Django Vem Para Matar é um filme ítalo-espanhol de ação e aventura baseado no tropo de cinema de vingança. Parte do movimento conhecido como Western Spaghetti ou Bang Bang à Italiana, é um longa-metragem de 1967, dirigido por Giulio Questi e protagonizado por Tomas Milian.
A sinopse é bem simples, trata da história de um personagem sem nome determinado que busca revanche, depois de sobreviver depois de ser traído por seus antigos colegas de assalto e largado no deserto.
O personagem sai então da cova rasa onde foi colocado e vai na direção deles, para cumprir seu espírito de vingança. Na cidade onde ele chega há muitas bizarrices, como torturas, violência extrema e depravações sexuais mil. O longa mostra bem isso, curiosamente driblando um moralismo que poderia fazer o filme se perder em sua proposta de exploração.
Segundo membros da produção, os distribuidores estrangeiros decidiram lançar o filme como Django, Kill! para se aproveitar o sucesso do lançamento de Django, dirigido por Sergio Corbucci e protagonizado por Franco Nero, em 1966.
Vale lembrar que houveram trailers bem sacanas, que escondiam imagens dos atores, para ludibriar o público. O conteúdo desse material de divulgação ainda reunia imagens de aberturas dos filmes de Sergio Leone, como pode ser visto aqui.
A produção foi filmada na Itália e na Espanha, com locações na Villa Mussolini em Roma, nos Elios Studios e em Hoyo de Manzanares, Madri. Os estúdios por trás foram GIA Società Cinematografica, Hispamer Films e Rewind Film, distribuído pela Titanus, Trose trading film na Itália e Compañía Española de Propaganda e Industria y Cinematografía S.A. na Espanha.
Tal qual ocorre com outros clássicos do cinema italiano, esse possui muitos nomes. Na Itália se chama Se sei vivo spara, mas também foi chamado de Oro Hondo no lançamento de vídeo, e teve como nome de trabalho Gringo uccidi!.
Já no Brasil pode ser encontrado também como O Pistoleiro das Balas de Ouro e Matar para Viver e Viver para Matar. Nos países de língua inglesa variou entre Django Kill... If You Live, Shoot! e Django Kill!.
Giulio Questi é um diretor consideravelmente experimentado. Fez o drama Le italiane e l'amore em 1961, o documentário Nudi per vivere (1963) e a antologia de comédia Amori pericolosi (1964). Depois desse Django Vem Para Matar, fez filmes de horror, como A Morte Fez um Ovo (68) e O Poder do Exorcismo em 1972.
O roteiro é de Questi com Franco Arcalli, que também é montador, tendo escrito e editado Último Tango em Paris e Além do Bem e do Mal, foi um dos roteiristas em Era Uma Vez na América.
Benedetto Benedetti de Scano Boa e Bronte auxiliou a escrever o texto, que teve argumento de Questi, Arcalli e de Maria Del Carmen Martinez Roman, experiente escritora que vinha de alguns eurospies como Missão Especial: Operação Poker e Goldsnake Anonima Killers e westerns como Joe Dinamite e além de vários filmes italianos do Zorro.
O longa foi produzido por Alessandro Iacovoni, de A Longa Noite das Loucuras, Dilema de Um Bravo e Tubarões de Praia.
Dois vaqueiros, com tochas encontram um homem quase morto, no meio da noite. Resgatam ele, verificam seus bens e dão água em sua boca. Os dois mexem nos pertences dele, pegam o ouro que o sujeito carrega, enquanto o o personagem tenta lembrar dos momentos mais violentos e traumáticos, momentos de delírio, que lembram um cinema mais psicodélico, como o vindouro El Topo.
Ele é o personagem sem nome, interpretado por Milian, ator cubano, que vinha de sucessos como Os Indiferentes, Dia da Desforra, e depois fez obras como Rebelião dos Brutos e Companheiros.
Nos créditos o personagem é nomeado como de The Stranger, mas é chamado de Hermano, pelos dois sujeitos que aparecem na cena de introdução, interpretados por Miguel Serrano e Angel Silva.
Ainda nesse início é mostrado um conflito, em flashback, onde o sujeito enfrenta seu antigo parceiro Oaks, de Piero Lulli. Esse opositor não quer dividir o ouro roubado com ele e com os mexicanos que ajudaram no assalto e o Estranho entra nessa divisão, já que é tratado como mestiço, já que aparentemente é filho de nativos americanos.
A partir daí o longa se torna uma jornada de vingança, com o protagonista tentando pegar Oaks e seus nomes, para justificar os latinos mortos e o roubo que sofreu.
