Review: American Horror Story: Hotel – S05E01- Checking In

Universo de horrores. Se Don Henley e Glenn Frey, membros fundadores do Eagles, realmente fizeram uma parada no hotel em L.A. onde a luxuriante presença da sua dona, fazia todos os hóspedes se tornarem reféns ocasionais, com certeza o Hotel Cortez era o famoso endereço. Eu sabia que Ryan Murphy e Brad Falchuck não perderiam a letra de Hotel California de vista, quando fossem dar vida à quinta temporada de American Horror Story, porém quando a predileção por poucos diálogos e pela profusão de imagens e quadros impressivos tomou conta da premiere de Hotel, esta certeza virou um conceito. Os aspectos imagéticos bem demarcados são uma constante na série, só que agora, ao partir da presença alardeada da popstar Lady Gaga, as imagens falam com uma fluidez que impressiona, comove e arrepia num nível que lembra positivamente os dois primeiros anos do seriado.

Com uma premissa sombria e rica em referências, Hotel conseguiu trazer O Iluminado, Se7en, Nosferatu e até mesmo Réquiem Para um Sonho a luz do mundo grotesco de AHS, dando um show de condução que deve colocar Murphy, mais uma vez, na concorrência por estatuetas que possam premiar a sua direção. Está de volta também o cultuado elenco e o melhor de tudo, as crescentes conexões com os seguimentos apresentados anteriormente. O Cortez é um antigo hotel art déco com corredores que parecem não ter fim, ou que se encerram de forma brusca. No saguão de entrada, a recepcionista já diz, de forma curiosa, que a tentativa de cancelar as reservas serão infrutíferas e que dá para aproveitar o local, mesmo que adjetivos como “tumba” e “zona morta” já se façam presentes na conversa com, e entre os hóspedes mais novos.

Já de cara é impossível não se pegar preso a ideia do lugar: um poderoso monumento no centro de L.A. que funciona como uma ratoeira labiríntica construída para pegar turistas, drogados e pessoas atormentadas por demônios pessoais. E é a câmera de Murphy que confere todas estas características, afinal, como dito anteriormente, os diálogos são bem escassos e pontuais. Vejam, por exemplo, como Iris (a recepcionista vivida por Kathy Bates) provoca, desafia e vai jogando as almas que chegam ali para o tal quarto 64 sem que precisemos de um detalhamento prévio da história do recinto. Como a tensão chega com tão pouca informação? Simples. À medida que as lentes de peixe das câmeras no interior do Cortez, assumem as vezes de um olho mágico onisciente, a impressão que fica é a de que uma força maior está espreitando e caçando eternamente no local.

Também fica fácil perceber que o cunho melodramático de Freak Show foi deixado de lado, quando o choque das boas-vindas que cada personagem despende, não precisa ser reforçado por backstories densas. O detetive John Lowe (Wes Bentley, agora um veterano em AHS) tem sim um passado doloroso, mas o que vale aqui é o início da investigação para descobrir quem, ou o quê é o Assassino dos 10 Mandamentos. Os gráficos ataques valem mais do que o sumiço do seu filho, pelo menos a princípio. Há sim desvios provocantes naquela cena do píer e a culpa que John sente deve esconder algo como uma traição – a morte do “Adultério” não abriu sua trama por acaso –, porém o que nos prende mesmo são as curiosas “visões” do pequeno Holden nos corredores do Cortez. A referência a duas obras máximas como O Iluminado e Se7en, nunca foi tão livre e orgânica.

Mas é a sequência que introduz a Condessa (Gaga) e seu consorte Donovan (Matt Bomer), que coroa a premiere de Hotel como definitiva na trajetória do show. Murphy e Falchuck deram teasers do tipo de vampirismo que faria parte do enredo da popstar, só que nada nos prepararia para o 4some brutal na cobertura da Condessa. Eu não vou tecer mais elogios, ou detalhar a cena, mas é certo que ela já está entre um dos grandes momentos da TV em 2015. Da trilha à cinematografia do sempre excelente Michael Goi– que deve voltar na direção de mais episódios como no ano passado –, o assombro e burburinho nas redes sociais, não foram nem um pouco exagerados. Tear You Aparta inda está tocando em looping no meu player.

AHSHotel 1.2

No fim, ainda ganhamos um pequeno e promissor espaço para as curiosas Liz Taylor e Sally (Denis O'Hare e Sarah Paulson na costumeira entrega que sempre vale ouro). Liz é O'Hare dando vida ao crossdresser (milenar?) que comando o bar do Cortez e Sally é uma espécie de anjo da morte que pune as almas que possuem vícios. Eu sei que nenhuma destas definições ainda são certas, mas gostei de enxergar os dois desta forma. AHS nos permite passear pelos seus universos fazendo suposições malucas e está é uma das maiores mágicas da série. O twist com Sally já no finzinho da primeira hora é o maior exemplo do que eu estou falando.

Lá na década de 70, o mundo tomou conhecimento do hotel onde você poderia registrar o check-out na hora que quisesse, porém sair seria outros quinhentos. Só agora descobriremos o porquê de tanta “hospitalidade”. “Welcome to the Hotel Cortez. Such a lovely place.

P.S.1: O Demônio do Vício anda dando pesadelos em mais alguém? Não comentei na review, mas que negócio hediondo.

P.S.2: Marcy, a corretora mais diabólica de L.A. está de volta. Eu toparia um tour pela saudosa Murder House em algum momento da temporada.

P.S.3: O salão de jogos dos “filhos” da Condessa é daqueles presentes visuais que só AHS consegue entregar.

P.S.4: Falando nisso, se existir alguma justiça em premiações, o design de produção do Hotel Cortez levará todos os prêmios do gênero. Eu ainda estou impressionado.

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1 comment

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    Douglas Couto 13 outubro, 2015 at 02:25 Responder

    Esta é uma obra que eu faço questão de acompanhar todo ano, mesmo com seus tropeços nos mais recentes.

    Ryan Murphy abusou das grande angulares hein, a série sempre gostou muito de usar mas aqui pareceu fazer muito mais sentido. Às vezes eu ficava com a impressão que as paredes tinham vida naquelas estranhas paassadas kkk. Como vc bem comentou, também fiquei com aquela impressão de que algo tá observando tudo, à espreita. Por estar começando a estudar a área, os aspectos visuais são algo que pesam pra fazer eu gostar de algo. Mas espero mais informações da trama porque o piloto foi meio pobre de enredo. Ótimo texto José Guilherme, tava curioso pra saber sua opinião.

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