Review: Arrow S02E07 - State v. Queen

State v. QueenTalvez não seja o ideal, mas assistir Arrow envolve um exercício de abstração muito maior do que com outras séries, até mesmo para aceitar certas decisões de roteiro, situações um tanto absurdas e as constantes reviravoltas que o programa oferece. State v. Queen deve ser o episódio em que essa forma particular de suspensão de descrença mais se faça valer. E é difícil analisar tudo isso sem parecer rígido, afinal, não dá para simplesmente ignorar certas coisas só porque este é um seriado do CW, emissora cuja programação não é formada por grandes obras da televisão norte-americana.

Colocando dessa forma, pode soar que o episódio da semana seja ruim. Não é. Pelo menos, quando comparado ao anterior, é até um avanço, mas quando analisado lado a lado com os cinco primeiros desta temporada, deixa, sim, um pouco a desejar. A trama envolve o retorno do Conde Vertigo (Seth Gabel) ao mesmo tempo em que o julgamento de Moira Queen fragiliza Oliver e Thea, quando tudo leva a crer que sua condenação será inevitável. E, logo no começo, quando o espectador é apresentado à fuga do vilão durante o terremoto há seis meses, a série faz questão de lembrar que isto é uma adaptação de quadrinhos, e mesmo que sua abordagem envolva uma visão mais realista de um mundo fantástico, certas liberdades são tomadas a todo momento, por mais cafonas que sejam. Senão, como explicar, de forma coerente, que a parede do presídio tenha desmoronado formando um desenho tão claro de um V, que também se assemelha a ponta de uma flecha? Essa lembrança é fundamental para quem assiste não se esquecer da natureza destes personagens, por mais que isso atrapalhe a lógica que os roteiristas e produtores lutaram tanto para manter, principalmente na primeira temporada. Não é uma crítica negativa, é apenas a constatação de que Arrow está mesmo disposta a abraçar características de sua contraparte de papel, sem medo de soar ridícula aos olhos de uma audiência tão acostumada ao "realismo" das produções recentes do gênero.

Do lado do julgamento da mãe de Oliver, tudo é colocado em risco quando o promotor cai vítima de uma nova forma da droga Vertigo e é sequestrado pelo Conde. A tarefa de prosseguir com a acusação cabe à Laurel, que descobre a última cartada de seu chefe para encerrar de vez qualquer chance de Moira escapar da pena mais drástica. Embora bem estruturadas, as cenas do tribunal sofrem um pouco pela forma como o promotor conduz o caso. Desde o começo desta subtrama, fica bem claro que todo o sistema judiciário de Starling está disposto à condenar a Sra. Queen, independente de qualquer prova quanto ao fato dela ter sido coagida por Malcolm Merlyn. É como se o desejo de vingança e reparação pelo desastre que abalou a cidade fosse muito mais forte do que qualquer senso de justiça, que se falasse mais alto, jamais permitiria condenar alguém sem provas o suficiente, simplesmente porque a população precisa de um saco de pancadas onde possa desferir seus golpes de raiva. Assim, soa forçado ver a acusação praticamente perguntar para Thea o que ela sente por sua mãe, como se isso fosse relevante. Dessa forma, é fácil desconfiar da integridade de um homem da lei que parece disposto a usar uma condenação desejada pelo público para ampliar sua popularidade. Se a intenção de Arrow é alertar para esse tipo de coisa e dar pistas quanto às reais intenções do personagem, a série se sai bem. Por isso, fica um pouco difícil analisar isso totalmente, uma vez que, se não der frutos, pode ser considerado como amadorismo do texto, que, mesmo sendo uma atração do CW, é improvável, já que um dos autores do episódio e produtores do seriado, Marc Guggenheim, já foi advogado e começou a carreira na TV escrevendo para Law & Order.