Para isso, seus salvadores forjam balas de ouro, com o que sobrou do tesouro dele, para que ele faça de seus espólios o motivo da morte de seus inimigos.
O que não fica exatamente claro é se esses personagens realmente existem, já que eles aparecem quase sempre à noite, somente para os olhos de Hermano, exceção à uma cena no final, onde eles estão em um cenário próximo dos bandidos, mas ainda assim sem interagir com ninguém, exceto com o herói da jornada.
A forma de filmar Questi é sensacional. O diretor é criativo, coloca sua câmera em lugares que valorizam os cenários naturais europeus, mas também geram sensações claustrofóbicas, mostrando a intimidade dos cowboys e dos capangas dos bandidos.
A variação entre o comum e o grandioso tem belas transições, que fluem bem entre estilos. Isso é algo raro. Se destaca a fotografia de Franco Delli Colli, que aproxima a câmera de um personagem perseguido, que vai recuando dentro de um lugar fechado, uma espécie de restaurante ou lojinha. Esse trecho é tenso, termina de modo agressivo, violento e sufocante.
Há duas características singulares e muito boas apresentadas aqui, uma é o sangue, de um vermelho bem vivo, estilizado, quase como tinta guache, lembrando o que Dario Argento sugeriu para George A. Romero usar em O Despertar dos Mortos.
Também destaca a música de Ivan Vandor, que varia entre o épico e o assustador, pontuando as duas sensações díspares, ambas de maneira bem satisfatória. O compositor trabalhou em Os Dias São Numerados e Diário de Uma Garota Esquizofrênica, também esteve no departamento de música de Profissão: Repórter de Michelangelo Antonioni.
Outro destaque é da cinematografia, assinada pelo já citado Franco Delli Colli, famoso por Mortos que Matam e Ratos: Noites do Terror. Ele registra Oaks de maneira bem próxima, na sequência pouco antes dele ser alvejado, o público é convidado para se inserir na história, através do sofrimento e da agonia do personagem, que é grafado bem de perto, de uma maneira que é impossível não sentir a dor dele.
A sensação de incômodo com as imagens se vê também na cena de operação, onde Pancho (Lauro Gazzolo), um cirurgião improvisado, consegue retirar as balas do bucho de Oaks. Esse trecho é filmado de maneira bem próxima e íntima e quando o Pancho fala que os projéteis eram de ouro, os capangas rasgam o homem, enfiando as mãos no buraco da operação, piorando os ferimentos do sujeito.
A ânsia pelo vil metal é tão grandiosa que eles passam até por cima do amigo, abreviando sua vida, atalhando o sujeito para a morte. Já era dada como certo que ele morreria, mas certamente não era necessário apressar isso com uma invasão de mãos em seu ventre.
Depois que Oaks morre, o magnata Sr. Sorrow se torna o opositor principal do filme. O personagem é feito por Roberto Camardiel, de Por Uns Dólares A Mais, Minha Pistola Nunca Falha e Chamam-me Aleluia. O papel é bem clichê, sendo o velho papel do homem rico, que se aproveita da queda de bandidos para ganhar vulto, espaço e dinheiro.
Como era de se esperar, há uma dedicação considerável a mostrar cenas de romance. A maioria é forçada, diga-se. Mulheres nos bang bang italianos eram quase sempre um acessório desimportante, isentas de personalidade, como meros objetos de cenário.
Apesar disso, aqui há Flory, personagem de Marilù Tolo, que tem uma grande importância. Ela movimenta a trama, até propõe ao anti-herói um trato, para roubarem o ouro de Templer. Vale lembrar que a personagem foi dublada por outra atriz, na versão italiana, sendo feita por Ann Collin.
A violência aumenta perto do fim. Os efeitos de maquiagem de Enzo Baraldi e Adela del Pino são bons, especialmente se considerar que o orçamento desse filme é baixo. Rola até escalpo, queimam o vilão, que derrete diante da câmera.
Esse último possui um efeito um pouco tosco, mas dada as ideias de Guesti, é compreensível que a falta de qualidade é mais uma fatalidade do que uma questão de incompetência.
Django Veio Para Matar é uma exploração bem violenta da temática revanchista e mesmo sendo agressivo, acaba tendo um caráter idílico e reflexivo, unindo poesia e violência de uma forma única. Essa certamente é uma obra que deveria ser mais conhecida do que é, a despeito da sem-vergonhice do nome, já que é bem dirigida e contém bela atuações, além de um subtexto que critica a ganância dos estadunidenses.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários