
Branca de Neve: Um Conto de Fadas de Terror é um filme curioso em essência, já que adapta uma história famosa e adocicada, de uma maneira diferenciada e não maniqueísta, com personagens de caráter indecifráveis em um primeiro momento.
Lançada em 1997, a obra é conhecida por ter ligação com o estúdio Polygram, além de reunir um elenco com nomes grandiosos, como Sigourney Weaver, Sam Neill, além de outros bons atores mas não tão famosos, como Gil Bellows e Monica Keena.
Sua forma de contar a história se diferencia de outros pares, trazendo uma atmosfera que mistura fantasia e horror, sendo assim um bom o subgênero Dark Fantasy.
Apesar da pretensão de lembrar mais o tom pesado dos escritos dos irmãos Grimm – autores do conto publicado séculos atrás, em 1812 – essa encarnação não é uma versão tão literal e fiel do clássico, ainda que seja bem mais soturno se comparado as outras adaptações de live action, tanto as recentes quanto as mais antigas.
Coprodução tcheco-estadunidense, a direção do longa coube a Michael Cohn, o roteiro é de Tom Szollosi e Deborah Serra, baseado no texto original de Jacob Grimm e Wilhelm Grimm, que por sua vez, basearam a narrativa nas falas orais do povo germânico.
O produtor foi Tom Engelman, produtores executivos foram Robert W. Cort, Scott Kroopf e Ted Field. Já Tim Van Rellim foi coprodutor.
A premissa:
A ideia de fazer esse filme foi do produtor Tom Engelman, que queria que esse fosse uma mistura entre os clássicos dos estúdios Disney com o thriller Atração Fatal de 1987.
Sua ideia também era fazer um retorno ao conto de fadas original, tentando resgatar uma essência sombria e maligna que já era presente no conto dos Grimm.

Apesar do elenco grandioso, esse parece mais com um telefilme do que uma obra pensada para o cinema.
Esse caráter é reforçado também no texto, que os dois nomes envolvidos no roteiro tem especialização em produções para a TV.
Como é bem sabido, houve planos de lançar nos cinemas, mas a obra acabou passando no canal Showtime.
A sinopse:
A história gira em torno de uma menina órfã, chamada Lilli, moça que é uma nobre em seu reino. Anos depois da viuvez, seu pai casar com a bela misteriosa Lady Claudia, uma bela e correta mulher, que é na verdade uma feiticeira disfarçada.
A relação entre as duas já não era boa de iníco, mesmo com a boa vontade da madrasta. Com o tempo ela se desgasta e se torna uma rivalidade, que nada a ver tem com comparações de beleza, mas que ainda assim resultam em tentativas de assassinatos, fugas e diversos outros percalços para a vida da jovem.
O filme explora justamente esses momentos, embora tenha consequências bem diferentes da versão de Branca de Neve e os Sete Anões de 1937 e o recente Branca de Neve também da Disney.
Estreia e nomenclatura:
Esse filme foi programado para lançamento nos cinemas e como dissemos antes, ele foi lançado nos canais à pagoShowtime nos Estados Unidos.
Na Finlândia teve uma video premiere em 1997. Na Alemanha estreou em janeiro de 1997, nos cinemas. Na Itália foi lançada em maio de 1997.
O título original foi Snow White: A Tale of Terror, mas em países de língua inglesa também foi chamado de Snow White in the Dark Forest ou The Grimm Brothers' Snow White.
No Brasil tem dois nomes, Branca de Neve: Um Conto de Fadas de Terror e Floresta Negra. Na Itália é Biancaneve nella Foresta Nera, já em Portugal é apenas Branca de Neve.

As filmagens ocorreram entre 2 de outubro de 95 até dezembro do mesmo ano, na República Tcheca.
Em Praga houveram gravações na capital Praga, em Emauzy Abbey em New Town, no Prague Government Park e Stromovka. Já as cenas de estúdio foram no Barrandov Studios, em Praga, claro. Tiveram gravações em Jevany também.
