Noite de Sombras, Noite de Sangue: O clássico esquecido de horror no final de ano

 Noite de Sombras, Noite de Sangue: O clássico esquecido de horror no final de anoNoite de Sombras, Noite de Sangue é um filme que previu algumas tendências do cenário de horror, e é bem menos reconhecido conhecido do que deveria. Produzido em 1972 mas lançado só em 74, o longa é dirigido por Theodore Gershuny, co-produzido por Lloyd Kaufman e estrelado por Patrick O’Neal, James Patterson e a atriz Mary Woronov nos papéis principais.

A trama mostra um herdeiro tentando vender uma mansão isolada, lugar esse cujo passado é obscuro. Tudo que envolve essa casa em Massachusetts é esquisito e aos poucos, todos os que circundam esse imóvel vão sendo perseguidos e mortos por um maníaco cuja identidade não fica clara.

O filme começa narrado em primeira pessoa por uma mulher, que conta a história da tal casa, inabitada desde o natal de 1950, quando seu dono, Wilfred Butler retornou até ela, para morrer queimado prestes a chegar a data do natal.

Wilfred era um sujeito solitário, tanto que foi enterrado sem testemunhas, como um verdadeiro estranho. O morto assume o papel de narrador, lendo seu testamento, pedindo que seu neto e único parente vivo Jeffrey Butler herdasse a casa e as terras, exigindo que abandonasse a casa, deixando como ela estava, para " lembrar ao mundo da sua desumanidade e crueldade", ou alguma baboseira de cunho depressivo, com algumas outras frases de impacto escritas no epitáfio do sujeito.

Os créditos iniciais misturam o clássico musical Noite Feliz com novos arranjos, mais melancólicos, conduzidos magistralmente por Gershon Kingsley, que também escreveu e conduziu as músicas originais.

O texto vai falar abertamente sobre partes substanciais da história. Se o leitor se importa com spoilers é bom ler depois de assistir o filme

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Essa é uma produção de múltiplos nomes. O original era Silent Night, Bloody Night, mas também pode ser encontrado com o nome Night of the Dark Full Moon. Graças a onda de filmes de terror com assassinos foi relançado em 1981 com um outro nome novo, Death House ou na corruptela Deathhouse.

Para o espectador acostumado a filmes de horror, é fácil associar a série de mortes a Wilfred, apesar dele ter supostamente morrido décadas antes. Tudo o faz ser suspeito, o fato de ter sido queimado, o pedido para que seu neto deixasse a casa vazia e intacta, o estranho enterro dele.

Até as pessoas da cidade agem de maneira suspeita e bastante estranha ao comentar sobre a figura dele e da residência em si.

Esse possível retorno conversa com o seguimento de filmes de matança, já que vários futuros filmes de assassino, que resultam de retornos de supostos mortos, do passado, artifício esse utilizado em franquias como Halloween e Sexta Feira 13, e em produções isoladas, como Quem Matou Rosemary e O Terror da Serra-Elétrica.

A direção de fotografia de Adam Giffard se vale de elementos escuros e góticos, fato que deixa o filme com um aspecto mais escuro em toda a sua plenitude. Isso o diferencia, as pessoas se lembram dele como lembram das versões de Roger Corman para as adaptações de Edgar Allan Poe, mesmo que o grosso do roteiro de Gershuny, Jeffrey Konvitz e Ira Teller se passe nos anos 1970.

O filme ficou famoso em exibições externas, especialmente em drive-ins. Até a chegada do mercado de home video, ficou relegado ao ostracismo, até mudar de nome para ser relançado nos cinemas. Também ganhou uma certa fama quando passou em Elvira’s Movie Macabre, apresentado por sua vez por Cassandra Peterson, a protagonista de Elvira A Rainha das Trevas. Essa trajetória acabou tornando o longa em uma peça cult.

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Por vinte anos a promessa foi cumprida, e Jeffrey (Patterson) não mexeu na casa, até decidir coloca-la a venda. Ele então dá a função de negociar a venda a John Carter (O'Neal), que vai até a cidade conversar com os locais.

Carter então se reúne com uma junta, formada por quatro lideranças da pequena cidade.

São eles Charlie Towman (John Carradine), dono do jornal local, Tess Howard (Fran Stevens) a operadora de central telefônica local, o prefeito Adams (Walter Abel), e o xerife Bill Mason (Walter Klavun).

Esse trecho é surreal, já que a conversa é franca e sempre pontuada por um sino de hotel, que o repórter sempre toca quando as pessoas na mesa falam demais.

O quarteto define Wilfred como odioso e amargo. Sua casa vazia serve para reunir e atrair ladrões e delinquentes, então ser ocupada, supostamente, seria do interesse de todos, embora nenhuma das intenções fique clara aqui.

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As poucas pessoas da cidade que aparecem estão claramente encenando algo. O comportamento desses quatro especialmente se assemelha ao de uma ópera confusa.

São todos meio dramáticos, pobres, pessoas que se mudaram para a localidade na época da grande depressão oriunda da Crise de 1929, e que temem perder o local onde criaram raízes, onde cuidam de seus filhos e famílias.

