Chocolate é um filme de ação tailandês que faz parte da iniciativa de bons filmes de porradaria que ocorreu nessa década no país. O longa é lembrado por ser conduzido por Prachya Pinkaew e também é marcado por ser protagonizada por uma personagem mulher com autismo, interpretada por JeeJa Yanin.
A narrativa acompanha uma menina com poderosas habilidades em lutas, que tenta saldar as dívidas da sua mãe procurando as gangues e os bandidos que devem dinheiro a ela e a sua família.
Escrito por Prachya Pinkaew, por Napalee e Chookiat Sakveerakul, o longa foi lançado em 2008, produzido por Tech Akarapol, que assinava Akarapol Techaratanaprasert, também por Pinkaew, Akarapol e Panna Rittikrai. Tem como produtor executivo Somsak Techaratanaprasert.
A estreia dele foi na Tailândia, em 6 de fevereiro de 2008. Depois excursionou para Hong Kong, chegando em abril. Em Singapura estreou em maio, também passou em no Toronto International Film Festival, no finlandês Helsinki International Film Festival e em Taiwan, todos no mês de setembro. Na Espanha passou no Sitges Film Festival, também no americano Hawai'i International Film Festival, em outubro.
Quase não há variação de nome além da alcunha Chocolate. Na Malásia, é chamado de Fury. Na Noruega recebe o nome de sua protagonista, Zen. Na República Tcheca é Duch Boje, na Finlândia é Zen - The Warrior Within.
Na Alemanha é Chocolate: Süss und Tödlich, no Irã é Shokolat, no Japão é Chocolate Fighter, na Polônia é Czekolada, na Romênia é Ciocolată, na Rússia é Шоколад, na Sérvia é Čokolada, na Suécia é Zen - The Warrior Within, enquanto no Vietnã é Quyền Cước Thượng Đẳng.
A obra foi filmada entre 2006 e 2007, na Tailândia. Há uma curiosidade muito pitoresca em relação a duração do filme.
A maioria das vezes em que o filme foi veiculado com pouco mais de 90 minutos de duração, fosse em mídia física, em streamings ou em releases do VOD, durando normalmente 1 hora e 32 minutos. No entanto, quando foi lançado nos cinemas tailandeses, ele tinha 11o minutos.
Essa versão maior inexiste enquanto mídia e como o filme não foi lançado em Blu-ray em seu país de origem, segue sendo publicada e veiculada apenas essa versão mais curta. Não há previsão para sair o corte maior, a esperança é que um dia resgatem essa produção como ela foi concebida para o seu próprio país.
Não há informações sequer sobre o que foi retirado, se foram lutas em estágios maiores ou uma exploração maior dos temas mais sentimentais.
Os estúdios que propiciaram a obra foi a Sahamongkol Film International, que faz a função de presents. Também fez Baa-Ram-Ewe. Foi distribuído nos Estados Unidos pela Magnet Releasing em 2009 em cópias legendada, pela Sahamongkolfilm Co. na Tailândia.
Prachya Pinkaew dirigiu Ong Bak: Guerreiro Sagrado e O Protetor, depois desse Chocolate trouxe Olho por Olho, O Protetor 2 e Sisters. Produziu 13 Desafios, O Guarda-Costas 2, Ong Bak 2: O Guerreiro Sagrado Voltou, Pop Star, Jukkalan e Antapal. Foi produtor executivo em O Mestre das Sombras.
Napalee escreveu O Protetor e Os Meninos Superpoderosos. Sakveerakul escreveu 13 Desafios, Reencarnação da Vingança, Os 13 Pecados e dirigiu Mondo além de episódios de Terça do Terror.
Tech Akarapol produziu Ong Bak, Nascido Para Lutar, Ong Bak 2, Deu Suay Doo, Ong Bak 3, Bangkok Nocaute, Shambala e O Protetor 2.
Rittikrai é ator, produziu e esteve em Ong Bak, Guerreiro do Fogo, Bangkok Nocaute, dirigiu O Guarda-Costas, Nascido Para Lutar, as sequências de Ong Bak e também conduziu Bangkok Nocaute.
