O Retorno do Duende é um filme que de horror que se vale de uma data festiva do dia de São Patrício para estabelecer o seu motivo, misturando o medo e a comicidade em sua fórmula básica. Conhecido também como Leprechaun 2, traz Warwick Davis novamente como o personagem-título e é uma sequência de O Duende, embora isso seja discutível, como falaremos mais à frente.
Lançado em 1994, a obra fará em breve 30 anos de existência, já que estreou em abril e não nesse 17 de março, no dia do santo a quem dedica sua comemoração. Ainda assim esse o episódio mais ligado a data de toda a franquia, já que é o único entre os seus (atuais) oito capítulos que realmente se passa no feriado irlandês, tanto que tem inúmeras referências a celebração.
Dirigido por Rodman Flender, foi escrito pela dupla Turi Meyer e Al Septien. Foi produzido por Donald P. Borchers e tem Mark Amin como seu produtor executivo.
O antigo diretor e roteirista Mark Jones tem uma pequena participação aqui, como coprodutor, além de ter o crédito de based on characters created by, ou seja, o longa é baseado nos personagens que ele criou.
A obra é uma produção estadunidense, dos estúdios Planet Productions, distribuído por Trimark Pictures. Depois que o primeiro conseguiu angariar um número de fãs, se decidiu investir ainda mais em um estilo galhofeiro e voltado para a comédia.
Flender já tinha alguma experiência com filmes de horror, tanto que em 1991 entregou O Bebê Maldito e no ano seguinte fez In the Heart of Passion. Aqui optou por mostrar uma história mais engraçada, inclusive no escracho.
O leprechaunzinho tem participação em duas linhas do tempo, uma no passado, onde está caçando uma noiva e nos anos noventa, no presente da época, onde ele vai atrás da reencarnação de sua "prometida".
Vale lembrar que leprechauns não são exatamente duendes. Eles são figuras do folclore irlandês, pequeninas, possuem poderes mágicos e são lembrados justamente por guardarem tesouros escondidos. São normalmente associados a figuras já existentes em outras mitologias, como fadas ou duendes machos pequenos, por isso a tradução brasileira escolheu chamar a série de filmes assim.
São também incrivelmente ágeis, além de serem retratados como sovinas e materialistas, já que costumam guardar seus potes de ouro como se fossem as coisas mais importantes de suas vidas.
Na segunda linha do tempo citada é que ocorre a maior parte da trama, é a partir dela que se estabelece a premissa de uma disputa com o jovem namorado da moça.
A partir daí ocorrem perseguições que envolvem a polícia, dezenas de crimes e claro, muita bebedeira, se valendo do cenário de Hollywood para estabelecer o drama. Curiosamente, esse foi o último filme da franquia lançado para cinema, pelo menos por um tempo, contendo em si a ironia da base narrativa ser na capital mundial do cinema comercial.
O filme se chama originalmente Leprechaun 2, mas ganhou um título alternativo de One Wedding and Lots of Funerals que traduzido seria algo como "Um casamento e muitos funerais".
Nas versões em espanhol é chamado de Leprechaun 2: El duende maldito, com pequenas variações como El Ogro, como era chamado na Argentina no lançamento de Tv a cabo. Na Croácia é Vilenjak 2, na Alemanha Leprechaun II - Der Killerkobold kehrt zurück, é To xotiko 2 em grego e Karzeł 2 em polonês. Em Portugal se chama O Duende Assassino 2.
O filme foi rodado em Los Angeles, na Califórnia, com locações em Western Canyon Rd, Marina del Rey e San Fernando Valley.
A história de bastidor mais curiosa certamente tem a ver com o roteiro aprovado e com as ideias descartadas.
No início da pré-produção se pensou em fazer uma sequência que iniciaria imediatamente após o primeiro filme, com o duende/leprechaun buscado vingança contra Tory Redding, personagem de Jennifer Aniston.
Ela recusou a chance de retornar, afinal já estava fazendo sucesso com a sitcom Friends. A distribuídora Trimark Pictures optou por seguir com uma das tramas, que mostravam o Leprechaun em busca de uma esposa, por considerar uma premissa com potencial lucrativa junto ao público infanto-juvenil.