O castelo Hoffman teve como base cinco edificações antigas. A maioria das cenas foram no Kost Castle em Libosovice, mas também houveram gravações no Dobrichovice Castle, Pernstejn Castle e Valdek Castle.
O filme foi produzido pela Polygram Filmed Entertainment, Interscope Communications e ETIC. A distribuição é da Gramercy Pictures em alguns cinema selecionados dos Estados Unidos.
Na Inglaterra foi a Polygram Filmed Entertainment que lançou. Na tv, a Showtime Networks veiculou na TV e a PolyGram Video lançou a versão em VHS nos EUA.
Disney de olho
Mesmo tendo diversas divergências dramáticas em comparação com a adaptação da Disney, o estúdio ainda consultou a Interscope sobre quais seriam as semelhanças entre as obras.
É dado que havia um desejo do estúdio em adaptar uma versão norte-americana para o clássico dos anos 1930. Normalmente eram outros países que faziam suas adaptações, quando muito, haviam telefilmes estadunidenses sobre Branca de Neve e seu conto.
Quem Fez:
Cohn dirigiu Interceptor: O Caça Invisível, O Silêncio Mortal, Sacrifice e o curta The Game. Escreveu o roteiro de alguns desses, como O Silêncio Mortal, Sacrifice e The Game.
Szollosi escreveu poucos filmes. Seu crédito mais famoso é o clássico da Sessão da Tarde Te Pego Lá Fora e o não tão conhecido Uma Questão de Escolha.
Também escreveu episódios de seriados como Esquadrão Classe A, Histórias Maravilhosas, SeaQuest, Jornada nas Estrelas: Voyager, Rugrats: Os Anjinhos, a versão dos anos 1990 de The Outer Limits) e o filme para TV À Espera do Mal. Também produziu a série MythQuest.
Serra é mais conhecida por ter escrito episódios no infantil Punky, a Levada da Breca. Ela se especializou em telefilmes como Unidas pela Vingança, O Homem com Três Mulheres e Com a Melhor das Intenções.
Engelman produziu Meu Amigo, o Gnomo, Perdidos em Nova York, Noiva em Fúria, Espiões em Perigo, No Balanço do Amor, No Ritmo da Paixão e O Segredo: Ouse Sonhar.
Foi produtor executivo em A Mão que Balança o Berço, Jumanji, Kazaam, A Invasão, Ratos em Nova Iorque, Quase Deus e O Exterminador do Futuro: Gênesis.
O fator Sigourney:
Sigourney Weaver afirmou que uma das razões pelas quais ela queria interpretar o papel de "Rainha Má" para provar um ponto. A atriz jamais conseguiu entender como um rei bondoso poderia ser tão estúpido de se aliar a uma mulher tão cruel.
Julgando que essa seria uma ideia tola, a atriz não queria interpretar uma vilã malvada pura e simplesmente, mas sim uma personagem com camadas, que se ofereceria para ser uma figura materna postiça, mas, ao ser rejeitada, mudaria totalmente de postura, valendo-se de seus poderes mágicos anteriores também para fazer o seu intento maléfico.

Curiosamente, a personagem mais famosa da atriz, Ellen Ripley, é chamada de "Branca de Neve" em Aliens: O Resgate de 1986, assim como é despertada de um sono profundo durante toda a franquia, a começar por Alien - O 8º Passageiro.
Narrativa
A trama começa mostrando uma viagem por uma estrada tão atribulada que balançava a carruagem de maneira agressiva, quase derrubando a mesma.
Dentro dela havia Lord Friedrich Hoffman (Neill) e Liliana (Joana Roth) a esposa desse primeiro, que estava grávida.
Do lado de fora, lobos cercam e derrubam o carro. Atacam o cocheiro e o cavalo, espalhando sangue pela neve que está no chão.

O pedido triste
Já do lado de fora da carruagem, percebendo que está perto do seu fim, a mulher pede que o seu amado a abra, para salvar o bebê, com medo que os lobos aproveitem o momento para trucidar a todos, inclusive a filha que eles esperam.
