
O Especialista: O Vingador de Tombstone é um filme de ação e aventura conduzido por Sergio Corbucci e baseado no espectro dos Westerns Spaghetti.
Tal qual ocorre com boa parte dessas histórias, se baseia no conceito da vingança, ou como é bem dito no idioma italiano: a vendetta.
Essa é uma coprodução entre Itália, Alemanha Ocidental e França, de 1969 cuja trama acompanha um pistoleiro que comparece a Blackstone para vingar o seu irmão, que foi linchado, humilhado e enforcado pela população que o acusava de ter roubado um banco local.
O drama gira em torno da investigação do sujeito, que crê que seu fraterno é inocente.
Escrito por Corbucci e Sabatino Ciuffini, foi produzido pelo diretor e pelos não creditados Attilio Riccio e Edmond Ténoudji.
Estreia e nomenclatura
Na Itália o filme chegou em 26 de novembro de 1969, em alguns cinemas. Já em março de 1970, estreou na cidade de Milão. Na Alemanha Ocidental entrou nos cinemas em abril, assim como ocorreu na França.
O título original é em italiano, Gli specialisti. Na França é Le Spécialist e na Alemanha Ocidental é Fahrt zur Hölle, ihr Halunken.

Em inglês tem dois nomes distintos, um é Drop Them or I'll Shoot, especialmente nos países que formam o Reino Unido e The Specialists, em alguns cinemas dos Estados Unidos. Na União Soviética é Специалист, na Espanha é El especialista, em Portugal é O Especialista.
Não há muitas informações sobre as locações desse. O que se sabe é que tiveram cenas em Veneto, na Itália, Cortina d'Ampezzo em Belluno.
A obra foi feita pela junção dos estúdios Adelphia Compagnia Cinematografica, que é uma companhia de Roma, também a Les Films Marceau de Paris e a Neue Emelka da Munique.
A empresa Movietime divulgou o longa pelo mundo em 1969, na Itália foi distribuído pela Magna. Na França foi veiculada em Cocinor, enquanto na Alemanha foi lançado pela famosa Constantin Film. No Reino Unido foi trazido pela Golden Era Film Distributors (GEF) na versão dublada, de 1973.
Quem fez:
Corbucci é um dos diretores mais conhecidos do movimento dos faroestes italianos.
Sua obra mais conhecida é Django, mas ele é lembrado também por Minesotta Clay, O Vingador Silencioso e Joe O Pistoleiro Implacável.
Antes dos faroestes, ele fez Totó e a Doce Vida, Rômulo e Remo, Os Dois Marechais e O Filho de Spartacus.
Na época desse Os Especialistas, Corbucci tinha a carreira voltada para filmes de faroeste cuja trama versava sobre confrontos na fronteira dos EUA com o México, como Os Violentos Vão Para o Inferno e Companheiros.

Ciuffini escreveu Os Bravos Tártaros, Os Desafios, Ouro para os Imperadores, Don Juan à Siciliana, Sonny e Jed (O Bando J& S) que também é de Corbucci, além de Super Snooper: Um Tira Genial.
Riccio produziu A Provinciana, O Homem do Canyon City, O Vingador Silenciosos e Aquele Novembro Maravilhoso.
Ténoudji produziu O Canto do Mundo, O Perigoso Jogo do Amor, Viver à Noite, Romance de um Ladrão de Cavalo e Paixão de Amor.
A Remasterização em 4K
Antes do filme começar, entra uma cartela da TFI Studio, companhia francesa que fez o remaster em 4K, cuja qualidade é muito boa por sinal.
Essa edição remasterizada foi organizada para o Festival de Cinema de Cannes de 2018.
Narrativa
A primeira cena do filme mostra um bando de criminosos humilhando aldeões. Teoricamente, eles são subordinados a um sujeito que só apareceria depois, o mexicano revolucionário conhecido como El Diablo.
O chefe desse pequeno grupo, ao menos quem responde por eles nessa esfera, é Romero, personagem de Remo de Angelis, que joga uma moeda para garotos, depois que quatro deles estavam na lama.
