Sexta-Feira 13 é uma saga de horror bastante simples, que começou no cinema e se alastrou por diversas manifestações da cultura popular. Seu produto original, o filme Sexta-Feira 13 de Sean S. Cunnningham é simples e incrivelmente brilhante em sua exploração, uma vez que é a manifestação da busca por vingança puramente.
A ideia original era a de uma mulher, Pamela Voorhees, que se traumatizou depois de ter perdido seu filho, que morreu afogado. Ela então assassina jovens que fornicam, que dão mais atenção aos seus próprios hormônios do que as crianças dos acampamentos que ficam em volta do lago onde o pequeno Jason morreu.
Crystal Lake então vira palco de algumas chacinas, e depois que Pamela morre, seu filho retorna em Sexta-Feira Parte 2, para vingar sua mãe, embora não fique claro como ele voltou, se é que realmente morreu afogado, já que aparece vivendo escondido na floresta.
A pergunta que sempre ficou em suspenso é: quem seria o pai do menino? Pois bem, é essa resposta que tentaremos dar aqui, falando de quem é Elias Voorhees em suas múltiplas encarnações.
A maioria das versões sobre ele dão conta de que Elias está morto. Fica a dúvida sobre qual foi seu fim, se seria uma causa natural, ou assassinato. O autor do homicídio também varia, há versões em que Pamela o fez, outras foi Jason, e em outras, a morte dele é um ardil apenas, um engodo, uma mentira programada para esconder sua localização.
É sabido que Sexta-Feira 13 é uma das franquias de horror com mais problemas de direitos autorais. Sean Cunningham já esteve no centro das articulações de vários dos filmes, ele foi produtor de algumas continuações, como Jason Vai Para o Inferno: A Última Sexta-Feira, Jason X, Freddy x Jason.
Já o roteirista do primeiro, Victor Miller, tenta há anos fazer sua própria versão e sequência do filme original, na série prequel Crystal Lake, que deve ter Adrienne King no elenco, retornando como Alice, a final girl primordial da saga.
A briga jurídica pela autoria segue até hoje e é em parte a responsável por não haver mais filmes desde Sexta-Feira 13 de Marcus Nispel em 2009, e de certa forma, é também a responsável por não trazer Elias Voorhees para o panteão de personagens canônicos da saga.
Há a esperança claro que na tal série Crystal Lake, que é prometida há muito tempo, haja finalmente um ingresso canônico do personagem que teve uma participação oficial apenas como citação, em um filme até agora, em 2023.
Muito se fala que poderia haver uma participação do pai de Jason no longa Sexta-Feira 13 Parte 3, mas não há uma certeza se no filme de Steve Miner esse pai seria de fato Elias Voorhees.
A primeira vez que de fato se escreveu alguma linha sobre o personagem foi em Sexta-Feira 13, Parte 6: Jason Vive, o divertido filme de Tom McLoughlin, que além de dirigir também escreveu o roteiro.
Ao longo da produção o texto foi reescrito, passou por vários tratamentos. Em um desses, haveria uma alusão explícita a Elias. Nessa versão teria uma sequência filmada ao lado da cova de Jason, no cemitério da Paz Eterna ou Eternal Peace no original.
A cena em que ele apareceria tinha a ver com as lápides de Pamela e de Jason. As duas estariam lado a lado, fato que entraria em contradição com Sexta-Feira 13: O Capítulo Final, que em um momento nonsense, mostra o túmulo da matriarca na beira da estrada. Como enterrar alguém perto de uma rodovia e não em um lugar isolado, a mudança seria mais do que bem-vinda.
Elias Voorhees visitaria o túmulo do filho já depois da ressurreição do assassino em série. Ele estaria ciente do fato de que Jason não está enterrado, mas não há qualquer menção a um conhecimento sobrenatural ou algo que o valha.
Ele só teria ciência de que Jason não estava ali. Pode ser que ele tenha observado a onda de assassinatos e tenha intuído que Jason voltou ou ele pode ter algo a ver com a ressurreição do filho. Não fica claro qual possibilidade é a real.
A cena não foi filmada, o trecho caiu antes de começarem os registros com câmera. No entanto, na novelização oficial escrita por Simon Hawke e publicada pela editora Signet, há uma menção a esse trecho.