Friedrich fica triste, sente pelo pedido, mas faz o que ela pede, forçando um parto improvisado.
Jorra sangue sobre a neve, o vermelho rubro e o branco alvo se misturam, formando juntos uma imagem bela, triste e muito melancólica.
Milagrosamente a criança nasce bem, saudável, podendo crescer, como desejou a sua mãe, não à toa ela recebeu o mesmo nome da parente.
A criança enfim cresce, se torna Taryn Davis. Chamada então de Lilliana Lilli Hoffman.

Em outra versão, no Branca de Neve que era coprodução entre Espanha, Bélgica, França e Estados Unidos, a personagem também reprisou o nome de sua mãe.
Liliana Lili e sua criada fiel Ilsa (Dale Wyatt) brincam na floresta, eventualmente encontram o pai dela, que está mais cabisbaixo, levemente deprimido.
Em todas as fases do filme, fica patente que pai e filho são muito próximos, mas também é dado que ele se sente triste, choroso por conta da solidão.
Um trabalho bom de reconstrução de época
Há um cuidado para remeter a um tempo antigo, de século não localizado exatamente onde estava, mas que parece século XVI ou XVIII.
A reconstituição é boa, houve um investimento considerável no trabalho do diretor de arte Peter Russell e do design de produção de Gemma Jackson.
A utilização dos castelos da antiga Tchecoslováquia também são bem explorados, indiscutivelmente. Essa é uma realidade rural semi-feudal, que dadas as últimas tendências do horror moderno, pode ser encarada também como uma representante do folk horror, iniciado lá atrás em O Homem de Palha e bem pontuada em Midsommar: O Mal Não Espera a Noite.
A madrasta
Logo aparece a Lady Claudia (Weaver) uma mulher bela e benevolente, que entra no reino com uma intenção bastante clara: casar com o pai da protagonista.
Sua introdução é positiva. Ela é boa com a menina, até dá um cachorro para a pequena, mas não recebe muito carinho em retribuição.
Quando está nos aposentos, com seu criado e irmão Gustav (Miroslav Taborsky) lembra de sua mãe, que segundo seu discurso, foi muito maltratada, excluída e relegada ao desprezo enquanto vivia.
Alguns aspectos dessa versão são espelhados em Branca de Neve e o Caçador, como o fato da Rainha Má ter um irmão que atua como um lacaio, além dos corvos serem símbolos do mal em ambas as histórias. Vale lembrar que esse último aspecto, também está no clássico animado.

Mesmo quem defende a bondade no comportamento inicial da madrasta é obrigado a admitir que ela tinha algumas intenções não muito inocentes desde sempre.
Claudia aparece de forma bela, comportada, mas ainda sedutora. No momento em que dá o primeiro beijo no homem com quem casaria momentos mais tarde, faz esse exercício olhando fixamente para a filha do antigo matrimônio dele, como se estivesse demarcando território ali.
A partir daí a criança fica ressabiada, até com certa justificativa, já que esse momento foi bem suspeito e estranho.
O casamento:
A cerimônia é cheia de gente, Lady Claudia até faz questão de cantar, talento esse que a acompanharia ao longo do filme.
Para o espectador que por ventura não tenha visto, fica o aviso: esse não é um musical. Os momentos de cantoria são bem restritos e os elementos de fantasia não são os mesmos dos clássicos infantis Disney.
Uma boa mostra do viés mais especulativo e menos realista é a ação de Gustav, que no meio dos festejos, faz um truque, transformando a chama de uma vela em uma rosa.
Fica claro que ele e sua irmã tem poderes, que podem ser apenas manifestações toscas de ilusionismo ou de fato capacidades fantásticas reais.
A postura desse sujeito é estranha. Ele tem uma feição fechada e esquisita, está sempre sorrindo, mas parece esconder algo.
O casal recebe bênçãos dos convidados, em uma cena bastante estranha, onde o casal está na cama, cobertos com lençóis, recebendo os convidados e pessoas próximas.