Diz que quem trouxer a moeda depois de alguns dias, terá o direito a sobreviver.
No meio do saque, o bandido entra em uma das casas, que funciona também como um armazém de um bar. Enquanto toma o álcool de um dos barris é abordado pelo silencioso e engraçado Hud Dixon, personagem de Johnny Hallyday.
O sujeito "encontrado" é debochado e bem-humorado manda ele continuar bebendo, pois quando param de beber ele fica nervoso, e quando fica nervoso, ele atira.
Johnny Hallyday
É falastrão e divertido, interpretado por Hallyday, que é um artista francês, lembrado mais por sua música do que por atuação, embora tenha um bom currículo dramático.

Fez muitos filmes na França antes desse O Especialista, como As Diabólicas, As Parisienses e Les Poneyttes. Depois fez Estranhas Fantasias, O Detetive entre outros.
Nos últimos anos se dedicou mais a música, embora tenha créditos de atuação, como em Uma Passagem Para a Vida, Procurados, Rios Vermelhos 2: Anjos do Apocalipse, A Pantera Cor de Rosa 2 e Vingança.
Um herói solitário, que é bom frasista:
Antes de sair, Hud é abordado e adulado por um desconhecido. Quando o mesmo o elogia, o chamando de amigo, recebe uma imediata resposta
Hud Dixon não tem amigos.
O sujeito ignora a rejeição e avisa que se ele for para Blackstone, deve saber que a cidade tem porte de arma proibido.
Mesmo tendo matado o bando inteiro, ele permite que Romero saia vivo. Diz que a lei cuidará dele.
O destino:
Pois bem, é justamente para lá que o justiceiro estava indo. Nesse ponto não fica claro se ele já tinha essa intenção ou se foi por sugestão do rapaz, mais tarde fica claro que era proposital, já que na tal cidade, há um quinteto, de homens que citam Dixon pelo nome e sabem que ele pode buscar sua vingança, ou no bom italiano: sua vendetta.
Entre eles, há o xerife, que ganharia mais importância com o decorrer da trama. Na prática esses homens simbolizam todo o povo de Blackstone, que tem culpa no crime maior que a história propõe.
Tendência na Itália:
Não é à toa que filmes de Máfia se baseiam tanto na questão revanchista. Além da tradição do crime organizado italiano ser muito caucada em um código de honra que exige uma resposta rápida ao inimigo, o gênero de faroeste americano tinha uma boa base no sentimento de vingança.
Quando os filmes sobre o velho oeste sofreu a antropofagia cultural via cinema italiano, esse aspecto passou a ser o mote principal dos filmes.
Outras questões também ganharam vulto, como a exploração de de alguns aspectos políticos ligados a discussão sobre o expansionismo estadunidense sobre o México, que é presente nos Zapata Westerns e também nos filmes de Sergio, embora nesse não seja tão presente.
As Mulheres fortes:
Corbucci é entre os cineastas do bang bang à italiana um especialista em discutir assuntos que vão além da mera ação. Ou seja, sua carreira é marcada não só por fazer personagens masculinos fortes e vingativos, mas também por trazer subtextos consideravelmente pesados.
Nesse último quesito, se nota algo diferencial nesse O Especialista: as personagens femininas.
A voz da razão para o quinteto citado é Virginia Pollicut, personagem de Françoise Fabian, uma bela dama, que sabe quem é Hud e parece ser o cérebro da operação entre os aldeões.

Em um mundo tão sexista e masculinista como era na época do oeste selvagem americano, ela acaba de destacando. A atriz é conhecida por A Bela da Tarde, Minha Noite com Ela e A Dama e o Gângster.
Outra personagem de destaque é Sheba, que é interpretada por Sylvie Fennec, atriz presente em Quem é Bela e Adeus Emmanuelle.
Apesar de não ser tão forte quanto a outra moça, ainda assim é uma personagem ativa, que ameaça Dixon, quando ele repousa seu cavalo no quintal de sua casa, avisa que seu pai está para chegar.
