depois fez o slasher italiano O Terror da Serra Elétrica.
A narrativa inicia com um letreiro, informando que a gênese dessa história se dava em julho de 1863. No pequeno texto, se fala da Guerra Civil Americana que continua na Virgínia, se fala também que o Missisipi está nas mãos do sindicato, já a Louisiana, Arkansas e Texas foram separados do resto do território da confederação.
A trama segue algumas tropas de confederados, que estão desaparecidos até o presente momento. Aparentemente, rumam para o México.
O major Forsythe pára uma diligência, avisa a senhorita Nelly, personagem de Ida Galli, atriz conhecida por A Doce Vida de Federico Fellini, que protagonizou os Gialli O Doce Corpo de Deborah e Premonição de Lúcio Fulci.
Aqui a artista assina como Priscila Steele. Os fardados tentam tranquiliza-la, garantem a moça que tudo ficará bem, já que ela é uma pessoa de importância na luta dos confederados.
Nell é na verdade a filha de um homem de alta patente, um confederado que está foragido, aguardando a chegada dos reforços para enfim voltar a ação. No entanto o mesmo homem que garantiu que ela ficaria bem é alvejado, por um homem, que estava dentro da carruagem.
Essa sequência inicial termina trágica e repleta de mortes, mas a menina põe-se fora do quadro da câmera, entrando na carruagem com os que sobraram, fugindo no ritmo do cocheiro.
De um lado são mostrados militares e oficiais, planejando o cerco aos confederados, do outro, há cowboys da Confederação, que tem ao seu lado nativos, de tribos Apache. É histórico que houve cooperação entre algumas tribos e confederados, chega a ser irônico perceber esse tipo de coalisão atualmente, com os Estados Unidos tomados por um discurso supremacista que ataca minorias, entre elas, os nativos.
As primeiras sequências de tiroteio são confusas, com muita variação de formas de filmar. A edição mostra momentos capturados por equipes diferentes, que parecem ser registrados inclusive com material diferente, já que algumas cenas são bem nítidas enquanto outras são bastante embaçadas.
A qualidade varia muito, com trechos onde a violência é bem flagrada e outros que parecem ter as lentes das câmeras sujas. A ideia parece ser a de imitar os quadros famosos, a respeito da batalha histórica no forte, mas a execução não ficou à contento.
A qualidade das imagens segue comprometida. Nas cenas internas fica um aspecto azulado, como se houvesse um filtro. Essa parece ser uma problemática de coloração.
Há poucas informações de bastidores, esse tipo de questão pode se dar graças a uma colorização na pós-produção mal executa ou mesmo por uma má preservação do material pós lançamento nos cinemas.
Tal qual ocorreu em Minnesota Clay de Corbucci, esse também é um faroeste italiano de estética mais parecida com a dos filmes do gênero feitos em território estadunidense e menos com os bangue-bangue à italiana.
Os figurinos são bonitos, são mais limpos com o que se via nas obras filmadas na Europa. As brigas são mais comuns, como golpes que não atingem os adversários e não há muita sujeira, nem nos combates, nem nas roupas dos cowboys, tampouco nas atitudes dos personagens.
Faltam até foras da lei e malandros, personagens típicos desse tipo de exploração. Fora o Major Patterson - ou Sugar - quase não há variações entre os mocinhos de postura honrada e os vilões maléficos e mal intencionados.
Excluindo as personagens femininas e o pistoleiro que Purdom interpreta, não existem muitas camadas entre as pessoas que aparecem em tela. Há uma multidão de personagens, em profusão tão grande que fica difícil até de identificar quem é quem, inclusive na questão de filiação, entre bem e mal.
Entre eles, se dá bastante foco no líder apache Wild Horse de Rafael Albaicín, ator espanhol que fez figuração em Django e A Volta do Pistoleiro.
Patterson é o típico herói galã, um homem de índole polêmica e atitude um bocado abusiva, especialmente quando lida com mulheres. Em determinado momentos ele encontra uma bela nativa-americana, chamada Amanda, interpretada pela atriz espanhola e caucasiana Mónica Randall, conhecida por obras como Sol Vermelho e Retrato de Família
A interprete usa uma maquiagem que escurece sua pele, em uma caracterização que hoje seria encarada como racista, já que se aproxima de uma black face.
Os dois acabam se apaixonando de forma automática, após um beijo, assim que se encontram, sem qualquer motivo para ter ocorrido.
O personagem de Purdom é de uma canastrice ímpar, um canalha, mulherengo, bom no gatilho, tão cafajeste quanto o vindouro Han Solo de Guerra nas Estrelas. As incongruências na construção do seu código moral e ético só são tragáveis graças ao seu carisma.
Na meia hora final se dedica um bom tempo mostrando o triângulo amoroso de Sugar, Amanda e Nelly, o que é absolutamente forçado, já que o protagonista masculino está longe de ser irresistível, sedutor ou algo que o valha. Ele tem consigo somente o poder do protagonismo.
As cenas de ação variam de qualidade, mas uma coisa há de se destacar: as cenas de porradaria.
A confusão generalizada de certa forma previu a tendência dos faroestes mais cômicos, protagonizados por Terence Hill e Bud Spencer, incluindo Trinity é o Meu Nome e A Colina dos Homens Maus.
As cavalarias têm um grande destaque, ganham momentos extensos em tela, assim como os tiroteios no deserto. Esse é sem dúvida o momento mais inspirado e mais bem tratado do filme, um combate bom, entre pares de estadunidenses, entre sulistas e nortistas, como era comum nas disputas dos filmes sobre a Guerra Civil.
Os nativos não são os alvos desse confronto, mas eles aparecem no final, em uma disputa de tiros e uma tentativa de resgate, que soa meio genérica. Claramente havia a intenção de colocar um confronto maior, mas isso encareceria o filme, já que teriam que lançar mão de mais figurinos de nativos americanos.
As roupas dos personagens vistos como índios eram bem pobres, ou seja, quase todos os nativos americanos que aparecem em tela estavam mal caracterizados, vestidos com figurinos que pareciam sobras de outras produções. Curioso que para os uniformes do exército se teve uma grande dedicação, provavelmente a produção herdou esses trajes de outros filmes ou seriados. Não houve essa mesma sorte com as roupas dos apaches.
Ainda há uma linha de diálogo, que lamenta a guerra, essa e outras, mas dado o fato do filme valorizar o confronto como o norte do seu drama, esse trecho é pouco bem-vindo, quase cínico. Sem guerra essa produção sequer existiria e fora essa tola tentativa, não houve praticamente reflexão alguma dentro da trama.
A Carga do 7º de Cavalaria é um filme bagunçado, que se localiza em uma época em que o estilo dos faroestes europeus ainda não tinha se solidificado, tendo assim uma estética que lembra mais os pares antigos da Hollywood clássica. Ainda assim tem seus arroubos narrativos e uma estética bagunçada, que é difícil de avaliar graças aos problemas técnicos que apresenta, uma apresentação tacanha do que viria a ser os faroestes italianos, em um estágio embrionário do ficaria mais famoso.
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