Primeiras impressões sobre O Telefone Preto 2, de Scott Derrickson

Diretor retorna para esse O Telefone Preto 2, em uma desventura gélida e ainda mais sobrenatural que a anterior

Primeiras impressões sobre O Telefone Preto 2, de Scott Derrickson


O Telefone Preto 2 é um dos lançamentos mais esperados no cinema de horror de 2025. Sequência direta do longa lançado em 2022, produzido pela mesma Blumhouse que fez o primeiro, esse traz de volta a maior parte da equipe criativa do primeiro, assim como o seu elenco.

Cercado de expectativas, a sequência surpreende em sua abordagem, que resgata alguns elementos do conto de Joe Hill.

A obra tem direção de Scott Derrickson, com roteiro do próprio e de C. Robert Cargill - os dois foram os escritores do primeiro.

A trama acompanha o sobrevivente do filme anterior, Finney Blake, novamente interpretado por Mason Thames. O rapaz agora tem 17 anos, é agressivo, nervoso e lida com os seus traumas de uma maneira não saudável.

Além dele, sua irmã, Gwen, feita de novo por Madeleine McGraw, segue tendo visões e crises de sonambulismo, que eventualmente, desembocam em uma grave desventura.

Depois de ter algumas visões compartilhadas, os dois acabam indo até o cenário gelado de Alpine Lake, em um acampamento de férias de inverno, que guarda menções ao passado e que, supostamente, tem ligação com o Sequestrador/Grabbler, de Ethan Hawke, que reprisa deu papel aqui.

Ou seja, o ponto de partida da obra, envolve um retorno de um assassino em série, possivelmente como um fantasma. Isso não é spoiler, já que está no trailer.

É curioso não só que Derrickson retornou a direção - isso geralmente não ocorre em franquias de terror que tem realizador famoso - mas também que o caminho seguido seja tão diferenciado.

A equipe criativa e os demais retornos

Ao contrário do primeiro, esse não tem uma base literária, embora seja creditado ainda como adaptação do conto O Telefone Preto de Joe Hill.

Produzem esse Jason Blum, C. Robert Cargill e Scott Derrickson, produtores executivos são Ryan Turek e Joe Hill, que retornam a função. Todos os citados nesse bloco (até aqui) estiveram no primeiro O Telefone Preto.

Entre produtores, roteiristas, diretor e produtor executivo, o único que não retorna é Christopher H. Warner, que era produtor executivo. Nessa parte dois, cumpre essa função também Daniel Bekerman, Adam Hendricks, Maggie Levin e Jason Blumenfeld.

Estreia, nomenclatura e locações

Esse é um longa-metragem estadunidense, que teve exibições especiais em dois festivais, sendo a primeira na

A estreia mundial varia em três dias. Em 15 de outubro chegará a Bélgica, França, Marrocos e Filipinas. No dia 16 chega ao Brasil, Argentina, Austrália, Itália e Portugal.

Nos Estados Unidos, a previsão de estreia é em 17 de outubro.

Primeiras impressões sobre O Telefone Preto 2, de Scott Derrickson

A chegada do filme justo em outubro mira aproveitar o mês do horror, obviamente referenciando o Dia das Bruxas e Halloween, que ocorre no dia 31 de outubro.

O nome original do longa não foge do óbvio, sendo "apenas" Black Phone 2. Em países que falam espanhol é Teléfono negro 2, na Bielorrússia ou Belarus é Черный телефон 2. Na parte francesa do Canadá é Téléphone Noir 2, na Grécia é Νεκρό τηλέφωνο 2 e em Portugal é somente O Telefone Negro 2.

As gravações ocorreram entre 4 de novembro de 2024 e 23 de janeiro de 2025, em Toronto, Ontário, no Canadá.

Os estúdios e Quem Fez:

As companhias que fizeram a obra foram a Blumhouse Productions, a Canadian Film or Video Production Tax Credit (CPTC) a Crooked Highway, Ontario Creates e a Universal Pictures.

A distribuição é da Universal Pictures na maior parte do mundo, incluindo em seu país natal. Em Portugal foi lançado pela Cinemundo e no Brasil foi trazido pela Universal.

Scott Derrickson é um conhecido realizador do campo do cinema de horror.