Ele a reconhece, a chama pelo nome. Quando a moça percebe que ele não é um estranho, acaba abrindo uma conversa sigilosa, assumindo que seu pai pegou essa casa há 3 meses, após a morte de Charles por enforcamento.
Quem cita esse óbito não é ela e sim o pistoleiro habilidoso, apesar do nome ter sido falado por ela. Esse seria o motivo da vingança de Dixon, como é explicitado depois.
Todas as questões narrativas importantes são dadas de maneira pouco explicativa, ou seja, não é dada de forma didática, fugindo da obviedade e da muleta de expor tudo por meio de diálogos mal construídos.
A briga no bar:
Boot (Serge Marquand) chega até a casa de Sheba e bate nela, basicamente por conta dele ter permitido que Hud entrasse. O personagem principal defende a garota, revida a violência e o afasta. Então o agressor sai da vista dele e quase o embosca, embora Hud estivesse atento a isso.
Quase ocorre o embate, mas antes que ocorra, ocorre a chegada do xerife Gideon Ring, de Gastone Moschin, ator icônico, que é mais lembrado por ser um dos grandes vilões em O Poderoso Chefão Parte II.

Ele desarma Boot, depois vai até o protagonista, que obviamente se nega a entregar suas armas.
Fama pregressa e intenções:
Cavalgando calmamente, o agente da lei e o anti-herói conversam. O xerife diz que conhece o sujeito, cita os feitos dele em Dallas, Yuma, San Antonio, Kansas City e Oklahoma. Diz também que a sua pistola é famosa...capcioso o termo utilizado na versão em português do texto.
Hud não tem receio de falar o motivo de sua vinda: a vingança pela morte de seu irmão.
O xerife diz que entende e que até esperava isso, mas não pode abrir exceção, pede a espingarda e ele a dá.
O homem da lei não constrange o sujeito, apalpando ou fazendo uma revista nele, tal qual McCluskey faria em Michael Corleone em O Poderoso Chefão. Curioso que nessa época não se fazia uma conferência de fato nos possíveis atiradores, ao menos não era assim nos filmes.
Com as roupas utilizadas por ele, seria fácil supor que há mais armas escondidas, mas não fazem isso.
Há ciência por parte das autoridades sobre as intenções do cowboy, também se tem noção de que ele não sabe exatamente quem participou do enforcamento.
Cidade instigada:
Quando chega ao local, Hud é mal visto. A maioria das pessoas lhe quer mal, mas há um grupo específico que se diferencia, não por olhar para ele com bons olhares, mas sim por verificar ele como alguém neutro.
Essa junção de pessoas reúne apenas jovens, que andam sempre sujos, tão esquisitos que é difícil de identificar que nesse quarteto, há uma menina.
Maltrapilhos, parecem até as gangues dos filmes dos anos 1970 dos Estados Unidos, obviamente caracterizadas como personagens do faroeste dos EUA, com roupas de época, mas caracterizados bem o suficiente para evidenciar que a fonte de inspiração para as suas concepções não são os filmes do velho oeste americano.

Mais tarde, detalharemos a filiação deles, já que ganham importância com o tempo.
Também há homens armados, nas partes altas da cidade, que miram seus tiros para Hud Dixon. Habilidoso, o personagem pula, pega a arma que estava no coldre do delegado e acerta não um, mas dois atiradores ao longe.
Ele é de fato diferenciado, além de ser avesso a convenções hipócritas, como a sinalização de que ninguém está armado. Uma pessoa de fora e que não faz questão de agradar ninguém poderia fazer o que ele faz.
Quem é de fora e não vive nesse ecossistema corrupto e sujo não precisa ceder as corruptelas comuns aos locais.
O mundo ainda traz coincidências poéticas, como o fato de que um dos atiradores cai morto pendurado pela corda do sino, que badala no meio do discurso, mostrando que nem mesmo a igreja do local é um lugar santo.
