Butcher Boys é um filme B que é conhecido por ser confuso, já que é difícil localizar ele dentro de um gênero específico de cinema. Tratado em seu material de marketing como um filme de horror, é uma obra que mistura elementos de suspense, comédia de humor negro, além de ter também elementos de torture porn e padrões de slasher ou filmes de matança.
Apesar de ter todos esses elementos em si, a realidade é que ele não consegue se aprofundar em nenhuma dessas explorações. Essa é uma obra lançada em 2012, que trata de temas espinhosos. O nome mais celebre dentro da equipe de feitura é o do escritor Kim Henkel, que por sua vez é um dos criadores de O Massacre da Serra Elétrica.
A trama gira em torno de um grupo de jovens que se reúnem para comemorar o aniversário de um deles. Durante uma noite de farras, o grupo acaba acidentalmente enfrentando um bando de traficantes de carne do Texas.
Dirigido pela dupla Duane Graves e Justin Meeks, tem roteiro de Kim Henkel e é baseado livremente no ensaio satírico de Jonathan Swift, que não é creditado como tal. Foi produzido por Henkel, o produtor executivo é Robert Kuhn, que assinava Robert J. Kuhn, enquanto são coprodutores Pat Cassidy e Ian Henkel.
A ideia original
Na época do lançamento desse, a obra era descrita como uma atualização do ensaio lançado em 1729 Uma Modesta Proposta (A Modest Proposal) texto esse que sugeria que os pobres vendessem seus filhos aos ricos como alimento.
Henkel imaginou o roteiro com os descendentes dessas pessoas, que viveram esse modo de conduta. Para fins de desambiguação, é bom não confundir esse com o livro Butcher Boy: Infância Sangrenta de Patrick McCabe, lançado em 1992.
O projeto inicial de Kim Henkel era que esse longa-metragem fosse uma sequência de O Massacre da Serra Elétrica de 1974, mas o projeto foi reescrito e reprogramado para se tornar um filme independente.
No entanto, ficaram resquícios do projeto, como a participação de integrantes do filme de 1974, como Perry Lorenz, Edwin Neal, Marilyn Burns, Ed Guinn, Bill Wise, John Dugan, Teri McMinn, Bill Johnson e James Bargsley.
Estreia, bastidores e como a obra é conhecida
O filme estreou no circuito de festivais, passou no canadense Fantasia International Film Festival em agosto de 2012, no estadunidense Austin Film Festival em outubro, no britânico Cine-City Film Festival London em novembro 2012, além de ter sido lançado em circuito limitado nos Estados Unidos, no mês de setembro de 2013, para depois chegar em DVD em outubro do mesmo ano.
O título original é Butcher Boys mas é possível achar ele como Bone Boys que era o nome de trabalho também, ou apenas Boneboys.
Em vários releases aparece dessa forma. Na Alemanha é Butcher Boys - You Are What You Eat, enquanto na Rússia é Обвальщики.
As gravações ocorreram entre outro e novembro de 2010. As gravações aconteceram no Texas, especialmente em Autin, San Antonio e Taylor.
Essa é uma produção da Greeks Productions e Kitchen Sink Productions, com distribuição da Phase 4 Films nos cinemas americanos, da 101 Films na Inglaterra e da FilmHub em circuito limitado de cinema nos EUA.
Duane Graves tinha o hobby de fotografar centenas de locações de filmes ao redor do mundo como aparecem hoje, dessa forma, ele escolheu "homenagear" vários filmes, escolhendo como locações cenários de outra obra famosas, como a Montopolis Bridge que aparece em O Massacre da Serra Elétrica 2, a Peacock Alley de Newton Boys: Irmãos Fora-da-Lei, o centro de Taylor que esteve em Um Local Muito Quente, a Hays Street Bridge de O Grande Lutador e a MLK Bridge em Slacker.
Não à toa, decidiu colocar esses trechos em seu filme.
Quem fez:
Duane Graves dirigiu Rio Peligroso: A Day in the Life of a Legendary Coyote, The Wild Man of the Navidad, Slacker 2011 no segmento Never Traumatize a Woman Sexually e Matar ou Morrer de 2015.
