Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród AntalContinuações normalmente são versões esticadas, esgarçadas e cansativas de um sucesso. Nesse sentido, Predadores de Nimród Antal não se difere demais de outras sequências, mas há algo aqui que é bastante diferenciado: a estética de filme de terror e sobrevivência.

A premissa é simples, um grupo de pessoas resistentes cai de paraquedas em um ambiente de floresta, bem semelhante ao visto no Predador de John McTiernan, com a diferença que aqui há uma introdução repleta de exposições e obviedades, motivada pelo discurso de Royce, personagem destemido e inteligente de Adrien Brody. Mesmo que as explicações pareçam exageradas, o que se percebe aqui é uma justificativa para ocorrer, então a questão é suavizada.

Também pesa a favor desse início o desempenho de Brody em matéria de atuação. Ele é um artista experimentado e talentoso, anos antes havia ganho o Oscar por O Pianista de Roman Polanski e vinha fazendo filmes mais voltados para ação, em uma escalada que se iniciou em King Kong onde fazia um papel heroico, mas nem tanto, passou por Hollywoodland e Giallo: Reféns do Medo onde ele fazia detetives, e resultou nesta obra, onde ele emula a condição de brucutu, mesmo com a magreza e o chassi de grilo que lhe é característico.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Predadores entra em um conceito cinematográfico relativamente novo, conhecido popularmente como Five Strangers, que consiste basicamente em um grupo de pessoas desconhecidas que estão presos em um lugar claustrofóbico, ou estão em uma situação limite, de vida ou morte, com uma ameaça externa.

Exemplos disso não faltam, obras do século XXI como Jogos Mortais e O Cubo, produções que não são de terror como Os Oito Odiados e Doze Homens e Uma Sentença, podreiras trashs como Would You Rather e O Olho que Tudo Vê, e até clássicos como O Vingador Invisível de 1945 e A Casa dos Maus Espíritos de 1959

O número de pessoas pode variar, claro, para mais ou para menos de cinco e o cenário idem, a característica que é imutável é que aos poucos os personagens vão morrendo, além de contar com roteiros geralmente envoltos com crítica social, ou em meio a um pretenso estudo do comportamento humano em situação desafiante.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Como era de esperar a violência e exploração do gore não demora a ganhar a tela. Logo no início, após a queda do grupo de desconhecidos, é mostrado um homem morto, em estado de decomposição de pelo menos duas semanas, segundo Edwin, personagem de Topher Grace.

O sujeito, antes de perecer, montou uma arapuca para capturar seja lá quem fosse o agressor que o trouxe para esse novo cenário, mas depois do insucesso, o que se percebe são suas vísceras expostas, que não deixavam nada a desejar para as produções de exploitation italianas dos anos 1970 e 80.

Na selva aberta é fácil observar outras tantas carcaças, entre homens e animais, com uma variedade considerável de crânios, costelas e demais ossos, fora carne apodrecida, que abrangiam diferentes e diversas anatomias de criaturas não humanas.

As armadilhas feitas pelos "observadores" lembram os planos "infalíveis" de Jigsaw, personagem de Tobin Bell na saga Jogos Mortais. As criaturas e os produtores da Troublemaker souberam escolher bem suas referências recentes, sem perder a essência dos outros filmes - há de lembrar que houveram dois longas e dois crossovers com Alien antes dessa produção.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

O elenco é repleto de grandes nomes, pessoas que estariam em alta em pouco tempo, como Walton Goggins e Mahershala Ali (que na época, assinava Mahershalalhashbaz Ali), gente que já fez sucesso como o já citado Grace, Danny Trejo, Laurence Fishburne, além da brasileira Alice Braga e o ator de tv Louis Ozawa.

Reunir esse mesmo grupo de talentos hoje sairia bastante caro, bem diferente do que ocorreu em 2010. Mesmo com um grupo de atores gabaritado, houve um cuidado em usar a icônica imagem do extraterrestre assassino como ponto central do terror.

Aqui se observam pelo menos três tipos de "monstros", o Predador clássico feito por Derek Mears, que fez Jason Vorhees no remake de Sexta-Feira 13 um ano antes, o predador Tracker, feito pelo especialista em efeitos especiais Carey Jones, que atuou como Black Krrsantan em O Livro de Boba Fett, além do Predador Berserk, interpretado por Brian Steele, o Sammael de Hellboy que também fez participações em A Dama na Água, O Exterminador do Futuro: A Salvação, Dylan Dog e as Criaturas da Noite entre outros.

Evidente que o intuito para isso é mercadológico, afinal, apresentar variedade de personagens massa veio significa mais brinquedos para vender.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Foto dos bonecos da Neca: Predadores Berserker Falconer Hound Tracker

Fora as figuras literais dos alienígenas, também se trabalhou bastante na confecção de armas e criaturas. O maior destaque é o quadrúpede "canino", que mais parece um javali, ameaçador e amedrontador em todos os momentos em que aparece em tela, tanto que causa em um personagem um quase suicídio, meramente por ter se aproximado.

Há também um bom uso de arsenal, com arpões, armas brancas com lanças e facões, até drones especiais são utilizados em ações semelhantes às dos falcões utilizados por caçadores reais em processos de caça. Sobrevoam as presas, mapeiam e tornam a vida dos personagens humanos um inferno.

Os cenários também são bem explorados. A floresta escura onde estão não se assemelha a lugar nenhum na Terra, seu clima é hostil, insuportavelmente quente. Há todo um trabalho para incomodar as pessoas que estão ali e também o espectador, resultando um belo palco para a predação.

As criaturas "estrangeiras" também se diferenciam, há toda uma construção de insetos diferenciados, plantas venenosas, além de vermes que consomem os cadáveres, remetendo automaticamente a podridão que diferencia a temática e abordagem desse com outras fitas de ação.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Os defeitos do filme são os aspectos textuais. Seu roteiro peca ao acreditar demais em os interpretes convencerão o público de que esses são personagens únicos.

Não há tempo de explorar cada um deles, se confia na caracterização deles e em suas peculiaridades, singularidades e diferentes origens. Restam só arquétipos: o especialista, o guerreiro africano, a latina sensual, o asiático mafioso, o russo militarista e por aí vai.

O que realmente vale a pena é o design das criaturas. A computação gráfica, ao menos nos detalhes dos monstros é impecável. O mesmo não se pode dizer dos conflitos, explosões e tiros, mas nos alienígenas é de cair o queixo.

Predadores e o subestimado senso de horror de Nimród Antal

Os momentos finais parecem as brincadeiras que os meninos faziam na infância com bonecos, colocando seus SOS Comandos ou Gijoe: Comandos em Ação contra os Predadores.

A computação gráfica vai piorando ao chegar próximo do fim, momentos de fuga que igualam os sobreviventes a baratas fugindo por uma fresta tem sua boa simbologia de seres indefesos em fuga quebrada por uma pirotecnia artificial, com um fogo amarelado, parecido com glacê de bolo que toma a tela.

Se tivesse um final um pouco menos decepcionante, certamente esse Predadores seria melhor lembrado, não seria tão achincalhado quanto a sequência O Predador e Shane Black, ou os confrontos com Alien. Ainda assim a exploração do sangue e da matança é bem feita, e fica na memória do fã de cinema B.

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