“Ainda que belo, filme é sabotado por sua estrutura didática e artificial.”
A nova adaptação cinematográfica da cultuada trilogia literária O Tempo e o Vento, escrita por Érico Veríssimo, teve deveras uma produção à altura e recebeu, de certo modo, grande cuidado por parte do diretor Jayme Monjardim. Foram quase sete anos de reformulação no roteiro, tendo ele vinte e sete versões diferentes, até chegar nesta final, que é assinada por Letícia Wierzchovski e Tabajara Ruas, ambos gaúchos. Além, claro, de um considerável investimento financeiro, com direito a rodar o filme inteiramente usando câmeras 4K. Logo, esperávamos que este épico, inteiramente brasileiro, desse significado literal ao gênero – o que, em alguns aspectos, veio a acontecer, já em outros, pontuais, nem tanto.
Tendo apenas no currículo, no que se refere a cinema, o pavoroso Olga, Monjardim traz consigo, novamente, a responsabilidade de transpor para a sétima arte, o que é considerado por muitos como o romance definitivo do estado do Rio Grande do Sul, e uma das mais importantes obras de arte do Brasil. Já que, brilhantemente, usando como plano de fundo um dos momentos históricos mais marcantes da história brasileira, a ocupação do Continente de São Pedro até o fim do Estado Novo, incluindo a Revolução Farroupilha, o escritor, através da saga das famílias Terra e Cambará, e de um romance que traz consigo uma gama de gerações, consegue prender o leitor com uma trama sólida e envolvente, mas, ao mesmo tempo, contextualizar o tema abordado, de forma muito orgânica.
Se Jayme conseguiu alcançar com êxito tal objetivo? Acredito que não. Até mesmo porque, condensar, de certa maneira, três livros complexos (O Continente, com mesclas de O Retrato e O Arquipélago) em um longa de pouco mais de duas horas não era uma tarefa fácil pra ninguém. E, conhecendo um pouco da carreira do cineasta e dramaturgo paulista, era de se imaginar que ele tendesse para a linguagem mais novelada e dramática, do ponto vista narrativo. O que acabou não sendo uma escolha tão acertada. Já que a fita perdeu parte do seu apelo cinematográfico e ganhou um tom de minissérie “de época”, produzida pela Rede Globo – algo semelhante a títulos como Guerra de Canudos e A Casa das Sete Mulheres.
Com uma rápida introdução escrita, para situar o espectador, o filme, imediatamente, nos põe em meio aos conflitos referidos, e traz a figura da velha Bibiana (Fernanda Montenegro), matriarca da família Terra-Cambará, que junto com os seus parentes, vê-se cercada pelos Amaral. Bastante debilitada, praticamente em seu leito de morte, ela recebe (idealiza) a visita do seu falecido esposo, o capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). Com ele ao seu lado, Bibiana relembra e conta como foi construída a história de amor dos dois, além da gênese de sua própria família. Um artificio narrativo óbvio, mas frágil, já que os diálogos soam todos expositivos e minimalistas. Causando assim um didatismo estrutural incomodo e artificial. E não colocaria nenhuma parcela de culpa em cima dos atores, ambos desempenharam bem seus papéis.
Detentor de um aspecto visual luxuoso e uma estética sofistica, a obra impressiona no que se refere à reconstrução de cenário e na atmosfera ambicionada. O trabalho do experiente e sempre excelente cinematógrafo Affonso Beato (Tudo Sobre Minha Mãe), é realmente um deleite para os olhos. O exemplo claro de um momento marcante, está na belíssima cena inicial, da silhueta do capitão Rodrigo, sendo digna de comparar-se a clássica tomada de Scarlett O´Hara, em E o vento levou..., pelo seu enquadramento e escolha de lentes. A fotografia é fundamental para situar o espectador nos distintos períodos e andamentos abordos, e impetra eficientemente suas alusões.
Assim também, a direção de arte é cuidadosa e detalhista, por conseguir recriar as cidades gaúchas e todas as regiões montanhosas de forma crível e concreta. Além do próprio figurino que, mesmo soando cafona e antiquado, é fiel aos que lá existiram. Enfim, temos pouco a falar sobre a parte técnica que, excepcionalmente, é sabotada por escolhas equivocadas do diretor.
E, mesmo não sendo um grande filme e constituindo-se bem inferior a obra original, no que se refere à dimensão da mídia, este O Tempo e o Vento poderá agradar alguns que estão habituados, e tem afeição, aos moldes televisivos e, claro, despertar também o interesse de outros em ir atrás do trabalho de Veríssimo, e assim conhecer grandes contos do escritor e da nossa rica literatura nacional.
Quem escreveu esta crítica com tanta propriedade poderia no mínimo ter se interado de que o filme não se trata de um resumo dos 3 volumes, mas apenas de O Continente.
Vamos apreciar o cinema e a história nacional, por favor. E deixar de lado o ódio pela Rede Globo, só porque os melhores atores fazem parte da equipe desta emissora.
Amigo, o conto é na verdade uma mescla de elementos dos 3 contos. A informação que seria apenas baseado em 'O Continente' é antiga. E, em nenhum momento citei a Rede Globo como algo prejudicial no texto.
Abs.
Amigo, a informação que o filme se basearia apenas em 'O Continente' é antiga. O roteiro foi livremente inspirado neste primeiro livro e contou com outros elementos dos demais. E, em divulgação, é descrito que é baseado na trilogia homônima do Érico.
Outra, em nenhum momento do texto destilei ódio pelo Rede Globo, apenas fiz a comparativa sobre a narrativa. E, principalmente os atores, que os excluir de qualquer culpa.
E, acredite, Teilor, o cinema nacional é muito mais que este 'O Tempo e o Vento'.
Abraço e valeu pelo comentário!
Concordo totalmente com critica. O filme teve atuações, fotografia e produção técnica excelentes mas o script e direção foram bem fracos. Fechar os olhos para problemas nas produções nacionais em nome do "apreciação ao cinema brasileiro" como o leitor Teilor sugere acima é o mesmo que contribuir para perpetuação de sua baixa qualidade.
Bem, pelo menos não é mais uma comédia e mostra um pouco da forte cultura Gaúcha e seus valores, para quem acha que o programa "esquenta" da globo é o baluarte da cultura Brasileira é uma boa pedida, uma diversão cultural!
Eu achei que o corte final deixou pontas soltas. Quem leu os livros lembra por exemplo a história da Ana Terra e do espelho. Ficou apenas a cena inicial, dela se olhando no rio, a cena ficou sem a devida conexão com o espelho e o que isso representava. Vi também outras falhas de roteiro, outras pontas soltas. Pra quem não leu os livros, fica algo confuso, desconexo, pra quem leu, fica evidente o desleixo do diretor e dos editores no corte final. Apesar de tudo eu daria uma nota 7, numa escala de 0 a 10. Cumpriu o seu papel, mas ficou longe da excelência e de dar a devida importância que esta obra literária tem.