O Massacre da Serra Elétrica de 2003 : O marco um no "subgênero" Remakes Sombrios

O Massacre da Serra Elétrica de 2003 : O marco um no "subgênero" Remakes SombriosA versão de 2003 de O Massacre da Serra Elétrica foi um filme de horror que dividiu bastante as opiniões de fãs e crítica em seu lançamento.

Refilmagem do clássico O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper, acabou sendo uma produção tão diferenciada e singular, que atualmente é considerado por muitos um clássico moderno entre os Filmes de Matança e slashers movies.

Para o bem ou para mal, fato é que ele tem diferenças cabais em matéria de narrativa e no modo como foi pensado pelo diretor alemão Marcus Nispel.

Apesar dos nomes citados, o profissional mais reconhecido certamente é Michael Bay, diretor de filmes de ação conhecido por fitas populares, que é produtor aqui.

Ele produziu parte de sua própria filmografia - Armageddon, Pearl Harbor e A Ilha - mas também se aventurou em financiar e dar vasão a obras mais baratas, refilmagens de clássicos do cinema B, tal qual ocorreu posteriormente com Horror em Amityville e A Morte Pede Carona.

O outro produtor é Mike Fleiss, acostumado a trabalhar filmes exploitations bem agressivos, como O Albergue e o filme catástrofe (e também remake) Poseidon, além de produzir a prequel desse filme analisado, O Massacre da Serra Elétrica: O Início. A obra tem como produtores executivos de Guy Stodel, Jeffrey Allard, Ted Field, Andrew Form e Brad Fuller.

A obra é conduzida por um cineasta que até então, trabalhava na indústria da música. Ele havia trabalhado em clipes de Bryan Adams, Cher, Ronan Keating, B-52's, Simply Red etc. Esse foi seu primeiro longa-metragem, depois faria Desbravadores em 2007, outro remake de um ícone Sexta-Feira 13 em 2009, Conan, O Bárbaro e Exeter.

Já o roteiro é de Scott Kosar, que estreava na função nessa obra de Nispel. Anos depois ele trabalharia em O Operário, em Horror em Amityville e A Epidemia.

Também trabalhou no texto da elogiada série do universo de terror de Mike Flanagan na NetflixA Maldição da Residência Hill, além de ter escrito episódios para Bates Motel, que de certa forma, refilma os fatos narrados em Psicose.

A ideia de Nispel e Kosar era fazer algo novo com o clássico, embora tome para si a base da história que Hooper e Kim Henkel (ambos assinam aqui como co-produtores) tinham pensado em 1974, mas a narrativa seria apenas um esqueleto. Músculos, órgãos e pele desse novo organismo seriam diferenciados.

Para essa nova versão, optaram por outro estilo. Abriram mão do estilo cru e quase documental, substituindo essa estética por uma mais limpa, onde o destaque maior são os corpos esbeltos, bonitos dos seus atores.

Havia a ideia se ater a época em que a trama se passa, até se escolheu ambientar a obra em 1973, mas com um visual que lembra a moda dos anos 2000. Desse modo, havia quem defendia que o filme era refém de sua época, uma versão pasteurizada de um filme eterno.

Os mais críticos associavam esse exercício a uma digestão malfeita, idealizada pela geração MTV para algo que não deveria ser tocado.

O Massacre da Serra Elétrica de 2003 : O marco um no "subgênero" Remakes Sombrios

Considerando o sem número de sequências horrendas de Texas Chainsaw Massacre, essa é uma obra digna, até respeitosa com original. Entre os filmes lançados após 1974 é o que mais se leva a sério e o que mais lembra o espírito do original, mesmo que a estética seja completamente diferente.

O longa teve poucas variações de nomenclatura pelo mundo, sendo The Texas Chainsaw Massacre no original, La masacre de Texas na Argentina, Massacre à la tronçonneuse na porção francesa do Canadá. Na Alemanha se chamada Michael Bay's Texas Chainsaw Massacre, enquanto na Noruega chama Motorsagmassakren.

