O Dia Do Fim Do Mundo : O pós-apocalíptico original de Roger Corman

O Dia Do Fim Do Mundo : O pós-apocalíptico original de Roger Corman

O Dia do Fim do Mundo é um filme de Roger Corman, lançado em 1955 que se baseia na paranoia da Guerra Fria e no eminente (e óbvio, claro) "fim do mundo", dessa vez via guerra nuclear.

A obra foi protagonizado por Richard Denning e Lori Nelson e tem seu apelo dramático em um mundo pelo qual passou uma guerra atômica. Nesse cenário, sete pessoas se encontram em um vale protegido, na casa de um sobrevivente e sua filha.

De certa forma, a obra previu boa parte do conjunto de situações comuns a filmes de pós-apocalipse.

Com direção de Corman, o filme tem história original e roteiro de Lou Rusoff, foi produzido pelo próprio diretor e tem como produtor executivo de Alex GordonSamuel Z. Arkoff foi produtor executivo não creditado, tal qual James H. Nicholson.

Nos créditos iniciais também se destaca a música composta e conduzida por Ronald Stein (de Matar é o Meu Desejo) e The S.F. Blues tocada por Pete Candoli.

Super 35, a tecnologia de filmagem

A obra foi filmada com Superscope, que é uma tecnologia conhecida também como Super 35 ou Superscope 235.

Esse é um tipo de película cinematográfica que usa exatamente o mesmo material que o "padrão" de 35 mm, mas coloca um quadro de imagem maior nesse material usando o espaço normalmente reservado para a trilha sonora analógica óptica.

O desuso da tecnologia e o resgate

Aqui se destaca o uso por ser algo novo, mas a tecnologia foi caindo em desuso pouco tempo depois e passou a se tornar moda de novo pelos anos 1980 e 90, já que era mais fácil filmar cenas em ambientes fechados com ela, especialmente em trechos de filmagens dentro de veículos.

James Cameron usava bastante o Super 35 para conseguir fazer com que as versões em home video de seus filmes se adequassem melhor à tela cheia dos lançamentos da época em VHS e Laserdisc.

A ideia inicial

A ideia incial do veio a partir do produtor executivo, James H. Nicholson, da ARC (American Releasing Corporation) que mais tarde, seria a AIP : American International Pictures.

O que comumente se diz produtor pensou no título primeiro e só depois contratou Lou Rusoff para escrever um roteiro.

Estreia

Lançado em dezembro de 1955, O Dia do Fim do Mundo chegou até as aslaas de cinema junto ao sci-fi de terror The Phantom from 10,000 Leagues.

A união de filmes de orçamento baixo em sessões duplas foi um artifício bastante popular em exibições. Os cinemas grindhouse, populares por passar filmes splatter, exploitation e até pornográficos nos anos 1970-80, eram parte dessa iniciativa.

A ideia de exibir os dois filmes juntos foi um sucesso, em parte graças a um marketing idealizado por H. Nicholson.

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Houve uma exibição em cinemas limitados, em dezembro de 1955, nos Estados Unidos. Em 4 de janeiro de 1956 passou em premiere, em Los Angeles.

Estreou no México em novembro de 1956, no Peru chegou em fevereiro de 1957.

O título original da obra é Day the World Ended. Em países de língua espanhola, como Argentina, México e Peru é chamado El fin del mundo.

Na França se chama Instinct de survie, já na Grécia é To teras tis mavris koilados, enquanto na Itália é Il mostro del pianeta perduto. Na Turquia é Atom Canavarı, na Espanha é El día del fin del mundo e em Portugal é O Dia do Fim do Mundo.

A obra foi filmada em nove dias, em setembro de 1955. As gravações foram na California, no Bronson Caves ou Bronson Canyon, em Griffith Park - 4730 Crystal Springs Drive, Los Angeles. As cenas no lago foram filmadas na Sportsmen's Lodge - 12825 Ventura Blvd., no Studio City em LA também.

Esse foi o segundo filme do Golden State para a American Releasing Corp. Foram companhias produtoras também a Selma Enterprises, além das distribuídoras American Releasing Corporation nos Estados Unidos, a Anglo-Amalgamated Film Distributors no Reino Unido e a Avenida Álvaro Obregón no México.

Refilmagens

Como é bem comum entre os filmes dessa época que Corman dirigiu, esse também tem suas refilmagens. Em 1969 estreou o telefime In the Year 2889 e O Dia em que o Mundo Acabou de 2001, também feito para tv.

