O Protetor : Tony Jaa e a lenda do guerreiro que vai em busca do seu elefante

O Protetor : Tony Jaa e a lenda do guerreiro que vai em busca do seu elefanteO Protetor é um filme de ação com foco em lutas e artes marciais tailandesas. Lançado em 2005, ele baseia seu drama em lendas típicas do sudeste da Ásia. Protagonizado por Tony Jaa o longa tem direção de Prachya Pinkaew e narra a história de um jovem guerreiro sagrado, que viveu toda sua vida em prol de um culto antigo.

Ao longo do início de sua vida adulta ele assiste a modernidade e o capitalismo invadirem a sua aldeia para se apossar de suas riquezas, de suas posses e até dos seus animais sagrados.

Conhecido como Tom Yum Goong, que em tailandês se escreve ต้มยำกุ้ง, essa é uma coprodução entre Tailândia, Estados Unidos, Hong Kong, França e Austrália.

A história acompanha o jovem lutador chamado Kham, indo da sua infância até vida adulta.

Quando já é grande ele acaba indo para a Austrália recuperar um elefante que foi roubado do lar de sua família. No outro continente ele lida com a xenofobia local e com um cotidiano violento típico da urbanidade.

Acaba contando com ajuda de um detetive tailandês e com o apoio de outros conterrâneos seus. Nesse interim luta contra uma gangue de contrabandistas internacionais, enfrentando assim lutadores dos mais diversos estilos de luta.

O roteiro do filme ficou a cargo de Napalee, Piyaros Thongdee, Joe Wannapin e Kongdej Jaturanrasamee, com argumento de Prachya Pinkaew.

O filme tem como produtor Tech Akarapol - que na época, assinava Akarapol Techaratanaprasert- além do diretor Pinkaew e Sukanya Vongsthapat. Tem produção executiva de Somsak Techaratanaprasert.

Os estúdios por trás do longa-metragem foram a Sahamongkolfilm Co., TF1 International, Baa-Ram-Ewe e Golden Network. A distribuição na Tailândia foi pela Sahamongkolfilm Co. já em Hong Kong foi levado pela Edko Films.

 O Protetor : Tony Jaa e a lenda do guerreiro que vai em busca do seu elefante

Há no release ocidental o crédito de Present by Quentin Tarantino, que na prática, funciona como um produtor executivo informal, a fim de arrecadar verba para distribuir essa produção em lugares onde o cinema tailandês não é tão popular.

Nesse release há também o logo da distribuidora Weinstein Company que fez a distribuição nos Estados Unidos. Os direitos internacionais do longa foram vendidos antes dele começar a ser rodado, foi o primeiro filme tailandês a fazer isso.

Tom yum goong é o nome de um prato muito popular na Tailândia, uma sopa picante, preparada com capim-limão e com camarão. Esse é o título não só na Tailândia, mas também em outras tantas praças, como no Equador.

Em inglês o filme se chama The Protector, na Bulgária é Тайландски дракон, na Croácia é Zaštitnik, na França é L'honneur du dragon, na Alemanha é Revenge of the Warrior, na Grécia é conhecido como Warrior King no título em DVD.

Na Itália é The Protector - La legge del Muay Thai, enquanto no Japão e em lançamento alternativo é Warrior King, título esse também utilizado em mídias nos Estados Unidos.

Em boa parte da Europa é conhecido como Honour of the Dragon, já em Portugal é A Honra do Dragão, em atenção a tradução literal dessa alcunha.

O filme levou dois anos para ser feito e utilizou mais de 600 rolos de filme. Foi filmado entre a Tailândia e Austrália, com cenas em Sydney, na parte de Nova Gales do Sul.

Prachya Pinkaew dirigiu o outro filme famoso de Jaa, no caso, Ong Bak: Guerreiro Sagrando. É dele também Chocolate, Olho por Olho, O Protetor 2 e Sisters.

Napalee fez o texto de Chocolate e Os Meninos Superpoderosos. Esse último, também foi escrito por Thongdee. Já Wannapin escreveu Mercury Man. Kongdej Jaturanrasamee escreveu Sayew, Cherm e Echo Planet: Um Planeta Para Salvar. Tech Akarapol produziu Ong Bak, também Nascido Para Lutar, Guerreiro do Fogo, Chocolate, entre outros.

O filme foi tão bem recebido que até o primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra, compareceu à estreia deste filme em Bangkok. Este é o primeiro filme do país a figura no top 10 das bilheterias americanas no fim de semana de estreia, estreando em quarto lugar.

O início da narrativa mostra imagens bonitas, primeiro com papéis antigos, coloridos, consumidos pelo tempo, que ajudam a ambientar o espectador sobre a origem dos quatro guerreiros protetores dos elefantes, lutadores esses chamados de Jatubaht.

Os paquidermes servem de montaria para o monarca e esses protetores/lutadores deveriam usar a arte do muay thai para defender o animal grandioso, imponente e certa forma, sagrado.

 O Protetor : Tony Jaa e a lenda do guerreiro que vai em busca do seu elefante

Aparece então Kham, o protagonista é feito por Nutdanai Kong na infância. Ele conversa com seu pai, sonha em ser um Jatubaht.

Esse início contempla cenas belas, com paisagens paradisíacas, bem flagradas pelas câmeras, além de momentos de ternura envolvendo pai e filho passeando pela natureza, junto ao seu elefante.

Há muita contemplação, a direção de fotografia é natural e captura a rotina e a vida simples, próxima da natureza, que valoriza os bichos gigantesco. como se fossem animais sagrados. Esse aspecto da cinematografia assinada por Nattawut Kittikhun - conhecido diretor de fotografia de Vidas do Além e Ong Bak - valoriza os cenários naturais e ajuda a compreender a obsessão de Kham em preservar esse lugar como ele é.

Os membros dessa aldeia convivem com animais de igual para igual. Louvam a figura mitológica de Yai, que é sempre citada, embora não seja explicado o que ela faz e o que ela é. O roteiro pressupõe que o espectador saberá quem ele é ou não se importará em não saber exatamente o que a entidade faz.

A vida simples que ele tem eventualmente é atravessada por pensamentos de que sua existência é um desperdício, já que não servem ao rei, não prosperam como Yai prometeu, nem exercem o ofício de Jatubaht em plenitude.

Na simplicidade em que vive, ele também há alegrias, não se preocupando com posses ou com fetiches mercadológicos. Ele é suficientemente feliz com que tem e com quem convive.

Quando o menino já é adulto, grande, forte e proficiente em lutas, percebe a aproximação de exploradores desonestos, que invadem o espaço verde para roubar o que é seu e de sua família.

Não demora até que ele decida ir para a cidade, já sendo interpretado por Tony Jaa. Lá os bandidos que apareceram na floresta tentam aproveitar as distrações do lugar para tentar capturar o elefante da família de Kham.

Eles chegam ao cúmulo de atirar no pai do rapaz, interpretado por Sotorn Rungruaeng, fato que praticamente obriga o rapaz a se lançar atrás dele, indo enfim para a Austrália.

Tal qual ocorria nos filmes de seus heróis (e inspirações) Bruce Lee e Jackie Chan, o personagem de Jaa vai atrás dos algozes de seu clã, deixa seu pai baleado e para trás, distribui socos, chutes e surras entre playboys e magnatas, usa lanchas e barcos, foge de tiros...

Há inclusive uma cena em que Jaa imita Lee em O Voo do Dragão, em uma sequência em que o seu personagem pula, chuta e quebra a lâmpada do poste, fazendo o bandido correr de medo.

Prachya Pinkaew conduz boas cenas de ação, mostra que não é bom só em fazer momentos de contemplação.

Os animais estão sendo traficados para a Austrália e uma vez na Oceania se percebem protestos, não só contra isso, mas também a morte de pessoas de origem tailandesa.