JeeJa Yanin estreou nesse filme, estudou balé desde jovem antes de praticar Taekwondo aos 11 anos. Ganhou a primeira faixa preta aos 13 e foi campeã nacional aos 15. Com 19, fez o teste para Nascido Para Lutar.
Ela impressionou tanto os produtores que, em vez de escalá-la para um pequeno papel naquele filme, eles decidiram conceber um filme inteiro em torno dela, então ela abandonou os estudos e passou dois anos treinando Muay Thai, ginástica, acrobacias, luta com armas junto a equipe de dublês de Panna Rittikrai, além de estudar atuação antes de o filme entrar em produção.
Pouco antes do lançamento do filme, seu primeiro nome foi mudado de Nitcharee que significa “bom coração” para Yanin, que significa “conhecedor". Ela realizou todas as suas próprias acrobacias. Depois desse ela fez O Protetor 2 O Alvo 2 e Tripla Ameaça.
Alguns dos atores ficaram feridos e tiveram que ser hospitalizados durante as filmagens, inclusive, a protagonista.
Durante uma cena noturna Yanin estava muito cansada (além de também estar menstruada) e levou um chute acidental no rosto, como resultado, ela não conseguiu abrir o olho esquerdo e teve que usar um tapa-olho, o que fez com que as filmagens fossem interrompidas por uma semana.
Antes de começar a narrativa de fato vem um letreiro, que diz
Este filme se inspirou num grupo de crianças muito especiais e na imaginação pessoal visando despertar o incrível potencial do movimento humano que não se vê com frequência na realidade diária e é um estímulo aos pais e ao amor incondicional.
Não há muita informação que credibilize essa fala, que pode ter sido colocada apenas para ganhar pontos para a produção. Fato é que existe sim um apelo e um protagonismo a uma figura que sofre de uma condição neurológica não normativa, já que Zen é uma menina autista, viciada em doces.
Aparecem então pessoas, ao redor de uma mesa, sob uma luz alaranjada. As primeiras falas são dadas em uma narração com voz em off, fala do jovem Masashi, personagem esse que só retornaria quase no final.
Logo depois, retorna ao primeiro momento, uma reunião de criminosos, gente armada, que discute territórios, divisas e questões de tráfico, além de conflitos com a Yakuza, apesar de Masashi, personagem de Hiroshi Abe (ator que esteve em Godzilla 2000) estar nesse momento, chama a atenção outra pessoa, a bela Zin, personagem de Ammara Siripong.
Ela é muito hábil, precisa de pouco espaço para se mostrar como uma boa lutadora, uma femme fatale. Nesse ponto já se nota que ela ama Masashi, indo de encontro aos conflitos dele com a Yakuza.
O vilão do filme, chamado apenas de N° 8 é interpretado por Pongpat Wachirabunjong, um ator canastrão, que fez A Espada Mistica Do Guerreiro Ninja.
Vestido tal qual um personagem de Scarface de Brian De Palma, ele tem chance de matar ela, mas não o faz, ao invés disso, atira no próprio pé. Não fica claro o motivo dele ter feito isso, há quem defenda que simplesmente se penitenciou.
Depois do crédito com o nome do filme, é mostrado um momento futuro de Zin com sua pequena filha, a personagem central, chamada Zen.
Zin criou a menina sozinha, isolada, provavelmente com medo dos criminosos que ameaçaram ela na cena de introdução. Logo são mostrados alguns momentos estranhos, como a menina comendo uma mosca que voou em torno de si.
O diagnóstico de sua saúde mental afirma que ela tinha necessidades especiais. Os materiais de divulgação dão que ela tem autismo, mas no filme se fala pouco sobre isso, inclusive sobre o grau dessa condição.
O que fica claro é que ela tem crises e que demora a perceber certos eventos, como o desespero da mãe, quando N°8 vai visitar ambas, armado, com uma capanga que ameaça sua parente. Mesmo que ele haja com uma postura claramente de vilão, o momento termina com o homem cortando um dos dedos do pé dela, em tom de ameaça, fazendo assim um paralelo com o tiro que ele deu no próprio pé.
