O Duende Assassino é um filme de horror e comédia lançado em 1995 direto para o mercado de vídeo. Dirigido por Brian Trenchard-Smith, em teoria é o terceiro filme da franquia O Duende/Leprechaun, tanto que a maioria das pessoas o chama de Leprechaun 3. Mesmo não estreando nos cinemas, acabou resultando em um sucesso considerável de vendas na época do VHS.
Apesar de receber em seu título o numeral três no final, é bem evidente que ele não leva a sério a cronologia anterior, já que os eventos de O Duende e O Retorno do Duende são bem diferentes entre si, tal qual ocorre com esse. Não foi à toa escolheram chamar esse por um nome brasileiro que remete a uma obra única e não a continuação.
A história se passa em Las Vegas, onde um estudante chamado Scott encontra uma moeda de ouro mágica, que o faz ganhar uma fortuna em um jogo de azar.
A moeda pertence ao terrível Lubdan/Duende/Leprechaun, vivido outra vez por Warwick Davis, que volta de uma dimensão mágica, onde estava (novamente) aprisionado, para aterrorizar o rapaz e as pessoas próximas, misturando elementos cômicos com temáticas de horror corporal.
A obra teve um orçamento baixo, que economizou em tudo, inclusive na condição sindical. É considerado um filmado “non-union”, ou seja, não teve respaldo da parte dos sindicados profissionais. Além disso, boa parte de suas cenas foram rodadas sem autorização, fato que descreveremos mais à frente.
Mesmo com todas as restrições, a obra fez bastante dinheiro, tanto que foi o filme independente e/ou lançado direto para vídeo mais exitoso em 1995, vendendo mais de 55.000 unidades.
Foi rodado graças aos estúdios Trimark Pictures e Blue Rider Productions, distribuído pela Vidmark Entertainment.
O roteiro foi escrito por David DuBos, baseado nos personagens de Mark Jones. O enredo originalmente pensado teria o título Trial of the Leprechaun, e foi programado para ser filmado logo após o então intitulado Bride of Leprechaun, que seria uma versão do que acabou se tornando Leprechaun 2. Teria metade do orçamento do segundo filme, além de uma participação menor de Warwick Davis, já que o personagem seria feito por outros atores, enquanto o Leprechaun habitaria os corpos de suas vítimas.
Nessa versão também seriam resgatados alguns personagens do outro filme, como os protagonistas Cody e Bridget, além de Ian, que morreu no script final de O Retorno do Duende, no lugar o velho Morty. Lubdan habitaria principalmente o corpo de Adam Biesk, o interprete de Ian, já que o rapaz teria dado uma moeda falsa ao vilão na hora do desfecho trágico. A trapaça dele cobraria um alto preço. Os demais desdobramentos incluiriam a perda dos poderes do personagem-título.
Essa alternativa foi descartada já na produção do último filme, quando se desistiu de gravar Leprachaun 2 e Leprechaun 3 simultaneamente e a ideia de um jovem tomado pela entidade duende foi reaproveitada e readaptada aqui.
Na maior parte do mundo o longa se chama Leprechaun 3. Em países de língua espanhola é El duende asesino, na Croácia é Vilenjak 3. Em grego é conhecido como Kalos irthate stin Kolasi, em alemão Leprechaun 3 - Tödliches Spiel in Las Vegas. Na Polônia é Karzeł 3 e em Portugal se chama simplesmente O Duende III.
Warwick Davis disse que este é o seu filme favorito da série, justamente por conta do humor. Ele afirmou em entrevistas que esse é o filme que melhor explora o potencial cômico, elogiou Brian Trenchard-Smith, disse que ele é um diretor incrível, especialmente por ter inserido tanto humor, não à toa ele reprisaria a função em O Duende 4: No Espaço.
Davis se dedicou tanto ao projeto que tentou aparecer o máximo que podia. Ele até faz uma breve aparição sem maquiagem, em cenas dentro de cassinos, como figurante. O longa foi rodado entre Las Vegas, Nevada e Los Angeles Califórnia.
Devido ao orçamento baixo, nenhum cenário foi construído. Todas as tomadas internas, incluindo os sets de Lucky Shamrock Casino, da loja de penhores e do hospital foram filmadas no Ambassador Hotel, um hotel abandonado em Los Angeles. Dois outros filmes foram rodados lá, simultaneamente com esse, A Era dos Gângsteres e Os Imortais, ambos de 1995, mas diferente desse, os outros tinham autorização para gravar.