Primeiras impressões sobre O Telefone Preto 2, de Scott Derrickson
O diretor Scott Derrickson, durante gravações de O Telefone Preto.

Sua carreira como realizador se iniciou no curta Love in the Ruins, em 1995.

Depois disso, fez Hellraiser: Inferno, o primeiro filme da franquia lançado direto para vídeo. Mesmo tendo um orçamento diminuto esse foi muito elogiado, tanto que se alegou que ele inspirou parte da estética de Jogos Mortais de James Wan, especialmente a utilização de cinematografia esverdeada.

Depois disso ficou famoso pelo thriller jurídico misturado a horror em O Exorcismo de Emily Rose, sucesso que o credenciou a conduzir o remake de O Dia em que a Terra Parou.

Muito criticado por esse último, acabou faendo o elogiado A Entidade - que ele fez com Ethan Hawke. Depois misturou ação e terror em Livrai-nos do Mal e Doutor Estranho, esse último, na Marvel. Nos últimos anos deu um passo atrás na carreira, dirigindo um episódio em Expresso do Amanhã da Netflix, o curta Shadowprowler, o famigerado O Telefone Preto, um dos segmentos em V/H/S/85 e Entre Montanhas.

Foi co-produtor em O Visitante, produtor executivo em Sem Evidências, Incompreendida, Kristy: Corra Por Sua Vida, Into the Dark e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Foi produtor em A Entidade 2 e O Telefone Preto.

Cargill é parceiro de Derrickson das antigas. Escreveu A Entidade, A Entidade 2, Doutor Estranho, Shadowprowler. Também adaptou O Telefone Preto e escreveu o segmento Dreamkill de V/H/S/85, o mesmo que Scott realizou.

Produziu Entre Montanhas, foi coprodutor em House of Ashes e produtor executivo em Into the Dark, Dogwood e Man Finds Tape. Ele tentou ser ator, mas fez poucas produções, com mais destaque para Pathogen, When is Tomorrow e Lemon Drink.

Jason Blum é o proprietário da Blumhouse. Seus trabalhos recentes incluem SobrenaturalNatal SangrentoSobrenatural A OrigemM3Gan, O Exorcista: O DevotoMergulho NoturnoNão Fale o MalHeart Eyes e Lobisomem.

Narrativa

Como o filme ainda está para estrear, buscaremos evitar spoilers, mas eventualmente, teremos que falar um pouco sobre esses.

Portanto, fica o aviso aqui, de spoilers leves.

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A trama ocorre em sua maioria nos anos 1980, alguns anos após os acontecimentos do primeiro filme, mas antes disso, se resgata uma cena em ambiente gelado, com o branco da neve preenchendo a tela, em uma linha cronológica pretérita, na década de 1950, onde uma moça, interpretada por Anna Lore, fala ao telefone.

Ou seja, já de início, se desenrola a mesma temática anterior, de pessoas conversando através de chamadas telefônicas com seres não necessariamente presentes no mesmo espaço-tempo entre essas.

É dado que essa moça não parece fazer uma ligação comum para alguém que conheça.

Tempo presente cheio de amargor

Derrickson faz uma rima visual curiosa, colocando uma briga ocorrendo na escola, dessa vez focada em Finney, que espanca sem dó um garoto que resolveu mexer consigo.

Logo chega Gwendolyn, sua irmã, perguntando o que houve.

A explicação para o rompante de raiva dele foi o fato de alguém ter mencionado o fato de ter matado um serial killer.

Esse é um tema sensível, sempre que é mencionado Grabbler, o sequestrador que Hawke interpretou em 2022, Finn tem reações pesadas.

O que fica patente é que ele passou por uma situação de trauma e pratica atos violentos para compensar isso.

O trauma e uma mudança de rumo

Ora, o espectador que por ventura for rever o primeiro, certamente se assustará com os momentos que aparecem aqui, já que o desfecho de O Telefone Preto é otimista, com Finney Blake terminando confiante, até retribuindo o flerte com uma menina de sua classe, chamada Donna.

O quadro mudou, ele regrediu, provavelmente graças a ciência de que ele e sua irmã terão a vida sendo cortada por visões do além ou contato com os mortos.