Carter então segue sua rotina, e entre romances e trabalho, o casal decide ficar na tal casa que está à venda.

Curiosamente o lugar que deveria estar abandonado está com sinais de uma impecável preservação. Isso por si só já deveria ligar o alerta dos personagens, uma vez que a mesma está esvaziada por duas décadas.

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Do mais absoluto nada um intruso aparece na casa, com uma visão em primeira pessoa, e sem grandes cerimônias simplesmente mata o casal, após o coito, na cama indefesos.

A câmera é esperta, registra as machadadas de forma propositalmente confusa, tornando uma sequência que poderia ser parada e tediosa em algo agressivo, sanguinário e bastante violento.

Jeffrey então chega a cidade, para verificar como anda o processo de venda. Ao chegar ele vai até a residência do xerife e não o acha, decide então ir a casa de uma das autoridades, o prefeito, e é recebido de modo suspeito pela filha do prefeito Diane (Mary Woronov), que é a mesma moça que aparece na primeira cena do filme.

Diane é uma personagem confusa. Em alguns pontos parece inexpressiva, anestesiada. Woronov não é má atriz, mas sua performance aqui é bastante estranha, fato que faz entender que talvez ela estivesse sofrendo uma influência maligna da localidade mesmo, da cidade, que muda as pessoas para pior.

Os dois, Diane e Jeffrey, acabam se aproximando e confraternizando, amolecidos possivelmente pelo espírito natalino, já que a data estava próxima, ou simplesmente se entenderam porque o texto pedia isso e era conveniente.

Curiosamente o lugar que deveria estar abandonado está com sinais de uma impecável preservação. Isso por si só já deveria ligar o alerta dos personagens, uma vez que a mesma está esvaziada por duas décadas.

De qualquer forma eles ficam curiosos e vão atrás de entender o que ocorreu com a casa e com Carter.

A trilha sonora incidental é pontual, dá um aspecto dramático para quase todos os diálogos, mesmo os estranhos e nonsense. É certamente o ponto alto do filme, junto ao caráter gótico que a fotografia impõe. Essa parece uma produção que mira o gore e o mistério na mesma medida, reunindo clichês noir com os sustos.

Pontualmente o assassino dá as caras, ligando para mulheres, falando em enigmas, tal qual o assassino de Black Christmas/A Noite do Terror, filme natalino lançado em 1974.

Durante um bom tempo da curta duração do filme (que tem apenas 81 minutos) se brinca com a identidade do vilão, inclusive atribuindo ele a uma silhueta feminina. Toda essa tentativa de fazer a questão soar dúbia é meio forçada, claro, mas tem seu charme mesmo na péssima construção misteriosa.

Diane tem acesso a uma gravação, com a voz da primeira narradora, que conta a trajetória da casa dos Butler. Nesse ponto o roteiro se torna bastante explícito, falando com todas as letras que aquele lugar, no passado, era um manicômio.

Mais para frente é contado que os pacientes insanos puderam andar livres, e esse momento é registrado de maneira quase religiosa pelo diretor de fotografia Giffard.

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A sequência lembra a procissão zumbi de A Noite dos Mortos Vivos, visual e espiritualmente, com os vistos como inferiores sobrepujando os burgueses aristocratas e beberrões, que se julgaram acima desses e de todos os outros.

Aqui também se fala abertamente sobre a filha de Wilfred, Marianne, que tinha problemas da ordem do pensamento e foi brutalmente violada, quando tinha apenas 15 anos, e foi assim que ela deu a luz a Jeffrey.

Também se fala sobre um doutor psiquiatra, chamado Robinson, homem esse que transformou a casa no lugar onde ela era cuidada, junto a tantos outros pacientes insanos.

A grande questão é que houve um descontrole no lugar, uma grande fuga que resultou em uma tragédia. Não fica claro se foi uma sabotagem, um acidente ou se Robinson estava tão convencido de que fazia um trabalho excelente que acabou não tomando os cuidados básicos, sendo ele também vítima das pessoas que ele cuidava.

Todo o caso foi apagado de qualquer livro de registros, e fora essa gravação não havia qualquer outra menção ao caso. As cenas do passado, oriundas das lembranças de Butler usam um tom amarelado, sépia, antes disso virar moda no cinema do século XXI.

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Ao menos nesse trecho, mesmo em um momento expositivo, há um trabalho de liberar as verdades vagarosamente. Não é que a história do "presente" seja ruim, afinal, o mistério é tem seus momentos, mas a parte que explora o passado é cativante demais, e faz querer saber mais

Seu desenrolar é bizarro, grotesco, temperado com referências a amores proibidos e que discutem o conservadorismo da América do século 20, não só apontando a hipocrisia dos mais velhos, mas também referenciando possíveis costumes incestuosos.

Noite de Sombras, Noite de Sangue é bem confuso na maior parte de seu drama, mas carrega mistérios sofisticados demais para a sua época, além de antecipar boa parte dos chavões do gênero slasher, isso antes de A Noite do Terror, Halloween e O Massacre da Serra Elétrica. É uma pérola perdida que sem dúvida alguma precisa ser encontrada pelo público.

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