Toda a produção simplesmente foi feita sem qualquer autorização ou permissão.
Quando estava ativo, o hotel foi bastante frequentado, recebeu celebridades e presidentes, foi demolido em 2005 e substituído por um campus escolar e um parque.
A filmagem ocorreu às pressas, num período de 14 dias, quase sempre com duração de 12 horas diárias. Eles rodavam em média sete páginas e meia do roteiro por dia, com locações em Las Vegas, Nevada e em Los Angeles, Califórnia, quase sempre a noite.
Para se ter uma noção, o clímax foi filmado em uma noite apenas, incluindo cenas do duende cortando um homem ao meio com uma serra elétrica e a reação de pânico de um grupo de 60 pessoas, dos quais 56 eram figurantes.
A produção também teve permissão negada para gravar no cassino Golden Nugget em Las Vegas. Não teve autorização para filmar nem dentro e nem fora do prédio, mas rodaram na área externa do cassino assim mesmo, tanto que até espectadores quiseram participar do filme, ao perceber que era parte da franquia.
O diretor autorizou, mas pediu que não importunassem Warwick, não poderiam sequer olhar para ele.
Trenchard-Smith fez vários filmes para televisão, coo Sahara: Em Busca da Sobrevivência. É lembrado também pelos filmes de cinema A Noite dos Demônios 2 e Megiddo.
David DuBos escreveu Future Shock, Malícia em Videotaipe e Escola de Espiões. Geoffray trabalhou em Malone: Puxando o Gatilho e Noite dos Demônios, já Josten é lembrado pelos recentes Cópias: De Volta a Vida e Hypnotic Ameaça Invisível.
Henry Seggerman trabalhou em Evolver: O Game da Morte e Progeny: O Intruso. Já o produtor executivo Mark Amin é lembrado por Pinóquio: O Perverso, Frida e Poder Além da Vida.
De acordo com artigo da revista Fangoria nº 131 de abril de 1994, foi considerada a ideia de que esse seria rodado em 3D, mas logo foi abandonada, pois encareceria ainda mais o orçamento.
Se cogitou também que esse seria o capítulo derradeiro da franquia, fechando assim uma trilogia, mas o sucesso de vendas fez a Trimark decidir por seguir a franquia em vídeo mesmo, rapidamente deu luz verde à O Duende: No Espaço, que sairia em 1996.
A contenção de gastos foi tamanha que até aspectos que antes eram elogiados, se tornaram dignos de risos. A trilha incidental de Dennis Michael Tenney é um bom exemplo disso, já que parece genérica, derivativa, mais semelhante a seriados de TV do que uma cinessérie de horror famosa.
Não foi sequer por falta de experiência, já que o compositor trabalhou em franquias famosas, como em Anjos Rebeldes, também esteve em Witchtrap: A Noite das Bruxarias e Drive: Tensão Máxima. Sua música aqui se resume em colocar um tecladinho agudo nas cenas, tornando a apreciação em algo irritante, piorando à medida que a ação corre.
A sequência inicial também é simplória, com os créditos aparecendo em verde claro, numa tela preta. Filmagens aéreas sobrevoam a cidade de Las Vegas, mostra cassinos enormes, belos hotéis, mas na hora de mostrar ação, vai até uma loja de penhores, que obviamente não é em Nevada e sim no hotel Ambassador.
Entra pela porta da frente um homem idoso, machucado, perneta, com mão de gancho, tapa olho.
O sujeito interpretado Richard Reicheg é chamado nos créditos de Lucky e vai desesperado, com uma grande estátua de leprechaun, tenciona conseguir qualquer quantia com isso, mas não recebe muito.
Essa estátua contém um medalhão grande, destacado, com uma pedra vermelha no meio e correntes em volta, que fazem ele parecer um colar ou cordão.
O vendedor esquisito avisa o lojista indiano Gupta de Marcelo Tubert para não separar o cordão com a joia do corpo da escultura. Obviamente ele é ignorado pelo vendedor, cuja caracterização se resume aos adjetivos de sovina materialista.
É assim que o duende ressurge, já violento, agressivo e brincalhão, tanto que ataca o sujeito. O serzinho sai pela porta, com medo do amuleto, não sem antes amputar o dedo do homem com quem disputou a vida.