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Arte do primeiro filme, mostrando Gwen e Finney ainda crianças

Aparentemente ele não está bem e logo é mostrado o motivo, afinal, os telefonemas que ajudaram ele antes, no cativeiro, agora se tornam frequentes, um lembrete de que ele tem poderes psíquicos típicos dos shinnings / iluminados da mitologia de Stephen King, o escritor que é pai de Joe Hill, autor do O Telefone Preto original.

Não fica claro se a mitologia de romances e contos de pai e filho se entrelaçam, mas há uma grande coincidência aqui.

O poder do garoto é ao mesmo tempo um dom e uma maldição, assim como a capacidade de sua irmã. Enquanto um escute telefones inativos tocar, a outra tem sonhos perigosos, que eventualmente a colocam em perigo.

A cumplicidade repetida

De certa forma o caráter de evolução cronológica segue. Se por um lado se ignorou uma linha de diálogo no final do filme um, o sentimento de cumplicidade entre irmãos amadureceu.

O primeiro capítulo da saga mostrava Finn como mola central da trama e Gwen como assessório dramático narrativo, aqui os papéis se invertem.

Gwendolyn é madura, quer seguir em frente, continua tendo as visões que tinham e que aqui, ficam ainda mais frequentes. Ela passa por um misto de apreensão ansiosa misturada a um senso heroico de alguém que sabe ter poderes.

Curiosamente, seu drama conversa com o de Judy Warren em Invocação do Mal 4: O Último Ritual, embora toda a atmosfera em volta de si seja completamente diferente e melhor trabalhada.

Sonhos e textura antiga

Anteriormente, Derrickson escolheu diferenciar as visões de Gwen com uma espécie de filtro, que fazia parecer com textura de fitas antigas, na qualidade de uma exibição de VHS.

Isso permite que cenas mais difíceis de filmar e com efeitos especiais sejam barateadas, saindo propositalmente mambembes em nome da estética.

Pois bem, esse aspecto que foi utilizado no primeiro é executado em doses cavalares aqui. É através desse recurso que se entende um pouco do passado da mãe da família Blake, que é a pessoa que fez ambos os filhos herdarem poderes de clarividência e mediunidade.

Isso também se torna um incomodo, visto que coloca a menina na rota do matador, que quase pegou seu irmão.

Além de óbvia questão de perigo, também é revelado que o personagem possui um passado cheio de pecados e tragédias, ligadas ao mesmo alpe frio do Colorado que aparece no epílogo.

Também se força um bocado a barra, atrelando o passado dele ao da mãe dos meninos. Aparentemente, entre os filmes de terror de shopping, é preciso pagar um certo pedágio de pedantismo narrativo, colocando coincidências atrozes só para surpreender o espectador.

Pouparemos o leitor dos detalhes que envolvem o retorno do personagem de Ethan Hawke, basta dizer que ele está atuando bem, sendo bastante assustador, nas cenas que andam, cerca pessoas e até nas que patina.

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Gore, violência e uma mudança de ambiente

Em um artigo futuro poderemos descortinar mais os detalhes dramáticos, mas é importante deixar claro que a justificativa para o retorno do vilão, por mais forçada que pareça, tem algum lastro e justificativa ao que foi apresentado antes.

Na mitologia curta que Hill propõe, é dado que o metafísico e o mundo real se fundem.

Lendo o conto, pode ficar a indicação dúbia de que Finney imagina os garotos auxiliando ele a matar seu raptor, podendo ter contato de fato com pessoas mortas ou esse seria apenas a sua consciência ganhando força, para fazer justiça as outras vítimas de um tarado de caráter zerado e atos homicidas.

Isso não ocorre com o filme, não há caráter duplo, é dado que não só ele, mas os dois irmãos são poderosos no mundo sobrenatural e conseguem ver e se comunicar com o mundo dos mortos.

Aqui se expande o conceito, também é mostrado que o canal entre mundos possui uma via dupla, podendo se manifestar com machucados e até óbitos caso ocorra.

Se abusa de cenas com referências a poltergeist e ação de espíritos espúrios no mundo real, sobretudo na parte dramática que se passa nos Alpes.

Isso pode parecer exagerado - até é, em diversos momentos - mas casa bem com a proposta. Se o roteiro é pautado em tantos clichês, esse certamente é o menos incômodo.

Adições no elenco juvenil

O elenco conta com algumas boas figuras. A que se destaca logo de início é do ator latino Miguel Mora, que fazia Robin Avellano no primeiro filme e aqui interpreta o seu irmão, que é um interesse romântico de Gwen.