Em 2009, Jason Vive foi lançado em mídia física, em uma edição especial. Entre o material extra, há uma arte que usa storyboards e narração, que reconstituem essa participação. Nela, Elias aparece brevemente, mas nunca em close, nunca em detalhes. O tempo inteiro é focada uma participação misteriosa.
É perceptível que ele tem cabelos longos, barba grande e mantém os túmulos de sua esposa e filho preservados, pagando ao coveiro Martin uma quantia boa. Na cena em si ele entrega uma nota de cem dólares, não fala nada, enquanto o funcionário do cemitério se retira, para que ele possa ter um momento de privacidade com seus parentes.
É dito nesse especial que esse trecho é um final alternativo, mas para que ele ocorresse seria preciso que algumas cenas fossem bastante modificadas. O coveiro interpretado por Bob Larkin foi assassinado por Jason, no entanto, aparece aqui. Ou a cena era para ocorrer no meio do filme, ou esse fato teria que ser modificado, se esse fosse de fato o final programado do longa-metragem.
Abaixo a animação:
Aqui fica claro que Elias nutria sentimentos pelos dois parentes, mesmo que os tenha deixado para trás. O motivo desse afastamento é um mistério, mas no universo expandido de Sexta-Feira 13 há algumas possibilidades para o fato dele ter ficado tanto tempo sumido.
O que é comumente levantado, é que Elias foi um pai ausente, que ao saber que Pamela enlouqueceu, passou a assassinar gente e morreu, simplesmente sentiu remorso e cuidou dos preparativos funerários dela.
Quando Jason voltou da floresta na parte dois, ele teria ficado atento, cuidando então do enterro do filho quando o mesmo faleceu pelas mãos de Tommy Jarvis, na parte quatro da franquia, Sexta-Feira 13: O Capítulo Final.
Entre as outras aparições do personagem, se destaca a participação em quadrinhos.
O mais conhecido certamente é o crossover Jason vs. Leatherface, da Topps Comics, lançado entre outubro de 1995 e janeiro de 96, com arte de Jeff Butler e roteiros de Nancy A. Collins e David Imhoff.
No gibi Elias aparece em um flashback, em uma lembrança reprimida de Jason, onde a mãe assassina Elias. Aqui ela é curiosamente chamada de Doris, em um erro da revista.
Elias também participou do quadrinho Friday the 13th: Pamela's Tale, em uma imagem que certamente é a mais conhecida da parte do público. Essa revista trouxe um bocado de informações a mais sobre a intimidade do personagem, que era descrito como um minerador de bauxita, que morava em Cádiz, Ohio na década de 1940.
Ele se casou com Pamela, mas ficou claro se o casamento havia sido arranjado pelos pais de Pamela ou pelos pais dele. O que se sabe é que a esposa era muito jovem na época do matrimônio.
Elias era considerado pelos próximos como alguém pouco inteligente, que parou de estudar no ensino médio. Seu salário na mina não era alto, mal dava para pagar as contas. Suas posses eram poucas, ele tinha um trailer velho, que é onde os três moravam.
É dado também que Elias abusava regularmente de Pamela, verbal e fisicamente. Qualquer desavença, briga ou algo que o valha era retribuído com violência.
Em 1947, depois de um dia cansativo, o sujeito voltou para casa e deu início a uma surra em Pamela, sem perceber que ela estava grávida. Ele se irritava com os murmúrios e gemidos dela, e batia ainda mais.
Depois do espancamento, Elias a estuprou, após isso, ele adormeceu e ela o cortou em pedaços com um machado, supostamente, ouvindo a voz de seu filho não nascido em sua cabeça, afirmando que aquela era a única maneira de proteger a si mesma e a Jason. Depois ela explodiu o trailer e colocou as partes do corpo de Elias em vários sacos de lixo, que jogou em Crystal Lake. Nessa versão não fica claro se Elias tinha ciência de que Jason já havia sido concebido ou não.
O personagem também foi citado em Friday the 13th: The Game. Na continuidade do game, Elias é tratado como padrasto de Jason. O pai biológico do vilão é desconhecido, mas é dado que o sujeito espancou Pamela, depois a estuprou, engravidando-a. Ela se casou com Elias na esperança de que ele fosse capaz de proteger ela e o filho, mas o homem acabou sendo terrivelmente abusivo. Pamela matou Elias na continuidade do jogo, a pedido de Jason.