Logo de cara o filme é bem mais violento que o visto anteriormente, afinal, não haveria tanta atenção da classificação indicativa sendo esse um produto direto para fitas. A trama não demora a ocorrer, ficando ainda mais evidente a total infidelidade a cronologia.
Os personagens são apresentados de maneira atabalhoada. Primeiro mostra a temperamental e bela Tammy Larsen de Lee Armstrong. Ela está em seu carro, que morre na estrada, a caminho de um cassino. Ela é socorrida pelo tímido e inseguro Scott McCoy, rapaz inseguro e naturalmente engraçado, que é interpretado por John Gatins.
O menino enxerga ali a possibilidade de se aproximar da moça, já que ela tem pressa, quer ir logo para o seu trabalho, como auxiliar de show de mágica. Ele está desocupado e dá uma carona para ela.
Armstrong tinha pouca experiência com atuação. Havia feito nessa mesma época A Ilha Mágica, que também foi feito para vídeo. Acabou sumindo de filmes para cinema ou mesmo vídeo, curiosamente cumprindo uma piada que foi dita a sua personagem, já que depois que é demitida, seu chefe afirma que "nunca mais conseguirá um emprego no show business".
Gatins tinha experiência em filmes de terror. Fez Witchboard 2: Entrada Para o Inferno, Pumpkinhead: O Retorno e Deuses e Monstros. Ele ainda está na ativa, no entanto tem trabalhado mais nos bastidores, escreveu o roteiro de O Voo, foi produtor de Need for Speed: O Filme, redigiu o argumento de Kong: A Ilha da Caveira, além de ter sido produtor executivo e roteirista do live action de Power Rangers em 2017.
O roteiro de DuBos se leva pouco a sério e isso se vê na caracterização de Scott. O rapaz iria para Chicago, decide mudar o rumo de sua vida de maneira automática, só por conta de ter visto uma mulher linda precisando de ajuda.
Já Gupta arruma um cd-rom sobre folclore estrangeiro, descobrindo sobre mitologia irlandesa de uma maneira bem conveniente.
Apesar de ser apresentada como um chamariz onanista - visto que anda o tempo inteiro com um corpete cujo decote é muito generoso - Tammy também é ilusionista, trabalha como ajudante em cassinos, mas sonha em ter seu próprio número e show.
A personagem até tenta angariar simpatia, mas parece ser apenas uma menina fútil, que se julga superior a todos e que se aproveita da bondade alheia (no caso de Scott) e das falhas de caráter se todos os outros homens, que a enxergam apenas como um pedaço de carne.
O formato do filme irrita, já que a edição de Daniel Duncan é frenética, no sentido de colocar variações demais entre núcleos. Um breve momento com os mocinhos é seguido de participações do monstrinho usando poderes telecinéticos para montar seus ataques, depois mostra Gupta, que eventualmente consegue travar uma boa luta contra o personagem de Davis, logo depois ou retorno a um deles ou mostra o grupo de vilões humanos.
Quase não há personagens dignos de nota. Entre o grupo dos humanos "malvados", se destacam Loretta, personagem da bela Caroline Williams, a eterna Stretch de O Massacre da Serra Elétrica 2. Ela faz uma funcionária de cassino, que se acha feia e que consegue eventualmente tomar a moeda mágica para si.
Outro personagem que tenta ser importante é o mago Fazio de John DeMita cujo interprete praticava ilusionismo como hobby quando era criança. Quando ele fez o teste, achou que não conseguiria o papel, por conta de ter ficado nervoso e confuso, pensou que ele tinha estragado sua chance, mas foi aceito mesmo assim. Somente na época de gravações ele releu o roteiro e percebeu que ele deveria ser um péssimo mágico.
Também há Mitch (Michael Callan) que é o administrador do Cassino, um sujeito interesseiro, tarato, que protagoniza cenas agressivas e constrangedoras com a mocinha.
Durante a apresentação desse trio há um show de mágica. Nesse momento aparece em tela um sujeito bocejando, na plateia, interpretado pelo executivo da Trimark o senhor Dave Tripet. Curiosamente ele representa a sensação de ver essa obra.
O filme não tem qualquer receio em parecer sem vergonha. Todos os personagens são caricaturas. Se resumem a arquétipos, não são tridimensionais, não há como se importar com eles, a não ser com Gupta, que tem algum carisma, além do próprio duende.
