Review: The Flash S03E01 - Flashpoint

O texto a seguir contém spoilers de Flash.

FlashpointNos momentos finais da segunda temporada, Barry Allen, de coração partido pela perda do pai, decide, contra tudo que aprendeu a aceitar (episódios antes, no excelente The Runaway Dinosaur), voltar no tempo e fazer aquilo que não conseguira um ano antes: salvar sua mãe da morte pelas mãos do Flash Reverso. Agora, em uma linha temporal alternativa, o protagonista vive uma vida bem diferente. Seus pais estão vivos, mas seus amigos passam por situações opostas àquelas da realidade conhecida.

Quando ficou claro que a série adaptaria a saga Flashpoint (Ponto de Ignição, quando lançada no Brasil), os fãs começaram a criar teorias e aumentar a expectativa para como o programa mostraria essa nova linha temporal. Envolveria Arrow e Legends of Tomorrow? Duraria a temporada toda? Poderia dar o pontapé para um reinício de todo o universo DC da TV? Não importa o tamanho da possibilidade, ela certamente foi cogitada em algum momento por um espectador de Flash.

Indo contra o esperado, os realizadores podem ter jogado um balde de água fria no público, ao apresentarem, logo na estreia da nova temporada, a resolução de Flashpoint. Ao final deste primeiro episódio, Barry precisa tomar a dolorosa decisão de permitir, novamente, que seu arqui-inimigo cometa o assassinato de Nora Allen. Mas, não sem consequências que podem ser ainda mais devastadoras. Ao fazer isso, a série manda alguns recados importantes. Um deles é que não irá promover uma mudança tão drástica a ponto de interferir nas duas séries irmãs. O outro, e talvez o mais significativo, é que The Flash não se trata de uma série investida em saciar apenas o desejo do espectador por fan service. O mais importante de toda essa história são os personagens e as mudanças sofridas por eles. Provenientes de suas próprias ações ou de algum fator externo, são elas que devem ditar os rumos da trama.

Depois de dois anos no ar, a série do velocista mais famoso da DC tem, no elenco, sua maior força. Isso permite, cada vez mais, "brincar" com ideias e fazer os astros se divertirem com seus personagens. Dá abertura para um sem número de histórias cujo foco é a importância dos coadjuvantes para a vida do protagonista. Além de oferecer ao espectador a oportunidade de ver seus personagens preferidos em tons diferentes daqueles a que está acostumado.

Aparentemente, The Flash pretende seguir um ambicioso caminho de amadurecimento para o herói homônimo. E, para isso, este será confrontado com uma ideia perturbadora: a de que é seu próprio pior inimigo. Nenhuma ação é perdoada, nenhuma alteração no passado, ignorada. A caracterização de Barry como vilão involuntário fica completa com a reprodução de uma imagem recorrente da temporada anterior. Se Zoom aprisionou Jay Garrick, praticamente como um troféu de sua vilania, desta vez é o jovem cientista forense que coloca o Flash Reverso em uma jaula transparente. Claro, são motivações diferentes, mas ainda assim a iconografia é forte. Se trata de um cárcere forçado. As atitudes de Barry levam até mesmo a uma divertida piada, mas que no fundo, também serve para corroborar com essa abordagem: mesmo cheio de boas intenções, o protagonista "sequestra" a versão de Caitlin da linha temporal alternativa para que a moça o ajude.

Existe um plano sendo traçado pelos roteiristas que pode culminar em ramificações interessantes para o personagem central. A série sempre tratou da responsabilidade do heroísmo. De suas consequências. Chegou a hora, talvez, de tocar um pouco mais fundo na ferida, e mostrar os perigos do abuso de poder e de como isso pode aproximar um herói das atitudes de um vilão.

Flashpoint sofre um pouco pela pressa. Resolver o problema criado no final da temporada passada em apenas um episódio (mesmo mostrando que outros conflitos surgiram) é uma decisão corajosa, mas a execução pode ter atrapalhado um pouco a ideia do tamanho das mudanças feitas por Barry quando salvou sua mãe no passado. Talvez pudesse se sair melhor se usasse mais 43 minutos na segunda semana para ampliar ainda mais o cenário. Mas, de certa forma, não é a ambientação que importa e sim a urgência de fazer a vida dos coadjuvantes voltar ao normal.

Flashpoint

E, por falar em coadjuvantes, apesar do pouco tempo, todos tem seus momentos. Iris é o maior destaque, uma mulher decidida e firme, disposta a ajudar seu irmão Wally no combate ao crime. O Kid Flash é um deleite para os fãs, da fidelidade de seu uniforme à divertida química com Barry. É interessante também observar Jesse L. Martin trazendo um Joe West amargurado e quebrado. Apesar de não ser discutido no episódio, o roteiro deixa para o espectador pensar o quanto a presença de Barry foi importante para o detetive quando este assumiu a guarda do órfão na linha temporal normal. A versão jovem bilionário de Cisco Ramón diverte, sem chamar atenção demais e traz certa leveza para uma trama voltada para o drama.

Apesar de Flashpoint não trazer a amplitude e ambição de sua contraparte dos quadrinhos, o episódio serve para deixar clara a intenção de focar no arco dramático de Barry Allen. É mais importante, aqui, avançar a história do que satisfazer a expectativa dos fãs em ver heróis em versões alternativas. Um bom começo, com coragem o suficiente para desafiar o espectador a acompanhar uma jornada emocional, não um amontoado de easter-eggs.

PS.: a série não fica, no entanto, sem uma parcela de fan service: há uma rima muito marcante com o climax do piloto de Flash, envolvendo furacões e a revelação da identidade do herói para o detetive West.

PS².: o roteiro não encontra tempo para explicar certos aspectos da viagem no tempo, como, por exemplo, o porquê de Barry não ter se tornado um duplo: quando ele voltou pro período atual, sua versão Flashpoint (ou seja, aquela que cresceu com os pais vivos) simplesmente desapareceu?

Alexandre Luiz

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