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Quem fez:

Esse foi o quarto filme dirigido por Roger Corman, o seu primeiro no gênero ficção científica/terror.

Antes ele fez Cinco Pistolas do Oeste, A Besta do Milhão de Olhos (dirigiu algumas cenas, sem créditos para tal) Pistoleiro Solitário depois fez Ameaça do Espaço, A Ilha do Pavor, Um Balde de Sangue, Destino de um Gângster, A Mulher Vespa e A Loja dos Horrores.

Rusoff escreveu Pistoleiro Solitário, A Mulher de Oklahoma, Ameaça Espacial, Praia dos Amores, Hell Raiders e De Volta à Praia, produziu A Maldição do Demônio, Pânico no Ano Zero e Operação Bikini.

Denning fez O Monstro da Lagoa Negra, O Escorpião Negro e Tarde Demais Para Esquecer. Na época ele recebeu um cachê de US$ 7.500, mais uma porcentagem da bilheteria.

Lori Nelson atuou em A Revanche do Monstro, Mocidade IndomávelGaúcho Negro e Zamora, um Amor de Gorila.

Narrativa

O longa-metragem começa com uma música alta, subindo junto aos créditos. Depois entram imagens em preto e branco, com uma voz grave e bonita, do narrador Chet Huntley.

O conteúdo do texto é catastrofista, fala de destruição total, até usa uma abreviatura, DT, para não repetir tanto o termo.

Também se pinta a história de um futuro desolador, versando sobre um mundo que mudou, que não é mais "como conhecemos", que foi modificado graças a névoa atômica da morte.

Esse início é estranhamente reflexivo, fala do homem, que conseguiu destruir a si mesmo. Também mostra um sobrevivente, andando na fumaça, um sujeito que anda tropeçando por um vale arborizado, mas cheio de fumaça, que obviamente, parece uma nuvem tóxica.

A primeira pessoa que aparece é Rick (Denning) pouco depois aparece um homem cabeludo, caído no chão, com uma ferida bastante feia no rosto. Mais tarde é dado o nome dele, é Radek, o irmão do primeiro personagem, interpretado por Paul Dubov.

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A aparência da pele "modificada" parece fruto de uma doença, mas não fica exatamente claro, o que é patente é a dor que sento. O sujeito até pede para morrer, implora que Rick o mate, mas o protagonista não faz isso.

Logo chega um casal de carro, são eles Tony, personagem de Mike Connors (creditado como Touch Connors) e Ruby (Adele Jergens).Dentro de uma casa há a jovem Louise Maddison (Lori Nelson) e o velho Jim (Paul Birch) que mexe no rádio.

Eles são filha e pai, respectivamente.

Referência:

Corman faz o seu filme parecer com uma futura obra, no caso, A Noite dos Mortos Vivos, de George A. Romero, basicamente também pelo fato de lembrar demais o drama do romance Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, lançado em 1954.

Em comum com o clássico do cinema de mortos vivos há o espírito e atmosfera de mal inescapável, também o grupo de desconhecidos, se encontrando, diante do fim do mundo conhecido 13 anos antes, aqui verificando o estado do solo com detectores geiger.

Ou seja, esse acaba sendo mais um filme do subgênero conhecido como Five Strangers, que obviamente, que são obras que reúnem gente desconhecida, normalmente de no mínimo cinco pessoas, que estão em uma situação limite, em perigo até de morte. Exemplos desse tipo de filme são Cubo, Jogos Mortais II, [REC], O Nevoeiro,Would You Rather e Predadores.

Até obras fora do terror tem esse formato, como 12 Homens e Uma Sentença, Jogos Vorazes, Os Oito Odiados e claro, Um Barco e Nove Destinos, de Alfred Hitchcock.

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O homem da casa se arma, não quer permitir que entrem no seu recinto, mas Louise acha que seria absurdo não deixar as pessoas entrarem. Tony força a porta e também está armado.

O casal entra tranquilamente e o pai até permite que o sujeito fique com a arma. Logo chega o "herói" carregando o corpo de seu parente.

É nesse ponto é que revela então que aquele era o seu irmão e que morreu. É ele quem desarma Tony, fazendo assim com que a vontade do dono da casa prevaleça, mesmo sem ter trocado nenhuma palavra com Jim até então.

Os únicos personagens tridimensionais

É curioso que Tony e Ruby sejam o diferencial entre os responsáveis. Eles destoam, parecem ser as únicas pessoas humanas, com senso de urgência e medos reais.