No cassino há aparições também de Warwick Davis sem caracterização, também aparecem Merle Kennedy, Cristi Harris, Zoe Trilling, Cristi Harris e Rod McCary, que estrelaram A Noite dos Demônios 2 de Trenchard-Smith.
A edição segue na mesma toada, tornando a experiência enfadonha. Ao menos a maquiagem especial de Gabe Bartalos e da Atlantic West Effects é boa, segue no mesmo estilo de O Retorno do Duende.
Como a trama é em Las Vegas, não fica tão estranho ele andar caracterizado pelas ruas, já que ninguém o interrompe ou o indaga.
O trabalho de efeitos de Frank Ceglia (efeitos mecânicos) e Kim Bailey (efeitos especiais) funciona à contento. Poderia haver um descuido com esse aspecto, já que o investimento foi baixo, mas isso não ocorre.
O processo de maquiagem demorava aproximadamente três horas para aplicar em Warwick Davis, para remover demorava 35 minutos. Já a versão duende de Scott exigia quatro estágios de maquiagem. A última etapa durava de uma hora e meia a duas horas.
Os aspectos novos da mitologia não são exatamente claros. Aparentemente a moeda dá direito a um pedido por vez e por pessoa que a possui. Quando outra pessoa pede, o efeito do desejo anterior passa, ao menos em tese, já que Scott não perde o que ganhou quando alguém rouba dele a moeda.
Outro aspecto é que Scott se contamina depois de ser mordido pelo leprechaun. Não fica claro se é por contato com o sangue ou se é a mordida mesmo, fato é que o personagem se transforma aos poucos, protagoniza cenas de horror corporal bem-feitas até.
Scott passa também por fantasias e devaneios assustadores, por sonhos que aceleram e preveem a mudança pela qual ele passa. Esse possivelmente é o aspecto mais criativo e esperto da produção, uma pena que esses trechos dividem espaço com uma atuação canhestra de Gatins.
O filme desemboca em um grande show off dos poderes de Lubdan, especialmente quando ele decide punir quem usufruiu dos poderes mágicos dos seus xélins.
O que ele faz com Loretta, de deformar ela antes de matá-la lembra o ideal de O Mestre dos Desejos, dois anos antes de Robert Kurtzman trazer o seu vilão para o cinema. Talvez essa participação do Duende tenha gerado uma inspiração no diretor e mago dos efeitos especiais, que fez seu filme sobre uma entidade estrangeira em um estilo parecido com esse.
Há uma exploração de nudez bem agressiva, acompanhada de intervenções bem bizarras dos poderes do leprechaun, que incluem até a presença de um robô mecatrônico horrendo e engraçado.
A realidade é que o filme parece ter uma ou duas boas ideias, que são esticadas para ter uma duração em torno de noventa minutos, com uma ou outra referência a clássicos do trash, como A Tv dos Mortos-Vivos, de 1987 - especialmente com a saída de uma pessoa de uma televisão - e até momentos que lembram O Chamado, que seria lançado depois.
Ao menos a transformação de Scott é gráfica e assustadora, como ele sangrando um líquido verde. A composição é bem pensada, mas fica aquém.
É tudo muito constrangedor, Tammy anda o tempo inteiro como uma pin up, até em cenas pelo hospital, enquanto a equipe de cirurgia deseja roubar o dinheiro do menino que está sendo tratado.
As cenas do necrotério foram filmadas na cozinha do Ambassador Hotel, que foi o local onde o senador Robert F. Kennedy em 1968, fato que deixou Brian Trenchard-Smith desconfortável. Ele gravou tendo que se convencer de que precisava ser célere, não tendo tempo para frescuras.
A motivação do Duende é ruim demais, parece ser só a de brincar com as pessoas. Scott passa a fazer o mesmo que ele, a medida que vai se transformando, mas diferente de Warwick Davis que tem um charme errático, Gatins é só patético, um pastiche pobre do anão. Ainda se arruma nova fraqueza para o vilão.
O Duende Assassino é dos três o que tem pior desfecho, possui morte menos marcantes, ficando aquém de qualquer expectativa positiva e é fruto de uma fórmula já cansada, que piora seu estado por não possuir bons personagens ou situações minimamente interessantes.
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