Os estrangeiros asiáticos que moram na Austrália são unidos, tanto que é apresentado Mark, de Petchtai Wongkamlao - ou Phetthai Vongkumlao - ator cômico que esteve em Ong Bak, O Guarda-Costa 2 e Jukkalan.

 O Protetor : Tony Jaa e a lenda do guerreiro que vai em busca do seu elefante

Ele é um sargento de polícia que serve de guia para uma equipe de filmagem de documentário. É engraçado, atrapalhado, um sargento confuso, que solta um assaltante viciado depois que as câmeras não estão mais nele.

Eventualmente o caminho dele se cruza com o do herói.

Kham chega a Sidney muito desconfiado. Em sua primeira cena ele quase se estranha com um jovem já no saguão de desembarque. Acaba detido pelo seu conterrâneo, em uma ação inesperadas do destino.

O filme não prepara muito as situações, os eventos ocorrem de maneira abrupta, com os personagens vivendo suas vidas de acordo com o acaso. O foco real mora nas lutas, que são muitas e no esplendor dos cenários naturais tailandeses.

É dessa forma que Kham e Mark passam por um restaurante típico da culinária tailandesa, que é gerenciado por um vietnamita. Por sorte, o rapaz do interior acaba encontrando o ladrão de elefantes, chamado Johnny, que é interpretado por Johnny Tri Nguyen de O Rebelde e Destacamento Blood.

A trama é tão somente um pretexto bobo para mostrar Jaa lutando em diversos cenários onde não se esperava haver lutas, uma de grande destaque é quando ele enfrenta dezenas de homens, todos capangas do chefe (na verdade, chefa) ainda não apresentado de Johnny, que lutam usando patins e skates, munidos de lâmpadas grandes, que usam como bastões quebráveis.

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Tony está em forma, considerando que o filme foi rodado por dois anos ele tinha em torno de 26 a 28 anos na época, provavelmente - na época do lançamento tinha 29 anos de idade.

Ele se esgueira, se pendura bastante, luta até contra rapazes motorizados, com veículos de motocross. O lutador desenvolveu um novo estilo de Muay Thai especialmente para o filme, conhecido como Muay Kotchasan, vertente baseada nos movimentos dos elefantes, de "arremessar, pisar, agarrar, quebrar".

De acordo com o diretor a cena de luta contínua levou cinco tomadas completas para ser feita, mesmo que seja em formato de plano sequência. A perfeição em tela é escondida por objetos, por dublês com roupas escuras e até por tapetes.

As filmagens ocorreram durante o período de um mês e porrada é franca, com golpes secos e muitas surpresas, além de manobras e saltos de parkour, pontuados por um slow motion utilizado de modo bastante sábio.

Curioso que Kham passa por todas essas provações e percalços, mas segue alinhado e bem vestido, com um pano sobre o pescoço, que imita uma echarpe. É elegante e violento.

Há ima animação em stop motion, que narra as histórias lendárias do passado da Tailândia. A escolha por esse artificio é uma baita alternativa narrativa, que lembra um trecho do cinema de Tarantino, em uma reflexão a respeito de O-Ren Ishii em Kill Bill Volume 1.

Entre crimes contra políticos e manipulação de viciados, Mark se vê sem alternativa a não ser lutar contra os malfeitores da gangue de Madame Rose. Nesse ponto, ele recebe o auxílio de Pla, uma prostituta interpretada por Bongkoj Khongmalai, que acaba testemunhando os crimes dos ricos, tomando para si a câmera que prova que tudo foi uma armação.

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Na maioria dos países onde o filme foi lançado, as referências a Madame Rose ser uma kathoey - transexual que nasceu homem e se assumiu mulher - foram removidas, apesar do fato de a atriz que a interpreta, Xing Jin, também ser transexual.

Fatos importantes sobre ela, como a sua sobrevivência no final também foram cortadas, ou seja, em algumas versões de O Protetor, ela parece ter morrido.