Como era tradicional na franquia, foi filmado no Texas, em Taylor, Austin, Granger, Georgetown, com cenas na fábrica Taylor Meat Company, que é o cenário do matadouro Blair Meat Company. A casa da família Hewitt fica em 901 County Road 336 em Granger, enquanto a cena do posto é em Cele Store - 18726 Cameron Road em Manor.

Os estúdios que propiciaram o longa foram a Next Entertainment, Platinum Dunes e Radar Pictures. Foi distribuído pela New Line Cinema no Estados Unidos na Focus Features no mercado internacional.

A despeito das acusações dessa ser uma obra desrespeitosa e reducionista, fato é que ela foi encarada como agressiva, tanto que foi banida na Ucrânia pelo Ministério da Cultura. Não importou para o governo local qualquer dos esforços da produção em manter a classificação indicativa baixa, as cenas mais explícitas da morte de morte foram cortadas e só assim ele pôde estrear.

Em 2002 o cantor Marilyn Manson foi anunciado como compositor da trilha sonora deste projeto, no entanto ele teve que desistir devido a conflitos de agenda. A música ficou com Steve Jablonsky, de A Ilha e Transformers, que não fez feio, já que acrescentou muita tensão a trama além de resgatar vários dos sons do original, incluindo também a narração, de John Larroquette.

Junto a narração vem imagens em preto e branco, granuladas, que imitam gravações antigas. A ideia é emular fitas reais, que foram guardadas de maneira precária ao longo dos anos. A versão sem cortes tem uma introdução diferente da lançada no cinema, ainda mais violenta e agressiva.

A mensagem de que é um filme baseado em fatos é sabidamente falaciosa. Essa é uma história fictícia, embora haja inspiração nos assassinatos de Ed Gein, um serial killer de Wisconsin que era famoso por exumar cadáveres e também por decorar sua casa com partes dos corpos de suas vítimas.

O grupo de jovens que passeiam pela estrada do Texas é qualquer nota. Entre eles, se destaca o nerd Morgan, de Jonathan Tuker, ator versátil, que esteve em As Virgens Suicidas e na comédia safadinha 100 Garotas. Curiosamente ele faz aqui um personagem que é o exato oposto do papel de Mathew na comédia citada.

Ele é entre o quinteto o mais aficionado por drogas e tem na ponta da língua dados e trívias a respeito de doenças sexualmente transmissíveis. A partir dessa fala - que pode ser apenas uma mentira dele, vai saber - ele consegue impedir que Pepper (Erica Leerhsen) e Andy (Mike Vogel) se peguem publicamente, no banco de trás. Mesmo que os dois tenham acabado de se conhecer, é inegável que eles têm uma forte química juntos.

Completam o grupo o motorista, Kemper de Eric Balfour, escolhido graças ao seu papel em A Sete Palmos (Six Feet Under) e claro sua bela e comportada namorada, Erin, feita pela sexy symbol Jessica Biel, que vinha de comédias românticas como Regras da Atração ou Jogada de Verão e de seriados, como Sétimo Céu.

Kosar descreveu Erin como uma candidata a Miss Texas que só não venceria o concurso por ter um jeito despojado, meio "moleca". O visual dela se resume a uma camiseta regata branca, que valoriza os seus seios fartos, uma calça jeans bootcut e botas.

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Ela gostou muito de usar a roupa, principalmente o jeans. A escolha por ela foi bastante sábia. Biel jamais foi conhecida por ter grandes dotes dramáticos, embora recentemente tenha sido elogiada por ter feito o seriado Candy.

As outras atrizes cogitadas tinham um visual bem diferente dela, como Katie Holmes e Jessica Alba. Dificilmente fariam tão bem o papel de Erin. O mesmo já não pode se dizer de Kirsten Dunst, que já demonstrou algumas vezes que é boa atriz, no entanto ela já estava envolvida na saga do Homem-Aranha de Sam Raimi e foi descartada.

Foi cogitado dar a Erin o sobrenome Hardesty, para assim fazer referência a sobrevivente Sally Hardesty de Marilyn Burns, do original de 1974, mas decidiram não fazer isso.

Outra ideia descartada seria a de fazer com que a personagem estivesse grávida. Isso não foi para frente, mas há resquícios de sentimentos maternos nela, tanto é que ela acaba tentando salvar um bebê que encontra, antes do desfecho do filme chegar, fora que ela também não bebe e não utiliza drogas, mesmo que seus amigos sejam usuários assumidos. Ela parece estar acima deles desde o primeiro momento.