Fica claro que eles estão nus, aguardando a concepção do casamento. Isso era uma prática comum na época da Idade Média, mas é curioso que isso apareça tão detalhadamente - não há nada explícito, diga-se - ainda mais em uma versão de um conto de fadas.
Lilli faz questão de fazer uma cena, jogando a água de batismo não no tecido e sim no rosto da madrasta, que fica constrangida, mas deixa estar.
9 anos depois
Depois de outra passagem de tempo, Lili cresce, se torna Monica Keena. Sua primeira participação, ela pergunta se seu pai se ele ainda amava sua mãe.
Ele não responde de maneira direta, mas a sua postura denuncia que a resposta é positiva.
Sobre Keena, é curiosa a sua idade. Ela tinha 16 anos na época das gravações, em 1995.

O papel foi pensado e originalmente escrito tendo Alicia Silverstone em mente, que é três anos mais velha que ela.
Em paralelo a essa quase confissão, Lady Claudia Hoffman está grávida, ou seja, o seu marido nobre está no aguardo de uma grande emoção, já que ele queria ter um filho homem. Friderich vai para a igreja, reza ao Divino para que a criança nasça bem, com saúde e tranquilamente.
Aparentemente o casal teve dificuldades em engravidar. A impressão é de que não foi um período fácil. A gestante por sua vez gasta tempo falando sobre misturar o sangue das duas famílias, algumas vezes, de forma até delirante.
A vontade de ser aceita
A relação de enteada e madrasta é conturbada e Claudia parece realmente se importar com isso.
Ela se lamenta por não ser aceita pela filha do seu amado, até se preocupa com as companhias dela, afastando Peter Gutenberg (David Conrad) dela, já que não achava que os dois deveriam se relacionar.
Claudia também fala do vestuário dessa Branca de Neve, até sugere uma roupa mais comedida e menos reveladora, para ela usar nas festividades que ocorrerão à noite.
De fato Lilli usaria um tipo de traje diferenciado, mas não por sugestão de sua madrasta.
A festa:
Claudia canta, se emociona, mas começa a se sentir mal ao ver a filha do seu marido entrando no hall, usando uma roupa que não lhe é estranha.
Lilliana usa um vestido branco, bonito, que era uma posse de sua mãe. Aparentemente, Frederick reprova a atitude da filha, mas aceita dançar com ela, até sorri quando faz isso, feliz de ter ali uma lembrança viva de sua antiga amada, ao seu lado.
Fora o subtexto um pouco incestuoso, ocorre também outro momento preocupante, devido a uma reação ruim de Claudia.
Ela se sente rejeitada, fica tonta e desnorteada e apaga, preocupando a todos, afinal, está esperando uma criança.
A notícia triste
Lady Claudia acaba abortando a criança. Além disso, também perde a capacidade de gerar filhos.
Enquanto isso, Friedrich se recolhe, já a mãe se desespera, chora alto, com seus gritos ecoando nos corredores do castelo Hoffman. O filme faz questão de mostrar o bebê abortado, que aparece em detalhes.
Claudia pede a Gustav que traga o corpo, as criadas rezam pela alma do morto e simplesmente tacam o cadáver no fogo.
O criado o pega e leva até sua irmã. Esse momento é bem melodramático, Claudia chora, diante do espelho, se enxerga feia e triste.

Ela se arrasta no chão e a partir dali, mudaria completamente sua postura. O seu lado bom se apaga e o ruim aflora de maneira mais explícita.
Sobre o espelho:
O espelho é um objeto importante no ideário que se tem a respeito de Branca de Neve. Aqui ele não tem uma personalidade grandiosa, mas é apresentado em um móvel antigo, um armário de carvalho que é grande e chique.
O objeto foi feito em Suffolk, na Inglaterra. No meio dele, há uma figura que estampa as portas, com as mãos de cada lado se entrelaçavam quando as portas são fechadas.
O responsável por esculpir o móvel é o Mestre Escultor Nick Webb, artesão especializado em materiais naturais, como madeira caída e argila, que mira seu trabalho em criar peças que exploram a relação entre o homem e a natureza.