Depois de um tempo a menina passa a se interessar por artes marciais vê lutadores praticando o tal boxe tailandês, o Muay Thai como hoje é conhecido, inclusive a revelia da mãe, ela sequer sabe que a parente luta. Ela vai treinando sozinha, se torna uma exímia lutadora, é praticamente autodidata, já que absorve habilidades apenas olhando e observando pessoas, assistindo filmes.
Ela gosta de assistir filmes de luta, junto do seu amigo Mangmoom. O primeiro que a dupla de jovens assiste é Ong Bak e em outro ponto da trama, quando estão mais velhos, os dois pegam trechos de O Protetor, ambos filmes estrelados por Tony Jaa e dirigidos por Prachya Pinkaew.
Ela e Mangmoom crescem, com ela passando a ser interpretada por Yanin e ele por Taphon Phopwandee. A moça tem algumas restrições, como receio de animais pequenos e fobia com insetos, mas fora isso, tem uma vida quase normal, tanto que arrecada dinheiro com o amigo fazendo truques nas ruas, com pessoas tacando objetos nela, que são imediatamente repelidos ou atingidos por suas mãos.
A habilidade que ela possui se demonstra com ela tendo uma noção diferenciada do tempo. Sua maneira de ler o mundo e tão singular que até a lei da gravidade se apresenta de uma forma sobre-humana, fato que a ajuda não só nesses truques bobos, como nos confrontos que ela tem, com meninos que tentam maltratar Moom.
Ela segue tendo problemas de convivência, não suporta toques não solicitados, é levada a tomar uma série de remédios que lhe causam efeitos colaterais extremos como cansaço, sono e moleza.
Ela anda de maneira diferente, manca, até brinca com a comida. A maneira como Zen come doces, quicando em seu braço lembra um truque semelhante realizado por Jackie Chan em vários de seus filmes.
A cena de internação dela adolescente se intercala com momentos onde ela já é adulta, enfrentando os efeitos péssimos que a medicação lhe causa. Quando envelhece um pouco, ela assiste Tony Jaa, até pausa o filme e tenta memorizar os passos do lutador.
Esses momentos onde ela assiste e mimetiza os passos do astro marcial deveriam ter outras menções, especialmente a filmes de Bruce Lee e Jackie Chan, mas essas cenas acabaram sendo cortadas devido a problemas de licenciamento. Esses problemas de licenciamento também fizeram com que outras cenas fossem removidas do filme original.
A cena da fábrica de gelo foi originalmente filmada como uma tela dividida de Zen imitando exatamente os mesmos movimentos que Lee fez em uma cena de O Dragão Chinês, ainda mostrava um clipe em tela dividida, com ela mimetizando os passos do chinês, fazendo seus movimentos de luta de maneira sincrozinada e perfeita.
A cena do armazém foi filmada de forma semelhante, mas desta vez mostrava uma tela dividida de Zen imitando Jackie Chan, onde ela faria uma rotina de luta dos filmes famosos do ator cômico.
Os produtores resolveram retirar essas e todas as cenas que envolviam movimentos que imitavam sequências de luta dos filmes dos dois astros internacionais e essa versão que incluía essas cenas não foi lançada em nenhum lugar, nem mesmo na Tailândia, ou seja, não compreende o corte de quase duas horas.
Ainda na fase juvenil, ela tem um surto, quando elaretira a peruca de sua mãe, que tratava de um câncer. O momento que era apenas uma brincadeira acaba sendo revelador e constrangedor. Ao ver a figura de autoridade sem cabelos, ela tem um um surto, depois usa uma tesoura, para ela mesma cortar seus cachos, a fim de tentar parecer com a sua mãe. Não fica claro se é uma homenagem ou um símbolo de dependência, fato é que ela diminui o volume de seu cabelo.
Sua imaginação é fértil, Pinkaew faz Zen pensar em si mesma como parte de uma animação infantil, batendo em monstros imaginários e irreais.
Esses servem de combustível, para combates que ela acaba tendo, como quando tenta arrumar dinheiro, em um lugar onde manipulam gelo.
