Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000

Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000Medo em Cherry Falls é um filme de horror da Rogue Pictures que surfa bastante na onda dos "novos" slasher e no segmento de filme de terror metalinguístico, daqueles que discutiam os clichês e chavões do gênero.

Fruto dos anos 2000, o longa é dirigido por Geoffrey Wright tem um grande elenco, mas tem maior destaque para a sua protagonista, a hoje saudosa Brittany Murphy.

Como a ideia de fazer o filme ocorreu em uma época bem conservadora dos Estado Unidos, o longa acabou tendo problemas com a associação comercial estadunidense que representa os cinco maiores estúdios de cinema de Hollywood, a Motion Picture Association, popularmente chamada de MPAA.

A obra passou por tantas revisões que não foi lançado nos cinemas dos Estados Unidos, sendo exibido então como um produto para a TV na USA Network e para o mercado de vídeo. Considerando que teve um orçamento de cinema (embora não muito alto) de 14 milhões de dólares, foi marcado como o telefilme mais caro já produzido até então. Há uma lenda urbana de que o filme tem uma versão maior, mas jamais se confirmou isso.

A história é localizada em uma cidadezinha qualquer - a mesma Cherry Falls que nomeia o longa, já em sua primeira cena há uma grande apelo aos jargões dos Filmes da Matança.

Rod e Stacy aparecem em um carro, prestes a transar, mas o rapaz sai do veículo para verificar se há algo errado em outro carro ali próximo, temendo por sua vida e pela de sua parceira.

Curiosamente ele faz isso antes de conseguir consumar o ato libidinoso, fato que se tornaria importante no decorrer da exploração dramática. Logo depois que ele vai entender o que está acontecendo, o menino é atacado. Nem mesmo a sua boa intenção foi o suficiente para salvar ele da danação.

A boa vontade do rapaz é retribuída com facadas, dadas por um sujeito de identidade desconhecida, meticulosamente pensado para parecer uma mulher, já que usa uma peruca negra e uma roupa de couro que esconderiam as suas curvas.

Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000

Aqui se alude tanto ao clichê (slasher) de morrer quem transa, como também estabelece junto ao assassino uma proximidade com os vilões/protagonistas dos giallo italianos. Ambos os conceitos seriam discutidos mais à frente na trama e tentaremos falar nessa parte do texto sem tocar o desenrolar da trama que pode ser encarado como spoilers, sobretudo com relação a identidade do assassino.

Quando formos nos aprofundar mais nisso, virá um aviso.

A próxima cena mostra um outro casal, a bela e virginal Jody (Murphy) e seu namorado Kenny (Gabriel Mann) em um carro, se pegando. Tal qual ocorria entre Billy e Sidney em Pânico, ele quer muito transar, já ela sonha em perder a virgindade de maneira romântica, guardando sua primeira vez de uma maneira bem idealizada.

Os dois namoram sob o olhar vigilante da mãe dela, Marge Marken (Candy Clark). Não fica claro se ela notou que eles pararam de interagir de maneira sexual ou não, talvez ela quisesse de alguma forma reacender a conversa sobre coito que rolava, fato é que ela sai de onde estava e interfere no momento quase íntimo dos dois.

Aparentemente, todas as pessoas da cidade parecem ter uma libido bastante aflorada e a sra. Marken não foge dessa pecha. Independente da origem desse ardor sexual, fato é absolutamente todos os adultos parecem viver em um constante estado de excitação, até mesmo o esposo dela, que é um sujeito mais travado por motivos a serem explorados próximo do final. É absolutamente normal observar as pessoas com expressão de tesão enrustido.

Marge é só a primeira a parecer assim, ao se debruçar sobre a janela do carro ela flerta com o garoto, até pede um cigarro para ele, fumando do lado de fora já que o xerife não gosta que ela nutra esse vício.

A casa dos Marken é o estabelecimento máximo da ordem. Na varanda se percebe uma bandeira dos Estados Unidos, que ganha destaque antes mesmo de apresentar Michael Biehn como o chefe da família, antes até de determinar que o seu Brent Marken é o chefe da polícia local. Essa é uma família refém da lei e da ordem, mas ainda assim, não foge do famoso e clássico caso de núcleo familiar onde pais e filhos são distantes emocionalmente dos filhos, embora os Marken sejam entre as famílias a que mais se apresenta como algo funcional.

Os adultos são praticamente ausentes da trama, exceção aos funcionários do colégio e os policiais que investigam os homicídios. Já os jovens são tratados como pessoas normais, problemáticos em alguns pontos, mas nada que fuja da vala comum que era esse tipo de exploração temática de filmes para adolescentes.

Na sessão de apresentações, o xerife encontra outra agente da lei, a oficial Mina (Amanda Anka), uma mulher calada, tímida, mas que parece ter um ímpeto de resolver as agruras da cidadezinha. Mesmo que sua participação seja pequena, ela se destaca, uma vez que a maioria dos adultos são completamente inertes ou egoístas, exceção feita também ao pai da protagonista e um professor novato, Leonard Maliston (Jay Mohr).

Quando a polícia tem consciência do que ocorreu com Stacy, o legista chega a conclusão que a agressão ocorreu com a moça ainda viva. Ou seja, o assassino fez o que fez com vontade de machucar a assassinada, para marcar ela e para passar uma mensagem.

A fotografia de Anthony B. Richmond favorece tons claros no início e acerta de maneira até surpreendente. Nos anos 2000, especialmente depois da onda de remakes de obras de sucesso se percebia uma toada mais escura nos filmes de horror. Aqui não, tudo é clean no começo, estética que faz ele diferenciar de outras obras, como Lenda Urbana e Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, que são escuras em quase toda abordagem.

Aqui varia, ficando mais escuro nos trechos finais, até para demarcar a mudança de rumo emocional da história.

Jody é informada do assassinato da noite anterior por Timmy (Keram Malicki-Sanchez), seu amigo dono de uma coluna de fofoca no colégio. Aqui é estabelecido que só por que ela usa um visual alternativo, como roupas pretas e influência do estilo musical mais "gótico" ela automaticamente seria próxima do gay esterotipado da escola.

Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000

É um bocado curioso, uma vez que essa dupla de personagens era vista como esquisitona por conta de seu modo de vestir. Atualmente, passariam por pessoas bastante comuns, até por conta de Jody andar exatamente como boa parte das e-girls, especialmente as mais "trevosas".

Aqui se nota uma estranha troca de olhares dentro do escritório do diretor, com a assistente Diana (Jessica Driscoll) e o diretor Tom Sisler (Joe Inscoe) deixando patente uma tensão sexual absurda entre eles, mesmo que nenhum dos dois fale uma palavra para o outro. Os homens e mulheres transparecem estar sempre em ponto de bala, prontos para eventuais episódios de fornicação, todos, menos Brent, que parece estar sempre tenso e duro, para ficar em termos de duplo sentido ainda.

O filme foi escrito por Ken Selden (de Mentiras do Bem) e a ideia dele era produzir uma sátira de filme de assassino, mas quando Wright tomou para si o projeto, movimentou a história para parecer mais séria, com a anuência dos produtores Marshall Persinger e Eli Selden.

A mistura de filme mais sóbrio com pitadas de sátira acaba resultando em uma exploração divertida e acertada, sendo esse possivelmente o maior tento do diretor.

Wright é conhecido por seus trabalhos em Skinheads: A Força Branca, Metal Skin, uma versão de 2006 de Macbeth de 2006 e por ter criado a minissérie para televisão Romper Stomper.

Os adolescentes também são estranhos dentro desse micro-universo. Todos são exageradamente esquisitos, mesmo os que deveriam ser comuns e genéricos. É fato que um homem ou mulher ainda em época de formação certamente tem problemas com variações de humor e manifestações hormonais até sobre a pele, mas aqui é tudo muito mais grafado.

O destaque pitoresco é Ben (Michael Weston), um garoto que faz comentários macabros sobre profanação de órgãos sexuais por parte do assassino no exato momento em que se discute em sala sobre a morte do casal no início do filme. Por mais insensível que pareça ele também soa como uma espécie de especialista, faz assim uma função semelhante a de Randy na saga Scream, obviamente com menos importância dramática, já que ele apenas pincela comentários.

Junto a ele há também Mark (Douglas Spain), um garoto tímido, que claramente está chapado a maior parte do tempo. É curioso como nenhum deles tem um grande destaque. Sendo um filme de pouco mais de 90 minutos, há a aparição breve de cada um deles e ainda assim fica claro pelo menos um traço de personalidade de cada um, quase sempre mostrando essas pessoas como falhas, longe dos estereótipos mega corretos de filmes teen.

Também se destaca Sandy (Natalie Ramsey) a melhor amiga de Jody, que serve basicamente para anunciar a ela a movimentação dentro da escola. Sendo assim a porta voz também para o público de como os meninos encaram a situação perigosa estabelecida em tela.

Todos são apresentados como possíveis candidatos ao posto de assassino, embora fique a sensação de que é um adulto o serial killer, já que o mesmo é engenhoso, forte e preparado para qualquer eventualidade.

Há um cuidado visual muito grande aqui, com elementos que fazem a trama parecer genuína. Até aspectos bobos como a caracterização de peruca barata e óculos falsos que o professor Maliston usa parece charmosa.

Ele certamente é a inspiração para o professor que JK Simmons faz em Garota Infernal. Sua postura consternada após saber da morte dos jovens também o faz ser enxergado como um candidato a assassino, ou pode ser visto meramente como alguém falso, já que parece forçada a sua comoção em sala de aula.

A partir de agora falaremos com mais spoilers, tanto sobre assassinatos quanto sobre as curvas dramáticas. Fique à vontade para retornar depois de assistir ao filme.

Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000

O filme é sempre lembrado por carregar em si um subtexto LGBT, já que mesmo antes de determinar o principal suspeito como o real culpado, fica difícil não enxergar o matador como um homem que se veste de mulher, tal qual ocorreu em vários clássicos, como Vestida Para Matar ou Psicose.

Essa questão se fortifica no segundo assassinato, quando o personagem maléfico vai até a casa de Anette (Clementine Ford), moça essa introduzida uma cena antes, sendo apresentada como a protagonista de um boato sexual que ela nega.

Aqui se nota mais uma vez um aceno a matar pessoas sexualmente ativas, embora a condição fosse desmentida não muito tempo depois. Ao bater a porta, a pessoa dá um nome, se auto proclama Loralee Sherman.

Ela (ou ele...) aproveita então uma pequena brecha, pela porta de entrada, que até está com um trinco. Pega com força a cabeça da menina e machuca ela contra a madeira até fazer ela desacordar.

São métodos brutais, é fácil entender o motivo do filme ter sofrido com classificação indicativa, mesmo que esses trechos não sejam gráficos.

Os pais de Anette chegam a casa, bêbados, tão embriagados que praticamente não estranham quando veem a porta aberta. Tomam um susto quando percebem o sangue espalhado pela casa e quando contemplam sua filha servindo de adereço decorativo, pendurada no teto, afinal o assassino além de cruel e sangue frio, tem predileção por arte.

Dois eventos sui generis se notam, o primeiro, é o ingresso do FBI logo na segunda morte, com o acréscimo até de agentes do FBI. No entanto o acréscimo é desimportante, serve apenas para mostrar que os assassinatos eram levados a sério. O fato realmente relevante e disruptor é o treinamento que Brent submete sua filha.

A fim de deixar Jody apta para se proteger, ele a treina para eventuais brigas com agressores sexuais, ministra a ela os conceitos básicos de autodefesa e ali, em meio aos confrontos físicos, uma tensão sexual se evidencia, concluindo até com a queda dele sobre o corpo deitado da menina.

Esses sinais são cuidadosamente colocados para gerar desconforto e para brincar com as expectativas conservadoras da plateia. Certamente esse foi um dos fatores que pesou na crise com a MPAA.

Medo em Cherry Falls : Um slasher metalinguistico e injustiçado dos anos 2000

Curiosamente, Jody tem duas formas de se vestir bem distintas. No lado externo da casa, ela usa roupas de tonalidade preta e maquiagem mais forte, tenta realmente parecer uma moça fã de The Cure e de bandas mais "trevosas". Já em casa, usa roupa de dormir com estampe de bichinho, com roupas de dormir mais comuns para uma menina saindo da infância, bem distante da condição de garota rebelde que usa na escola.

Ao estudar a condição da morta, o legista detecta que as moças morreram com o hímen intacto, sem vestígios de esperma em partes do corpo como boca, cabelo ou ânus. Esse é o indício número um de desconstrução do roteiro, uma vez que não havia ferimentos ou indícios de penetração sexual.

Com a vítima masculina obviamente que não há para inferir se ele tinha uma vida sexualmente ativa ou não afinal, homens não tem hímen. De qualquer forma não havia qualquer sinal de estímulo sexual ou qualquer outra violação no cadáver.

Ao saber disso, o xerife fica preocupado com a própria filha, tanto que em seu pânico particular, acorda a menina no meio da noite para perguntar se ela transou com seu ex-namorado.

Ao invés de ficar aliviado por ela ter preservado sua "inocência", ele fica tenso ao saber que ela ainda se guarda, uma vez que poderia ser um alvo.

Uma parte da ideia inicial do roteirista de fazer uma paródia seguiu viva justamente no primeiro encontro entre assassino e Jody. A fim de tentar escapar do encalço do vilão, ela serra uma corda e derruba um tubarão de plástico no stalker, já que o momento ocorre dentro da escola.

Quando até o colégio se torna palco de mortes, os jovens ficam desesperados. Entre jovens que reclamam a autoria dos homicídios e outras ações, o fator que mais chama a atenção é que os garotos e garotas decidem transar, ao ouvir o boato de que os virgens estão morrendo.

Essa informação é dita em uma reunião de pais e mestres, que dá super errado já que os adultos brigam entre si. Ainda termina a sequência de maneira bizarra, com a morte de Timmy, preso perto de um armário de colégio, em um simbolismo que grita graças a obviedade.

Ao conversar com Jody, Sandy descreve a tomada de decisão dos alunos como uma crise hormonal, o holocausto do hímen. Adolescentes normalmente exageram ao falar dos próprios sentimentos e sensações, mas essa verborragia voltada para frases de efeito pouco usuais é demais, maravilhosa em essência graças ao exagero.

Eles então unem a fome com a vontade de comer, fazem isso sem pudores, em todos os sentidos. O objetivo é sair da lista de espécie em extinção, transando para sobreviver.

A vacina para eles será um grande orgia, no alojamento de Donkey Hill, o que é uma saída burra, uma vez que um grupo de virgens dificilmente conseguiriam fazer uma orgia, sem falar que todos os potenciais assassinados estariam em lugar só, reunidos.

As pessoas de Cherry Falls são perdidas as meninas se reúnem em torno de uma das poucas personagens que (aparentemente) é sexualmente ativa e que demove todas elas da ideia de ter orgasmo clitoriano, exceto se for via masturbação.

Até mesmo Jody cai nessa pecha e vai até seu antigo namorado, tentar realizar com ele a fantasia que ele tanto tencionou, no entanto, até isso dá errado...

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Já os rapazes têm dúvidas ainda mais absurdas que as moças. Em determinado ponto, um deles faz uma piada sobre não saber quantos buracos mulheres tem. A fala mesmo sendo dita em tom humorístico passa alguma dúvida para os meninos que ouvem o gracejo.

O filme recorre a alguns clichês, mas a maioria deles é bem utilizado, a exemplo do chavão do caso de estupro no passado, vingado no presente. É dito que quatro pessoas fizeram o ato, dois saíram da cidade, dois permaneceram. Entre os que ficaram e abusaram de Loralee Sherman estão o diretor da escola e o pai de Jody.

Depois dessa revelação fica claro o porquê Brent é tão travado. Essa é uma história sobre um homem que no passado foi um estuprador e que vê um assassino causando mal a adolescentes e crianças e a chave para escapar disso, é fugir da condição virginal. Como bom conservador, o xerife não desejaria ver sua filha perdendo a virgindade tão cedo, ao menos não gostaria de ter ciência sobre isso.

Curioso que na conversa entre mãe a filha sobre o acontecido, Jody não perdoa o pai, ao contrário, o condena no primeiro momento, mesmo que sua mãe conte tudo chorando, tentando atenuar o pecado dele graças ao fato deles estarem bêbados. Surpreende como um filme de 2000 conseguiu ser tão maduro para condenar isso.

