Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

 

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em CasaAs tardes do SBT passavam em sua sessão Cinema em Casa uma série de filmes bem pitorescos, especialmente quando traziam fitas de terror e/ou mais voltadas para o exploitation. Entre eles, havia o estranho Max: Fidelidade Assassina, filme da New Line cujo nome original ligado a um clichê canino: Man's Best Friend. Sua história envolve maus tratos com animais, cientistas loucos e uma exploração bem curiosa do clichê de amizade entre humanos e cães.

A trama inicia como uma repórter curiosa e bisbilhoteira, que tenta ascender na rede de televisão onde trabalha procurando uma nova pauta bomba. Ela é Lori Tanner, interpretada por Ally Sheedy famosa por produções típicas da Sessão da Tarde como Clube dos Cinco e Um Robô em Curto Circuito.

A moça acaba encontrando um laboratório misterioso que faz experiências com animais, e em meio a denúncia em forma de reportagem, ela solta um cão, um mastim tibetano que aparenta ser dócil, mas que guarda em si um instinto assassino aprimorado.

A direção ficou a cargo de John Lafia, famoso por ter escrito o primeiro Brinquedo Assassino e por ter dirigido sua boa continuação, Brinquedo Assassino 2 além de episódios de Babylon 5.

A ideia de Lafia era fazer uma variação de Tubarão, mirando algo como "Jaws with paths" ou "presas com patas", mas o resultado final é uma mistura de comédia de tons infantis e uma peça de trash com violência agressiva.

O tom é claramente descompromissado com o medo ou com grandes mensagens, mas geram discussões sobre bisbilhotagem da imprensa e tratamento ruim a animais, mas o foco é em fazer ironias e em provocar risos, enquanto expõe os efeitos dos atos inconsequentes de seus personagens.

Curiosamente, na época de seu lançamento, Max: Fidelidade Assassina passou na faixa mais nobre da tv aberta brasileira, a famosa Tela Quente, que até hoje tem relevância na grade global.

Antes mesmo do filme começar, há uma introdução bem curiosa, que mostra gravuras de interações entre cães e homens ao longo dos anos, com uma música instrumental animada de Joel Goldsmith - o filho de Jerry Goldsmith - acostumado até então a compor para peças de ficção científica.

Seus trabalhos mais famosos incluem as séries Stargate e os filmes de Jornada nas Estrelas a Nova Geração. O trabalho de composição desse horror mais engraçado foi conjunto, já que o outro compositor, Alex Wilkinson, tinha um outro tipo de experiência, com animações como a série Bonkers e o clássico da Disney Aladdin.

O filme não demora a mostrar os ataques do personagem que dá título a obra, nos laboratórios do instituto de pesquisa EMAX (a companhia má que comanda os experimento) se percebe ele em uma jaula bem segura, e quando está fora ele ataca as pessoas, possivelmente para se defender ou vingar dos maus tratos.

Lafia poupa o público, mostrando o sangue, mas sem explicitar como o canino matou sua vítima. A expectativa de um assassino fora das telas decepciona o fã de gore, mas também ajuda a criar uma expectativa de mal sem remédio.

Do lado de fora do laboratório, Max desenvolve uma obsessão por Lori. Os dois acabam morando juntos e o animal não permite que ninguém chegue perto dela.

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

Esse fato ajuda a gerar cenas de confusão genuinamente engraçadas, onde Lafia tem a oportunidade tangível de misturar comédia e terror de uma maneira que jamais conseguiu em suas antigas produções, sobretudo na série do boneco possuído.

No entanto a ideia central do longa é bastante confusa, com o roteiro não sabendo precisar exatamente quem o herói e quem é o vilão da história. Não há para quem torcer, nem a repórter e nem o animal agem de maneira honrada, os agentes da justiça são nulos e os cientistas todos são escrotos, escravos do dinheiro e dos interesses das grandes corporações.

Do ponto de vista técnico, há uma curiosa mudança na ideia de Max enquanto figura de perseguição: a transformação pela qual o bicho passa até antes do filme começar.

A raça de Max é mastim tibetano, e ele é visualmente bastante modificado do comum ao bicho. Originalmente, o cão possui uma penugem maior na cabeça, semelhante a uma juba, e ela foi cortada aqui. A intenção era aproximar o cão modificado a um Rotweiller, raça canina conhecida por sua agressividade.