Justin Meeks é ator, faz aqui o líder do culto. Caesar. Trabalhou como diretor e atuou em alguns filmes como Matar ou Morrer e teve participações em Prison Break. Conduziu os filmes citados pela direção de Graves.
Kim Henkel é lembrado por ter escrito O Massacre da Serra Elétrica, Devorado Vivo e escreveu o argumento de O Mistério do Invisível. Foi coprodutor no O Massacre da Serra Elétrica de 2003, produziu O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno (que dirigiu) O Massacre da Serra Elétrica: O Início, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, produtor executivo em O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua e Massacre no Texas.
Kuhn é produtor executivo em Trespasses - No Limite da Violência, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno, O Massacre da Serra Elétrica: O Início, O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua e Massacre no Texas.
Ian Henkel é filho de Kim Henkel e participou de várias obras onde o pai trabalhou.
Fez uma ponta como entregador de pizza em O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno, foi produtor em O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, foi produtor executivo em Chain Reactions, fez o som de Found Footage 3D e A Caverna, foi operador de boom em Resultados e Krisha, aqui ele fez parte da trilha sonora nas músicas Killer, Saturday Night, também fez trabalho de stunt/dublê e acrobacias.
Narrativa
A narrativa começa com uma citação a Uma Moderna Proposta:
Concedo este alimento que será algo, queridos e, portanto, muito apropriado para os senhorios, que, como eles já devoraram a maioria dos pais, parecem ter o melhor título para as crianças.
Logo depois da tela preta aparecem pessoas conversando, em um comércio local. Ao fundo se ouvem latinos conversando, em um dia comum, ainda com o céu claro.
Um carro se aproxima e rapta uma moça jovem e bonita, que estava com a sua família. O carro passa e pratica esse ato malvado de maneira rápida e despreocupada.
Logo depois se foca em um grupo de jovens de classe média, que gostam de arrumar confusão. São todos brancos, mauricinhos com aparência de riqueza inclusive. Eles são Mikey (Philip Wolf) Barbie (Tory Taranova) Kenny (Matt Hensarling) e a principal entre eles, há Sissy, a provável final girl, vivida por Ali Faulkner, atriz conhecida por Amanhecer: Parte 1 e O Segredo do Lago.
A partir daqui falaremos sobre a trama, ou seja, teremos spoilers. O aviso está dado.
A trama com spoilers
Esses primeiros momentos se passam na beira de uma estrada, em um lugar com posto de conveniência.
Ao fundo, se ouve uma voz de um noticiário de rádio que aliás, é a mesma ouvida no início de O Massacre da Serra Elétrica. Embora não seja creditada no filme de 1974, a voz pertence a Levie Isaacks, que também atuou como diretor de fotografia de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno que Henkel realizou.
Outra referência curiosa, é quando Sissy está parada em frente à uma loja de penhores, ela se vira e vê as TVs exibindo cenas pastorais enquanto a música Morning de Grieg está tocando, que parece ser uma homenagem ao filme No Mundo de 2020 (Soylent Green) de 1973, que trata de um dos temas focados aqui, o canibalismo, mas em uma sociedade distópica.
Na lojinha ocorre uma discussão entre John Dugan, que fez o vovô de O Massacre da Serra Elétrica e Edwin Neal, que fez o caroneiro do mesmo filme. Um é o atendente balconista e o outro é um homem em situação de rua.
O grupo arruma confusão com duas pessoas dentro da loja e irritam John (Jon Clinkenbeard) e Cliff (Matt Beene). Os dois correm para fora, entram no carro e vão atrás do quarteto, com raiva, entrando assim em um racha, que inclui até uma cena em Montopolis Bridge.
No meio da perseguição, passam por uma gangue e o carro dos dois homens atropela um cachorro e batem no carro de um dos rapazes, pessoas essas que se vestem tal qual personagens de Grease: Nos Tempos da Brilhantina.