É depois de saber a possível motivação do bandido que Jody decide ir atrás de Kenny, mas o rapaz trava, simplesmente por conta da moça estar tomando as rédeas da situação. Segundo ela própria, ele sugeria que os dois transassem há mais de um ano, mas quando ela quis, quando ela agiu como o alfa da relação, ele recua, age como um retraído, quase como um castrado.

A noite de prazer programado dá bastante errado, os virgens não sabem como se portar, nem como desenrolar suas situações, paralelamente a isso, os dois sobreviventes entre os assediadores são atacados.

Para coroar a situação completamente insana, a polícia fica no entorno do local onde a orgia ocorrerá, vigiando tudo ao longe, sob o comando de Mina, que ainda tem que responder a gracejos machistas de policiais de patentes mais baixas.

O assassino esperou 27 anos para cumprir sua revanche. Não fica claro o motivo de toda essas espera, mas enfim ocorre um flashback, que explica a participação de cada um dos abusadores.

Brent se culpa bastante pelo que ocorreu, ao menos não é covarde ao ponto de jogar apenas na bebida a culpa de ter feito o que fez. Se assume como alguém que foi manipulado até certo ponto, mas que tinha consciência e força para bater de frente com os colegas, ao menos no ponto em que foi acionado para violar a colega de classe.

Como esse é um filme focado em colegiais, é dado também que Loralee era uma moça excluída no ambiente escolar, vista como "esquisitinha", embora fosse bela ao seu modo. É um perfeito espelho do que Jody é atualmente.

Da parte do assassino, há alguns há alguns simbolismos básicos, como um boneco de ventríloquo que fica largado no seu porão, possivelmente uma referência a uma infância perdida, já que o brinquedo fica em um cômodo distante dos olhos das pessoas.

Ele apanhava da mãe, física e emocionalmente. Ela o machucava com tapas e chutes e chicoteava verbalmente, através da descrição que fazia do crime de estupro. Ele é mentalmente perturbado, um herdeiro de uma relação carnal forçada, o fruto de uma tristeza emotiva.

Como tal parece malformado. Ao passo que é engenhoso, forte e esperto, também falta cuidado, tanto que é pego no erro ao tentar parecer alguém normal quando é confrontado por Kenny, enquanto mantém pai e filha reféns na parte de baixo da casa.

Ele conseguiu acertar em colocar a lente com cor de olhos diferentes quando subiu até a porta de entrada, mas se permitiu aparecer vestido de homem com batom. Fica evidente a confusão mental do homem com relação a sua identidade de gênero, daí vem o louvor por parte dos aficionados do filme, que associam esse a uma obra de temática LGBT +.

A revelação para o grupo de virgens que estão transando (ou tentando pelo menos) de quem é o assassino é boa demais, seguida de várias piadas, que ocorrem no meio do desenrolar sexual. Na ânsia por fugir, meninos e meninas ficam presos em uma escada, como uma horda descerebrada, agindo como animais não racionais, movidos por seus impulsos mais primitivos, os menos que levam ao sexo.

O filme termina com o assassino caindo, sobre lâminas, depois levando uma saraivada de tiros da investigadora assistente Mina, que não verbaliza suas preferências, mas deixa no ar a possibilidade de não ser heterossexual, até por conta do olhar de desprezo que deixou para o imbecil que fez piada com ela mais cedo.

As pessoas ainda se beijam, selam a paz com amor e menções sexuais, afinal toda a abordagem foi pautada por lascívia, natural que acabe assim.

O último episódio de simbolismo gráfico reside na imagem que colocamos abaixo do aviso de spoilers, com uma cena onde as águas da represa de Cherry Falls escurecem, para um tom vermelho, como o fluxo sanguíneo de uma moça após ter o hímen rompido. Os créditos finais com sentido invertido, indo para baixo, acompanhando gravidade

Medo em Cherry Falls é bem melhor do que a média dos filmes de terror de sua época, tem subtexto profundo, bons personagens jovens e uma construção consideravelmente bem executada em termos dramáticos, além de possuir um assassino de métodos bem estabelecidos. Também carrega atuações da parte de Murphy, Biehn e Mohr. É uma pena que tenha sido invisibilizado em sua época. pois merece elogios e louvor da parte do fandom do subgênero, resultando em um dos melhores acenos do slasher pós Pânico.

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