No saloon/bordel
Apesar de ser de fora, Hud parece ser familiarizado com o local. Logo para em um lugar, onde é tratado por uma mulher negra.
Depois ele é recepcionado pela prostituta Valencia, interpretada por Angela Luce. Uma velha conhecida, que o cumprimenta verbalmente e o beija nos lábios.
Os dois falam rapidamente sobre o destino do homem, mas tomam cuidado para não expor muito o plano e ardil do sujeito, afinal, não podem confiar em todas as pessoas e sempre pode ter alguém à espreita.
Depois Hud vai ao cemitério local e paga Lord (Renato Pinciroli) o coveiro, por ter encerrado o corpo de Charles ali.
Nesse ponto ainda não fica claro, mas o rapaz não teria sido enterrado de maneira comum, já que o caso de sua morte teve envolvimento de muita gente de Blackstone.
Desse modo, Lord ter decidido enterrar o rapaz foi um movimento diferenciado e digno de louvor da parte do protagonista.
O encontro com a mulher impura
Depois de passar pelo cemitério, Hud é interpelado pela bela Virginia, que se diz feliz por vê-lo.
Ela age tal qual uma dama fatal. Se insinua para ele, pergunta se ainda são amigos, embora obviamente não o sejam, já que a frase de efeito de Dixon o proíbe de criar laços assim.

De fato eles se conheciam desde a infância, foram criados próximos, como vizinhos quase que de porta, já que a propriedade dos pais de um era colada na do outro.
A mulher inclusive afirma que ele era o único que não a cortejava, embora ele mesmo assuma que isso não ocorria por falta de beleza dela, mas sim por outros motivos, no passado e naquele momento também.
Ainda nesse assunto, ela diz que o homem não mudou, preferindo estar sozinho e sem amigos, enquanto ela, segundo Hud, mudou, deixou de ser bela e jovem, embora seja claramente a personagem mais bonita da região, para se tornar algo pior.
Sem falar, ele deixa claro a podridão o caráter da moça. Aparentemente, a falta de beleza para Hud Dixon não tem a ver com estética e sim com a alma e sentimentos.
Uma viúva com posses
Apesar do filme não recair sempre em diálogos didáticos, é fato que existem momentos assim, como o momento onde é dado que Virginia é uma herdeira de um banco.
Ela não recebeu essa posse graças aos pais e sim por conta do seu antigo casamento.
Ela é viúva de Pollicut, o dono do banco local, mas aparentemente, ela está mal de dinheiro, justamente depois de um ataque de El Diablo, na verdade, graças a uma incursão do bandido que não deu exatamente certo.
Esse plano criminoso seria também o motivo da morte de Charles. A moça mandou o irmão de Hud levar o cofre para Dallas, mas ele foi encontrado depois, ferido e sem o dinheiro.
Segundo o seu relato, não fica claro se foi morto ali ou depois.
Os jovens delinquentes:
O grupo de bandidos jovens aparece de novo, agora com nomes. O mais notável deles é Rosencraz, interpretado por Andrés José Cruz Soublette. A moça é Apache (Gabriella Tavernese) há também Kit (Stefano Cattarossi) e Buddy (Christian Belegue). O quarteto irrita o xerife, que sempre busca sabotar eles.
Há motivos para o agente fazer isso, já que eles procuram o tesouro de Charles, os tais dólares roubados, para assim ter dinheiro para comprar armas. Os quatro acham que estando armados, automaticamente teriam todo o poder para mandar na cidade.
Isso seria posto à prova. Eles não estavam de todo errado, exceto por um fator, uma entropia obviamente não calculada, que tem avatar no personagem-título.
O julgamento correto em relação a "lady" Pollicut
Sobre a suposta dama Virginia Pollicut, Dixon não está errado, já que mesmo que ela tente parecer alguém respeitável, acaba cedendo as mesmas táticas das moças que cobram dinheiro para dar prazer.