O quinteto viajava de van em uma Dodge A-108 Extended Wheelbase Van 1968. Eles estão indo rumo ao México para se distrair e tirar férias. Na verdade, tudo isso não passa de uma desculpa para comprar maconha.

No caminho eles encontram uma caroneira, interpretada por Lauren German, papel esse que quase coube a Evan Rachel Wood. Em um tratamento inicial do roteiro, a personagem seria mais nova, com idade entre 15 e 16 anos.

Escolheram deixar ela com uma faixa etária para ficar próxima da idade geral do elenco de vítimas para que a afeição entre eles fosse mais fácil de ocorrer. German havia feito teste para o papel de Erin, mas não passou. Agradou tanto os produtores que deram esse importante papel para ela.

A personagem é calada, economiza palavras, parece ter vivido uma experiência triste e traumática. Sua aparência fala melhor do que ela própria, já que está suja, com roupas desgastadas e com as pernas sangrando.

Ao perceber que o carro está indo para o mesmo lugar da onde ela fugiu, ela protesta, grita e de debate. Ao ser ignorada ela enfia a mão por baixo de sua saia e retira uma pistola.

A cena em si é agressiva só pelo fato de envolver um revolver, mas fica ainda mais assustadora se levar em conta o modo como o objeto estava guardado. É evidente que a arma estava dentro da caroneira, escondida em seu órgão interno e bem encaixada, já que ela andava tranquilamente pela beira da estrada.

Ela parece que vai ameaçar o grupo, para que fosse na direção contrária a fim de escapar do mal, mas ao não conseguir verbalizar seus sentimentos, acaba agindo como uma profeta do caos, avisando que todos vão morrer, como provavelmente ocorreu com as pessoas que acompanhavam ela.

Ela então maneja o revólver que carrega - cujo modelo é um Smith & Wesson Modelo 19 - coloca a peça na boca e aperta o gatilho, encerrando a sua vida, traumatizando os personagens e chocando a plateia.

Nispel consegue fazer um trabalho ímpar, já que traz uma sequência violenta, emocional, que dá vazão a um sentimento desesperador, em um plano de filmagem que talvez seja o melhor de toda a sua carreira, onde a câmera viaja da frente do carro até a boca e o buraco na nuca.

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Na versão sem cortes a sequência tem uma extensão maior, onde se observa o corpo dela caído, sem vida, com fumaça saindo dos lábios da moça. O trabalho do cinematógrafo Daniel Pearl é sensacional por conseguir registrar bem esse trecho tão agressivo.

Pearl aliás é um dos nomes que trabalhou no original O Massacre da Serra Elétrica de 1974. Aparentemente foi o cinematógrafo que convenceu Nispel a aceitar refilmar esse.

A dupla trabalhou junta em alguns videoclipes e o alemão já havia confidenciado que desejava fazer filmes na América, no entanto, a ideia do cineasta era começar com um filme original, achava que refazer o filme de Hooper beirava a "blasfêmia", sendo quase um fracasso certo.

Depois de muita conversa, Pearl o convenceu. Apelou para o fato de queria terminar sua carreira como diretor de fotografia justamente na refilmagem de um filme em que ele trabalhou.

Obviamente que esse não foi o último filme de Pearl. Ele ainda está na ativa, fez Desbravadores, também com Nispel, trabalhou em dezenas de videoclipes e claro, no clássico trash Boneco do Mal.

Depois do impacto dessa primeira morte começam as discussões entre personagens, que resultam em Kemper jogando a piñata cheia de bagulho. O motorista assume a liderança do grupo e acha por bem "fazer o certo", decide optar por isso para agradar seu par, que acha todo o motivo da viagem fútil e tolo.

Ela até tinha razão. Viajar tanto só para arrumar maconha é algo banal, no entanto, viajar como forasteiros carregando um cadáver não parece ser algo adulto e sim algo burro.