Quase todos os personagens parecem não se assustar com esse mundo caótico, com exceção de Radek e de Pete, que futuramente apareceria. Já o casal parece estar desesperado. Eles tem defeitos, cedem a ira, a raiva, a luxúria, vão além do raso e do trivial, são chatos, vivem brigando, agem como pessoas de verdade.

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Após essas apresentações iniciais, aparece o velho barbado Pete (Raymond Hatton) um homem do campo, sobrevivente, que vem junto a uma montaria, um burrinho, chamado Diablo.

A queda das comunicações

Segundo Louise, São Francisco não transmite mais nenhum sinal de rádio, telégrafo ou qualquer outra forma de imprensa ou comunicação.

Na verdade, nenhum lugar transmite mais, nem mesmo a Frisco de Tony. Até se cita isso, já que o personagem faz questão de perguntar. Tal qual alguém "comum", o sujeito pergunta sobre o que lhe é familiar. É portanto comum, um homem de verdade no meio de uma distopia irrealista.

O capitão acha que alguns deles podem estar doentes, mas confia que nada vai atrapalhá-los. Parece manter sua fé viva, basicamente para ter algo em que acreditar, uma alternativa de futuro.

Apesar da credulidade, o velho é pragmático, quase como um profeta do fim do mundo, já que diz que aquela pode ser a refundação da civilização.

Rick acha que Radek deve sobreviver, deve se manter vivo e não destruído, só não sabe dizer o porque. O irmão de Rick quer ir para fora, mas Jim não se sente seguro.

Depois desse momento, é mostrada Ruby dançando jazz na sala. Nesse cenário, um adereço se destaca, que é um porta retrato, cuja foto é do noivo de Louise, cuja foto é de Roger Corman.

No lado externo, Radek percebe alguém de longe, algo que parece um monstro, um ser bípede, peludo, que tenta pegar um coelho. Esse ser assusta o humano contaminado.

Diálogos artificiais

Há muita conversa expositiva, não só sobre a praga e doença, mas também sobre o terreno.

Rick diz que é um geólogo, mas esse parece ser somente um pretexto, é pouco para explicar todas as teorias que ele sugere a Jim.

Já o pai de Louise cita os testes de Matsuo, mas não desenvolve sobre o que eles teriam a ver com a situação. No remake dos anos 1960, isso é mais bem explicado, já que o equivalente ao personagem de Jimmy participou de testes de Bomba H em Matsuo.

Nessa versão ele pode ter visto os testes, tal qual na outra versão, mas resolveu sonegar a informação ou ele pode "apenas" saber do ocorrido, já que claramente tem conhecimento de causa, já que tem em sua casa até um medido geiger.

A conclusão de Rick é que, eventualmente, todos se tornarão como Radek e como todas as pessoas que andam pelo lado externo, comendo carne crua, sob um conjunto de leis complemente novo.

Curiosamente, ele não evita andar pelo lado externo da casa, mal impede Louise, que é o seu interesse romântico óbvio, também não critica as pessoas que o fazem.

A maioria dos personagens sai da casa de forma cautelosa, parecem ter medo de uma criatura e não da atmosfera. Não temem tanto a contaminação, fora Jimmy, obviamente, que utiliza o medidor de radiação o tempo inteiro.

As "mulheres" de Roger Corman

Os sobreviventes decidem usar a fonte de água ao lado da casa, enquanto Ruby e Louise vão se banhar, notam uma pegada enorme. Curiosamente, Jergens e Nelson estão com roupa de baixo, o que deveria ser pouca roupa, embora estejam mais cobertas que o comum ao vestuário feminino atual.

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Com a passagem do tempo, Tony segue obstinado, achando que conseguirá pegar a arma do capitão. Quando tenta, Rick dá uma surra nele, sendo observado por todos.

As mulheres se mostram disponíveis, se insinuam da forma que é possível para 1955. Há sempre de lembrar que é Corman dirigindo, o mesmo produtor e realizador que colocaria muita nudez e menção a sexo nos filmes.

Vidas de mentira

Há uma aura de estranha de artificialidade povoando o cotidiano dos personagens.

A impressão é que nesse universo, as emoções não fossem capazes de chegar aos humanos. Isso é bem demonstrado no momento em que Jim sugere a sua filha que com Rick. Sua resposta é negativa, mas é zerada de sentimento.