Diante do objeto ela passa a ouvir vozes, ou seja, fica evidente que enlouqueceu.
Os conselhos do objeto parecem ter mais a ver com a mentalidade dela do que uma voz que vem de um objeto inanimado.
O caçador
A partir desse ponto, a história corre semelhante as outras encarnações. Gustav age como o Caçador clássico, tenta matar Lilli, mas hesita e a faz fugir.
Ele então dá o coração de um animal no lugar. Nesse ponto, decide tentar fazer Friedrich comer o coração da filha, de maneira bastante semelhante ao que quase ocorreu no telefilme Branca de Neve de Caroline Thompson, a obra de 2001, com Kristin Kreuk no papel título.
O desespero do pai
Sabendo que a filha sumiu, Friedrich vai até a mata, desesperado, até cai do cavalo, ficando acamado depois da queda.
A filha do rei é encontrada por homens rústicos, crescidos e adultos, são bem diferentes dos sete anões do conto e animação. Eles são mineradores e nem todos são bons, até deliberam sobre pedir um resgate.
Em meio a esses, dois se destacam, o abusivo Rolf (Anthony Brophy) que faz menção de estuprar a moça, e Will (Gil Bellows) que salva a princesa, por achar aquela uma postura eticamente errada. Nessa versão, não se suaviza temas adultos, ao contrário.
Há até uma menção a condições mentais pesadas, como Síndrome de Estocolmo, já que um desses homens e Lilliana se envolvem romanticamente, embora até se justifique a aproximação mais terna dos dois.

Borboleta
O tempo todo o texto brinca o simbolismo de transformação, exibindo casulos, largatas e borboletas diante da tela. A metamorfose é um tema recorrente, em ambas as filiações de personagens.
A mudança da madrasta é uma demonstração boa disso. Ela se torna uma pessoa ruim depois da perda do bebê, até tenta fazer o marido comer o “coração da filha”, antes de descobrir a farsa de seu irmão.
Se torna algo tão tão maligno que até joga um feitiço em Gustav, assim que percebe que ele foi benevolente e poupou a menina. Sua metamorfose a tornou cruel e fria.
A mudança também se deu nas mostras de poder, ela ameaça Lilliana mesmo longe. Joga areia em um pássaro dentro de uma ampulheta e faz desmoronar terra no lugar onde a princesa estava, quase soterrando as pessoas dentro da mina onde ela e os sete estavam.
Personagem profunda
Geralmente, papéis de vilãs em fábulas são fracos, maiqueísta e puramente malvadas. Como elas são personagens normalmente carismáticas, naturalmente há uma repaginação tardia, em obras mainstream.
Foi assim com Malévola, obra em que Angelina Jolie faz uma versão diferente da antagonista de A Bela Adormecida, além de Cruella, que Emma Stone interpretou em uma nova versão da malvada caçadora de cães de 101 Dálmatas.
Lady Claudia consegue antecipar essa tendência, décadas antes dessa onda. A sua versão da madrasta de Branca tem camadas, ela começa sedutora, mas também é cruel e calculista.
A progressão dos seus atos vai minando os argumentos de quem a vida como alguém injustiçado, especialmente na meia hora final, que coincide a entrega de Lillian a Will - ou seja, demarca o fim da inocência da princesa, condenando-a, afinal, essa é uma fita de horror - e também se registra a transformação da vilã em bruxa.
Nesse ponto a representação da borboleta e suas transformações se torna mais óbvia.
A diversão particular de Weaver:
Sam Neill não gostava da caracterização de Weaver. A atriz disse que chegava perto e fazia carinho nele só para provocar o sujeito, que se sentia desconfortável.
Ela ainda dizia: "Oh, querido, você me faz querer ter 50 anos de novo'", lembrando que, obviamente, ela não tinha chegado a essa idade. Weaver tinha 46 anos apenas na época das gravações.
Sigourney também disse que um prazer correr e assustar as pessoas entre as tomadas, especialmente seu colega de cena.