O carro para em um posto de gasolina, onde há espaço para comer - ou ao menos houve, já que as carnes que estão expostas estão horríveis, possivelmente podres, repletas de moscas em volta. Uma senhora, interpretada por Marietta Marich - nos créditos é chamada de Luda Mae - os atende, liga para o xerife, que por sua vez avisa que não poderá vir imediatamente.

Considerando que eles estão estressados, irritados e tensos, os choques que ocorrem entre os personagens são até compreensíveis, porém são agressivos. Morgan se irrita, xinga a senhora, desdenha da cidade e protagoniza um confronto geracional e cultural que certamente seria encarado hoje como politicamente incorreto.

Se estivessem calmos, dariam meia volta, voltariam na estrada ou ouviriam a caroneira. Dessa forma, escapariam da desgraça. No entanto eles viram reféns da dramaticidade forçada e dos clichês de filmes de horror.

O choque provocou neles um estado emocional estranho, inebriado, que ignora os sinais. Eles são reduzidos a inteligência emocional mínima, exceção a Morgan, que acumula quase toda a sobriedade do grupo, tanto que ele faz menção de abandonar tudo mais de uma vez.

É curioso que eles tenham se livrado da droga, afinal, procuravam a polícia para entregar o corpo. Associar drogas a assassinato não era algo incomum em 1973, mas o fato deles carregarem o corpo da menina sem documentos e que eles não conhecem, já é um grande atestado de culpa.

Polícia nenhuma no mundo confiaria na versão deles e Morgan segue avisando que eles deveriam deixar tudo para trás e ir embora, mas ele seguia sendo ignorado.

Eles param em um armazém abandonado - curioso como tem que fazer paradas o tempo inteiro, mesmo com gasolina. Acabam encontrando um gambá dentro de um armário, em mais uma demonstração de susto falso, clichê esse que pioraria nos anos 2000.

Curiosamente esse trecho teve que se repetir algumas vezes, por conta de o animal normalmente parecer mais adorável do que assustador.

É nesse trecho que eles encontram uma criança, Jedidiah de David Dorfman, ator que esteve no ano anterior em O Chamado. O personagem usaria uma camisa do gato Felix, mas a produção desistiu, graças a não liberação dos detentores dos direitos autorais. Na novelização do filme o menino veste a tal camisa.

O lugar onde eles estão é o velho moinho Crawford, onde o xerife teoricamente estaria, mas não há ninguém lá, só o menininho. Em tratamentos anteriores do roteiro, Jedidiah seria morto, por ter permitido a fuga de Erin e Morgan, quando estivessem presos mais tarde, mas descartaram isso, por achar muito agressivo, no entanto deixaram algumas demonstrações de simpatia do menino pelos jovens.

A câmera passeia pela mata, mostra malas abandonadas, que denunciam o óbvio. Aquele lugar é uma isca, uma armadilha para gente de fora. Fica bem evidente que há algo muito errado acontecendo naquelas redondezas, mas os sinais não capturam a atenção dos personagens.

Nesse Texas imaginário, todas as pessoas são esquisitas e estranhas. Ao procurar ajuda, Erin e Kemper encontram uma casa grande, são recepcionados por um homem aleijado e mal-encarado, o Old Monty, de Terrence Evans. Já Andy e Pepper encontram o xerife Hoyt, interpretado pelo icônico R. Lee Ermey, de Nascido Para Matar.

A casa utilizada é um grande destaque. Houve um enorme trabalho de construção nesse cenário.

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Por fora ela lembra uma mansão, de projeção grandiosa, mas com aspecto desleixada. Parece um lugar que já foi chique, mas que sofreu com a decadência da passagem do tempo, parecendo com uma casa abandonada.

Dentro dela há muitos cômodos, inclusive um bunker, como o esconderijo onde as lideranças nazistas usavam no final da Segunda Guerra Mundial. Lá há um hall de entrada, que é comum, tal qual qualquer casa dos anos 1970, mas na parte mais profunda, há salas com toda sorte de móveis estranhos feitos de carne, ossos e restos humanos, inspirados nas fotos da casa de Ed Gein.

A casa que serviu de locação tinha um cheiro terrível. Os produtores tiveram que chamar um especialista para eliminar o mofo, já que as condições eram tão insalubres que a equipe mal conseguia filmar lá dentro.

Houve um esforço para manter as paredes no mesmo estágio visual deteriorado que estava quando chegaram lá. Nispel gostou do estado podre e esverdeado delas, tomadas por lodo e limo.

O xerife Hoyt é entre os personagens a melhor caracterização, Ele é asqueroso, até em sua introdução, já que aparece cuspindo algo marrom da boca. O sujeito não faz questão nenhuma de disfarçar o fato de que não está nem um pouco preocupado com o caso de homicídio, ou com os sobreviventes.

Ele é rígido e ríspido, aos poucos é exibido como uma evolução do sargento Hartman do filme de Stanley Kubrick, só que ainda mais pervertido. O máximo de cuidado que dá é o de fingir que vai resolver a questão, mas nada faz, só enrola. Eventualmente some, para reaparecer novamente, depois.

Ao passo que os personagens somem, os outros sobreviventes procuram eles, até chegam novamente até a casa grande, tentam enganar Monty, que imediatamente chama o seu parente mais novo para aparecer.

Para surpresa de ninguém ele é Leatherface, que aqui tem um nome: Thomas Hewitt.

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Para chegar a escalação, foram cogitados alguns nomes peculiares, entre eles, o do ator de ação sueco Dolph Lundgren, que obviamente recusou.

Em determinado ponto das filmagens, Brett Wagner, ator que esteve em A Epidemia e Chromeskull 2, foi escalado para o papel, mas ele teve uma insolação durante as filmagens e foi substituído. Até hoje ele é chamado pelos fãs de Lost Leatherface.

O papel "definitivo" coube ao fisiculturista Andrew Bryniarski, que ao saber que haveria essa refilmagem, foi até Michael Bay e pediu-lhe pessoalmente para fazer o papel. Ele era um ator de filmes de ação que esteve em Hudson Hawk, Batman: O Retorno e Cyborg 3: A Criação. É mais lembrado por ter feito o lutador soviético Zangief em Street Fighter: A Última Batalha. Bryniarski fez uma dieta especial, para engordar bastante, a fim de ficar grande e corpulento.

Sua ideia era a de que o vilão fosse alguém maltratado pelas pessoas próximas, tratado como um cachorro e condenado ao esquecimento. A forma dele lidar com esse desdém conversa diretamente com sua atitude com as vítimas. Ele se impõe fisicamente para compensar o modo como se sente, usando sua força para descontar nelas os enormes danos psicológicos que teve ao longo da vida.

A versão dele é diferente da original, Gunnar Hansen a começar por sua máscara, que é mais detalhada. Ele precisou exagerar nas expressões, fazendo movimentos expansivos quase teatrais, já que não tinha forma de se expressar embaixo da carne falsa.

A entrada dele é triunfal, passando por uma porta falsa. Ele sai tal qual uma besta, desgovernado e agressivo. Quando se depara como os jovens, os trata como seres desumanizados, como carne bovina, põe sal grosso nas feridas, supostamente para cauterizar e isolar os machucados, embora fique claro que ele só faz isso para machucar, para mostrar que é malvado e ainda manuseia a pele dos mortos como se nada fosse.

Enquanto Erin tenta fugir, o xerife perde tempo acusando o grupo de ser maconheiros, de estar trazendo drogas para um lugar de respeito. Não é preciso ser um espectador muito experimentado para saber que é tudo mentira.

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Os eventos inesperados seguem e evoluem, até se tornarem parte de uma sessão de tortura psicológica, com o policial mandando Morgan recapitular o fim da menina.

A sequência é tensa, envolve referências a suicídio e homicídio, abuso de autoridade e claro, tentativas de enganar. A maior parte dos diálogos foram improvisados por Ermey e Tucker e a filmagem foi tão agressiva que Tucker vomitou depois de ter a arma empurrada em sua garganta. Isso ficou no corte final.

A montagem de Glen Scantlebury é bem esperta nesse ponto, variando entre esses momentos e o terror que ocorre no interior da grande casa e o momento desses sobreviventes.

Depois desses trechos de tensão, o filme pontua a sequência com o retorno de Leatherface, que faz algo inédito, mostrando o seu rosto real. Em algum ponto dentro das sequências, em Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3 de 1990, deveria haver uma cena em que o vilão tira a máscara, mas para manter a classificação R eles tiveram que cortá-la, pois ele seria deformado.