Como citado, o promotor é sequestrado pelo Conde, e aí o texto desperdiça um conceito interessantíssimo, quando o vilão apresenta a cura para a doença causada por sua droga. Se trata de um outro narcótico viciante. Ou seja, o antagonista deixa a cidade a mercê de seu produto, e a ideia de ter uma população inteira de viciados seria uma grata surpresa se não fosse totalmente abandonada pelo meio do caminho, com o conflito do Arqueiro e seu nêmesis, levado para um nível pessoal. Também não ajuda o fato de, mais uma vez, o Conde soar como uma versão alternativa do Coringa vivido por Heath Ledger. Até mesmo uma cena envolvendo uma transmissão pela TV é descaradamente copiada de O Cavaleiro das Trevas, além do conceito de quebrar uma figura pública também ser muito semelhante ao que o Palhaço do Crime tenta fazer com Harvey Dent no mesmo filme. Se a participação do Conde acrescenta algo, no entanto, é a respeito do código de Oliver quanto a matar seus oponentes (que teria muito mais força, não fosse a problemática ação do episódio anterior).

Enquanto isso, os flashbacks mostram a reunião de Oliver com Slade e Shado, além da revelação de que o segredo para a droga Miraclo estar naquele amuleto em formato de seta, encontrado em um dos corpos na caverna. A sugestão de que o soro pode ajudar o personagem de Manu Bennet a se recuperar, traz uma boa dica de como ele deve se tornar uma versão do Exterminador mais fiel à dos quadrinhos, que sempre foi uma espécie de Supersoldado da DC. Os fãs também devem se animar com uma cena entre Thea e Roy, uma provável indicação de que a moça pode acabar recebendo algum treinamento do namorado. Será que ambos serão sidekicks do Arqueiro? Ou, num futuro próximo, o casal acabará agindo de forma independente do justiceiro de Starling City (mais sobre isso no próximo parágrafo)?

State v. Queen

A partir daqui, o texto contem spoilers massivos do episódio, então se você ainda não assistiu, pare de ler ou continue por sua conta e risco (selecione a área branca pra ler ou avance até o final da postagem para assistir ao terceiro minisódio de Blood Rush).

Mas é no terceiro ato que State v. Queen surpreende, e mais uma vez lembra o espectador de sua origem nas histórias em quadrinhos. O julgamento, que parecia perdido, sofre uma reviravolta e Moira é inocentada. Oliver, assim como o espectador, não consegue acreditar no que está vendo. "Tem algo muito errado acontecendo e tomara que isso seja proposital." Esse é o pensamento de qualquer espectador atento. Até que, nos momentos finais do episódio, no maior plot twist que a série já apresentou, surge a revelação de que Malcolm Merlyn (John Barrowman) está vivo e foi o responsável por intimidar e convencer o júri a não condenar a matriarca Queen. E o diálogo em que diz algo sobre haver "lugares no mundo em que a morte é uma ilusão" só pode levar a uma conclusão (ao menos para os fãs das HQs): as referências a Ra's Al Ghul não foram jogadas sem um propósito nesta temporada e é bem provável que Arrow traga sua própria versão do famoso Poço de Lázaro. Afinal, Merlyn é membro da Liga dos Assassinos. Como apenas uma reviravolta não fosse suficiente, também é revelado que Thea é filha do Arqueiro Negro. E, por mais que esse seja o tipo de elemento de folhetim que sempre foi dispensável no seriado, a cena em que a garota treina com Roy faz mais sentido, já que fica óbvio que o vilão vai tentar trazer a personagem para o seu lado.

Enquanto você pode perguntar se, neste momento, trazer o vilão da temporada passada pode prejudicar o que foi construído até aqui, tudo parece estar ligado ao grupo de Al Ghul, até mesmo os planos de Sebastian Blood, que aparece brevemente no episódio, deixando outro gancho para a próxima aventura, ainda mais instigante para quem conhece um pouco da DC Comics, com uma (provável) referência obscura a Solomon Grundy. Ou seja, não é a toa que o seriado está trazendo outros heróis. Oliver, sozinho, jamais conseguiria deter a Liga dos Assassinos e vai precisar de ajuda quando tudo isso congruir. O que resta ao espectador é aguardar as futuras ramificações e esperar que, mesmo os elementos mais fracos até agora abordados, desempenhem uma função mais ampla, fazendo valer a suspensão de descrença exigida na maior parte do tempo.

Alexandre Luiz

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3 comments

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      Alexandre Luiz 27 novembro, 2013 at 08:41 Responder

      O "Irmão Cyrus" no final do episódio. O nome do Grundy, antes de virar o monstro era Cyrus Gold. Quando fiz a review a referência era suposta, mas Stephen Amell confirmou que se trata do personagem no último final de semana, quando twittou o poema popular "Solomon Grundy, born on a monday".

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