As atuações são duras, zeradas de dramaticidade, até quando aparece perigo ou quando são feitas propostas amorosas. Isso parece ocorrer por algum motivo além da falta de qualidade do elenco barato, parece ter a ver com a situação do mundo.

Os únicos que parecem pessoas reais - como dito antes - são Ruby e Tony, justamente por brigarem. O homem ainda comete abusos, parece gostar disso, enquanto a mulher é carente, obstinada, mas também submissa, já que parece viciada na aprovação do sujeito.

Talvez sejam eles os últimos seres realmente humanizados desse novo mundo.

A partir daqui, falaremos sobre os últimos momentos do filme, ou seja, falaremos abertamente sobre os segredos da trama, com spoilers. O aviso está dado.

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Eventualmente, Jim e Rick encontram Radek, com o visual diferente, peludo, com voz rouca, esfomeado, reclamando que não deixam ele pegar comida.

Ruby vive uma relação abusiva, sempre volta para Tony, ele reclama da bebida que ela toma, enquanto a moça diz que eles são iguais, que foram feitos da mesma fôrma e que portanto, devem ficar juntos.

Nesse momento há uma estranha menção a um bebê. A criança nasceu? Eles abortaram? Ela está gravida no presente do filme? São questões misteriosas e mal trabalhadas, que caso fosse desenvolvidas, certamente dariam mais peso ao texto.

Radek volta para o lado de dentro da residência e aparentemente não houve um grande trabalho de continuísmo, já que os pelos que apareceram em seus braços e pernas simplesmente sumiu.

O aceitar do fim

No confinamento, diante do fim da vida, o grupo tenta conviver bem, em dos últimos momentos de calmaria. Ruby bebe e dança, tal qual fazia no teatro de revista, Louise se aproxima de forma amorosa de Rick, mas a paz não demora a rompida, quando o burrinho Diablo some.

Aparentemente, foi Radek quem o roubou. Jim e Rick procuram ele, mas só acham ossos humanos

O filme trabalha bem o suspense até certo ponto, mostra apenas a sombra do monstro no lado externo. A paranoia aumenta, depois que Ruby vê feridas em seu braço, acha que ficará como Radek.

Aparentemente isso a faz ter coragem para ir para fora, interromper uma investida do seu namorado em Louise. Para defender a garota e para valer a sua própria honra, Ruby aponta uma faca para o vilão, mas acaba ela mesma cortada, já que no último momento, hesita em machucar Tony.

Depois disso encontra o seu fim, sendo cortada e jogada pelo penhasco.

A Criatura

O monstro passa perto do riacho, enquanto Louise e Rick estão lá. Nesse trecho, lembra o monstro da Lagoa Negra, o Pé Grande ou Sasquatch.

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A roupa do monstro é tosquíssima. Tinha um bom motivo para ele ficar na penumbra, escondido. É um ser escuro com três olhos, um chifre no meio, Não é nada efetiva, nem mesmo quando encurrala Louise, que cai no riacho.

Que era o Monstro

Paul Blaisdell criou o visual e interpretou o monstro. A roua era feita de espuma de borracha, com garras de uma loja de mágica e unhas dos pés esculpidas em pinho branco.

Devido à altura de Blaisdell, ele tinha visibilidade limitada enquanto estava com o traje. Isso causou problemas quando ele teve que carregar Lori Nelson, e quase fez Blaisdell se afogar quando o traje começou a encher de água durante as filmagens.

A água borbulha estranhamente, o monstro nota, leva tiros de Rick, mas não cai, no entanto, quando chove, ele se enfraquece.

Eventualmente o ser cai e quando isso acontece, sai fumaça dele. Como ele chamou Louise pelo nome, faz achar que pode ser seu noivo, talvez Pete, com menos chances para esse segundo.

A conclusão é que a criatura foi feita para um mundo envenenado. Como a chuva purificou o solo, ela sucumbiu.

Com Jim e Tony mortos (caem graças a emboscadas) Tony e Rick seguem pelo mundo, se aventurando no lado externo, como Adão e Eva. Antes de acabar, o letreiro troca o tradicional The End, por um The Beggining, que evoca uma grande esperança, que obviamente é bastante piegas.

O Dia do Fim do Mundo é uma obra que desafia lógica, estabelece novas convenções e premedita como seriam os filmes de pós apocalipse, embora não seja bem acabado. Ainda assim, prevê a maior parte dos clichês do gênero e mostra os personagens como desumanizados e insensíveis.

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