O personagem de Elias havia sido planejado para ter uma participação na parte 7, que acabou sendo Sexta-Feira 13, Parte 7: A Matança Continua, no entanto os produtores abandonaram a ideia ainda na hora de confeccionar Jason Vive.
Em Jason Vai Para o Inferno: A Última Sexta-Feira 13, ele é brevemente mencionado, como o pai de Jason nos registos oficiais de 1946 (ano em que Jason nasceu), mas não menciona nada a respeito de Diana Kimble, a meia-irmã de Jason ser filha dele.
Houve a ideia de escalar o dublê que fez Jason em três longas Kane Hodder, para interpretar Elias em duas obras, no já citado Jason Vai Para o Inferno e em Freddy vs. Jason, esse último como prêmio de consolação, já que o assassino foi feito por Ken Kirzinger no crossover.
A ideia inicial em Sexta-Feira 13, parte 6 era colocar Elias como um homem culpado, mas que apesar disso, não aparecia na localidade desde que o acampamento Crystal Lake foi inaugurado. Ele tinha algum contato, provavelmente por correspondência, com o coveiro Martin, fato que ajudaria a explanar a fala sobre Jason ter sido cremado como uma mentira, dita no filme Sexta-Feira 13, Parte 5: Um Novo Começo. Provavelmente esse foi um boato largamente dito, que foi ganhando fama.
A Paramount pensou em fazer um novo reboot da franquia, e até abriu chamado de elenco para o papel de Elias Voorhees. O papel era descrito como um homem de “aparência poderosa”, com idade entre 35 e 50 anos. No release era dito que Elias “viu a maldade em Jason e os efeitos que isso teve em Pamela”.
Eventualmente, ele os deixa, mas permanece próximo da área do acampamento Crystal Lake. Nessa versão, ele seria o primeiro assassino do filme, matando 5 vítimas antes de ser morto por Pamela.
Cogitava-se que ele retornaria dos mortos, tal qual seu filho, exatamente para impedir Jason de matar mais pessoas. Devido ao fracassado de bilheteria do filme O Chamado 3, em 2017, a Paramount cancelou esse projeto.
O personagem teve uma aparição em tela bastante grande, em um fan film. Foi em Friday the 13th: Vengeance, longa-metragem lançado em 2019, com direção de Jeremy W. Brown e do co-direção de Dustin Montierth.
Nessa versão ele é interpretado por C.J. Graham, que também interpretou Jason em Jason Vive. Sua introdução parte da ideia excluída do roteiro original, com ele aparecendo, conversando com o coveiro de Forest Green County - que era a forma como a cidade era chamada no Sexta-Feira 13 VI - lamentando a morte de Jason.
Nessa história é mostrado que ele tinha habilidades místicas, ele pegou o afogado de seu filho e leu palavras místicas, oriundas de um livro mágico, que se assemelha ao Necronomicon, ao Naturom Demonto, da saga Evil Dead/Uma Noite Alucinante.
Nesse fan film há claramente um aceno ao filme de McLoughin, que tem uma cameo, fazendo o coveiro, que é creditado como gravekeep Walt, mas a ideia de mostrar Jason como undead ou deadite é de Jason Vai Para o Inferno.
Vengeance não é sensacional, teve uma sequência, Vengeance 2: Bloodlines, que tem uma resolução de imagem melhor, mas jamais se comparou a outros fan films, como Never Hike Alone, por exemplo. Praticamente só vale a pena ver graças a aparição de Graham como Elias, que está em ambos, mas que é ofuscado por outras participações de personagens clássicos da franquia e subcelebridades que compõem o elenco.
Elias Voorhees é um personagem que sempre ficou nas sombras, quase aparecendo várias vezes, mas nunca chegando a ribalta dos personagens clássicos da franquia. Tudo que se escreveu sobre ele tinha potencial para ele ser bem desenvolvido, e possivelmente é esse aprofundamento que o afastou dos filmes. É uma pena que ele não tenha tido destaque ou uma simples aparição. Aos fãs resta aguardar que ele finalmente apareça em material audiovisual oficial.
Confira também o nosso especial da franquia, onde reunimos artigos, críticas e análises a respeito de Sexta-Feira 13.