Como Pla leva consigo a câmera que um dos políticos utilizava para filmar o seu procedimento sexual, acaba levando consigo a prova de que Mark é inocente. O sargento é incriminado, fica aguardando a justiça, mesmo sabendo que não fez nada de errado, à espera de que ela possa ajudar a provar que ele não cometeu o crime que é acusado.

Sobre a famosa cena em que Kham invade um edifício de luxo e vai subindo, batendo em bandidos, guardas, vagabundos e criminosos, há de destacar a coreografia sensacional. Ele sobe lances de escadas, rampas, invade quartos, se esconde, taca gente de outros andares faz uso de muitos elementos de cenários, pula em mesas, faz objetos de plataforma como armas, utiliza paredes e prateleiras ao seu favor.

Há um esforço sensacional para esconder as suas interrupções. Essa é uma das mais longas da história do cinema, durando mais de quatro minutos.

Tal como acontece com os filmes anteriores de Tony Jaa, nenhum fio ou dublê foi usado durante as filmagens.

No alto do prédio invadido, o herói encontra jaulas, com diversos animais roubados, todos frutos do contrabando e do tráfico. Nesse ponto ele não segura o choro, especialmente quando percebe que seu elefante não está ali.

Há elementos de outras artes marciais também. Kham enfrenta um rapaz negro, interpretado por Lateef Crowder, que luta capoeira (o mesmo que fez Eddy Gordo em Tekken de 2010) faz uma luta mega estilosa, em um templo budista em chamas, cujo chão está encharcado, graças a irrigação que molhou tudo em prevenção a um incêndio.

Jamais uma briga ocorreria nessas circunstâncias, mas ver algo assim é bonito demais. Ela termina com Jaa enfrentando mais alguns inimigos, entre eles, o gigante Nathan Jones, o mesmo que fez Rictus Erectus em Mad Max: Estrada da Fúria, creditado aqui como T.K.

Passados 90 minutos, rola uma outra porradaria sensacional, onde Kham usa roupas juvenis, como lenço no pescoço, distribui um sem número de golpes, bate em dezenas de pessoas, em um espaço semelhante a um tempo, onde percebe que a ossada de um elefante serve de enfeite, para guardar joias.

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Depois de bater muito e de protagonizar uma batalha digna dos filmes de shaolin e clássicos wuxia, o herói enfrenta dois adversários, algumas vezes, de maneira simultânea. T.K. retorna com fome de vingança, depois enfim reaparece a vilã Sho Ing, que usa um enorme chicote preto para golpear a pele do herói.

Ele perde a chance de vencer não tanto por conta de erros estratégicos e fraqueza e sim porque está cansado, estafado, já que lutou demais.

Ele é interrompido por Korn, o elefante filhote e pouco depois de um breve desmaio. Quando volta ao enfrentamento ele decide usar os ossos de paquiderme, fazendo dos restos do grande mamífero um aliado em duas batalha, já que há mais capangas, maiores até que TK.

Ele usa as partes afiadas dos restos do bicho para ferir tendões e nervos das articulações dos inimigos, derrubando assim os que a ele se opõem. A forma como ele chega a essa conclusão é quase mágica, como se recebesse o auxílio do Divino, para vencer a sua batalha, como bom guerreiro escolhido pelos deuses.

Há um fim poético, bonito, com o corpo de Kham repousado nas presas do elefante morto, enquanto o herói ainda está vivo e nos créditos finais ainda aparecem bastidores e erros de gravação no final, no espaço de créditos.

O Protetor tem uma história confusa, mas que acaba sendo bonita e pontual, mesmo com os claros defeitos em sua concepção. Há lutas emocionantes, imagens muito belas e um conjunto de lutas invejável. É certamente um acréscimo enorme no esforço de popularizar a arte marcial do Muay Thai, seguindo na esteira que Ong Bak inaugurou, utilizando até melhor a figura carismática de Tony Jaa, que brilha ainda mais intensamente.

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