Ela se insinua para o xerife, mostrando que Moschin já agia como alguém maldoso e oportunista antes até de fazer Don Fanucci. Há uma cena longa, dela se despindo escondida atrás de um móvel, para depois se limpar em uma banheira, com ele perto.
Há até cenas nudez nessa exposição. Ela pede ajuda ao homem velho, para conseguir limpar sua bela pele, enquanto está na banheira.
Sobre essa cena, é dado que Françoise Fabian foi parcialmente substituída por uma dublê de corpo. Em entrevista dada em 2021, a atriz disse que sempre se recusou a filmar cenas onde ficasse completamente nua.
Ela mesma não sabe quem apareceu, disse que provavelmente foi uma dublê.
Polêmica pesada com o diretor
Ainda sobre nudez, em sua biografia, a atriz disse que Corbucci pediu que ela atuasse em uma cena de estupro que, segundo ela, não estava descrita no roteiro que lhe foi dado.
Os dois tiveram uma discussão enorme por causa disso, descrita em entrevista como algo severo, grave e cheia de acusações.
O momento foi tão tenso que a esposa do cineasta se levantou no set para defender o marido. Esse trecho pode ter acontecido perto desse ponto, ou mais à frente na história. Não fica exatamente claro onde esse trecho se encaixaria, se é que não foi um engano ou uma anedota.
A briga no bar
Os avanços de Ring sobre a bela mulher só param graças a uma briga barulhenta que ocorre no saloon, conflito esse em volume tão alto, que é ouvido por eles, que estão em outro cenário.
Como se espera, a briga envolve Hud, que intui que Boot matou seu irmão. Dá uma surra doída, gráfica, ainda dá um chute na caixa registradora, que faz um disparo no peito dele.
Provavelmente estava armado, por isso que ele morreu.
A música de Angelo Francesco Lavagnino é pontual, compositor de Continente dos Deuses e Zorro, o invencível espadachim, embala bem a pancadaria e a perda da razão de Hud, que soca a cara do xerife, depois que ele contesta a razão dele em se defender.
O retorno de Sheba
Sheba vai até a cidade, na esperança de encontrar seu pai. É nesse ponto, que fica claro que o pai, na verdade, é um padrasto. Isso abre brecha para que essa relação tenha sido algo mais que a mera relação paternal e de saudade de uma filha, há quem defenda que havia algo proibido e incestuoso ali, embora não haja muitas evidências além da obsessão da bela moça.
Ela até pergunta a Hud se ele matou seu parente. O fato consumado é que ele não aparece em ponto nenhum, provavelmente morreu mesmo.
É a menina que acaba revelando ao anti-herói detalhes do que ocorreu com Charles. Diz que depois do linchamento, Shoot conversava com alguém misterioso, na frente da casa dela e do padrasto, dizendo que alguém os enganou.
Sua interpretação é que o bando achava que ele tinha escondido o dinheiro. Esse era o caminho a seguir.
A vingança em prato quente:
Em um encontro com o anti-herói, já distante da cidade, o xerife tenta matar Dixon, atirando à esmo, nas montanhas brancas.
Depois da perseguição dos dois, encontram um bando de latinos, liderados pelo maneta El Diablo, ou Francisco Rafael Pacorro, personagem de Mario Adorf, ator de Fantasmas à Italiana e A Pistola é Minha Bíblia.
Entre esses, está Romero, que reaparece basicamente para fazer uma ponte entre o bandido e o personagem central.
Diablo também humilha o xerife, conversa com Hud, que tinha marcado de encontrar com ele, no deserto.
O latino confirma que os americanos massacraram Charlie, mas eles encontraram ele vivo ainda, agonizando, mas com vida.
Deu um dólar, que seria uma passagem para o inferno e sussurrou um Ave Maria, que parecia ser um código de localização do dinheiro. Mais tarde, fica claro que era isso mesmo.
Nesse ponto se confirma que foi Boot que matou Charles. El Diablo afirma isso e pede a Hud que ele arrume o dinheiro e traga de volta ao bandido latino.