Por mais que ele não seja brilhante, é dado que ele faz avançar a história, já que da família Blake, ela é a única que ousa sonhar em ter uma vida, já que seu pai, Terrence (Jeremy Davies) segue se anestesiando com bebida - embora não seja mais violento e finja estar limpo de álcool quando é perguntado - enquanto Finn também se esconde dos problemas, fumando maconha sempre que pode.

Gwen quer amadurecer e o papel de Mora ajuda a demonstrar o óbvio: a vida continua, mesmo depois de uma perda parental, mesmo depois de um quase assassinato de uma criança.

O núcleo dos alpes

Na parte que envolve o acampamento, há diversos mistérios.

É como se as forças sobrenaturais bondosas estivessem dispostas a resolver as questões referentes ao espírito do Sequestrador logo.

Desses, se destaca Demian Bichir, que faz um campista veterano e crédulo, que conheceu a mãe de Finn e Gwen e que guarda em si uma motivação altruísta e muito católica, de fazer justiça com o passado do acampamento, que também teve mortes no passado.

É engraçado como Cargill e Derrickson conseguem conversar com os tropos de Sexta-Feira 13 e sua saga, mesmo que o ambiente seja no oposto das história de Jason Voorhees e sua mãe, já que os filmes da franquia se passam no verão e não no inverno.

Também há personagens carismáticos, como a moça interpretada por Arianna Rivas e a senhora conservadora e ultra-religiosa feita por Maev Beaty, que acaba sendo um contraponto humano da maldade intrínseca a figuras do clero que tem por hábito julgar qualquer pessoa que aparecer.

Cada uma tem o seu momento de brilho, sem exageros. São personagens bem construídos e que faz sentido estar onde estarem.

Além disso, também são mostrados perigos envolvendo Gwen.

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Ela é mostrada como alguém que sofre de sonambulismo e isso atrapalha parte da busca dos personagens pela verdade.

A questão até é sanada de certa forma, se arruma uma desculpa para ela andar pouco nesse cenário perigoso, o que aliás, emborca sobre um dos pontos negativos da trama, mas que ainda assim, possui a sua lógica.

Combates, embates e considerações finais

Derrickson eleva o grau do seu horror.

Normalmente, diretores grandes não retornam para a parte dois de suas franquias.

James Wan não voltou para Jogos Mortais 2, embora tenha retornado em Sobrenatural Capítulo 2 e Invocação do Mal 2 havia uma certa justificativa para tal, havia uma ideia de prosseguimento artístico na história.

Esse é justamente o caso aqui.

O diretor conduz boas cenas no gelo, com vários momentos tensos e com uma participação absurda de Hawke, que está bastante assustador.

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Em certo grau, ele reprisa bons momentos de O Telefone Preto, com um certo downgrade em vários pontos e um grave aumento em outros.

Essa versão descarnada do sujeito é bem agressiva, mostra cicatrizes, sangue e muito gore, embora não o faça em personagens vivos.

Falta urgência

O fato de haver praticamente morte nenhuma e não se temer o destino dos mocinhos certamente é um dos maiores pecados da obra.

Se tenta compensar isso, mostrando eventos no passado de Hope Blake, a mãe dos protagonistas, inclusive com retcons, mas isso não compensa, claro.

Mas a riqueza do primeiro O Telefone Preto segue viva. As máscaras variantes assustam demais, assim com as partes apodrecidas do rosto do personagem.

As características de seu passado são clichês baratos, mas ajudam a montar o quebra-cabeça do assassino em série que sempre utilizou sua vida cotidiana como verniz social parara encobrir os seus atos maléficos.

Há até uma reflexão breve, sobre uma morte não planejada, exposta no primeiro filme. Isso ajuda a incluir camadas na personalidade do antagonista.

O ponto alto do filme certamente é a ferocidade do personagem, que tem seu destino inexoravelmente ligado aos irmãos Blake. Em alguns momentos, parece forçado, mas ainda assim guarda inspiração.

Esse O Telefone Preto 2 possui personalidade, momentos emocionantes, sequências de ação impressionantes e se baseia demais em uma figura diabólica assustadora, que ganha importância e um novo significado de motivação para o seu retorno.

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