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

No entanto o mastim é conhecido por ser um animal bastante dócil, tanto que Lafia teve dificuldades em utilizar o cachorro original. O tempo inteiro o "ator" queria brincar com o resto do elenco, não tentava atacar, e para isso, foi construído um animatrônico, para as cenas mais violentas, já que o cão adestrado apenas lambia suas vítimas - dá para ver isso em algumas cenas, com fragmentos que não foram retirados do corte final.

Um mastim comum é bem maior do que o visto no longa, pode pesar até 80 quilos, e curiosamente o filme pode uma das características possivelmente mais mortais do bicho, ainda que tenha sofrido experimentos para ser uma máquina de predação, já que até olhar noturno como os de uma coruja ele tem.

Fora isso, em um dos materiais de divulgação foi passada uma mensagem errada, a de que Max era um cyborg, tendo inclusive um olho avermelhado e pele mecânica, em atenção ao clássico de ação O Exterminador do Futuro 2, de James Cameron, lançado em 1992 um ano antes desse.

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

A confusão permanece no ideal do espectador pelo fato de que toda a narrativa é acompanhada pelo ponto de vista do animal. Todo ser humano da trama é mostrado como alguém mesquinho. Antes mesmo de fazer algo ruim como urinar nas cortinas ou roer os móveis, Max já é mal recebido na nova casa, tem até spray de pimenta espirrado em si, sem que tenha feito qualquer travessura.

Mas engana-se quem acredita que o cachorro é naturalmente bonzinho, uma vez que ele chega a comer um gato inteiro, depois de conseguir escalara uma árvore sem nenhuma dificuldade.

Engraçado também é o fato de que essa morte o diretor faz questão de mostrar, uma vez que está no filme apenas pelo absurdo.

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

A partir desse momento o filme abandona a pouca seriedade que ainda restava. O animal invade uma casa para cruzar com uma cachorra, com direito a música Puppy Love ao fundo, também assassina o papagaio de sua tutora, só porque recebe o xingamento de pulguento.

É uma podreira, de fato, e isso se percebe bem na parte onde Max urina ácido, possivelmente numa referência à corrente sanguínea do monstro extraterrestre Alien ser ácida também.

Os personagens humanos são deliciosamente caricatos, Lori é uma pessoa inconsequente e quase acéfala, seu namorado é um sujeito covarde e totalmente genérico, o doutor Jarrett de Lance Henriksen é um irresponsável que louva sua criação assassina, o policial que Robert Costanzo faz é um paspalho, super atrapalhado e nada preparado.

As vítimas de Max são igualmente toscas, apelam para os clichês de ódio dos cães como agentes dos correios e vendedores em automóveis. O que realmente faz falta são cenas sanguinárias além de mais momentos onde os ataques são feitos por fantoches, faltou Lafia se assumir mais como diretor de filmes despreocupados com a moral.

Max - Fidelidade Assassina: um clássico do Cinema em Casa

O roteiro não se leva a sério, aparentemente tudo que envolve o protagonista está longe de sofrer consequências reais, especialmente com Lori, que termina o filme bem, mesmo tendo roubado uma experiência caríssima que empilhou cadáveres entre policiais e civis.

Isso pode fazer o filme parecer tolo, e até o faz mas se levar em conta que o ideal da obra é desdenhar dos homens e valorizar o animal inocente, há sentido que esse universo seja completamente desregrado, moldado pelos olhos e mentalidade de uma fera canina.

Os animais são as reais vítimas, já que o homem busca ser Deus, na ânsia por recriar e aprimorar a vida.

A mensagem não é nada sutil, tampouco é aprofundada, mas Lafia consegue passa-la a um mínimo contento, além disso, se levar a sério o arco dramático de Max, o subtítulo brasileiro Fidelidade Assassina funciona, já que uma vez quebrado o vínculo entre o cão e tutor, o animal passa a caça-lo imitando o comum a relações humanas abusivas, e esse é um ponto positivo, mesmo que todo o resto do filme claramente tenha um caráter piadista.

Deixe uma resposta