O desfecho e a semelhança com outras encarnações
A cena de Branca de Neve usufruindo da mação envenenada ocorre de modo muito semelhante aos outros filmes.
Até se faz uma breve menção as conversas que a personagem tinha com os animais, já que pássaros guardam o corpo da protagonista, cercam ele, até que ela seja colocada em um caixão de vidro, onde é possível enxergar ela, devido a transparência do material.
O esquife parece um casulo, tal qual o das borboletas, em um simbolismo forçado, mas que conversa diretamente com o original dos Irmãos Grim.
A comorbidade real
A condição médica de Lilli é chamada de "síndrome do encarceramento".
Consiste no fato dela ser aprisionada dentro de seu corpo, permanecendo consciente e acordada, não conseguindo se comunicar verbalmente ou mover o corpo, exceto osolhos.
No feitiço, Claudia descrevia a condição como: pode ver e ouvir, mas de dentro do túmulo da sua mente, sem respiração escapando pelos lábios, nem lágrima. Ela está morta para o mundo, mas viva toda a eternidade para lembrar de tudo o que ocorreu.
Todos os outros homens se permitem entregar a melancolia, mas Will não aceita essa morte, arranca ela do espaço, mesmo que o recém-chegado Peter proteste, então manda respirar e como por milagre ela acorda.
A chegada dos servos do reino
Curioso que os servos da Coroa só chegam depois da morte de Lilliana, mas ainda assim, Peter sai com ela, paga a Will, que a salvou pela terceira vez e vai embora.
Peter havia sido seduzido pela Rainha, já Will estava claramente apaixonado pela menina. Ambos seguem seus destinos desafiando as normas corretivas dos contos de fada, mas um deles ainda retornaria para o lugar de direito.
A chegada de Lilliana/Branca de Neve coincide com a crucificação de cabeça pra baixo de seu pai, em um momento que parece o início de um culto maligno.
Mesmo que tropas tenham sido mandadas atrás da princesa, a Madrasta não interferiu. Preferiu seguir com um ritual, aparentemente sem ciência que seu súdito foi atrás da herdeira do trono.
Ou ela simplesmente não sabia de nada, mostrando total despreparo ou só subestimou as forças benéficas. Ela reage tardiamente, liberando o seu cão selvagem, o rottweiller Odo para ir na direção dos mocinhos.
O animal ataca, mas Will se coloca mais uma vez no caminho da moça. O animal é agressivo, violento e perigoso, tal qual o canino satânico de A Profecia, mas o que chama a atenção é o resto do embate entre as mulheres chefes do reino.
No encontro das duas rivais, Lillian acerta um espelho, mas não o Mágico. Nesse esforço, tem o rosto cortado, com os seus cacos, ferindo assim a sua beleza idealizada, que nem é tão louvada nessa versão, mas que ainda assim, ocorre.
Há uma interferência Deus Ex Machina, que faz ouvir o choro de um bebê, fato que distrai Claudia. Esse estranho momento faz a mulher procurar o seu filho, o mesmo que está morto. Talvez ela estivesse inda atrás do cadáver que guardou.
Não fica claro nem o que ela procura e nem quem fez aquilo.
Enquanto isso, a mocinha usa uma adaga contra o Espelho correto, acertando o coração dela, ferindo a vilã mortalmente.
O final é uma bagunça, a Madrasta morre envelhecida e em combustão, o pai aparece praticamente morto, Branca fica com um dos "anões" e o espelho mágico fecha com a última cena, já sem a sua ama.
O longa poderia ter um trabalho mais maduro em seu subtexto, também merecia uma direção mais assertiva, uma que não desperdiçasse o visual sensacional do filme e a interpretação de Weaver.
Branca de Novo: Um Conto de Fadas de Terror é uma obra com intenções audaciosas, que foge do maniqueísmo e de soluções óbvias, mas ainda assim não consegue entregar tanto quanto promete. Vale pela coragem de tentar perverter uma história clássica, mas tropeça na incapacidade de quem conduz essa versão mais sombria do clássico.