Dentro da fase mais trash da carreira de Peter Jackson, certamente Meet the Feebles é o filme menos conhecido. O longa-metragem de 1989 foge um pouco do escopo do horror e terror, mas é tem uma linguagem adulta e ainda baseado no mau gosto comum as obras de PJ.
Conhecida também como Conheça os Feebles, a narrativa acompanha Heidi, uma hipopótamo fêmea, antropomorfizada, que descobre que seu marido Bletch (uma morsa), o chefão da televisão onde ela trabalha, a está traindo.
Isso compromete todo o show por trás desse relacionamento, já que ele produz um programa de TV com animais (fantoches, todos eles), protagonizado por ela, e em meio a dramas típicos de estrelas, introdução de personagens novos e arroubos de loucura dos animais, o que se vê é uma deturpação de programas infantis, que lembram O Show dos Muppets, Vila Sésamo e até produções futuras como o estadunidense Família Dinossauro e o brasileiro Tv Colosso.
O mais bizarro aqui é que esse universo é de fato habitado pelos animais de pelúcia. Não são pessoas manipulando eles, e sim os bichos de espuma andando por aí. Isso, claro, choca o espectador que não está familiarizado com a lisergia e loucura do cinema que Jackson fazia nessa época, mas quem já acompanha o cineasta percebe um traço comum tanto a Trash: Náusea Total quanto com Fome Animal.
Há personagens diversos: um verme, um leão marinho, um porco espinho chamado Robert que é introduzido como um sonhador que queria trabalhar com os Feebles. Há também elefantes, ratos e uma mosca, que representa a imprensa marrom, que noticia todos os escândalos dos bastidores do showbusiness.
O mais chocante dentro do filme são as cenas de sexo explícito e entre espécies diferentes. É uma história adulta, não se tem pudor em tratar de crime, drogas, tráfico de influência e orgias.
O roteiro ficou a carga de Jackson e de sua esposa Fran Walsh, mesma dupla que escreveu parte da trilogia Senhor dos Anéis.
Aqui se faz uma versão imunda e violenta de como é a vida de quem quer trabalhar com arte, mostrando os sacrifícios comuns a essas pessoas, mas de forma cínica e escrachada, exagerada, mas estranhamente não é irreal.
Há muita violência, efeitos especiais bem feitos, mostrando que mesmo sendo de pelúcia, os personagens são feitos de maneira orgânica - até utilizam carne moída para mostrar os bichos esmagados - há referências também a canibalismo. Não parece existir limites dentro da exploração desses dramas.
Os fantoches registram filmes pornográficos, com BDSM, dramas de guerra, e até programação de cunho político, tudo isso nos estúdios ao lado do grande show dos Feebles.
O complexo é lar de verdadeiras loucuras, uma extrapolação da representação de como se fazia televisão na Nova Zelândia. Curiosamente não era tão diferente da loucura das emissoras brasileiras, com exemplos mil como o Sábado Sertanejo de Gugu Liberato, ou o Cassino do Chacrinha e seus semelhantes como o Clube do Bolinha.
No entanto, terminar de ver o longa é complicado, já que a duração é extensa demais para a proposta apresentada, resultando em 93 inacreditavelmente enfadonhos.
No final se faz piadas com um suicídio não concluído, graças basicamente ao fato da protagonista que é Heidi ser obesa, há também referências a uma chacina armada, enquanto ocorre uma demonstração de sodomia, mas que perdem sua força por conta dos absurdos anteriores. A extrapolação do politicamente incorreto encontra seu limite, a partir de um ponto, os absurdos não chocam mais tanto.
Meet the Feebles é um filme completamente surtado, que acompanha as tramas nonsense do cineasta, mas sem a chance de Jackson mostrar seu trabalho com atores ou com grandes cenários, já que tudo gira em torno de mostrar os fantoches como seres realistas, quando claramente não são. Para quem gosta do seu cinema, é uma boa curiosidade, uma continuidade de sua visão escapista e violenta do mundo no século XX.
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