Perseguições e surras
Enquanto uma parte dessa gangue vai atrás do quarteto, a dupla sofre com dois dos jovens delinquentes. Os forasteiros sofrem, apanham fortemente, sofrem com golpes de pé de cabra e são bastante humilhados.
Henkel reprisa o mesmo terror de caipiras instaurado na franquia Texas Chainsaw Massacre, agora com vilões mais jovens, mirando uma outra geração.
Do nada, vira uma perseguição da gangue atrás dos riquinhos imbecis.
Eles são todos motoqueiros com cabelo engomado e roupas formais liderada por Bossboy (Johny Walter) além de Benny (Derek Lee Nixon) Newboy (Mike Davis) Perry (Matthew Pfohl, Ollie (Tank Turner), e Mario (Bo Reed).
A história é cheia de reviravoltas e eventos violentos, com ações de sequestro, de violência contra mulheres e assassinatos. Até aí não há nada demais, a questão é que tudo parece artificial e muito falso.
Quando os tais butcher boys pegam Sissy é risível. Faulkner se esgoela tentando chamar a atenção dos policiais, mas ninguém parece levar a lamúria a sério, os policiais parecem ter medo de mexer com esses bandidos, mas isso é desimportante, já que os dois oficiais, interpretados por Bill Wise e Patrick McDonell estão péssimos.
A estética é péssima, o momento é mal iluminado, não há o mínimo cuidado visual na filmagem.
O trecho parece um teatro barato e pobre. A fotografia péssima se espalha por outros trechos e a qualidade da cinematografia é digna do que se vê em um piloto de série ruim. O texto é pífio, faz inclusive perguntar se alguns momentos são de fato reais ou apenas fruto de pesadelos, mas não há uma ambiguidade inteligente, esperta ou algo que o valha, só parece confuso por ser mal escrito e mal montado.
Existe uma rivalidade de Bossboy com Newboy, não satisfeitos em matar jovens e raptar meninas, eles também roubam o cachorro de uma senhora, basicamente pela aleatoriedade.
O cenário do horror "real"
A base onde eles estão é uma espécie de prisão e manicômio, onde homens feios e de meia idade administram tudo, enquanto mulheres estão presas nas celas.
No meio do grupo de pessoas caricatas, loucas e mal caracterizadas, há até um monstrão bizarro, brutamontes estilo Leatherface, chamado de Amphead, (Gregory Kelly) o sujeito parece selvagem, mas pouco faz, passa a maior parte do tempo acorrentado e sem qualquer possibilidade de ação.
Do minuto cinquenta em diante a trama cai em uma exploração torture porn. Levam a personagem até Doc (Tom Byrne) que a coloca em uma maca, levanta as pernas delas e prendem a alças de corrente.
A cena é difícil até de descrever, já que estavam analisando ela de perna aberta, olhando fixamente para o "interior" dela, como se fosse um exame ginecológico. Ao menos não se mostra ela nua ou algo que o valha. Eles chegam a conclusão de que é a escolhida, seja lá o que for.
Esse é um tipo de culto canibal, que se acha parte de um estilo de vida singular, mas a presença de uma pessoa messiânica ou escolhida não faz sentido. Quando o roteiro deveria ser explícito, não é.
Esse trecho carece de explicação e de alguma linha lógica, por mais fina que pudesse ser.
O visual dos personagens parece ter sido escolhido de maneira aleatória, retirada de um baú cheio de fantasias e figurinos diversos. Os homens usam roupas chiques ou trajes de halloween. Todos os homens que estão ali parecem pessoas fantasiadas, toscamente vestidos, o médico mesmo está tal qual uma bailarina, com uma fantasia que claramente era para uma pessoa bem menor, possivelmente infantil.
Já Sissy diz sofrer, tenta imitar Sally Hardesty de Marilyn Burns, mas não convence. Está limpa, passa longe de estar em uma situação insalubre, tirando a roupa típica de exames médicos, ela está como entrou na trama, com cabelo ligeiramente desgrenhado e molhado.