Momentos derradeiros:
O terço final é bem movimentado, inclusive no trato que fazem com Dixon, que leva um tiro nas costas, como foi com seu irmão, segundo uma das testemunhas da morte de Charles.
Hud só sobrevive graças a um colete de metais, que aparecia bem destacado em boa parte das cenas anteriores. O artefato faz ele sentir dor, mas impede ele de morrer.
Nessas configurações, dificilmente existiria uma peça de roupa com essas propriedades, especialmente nessa época. O fato dela não ser plausível e apelar para a fantasia e para o fantástico acaba sendo um dos pontos altos desse final.
O protagonista acaba preso, supervisionado por Gideon Ring, mas não fica assim por muito tempo. Ao ser liberto, começa um pandemônio nas ruas, um tiroteio generalizado, uma confusão que coloca todas as partes e facções em luta.
O longa termina trágico, com Françoise assumindo que foi ela quem armou tudo, confessando sobre as notas falsas, com o xerife morto, baleado na cabeça.
Dixon aparece quase morto, depois do tiroteio, com o braço quase inutilizado, praticamente pendurado no corpo, quase sem valia. Ele tenta se arrastar pelo chão, rasteja para encontrar o tesouro escondido, criptografado pela reza.
Já os "meninos", que eram chamados por El Diablo de Chicos, cercam o revolucionário maneta, mas não conseguem pegar o dinheiro.
Já Dixon usa o pouco de força que lhe resta para levar o dinheiro para a varanda, em uma parte convenientemente alta da cidade, para colocar fogo na quantia, diante dos olhos de quem estava lá.
As pessoas da cidade julgam que ele enlouqueceu, vendo o dinheiro em chamas, gritam, como se aquele fosse um enorme pecado, um desafio as normas e bons costumes.
Elas são escravas daquele tesouro, na verdade, do dinheiro no geral. Sem querer, Corbucci acaba abraçando a mensagem do Cristo da Velha Igreja, a condenação da ganância e da idolatria a Mamom (ou Mamon, dependendo da tradução) que em algumas vertentes de estudo, é tratada até como o anticristo.
O sujeito cai, parece estar morto. É resgatado pela amiga prostituta, mas está mal, prestes a encontrar seu irmão querido.
A oportunidade dos bandidos jovens
Os garotos revoltados tomam a cidade, já com as armas que tanto sonharam em ter.
A forma como eles agem é um movimento semelhante ao famoso grupo da Caixa Baixa em Cidade de Deus. Mandam os "nobres" do lugarejo se despirem. Eles ficam nus, são humilhados e rendidos, unicamente pelo fato de terem garotos armados apontando os canos dos revolveres para eles.
Os ricaços obedecem, até rastejam no chão, sob o comando dos meninos. Tornam suas ações como as de vermes, representando de maneira literal o estado de espírito que tem.
No entanto, os garotos se excedem, convocando a ação do personagem central. Quando eles humilham Sheba, chamam Hud para fora. Mesmo sem balas, ele resolve andar até eles, se garantindo novamente no tal colete, o mesmo que o salvou do tiro nas costas, anteriormente.

Se por um lado, as pessoas na cidade consideravam o protagonista louco, o sujeito via os cidadãos como patéticos.
Já o bando de Rosencraz era apenas visto como um grupo de crianças arrogantes, burras e sem planejamento, uma vez que achavam que só ter as armas seria o suficiente para ter o poder.
Mesmo representando perigo, não são punidos, apenas afastados e afugentados, nada mais.
Praticamente todos na cidade de Blackstone são tolos, menos o tal especialista do título, que conseguiu mesmo sem uma bala e sem um centavo, sair vivo da cidade, sem olhar para trás, com seu irmão vingado.
Os Especialista: Tombstone é dos mais simples filmes de Corbucci. Mesmo assim, é cheio de camadas, discussões e peso, uma pérola do cinema de vingança italiano, com um subtexto que revela um profundo desprezo pelos homens que fizeram sua fortuna no capitalismo crescente do continente americano e dos Estados Unidos.