Neste filme a cena finalmente ocorre e seja em qual versão for se percebe que ele não possui nariz. Foi um bom trabalho de Scott Stoddard, responsável pela maquiagem especial do filme, no entanto o trecho foi alvo de críticas, que acusaram o filme de expor demais.

A morte de Kemper era para ser um pouco mais gráfica do que o que foi registrado: depois que Leatherface o atinge na parte de trás da cabeça com a marreta, ele cairia no chão ofegante e convulsionando com sangue escorrendo.

Outras mortes seriam igualmente mais agressivas, Pepper deslizaria a serra cortando seu estômago, Morgan teria sua virilha cortada, para que seus intestinos e sangue caíssem no chão, além da já citada morte de Jedidiah, que seria cortado também, graças a traição familiar. Apesar do título, apenas duas pessoas são vistas sendo mortas por uma motosserra.

A maquiagem que Stoddard fez beira o genial. Ele trabalhou com os estúdios de Stan Winston em O Sexto Sentido, Constantine e Pearl Harbor, filme onde conheceu Bay. O produtor o chamou para fazer parte da equipe e deu a ele total liberdade na hora de trabalhar.

O artista conversou com Nispel, decidindo assim fazer de Leatherface um taxidermista, se inspirou nos livros e relatos não só de Ed Gein mas também de Jeffrey Dahmer.

No entanto alguns momentos dificultaram o trabalho de atuação, como quando Leatherface usa o rosto de Balfour como se fosse o seu. A máscara utilizada era de silicone e não ficou visualmente legal, além de atrapalhar a visão do interprete.

Bryniarski afirmou nos materiais de making off que era difícil ver para onde ia uma vez que seu personagem usava máscara, então dificuldade de andar ele sempre tinha, mas com essa em particular ele tinha ainda mais trabalho, já que visão, movimentação e até respiração ficavam comprometidos.

A maioria dos conflitos físicos tem golpes secos, Nispel consegue fazer algo agressivo e violento mesmo sem ter muito gore. A versão sem cortes mostra em detalhes o golpe dado no rosto de Morgan, pelo suposto xerife, que lhe arranca dentes. É nesse ponto, o personagem de Ermey mostra seus dentes postiços, trecho esse que seria tolamente aventado no futuro O Massacre da Serra Elétrica: O Início, de Jonathan Liebesman lançado em 2006.

Houve um belo trabalho da direção de arte de Scott Gallagher. Ele tentou achar motosserras da época em que o filme se passa, mas não conseguiu nenhuma em bom estado, então adaptou versões modernas, lixando e surrando elas, para parecerem feitos entre 1973 e 1974. Usaram em torno de 10 modelos durante as gravações, algumas pesavam bastante, em torno de 15 quilos cada, entre as verdadeiras.

Para cortar usavam serras reais, na hora de correr usavam modelos mais leves, puramente cenográficas. Se Bryniarski não estivesse em forma, dificilmente funcionaria.

Em sua tentativa de fuga, Erin encontra um trailer furgão, onde estão duas mulheres, a esquálida Henrietta, de Heather Kafka e a obesa, creditada como Tea Lady, interpretada por Kathy Lamkin. Ela pede para usar o telefone, é ignorada e dopada, graças ao chá, ainda fica preocupada com o bebê que elas carregam, percebendo que ele obviamente não é filho de nenhuma delas.

A cena posterior já é na casa dos Hewitt, onde se revela que Monty, a mulher do posto, o xerife, todos moram juntos. São uma família disfuncional, que é completada pelo menino anteriormente apresentado, e pelo brutamontes canibal.

Para Kosar mudar a configuração da família era algo fundamental. Ele e Nispel buscaram evitar replicar o óbvio e acertaram nisso, especialmente por não reprisar o momento da janta, que esteve em quase todos as versões e continuações.

A perseguição que Leatherface faz a Erin e Morgan tem ótimos momentos, mesmo que parta do chato clichê de trazer de volta alguém que parecia estar morto, para logo depois matá-lo de fato.

