Madman é um dos filmes de horror que veio na esteira de Sexta Feira 13. Lançado em 1981 o longa é dirigido e escrito por Joe Giannone e conta com produção dele e Gary Sales que juntos, escreveram o argumento desse. Apresentado pela The Legend Lives Company, o filme baseia seu horror na menção de palavras, no caso, o nome do lendário assassino e psicopata Madman Marz, interpretado por Paul Ehlers, que aliás é anunciado com pompa na curiosa introdução.
Apesar de simples, a história tem uma mitologia própria. É dito que tudo começou em em North Sea Cottages, um acampamento que reúne crianças superdotadas.
A trama se passa durante as férias e até aparecem crianças em tela. Isso poderia ser um diferencial, poderia ser mais um elemento narrativo como é em Acampamento Sinistro, mas simplesmente não é. As crianças somem, todos os ataques ocorrem a noite e nenhuma delas é pega, tampouco testemunham o show de horrores.
O momento inicial é curioso. Aparece uma tela colorida, rubro-negra, pintada como se fosse um quadro. O desenho é simples, é como uma floresta de fundo vermelho, rubro como o sangue, com contornos pretos, que simbolizam as árvores e outros infortúnios. De repente surge uma música aguda, que dá um baita susto na plateia, mas depois do choque, tudo segue calmo.
A música eletrônica de Stephen Horelick é bem pontual e bizarra. Serve bem nesse início, mas varia de qualidade ao longo das quase uma hora e meia de duração.
A história parte de um conto narrado em uma fogueira de acampamento, lembrando outras obras que cercam o mito de Jason e sua mãe. Reza a lenda que o texto desse deveria ser baseado na lenda do assassino Cropsy, mas quando chegou a notícia de que o filme especialmente Chamas da Morte/A Vingança de Cropsy estava sendo baseado na mesma lenda, o roteiro foi reescrito.
Um velho chamado Max, interpretado por Carl Fredericks, (que assinava como Frederick Neumann nos últimos anos de sua carreira) conta a história de Madman Marz, um agricultor que matou a família a sangue frio e foi para o bar logo depois.
Na hora de beber ele se exibia com um machado todo ensanguentado, não tinha qualquer receio em mostrar para todo bar ver. Causando revolta nos populares, ele foi morto enforcado, ao menos é isso que foi falado ao longo dos anos. No dia seguinte o corpo sumiu misteriosamente e a lenda se instaurou, de que ele aguarda em algum lugar, com seu machado em punho, aguardando novas vítimas que ousem chamar seu nome.
Os jovens instrutores que ouviram a história obviamente não acreditam em Max, especialmente o engraçadinho Richie (Tom Candela, que na época, assinava Jimmy Steele). Fazendo o típico papel do bufão em Filme de Matança ele levanta, grita por Marz e taca uma pedra ao longe.
A mesma atravessa uma grande área, vai da floresta até uma casa abandonada, que seria o lugar de repouso do assassinato. Max tenta verbalizar que Richie não sabe o que faz, para demover o Marz de decapitar o menino.
É bastante estranha essa questão. Se um assassino está escondido por anos ou se ele é uma força sobrenatural a procura de sangue, por qual motivo ele se esconderia numa casa velha e só voltaria a ação graças a menção de um garoto qualquer? Isso demonstraria no mínimo uma baita insegurança, fato é que estranhos acontecimentos ocorrem e não fica claro se isso é por conta da invocação que Richie fez.
Ao menos as mortes não demoram a ocorrer. A partir dos 18 minutos um idoso, cabeludo e barbudo passa a esfaquear pessoas. A cena é rápida e gráfica. O fã de filmes brutais certamente não se decepcionará.
Curiosamente a primeira vítima não foi o "invocador" jovem e sim um homem gordo e barbudo. Seja lá quem estiver matando, certamente não tem apego ético na hora de matar, pois um sujeito que nada tem a ver com a questão dos instrutores simplesmente perece sem qualquer ação má anterior.
Assistindo Madman pela primeira vez fica a pergunta sobre qual era a intenção dos realizadores, se era produzir um filme de horror de fato ou de trazer uma obra de romance com pitadas de erotismo.
Ele tem nudez claro, e isso era comum a qualquer filme de terror da época, mas não se exagera tanto nesse quesito, não chama tanta atenção quanto ocorre com Massacre por exemplo, que é um exemplo de exagero em matéria de gente pelada. O diferencial nessa obra é que há toda uma preparação para cenas de sexo.
Quando um casal vai até uma banheira de hidromassagem se usa uma câmera lenta mega piegas, acompanhada de uma música composta e cantada unicamente para eles. Um tema original para um casal de coadjuvantes é pouco usual, faz lembrar inclusive os momentos de intimidade em telenovelas brasileiras da época, onde o casal de mocinhos tem sua música de fundo única, utilizada para ambientar o público no enlace.
O casal é composto por Betsy, moça interpretada por Alexis Dubin, que é um pseudônimo da icônica Gaylen Ross, conhecida por sua participação em O Despertar dos Mortos e Creepshow, ambos filmes de George A. Romero. Já T.P. é Tony Fish, que hoje assina como Tony Nunziata, ator de poucas participações no cinema.
Como é regra, quem transa morre, e T.P. perece enforcado, talvez por conta do vulco, talvez por ser vaidoso, afinal quem é egocêntrico o suficiente para usar um cinto com suas próprias iniciais? É preciso ser muito apegado a si mesmo...
Gary Sales fez toda a sua carreira em funções diversas nos bastidores. Seus trabalhos mais reconhecidos são em Um Estranho Vampiro (1988) como assistente de direção, além de ter sido produtor em The Girl on the Train (2014). Já Giannonse dirigiu apenas esse Madman e foi assistente de direção de Romance ou Pesadelo (1979) e na série American Playhouse (1984).
A equipe do filme é pequena. Jan Claire, que seria preparadora de elenco, acabou fazendo um papel, já que de última hora a atriz não pôde estar nas filmagens. Ehlers, ator que fez Marz também fez o logo do filme - reza a lenda que a produção quis trazer Vincent Price para o seu papel, mas não conseguindo, se contentaram com ele.
Além disso, Giannone fez o roteiro, enquanto Sales produziu e foi diretor musical também. A equipe teve que pintar as folhas das árvores e arbustos de verde por conta da época em que o filme estava sendo rodado. Eles filmaram no inverno, mas deveria ser ambientado em um clima mais quente.
Há um diferencial no trabalho de Johanne Hansen - na época Jo Hansen - que fez a maquiagem, especialmente no que toca o vilão. Marz tem mãos grandes, em um aspecto meio acinzentado, com unhas longas que parecem até garras. Fica a pergunta se ele é meio homem meio animal ou se essa é apenas uma representação visual de como as vítimas o veem.
A roupa era tão diferenciada que tinha até pés falsos. Ehler reclamou que essa parte de sua fantasia era escorregadia. Há relatos do ator de que ele quase caiu da árvore na cena em que Madman observa os campistas na floresta.
Animalesco ou não fato é que o assassino é esperto e estrategista. Ele aguarda cada uma de suas vítimas ficar isolada, para pegar em uma situação de vulnerabilidade, tornando a situação em algo quase inescapável.
Mesmo sendo eficiente, há pouca possibilidade de sustos da parte de Madman, já que se torna previsível a sua ação. É fácil telegrafar como, onde e quando serão os ataques do vilão.
Também pesa contra a trama o fato dos personagens não terem personalidade, diferenciais ou caracterizações que os tornem singulares. São todos genéricos. Parte da graça de ver um filme de matança comum - excetuando os que mostram personagens em sequências, como o Jason Imortal pós Sexta-Feira 13 - Parte 6: Jason Vive - é que as vítimas tenham alguma chance de vencer o matador. Isso não ocorre aqui, Marz é imparável, praticamente irrefreável.
As vítimas também exageram nas expressões de morte, nas caras e bocas. Mesmo Ross está aquém. Ela não está exatamente mal, só segue a mesma toada do restante do elenco. Isso se espera de atores sem gabarito, mas não com ela, que vinha de filmes grandes dentro do nicho do horror.
Excetuando as cenas de morte e os momentos românticos citados anteriormente, quase não há trilha sonora. A música quase sempre aparece de maneira exagerada, estrondosa e nos momentos de perigo. O resto é no mais absoluto silêncio.
Desse modo causa estranhamento qualquer interferência sonora. Sempre que entra música já se espera o pior. Toda morte parece ter um leve aviso antes e isso tira impacto dos óbitos.
Há uma certa poesia trágica no desfecho, no confronto entre a suposta última sobrevivente - ainda sobra Richie - e Madman Marz. Betsy é pendurada em um gancho, tem o rosto já desfigurado pelo monstro e acerta uma facada em suas costas.
O sujeito ainda deixa um papel com fogo cair no meio da palha, deixando o público acreditar que ele pereceu com ela. Para todos os efeitos, o ideal é pensar que ele sucumbiu também, indo ao inferno com sua última vítima.
Houveram alguns percalços pesados, como o que ocorreu com Tony Nunziata. Ao ser amarrado com um elástico em volta do pescoço para a cena do enforcamento ele quase se machucou de verdade. Giannone às vezes se preocupava com a possibilidade de Fish desmaiar durante as tomadas e isso de fato quase ocorreu.
O final do filme, onde Max encontra um Richie traumatizado na estrada seria diferente do exibido. O rapaz deveria ser o culpado pelos assassinatos, enquanto Madman continuava vagando pela floresta, abrindo assim possibilidade para uma sequência, que obviamente, jamais ocorreu.
A bilheteria não foi ruim, passou do milhão de dólares, considerando seu baixo custo, até que não foi mal, mas não houve tanto apelo para que o filme se tornasse uma saga e franquia.
Madman tem alguns bons momentos, mas esbarra nas mesmas dificuldades que seus pares do gênero slasher. Acaba sendo barato demais, subaproveitando a sua fórmula, mas acerta pelo modo pessimistas com que leva seu final, recordando cada um dos mortos, sobre o olhar do personagem que iniciou tudo isso, ao convocar Marz de volta a vida.
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