Nessa versão da filmografia de Pinkaew o roteiro é ligeiramente mais elaborado que em O Protetor e Ong Bak, mas ainda assim os fatos são pretextos para colocar a protagonista em lutas diversas.
A atriz está bem demais, consegue lutar de maneira bastante gráfica. Ela não é particularmente talentosa em termos dramáticos, mas segura bem o filme, faz convencer que tem uma condição especial e ainda lança gritinhos enquanto luta, tal qual Bruce Lee.
Ainda em busca do dinheiro que bandidos devem a sua mãe, Zen protagoniza uma luta, em um armazém de comida, que parece um açougue de carne bovina e frutos do mar. A batalha é bem coreografada, se usa muitos elementos do cenário, inclusive cutelos de carne e lâminas usadas para separar os ossos dos músculos e partes boas dos cortes bovinos.
Ela é implacável em combate, mas também consegue ser infantilizada e medrosa, tanto que entra em colapso ao ver um dedo decepado, mesmo que ela mesma tenha arrancado alguns.
Há sempre de lembrar que esse é um filme de baixo orçamento, mesmo que tenha feito um grande sucesso. Isso se nota especialmente nos figurinos dos bandidos que cercam 8.
Ao tentar fazer eles parecerem mafiosos de roupas coloridas e espalhafatosas, acabam lembrando personagens de novelas das oito dos anos 2000 e 2010. Eles usam perucas muito falsas, óculos escuros baratos, ternos mal cortados, quase sempre em tons pastéis, lembrando o já citado Scarface e a série Miami Vice ou a versão em video game, GTA: Vice City.
As influências do diretor em filmes de Bruce Lee se veem em uma batalha em vários níveis, especialmente quando ela enfrenta um rapaz jovem, de óculos, que usa uma roupa monocromática da Adidas, toda preta, com listras brancas, que cobrem o seu corpo inteiro.
Ele se movimenta de maneira diferenciada, parece ter alguma condição especial também, sua roupa lembra uma disposição como a do personagem de Lee em Jogo da Morte. Já o cenário e o desfecho desse momento lembram a batalha da Noiva de Kill Bill Volume 1, na batalha com os Crazy 88.
O forte do filme não é a dramaticidade, tampouco a lógica, o que começou com um momento em que Zin foi implorar a 8 para conseguir o que lhe é de direito - embora jamais fique claro o que ele deve a ela, possivelmente isso de explicava na versão maior - termina com uma batalha entre lutadores japoneses ligados a Yakuza, que conta com o bandido mafioso no meio.
Repentinamente o local é invadido por Masashi, que protagoniza uma briga enorme, que envolve inclusive a mãe da protagonista, que entra em batalha mesmo passando por um agressivo processo de quimioterapia.
Ela termina ferida com um golpe de faca, em uma batalha cheia de katanas, mas certamente cairia mesmo sem sofrer um golpe sequer, só pelo seu esforço hercúleo.
Outras questões curiosas que são apresentadas é a paternidade de Zen. Ela é filha de um homem poderoso, de um estrangeiro. Isso é dado sem qualquer pompa ou preparo, apenas aparece em tela, de maneira repentina.
Há quem defenda que a narrativa tem essas imperfeições de concepção graças ao fato de partir do ponto de vista de uma personagem de compreensão difícil. Isso flerta com uma desculpa esfarrapada, mas dá relevar essa questão, especialmente pelas lutas serem tão boas que compensam de certa forma as crateras do roteiro.
Uma sequência foi anunciada no final de 2010 e anunciada no European Film Market em fevereiro de 2011, com as filmagens marcadas para começar no Japão em abril. Seria um filme em 3D, no entanto, o terremoto e tsunami de Tohoku em março de 2011 atrasaram esses planos e o filme acabou nunca sendo feito.
Chocolate em um arremedo de história, tenta emocionar sem muito sucesso com o drama de sua protagonista, mas compensa qualquer inconveniente com suas lutas sensacionais, além de possuir uma personagem muito carismática e simpática, que além de ser assim, também agressiva e muito forte.
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