Enquanto persegue Erin pela floresta, Leatherface tropeça e corta sua perna direita com a serra elétrica. Uma boa homenagem ao original. A mocinha ainda fica presa em um local cheio de ratos, sendo coberta pelos mesmos, que tomam o seu colo.

O Massacre da Serra Elétrica de 2003 : O marco um no "subgênero" Remakes Sombrios

Vira um desespero só, ela quase consegue fugir de carona, mas o carro na estrada desiste de leva-la. Encontra abrigo no pior lugar possível, no matadouro da cidade, ambiente desconhecido, que certamente Thomas Hewitt teria vantagem.

Na prequel fica claro que ele trabalhou lá, no entanto é desnecessário expor isso, os elementos que Kosar dá aqui já são suficientes para entender o que aconteceu ou deixou de acontecer. Aliás, Massacre O Início tira forças dessa cena em particular, visto que dá a dimensão de que a fábrica foi desativada há tempos, sendo assim o frigorífico não estaria ligado como está aqui, armazenando carne.

A condição das carnes é ruim, obviamente, mas deixa claro que a família não morrerá de fome. Como a questão do canibalismo é mais sugerida do que dada de fato, fica a dúvida se de fato eles consomem carne humana ou não.

Erin derrota o Hewitt mais forte, consegue retirar um braço dele - fato que dificultaria uma sequência, diga-se - rapidamente o cenário fica chuvoso, ela pega carona em um caminhão e repete o mesmo infortúnio da personagem de Lauren German, com quase o mesmo destino.

O maior problema do filme é o de não saber a hora de parar. Ela é tão envelopada como mocinha perfeita que acerta em tudo, consegue roubar o bebê, fugir e ainda faz Leatherface terminar rodando a serra no ar, como na dança que ocorre no clássico.

Nispel ainda retoma a gravação falsa no final, dizendo que o caso ainda está em aberto. Como se chegou a esse vídeo, sendo que o policial que investiga caiu? Não há indício algum.

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Vale dizer que a cena de filmes de horror da década de 2000 era muito clean, limpinha e sem grandes ousadias visuais. Esse O Massacre da Serra Elétrica ajudou a trazer mais agressividade para os filmes de assassino, junto é claro de Pânico na Floresta, filme com canibais caipiras deformados do mesmo ano. Sem esses dois, dificilmente Viagem Maldita, teria sido lançado com tamanha violência e crueldade em tela.

Muito desse novo formato de fazer filmes é mérito de Nispel, que tinha uma forma peculiar de dirigir. Quem trabalhou com ele reclamava que ele era alguém agressivo, que reclamava e gritava quase o tempo todo com seu elenco.

Em materiais de making off há muitas piadas nesse sentido, Jonathan Tucker até imita seu modo de falar, mas tanto ele quanto Biel parecem entender que ele era assim para tirar o melhor dos atores.

Pode ser que falaram assim só para não ficar mal, fato é que passaram por maus bocados, especialmente Biel, que teve provações físicas, passou frio, conviveu com vacas falsas, mas também algumas reais, na cena do abatedouro, fato que a deixou mal, já que era vegetariana.

O filme teria um epílogo, com uma entrevista com Erin está sendo em uma instituição para tratamento de doenças mentais, onde ela vive há décadas após os acontecimentos deste filme.

Essa subtrama remete a dois rumores sobre o filme original. O boato que dizia que a sobrevivente dos eventos originais passou anos vivendo em um hospício, além de também fazer referência as dificuldades que a atriz Marilyn Burns sofreu após as gravações. Havia até uma lenda urbana de que ela foi internada após as filmagens. Sabiamente os produtores optaram por terminar sem isso, fechando a história de maneira seca, deixando no ar que aquele found footage mequetrefe era parte da realidade. Ainda assim foi uma escolha mais sábia do que essa desnecessária extensão.

O Massacre da Serra Elétrica é um bom filme apesar das suas fragilidades. Possivelmente é a melhor coisa da saga após o filme de 1974, é violento e bizarro, uma boa repaginada do conto de Ed Gein. Considerando o que viria depois, é uma lufada de ar fresco na história dos canibais texanos caricatos e um bom exemplar de horror juvenil de sua década.

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