A menina foge por um túnel subterrâneo, quase é pega pelos vilões, mas escapa graças a interferência de um idoso armado. Ele é Carl Wayne Skalabarcek, personagem de Sonny Carl Davis, que diz ter vindo de Robstown, Texas.
A busca dele é por uma menina chamada Rachel. A caracterização dele é bizarra, é um homem careca, peludo, cheio de espuma ou loção de pós barba pelo corpo, parece que estava se higienizando, ou se depilando justamente quando encontra a garota final.
Da mesma forma inesperada que ele aparece, também some. Ele salva Sissy de ser pega, ele atira em um dos capangas que tentou pegar ela e só reaparece perto do final, depois que Sissy encontra sua "protegida", que é interpretada por Katie Patterson. Ela é também uma prisioneira, mas que não quer ser liberada, tampouco quer encontrar Wayne, já que segundo ela, o cowboy e sua mãe a molestavam.
Fica a pergunta se Wayne uma piada com o Lefty de Dennis Hopper em O Massacre da Serra Elétrica 2? Talvez.
Rachel parece ter enlouquecido também, não quer sair mais, encara o culto de exploração como uma família, diz até que vai convencer as pessoas lá que o aborto que ela cometeu não foi sua culpa. Parece sofrer com a condição de Síndrome de Escolmo.
Na meia hora final se explora o cenário de um salão de luxo, cheio de homens chiques e engravatados, um lugar de prazeres e orgias bizarras, onde as pessoas consomem a carne das meninas prisioneiras.
Se não houvesse as entrevistas de Henkel a respeito dessa premissa, não ficaria nem um pouco claro que existe uma exploração não só sexual mas também canibal das moças.
As cenas são mal enquadradas, de forma que é difícil entender o que ocorre. Há muita população visual.
O filme segue tentando ser perturbador, mas não é nem um pouco gráfico. Mesmo tratando de abusos, de exploração sexual e de testes científicos, não há cenas de nudez, nem exposição de sangue, é um exploitation que uma criança poderia ver, caso não soubesse o conteúdo dos diálogos e os fatos.
É uma história profanam sobre uma sociedade secreta, que escraviza e que tortura com mulheres, que é secular, que pratica peripécias, mas nada é mostrado de fato.
Mais tarde, com 70 minutos, aparece uma cena de janta...imitando O Massacre da Serra Elétrica e suas versões, mas aqui o trecho não tem qualquer sentido fora a referência óbvia, além de não combinar nem um pouco com o que foi mostrado até então.
Nesse ponto aparecem homens vestidos tal qual transformistas, canibais e uma máquina de tortura que foi acoplada a cabeça de Rachel.
Meeks e Graves acharam boa ideia mostrar o lado de fora do lugar. Na frente do galpão há muita gente, imprensa, polícia e há até um pequeno grupo de protesto, já que aparentemente, os populares descobriram o que acontecia ali.
Nada faz sentido, já que os membros dessa sociedade canibal são ricos, milionários, não fariam suas reuniões em um galpão meia boca, no meio de uma cidade, com fácil acesso a qualquer tipo de pessoa.
Se houvesse de fato o desejo de praticar tais atos, seria em um lugar isolado. Só se justificaria ter algo assim em uma cidade fácil de chegar caso fosse um cenário distópico e se fosse assim, manifestações como essas seriam reprimidas. Os momentos finais são bizarramente mal pensados, há combate e se usa um lança foguetes que resulta em uma explosão de CGI muito merda.
Esse é um filme que parece distante de sua ideia, parece ter sido planejado para ter uma história grotesca e uma exploração como de um filme tipo Jogos Mortais ou O Albergue, mas não consegue chegar nem perto disso, já que foge de qualquer menção a violência de fato.
Butcher Boys tenta soar doentio, mas esbarra no conservadorismo de seu modo de narrar a história. Não atinge o ponto de evolução do texto que Henkel escreveu nos anos 1970 e se perde em sua tentativa de se atualizar, sendo tolo ao fugir da crueza que permeava o filme de Tobe Hooper. É uma tentativa falha de mostrar uma trama perturbadora e se perde tanto em suas elucubrações que não faz sentido algum.
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