Mark Jones esperava fazer uma sequência e se programou para ser o produtor desse. Não o fez graças ao fato de estar escrevendo Distorcido no Inferno enquanto filmavam esse. Sua esperança em criar franquias de terror com seus próprios personagens era grande, mas ao bifurcar seus esforços acabou não vingando na outra, já que não teve grande sucesso comercial, tampouco nesse também.
Já com Meyer e Al Septien escrevendo houveram dois tratamentos de texto, o primeiro escrito em 1993, tinha o Leprechaun vivendo em um tronco de carvalho, coberto por um canteiro de trevos de 4 folhas para mantê-lo na base. Nessa versão ele seria acordado por adolescentes bêbados que comemoravam o Dia de São Patrício, se libertando, matando eles, para percorrer a cidade, causando terror.
A história se concentraria em um garoto de 14 anos chamado Jackie O'Day, sua mãe Margaret e o vilão financiador das festividades Shaugnessy, um sujeito beberrão, que abusa de Margaret e do filho. Mãe e filho roubariam as moedas de ouro do Duende, achando que ele era apenas uma pessoa fantasiada na festa.
O vilão se transformaria em várias pessoas e cairia graças a sua ganância por ouro, já que o pote de moedas teria fogos de artifício que explodiria, as moedas choveriam sobre os heróis após a morte do personagem-título, permitindo que eles saíssem da condição pobre que viviam.
O mote escolhido para esse começa no passado, na época da Idade Média na Irlanda, onde o personagem creditado como Lubdan está fazendo 1000 anos de idade.
Ele conversa com um homem acorrentado, o seu escravo William O'Day, de James Lancaster. Vale lembrar que o personagem tinha dito que tinha em torno de 600 anos no filme anterior, ou seja, inexiste apego a cronologia nessa saga.
A mitologia é totalmente descartada, inclusive as fraquezas. Antes ele tinha um fraco por limpar sapatos e caia ao ter contado com um trevo de quatro folhas. Aqui o ferro fere o personagem místico e ele adquiriu poderes de telecinese e teletransporte.
Originalmente, foi planejado filmar esse com Leprechaun 3, trazendo de volta alguns dos personagens desse (como Bridget, Cody, Ian e Mandy), mas o estúdio descartou a ideia, resultando na maior parte das filmagens de do terceiro sendo descartado e reescrito antes das refilmagens desse segundo, incluindo alguns ganchos que seriam deixados para o terceiro capítulo da saga.
Os membros da produção tiveram boas experiências com cinema de gênero. Rodman Flender dirigiu episódios de Contos da Cripta, depois desse, também trabalhou no seriado juvenil Dawson's Creek de Kevin Williamson, também trabalhou em Pânico: A Série de Tv. Fez poucos filmes, entre eles, o bom A Mão Assassina, que também se passa em uma data festiva, o dia das bruxas.
Turi Meyer fez sua estreia escrevendo esse, recentemente escreveu Salem, Stargirl e Griselda. Dirigiu e escreveu Sleepstalker: O Homem de Areia e Candyman: Dia dos Mortos, além de episódios de Buffy: A Caça-Vampiros e Angel: O Caça-Vampiros. Al Septién se tornou parceiro de Meyer, escreveu todas essas obras junto do parceiro, inclusive Pânico na Floresta 2.
Donald P. Borchers escreveu o argumento de Vamp: O Filme e Ruas do Medo, dirigiu Segredos do Além de 1989 e a versão de 2009 de Colheita Maldita. Fez o roteiro de A Classe do Demônio, O Príncipe Guerreiro, Colheita Maldita de 84, Highlander 2: A Ressurreição. Já Amin trabalhou em Demônio do Espaço, Expresso Macabro, O Duende, O Duende Assassino, O Dentista e Às Vezes Eles Voltam 2.
O leprechaun feito por Warwick Davis já aparece, praticando feitiços desde o princípio da narrativa, manipulando o seu servo, que é maior e claramente bem mais forte do que ele. No feriado característico, reza para arrumar uma noiva.
Essa vontade súbita de contrair matrimônio jamais é justificada, ela existe porque existe. Aparentemente, se a moça que ele deseja- que vem a ser a filha de O'Day - espirrar três vezes e sem interrupções, seria automaticamente dedicada a ele.
A fala do gênio de Killarney é prosaica, toda rimada e ele é irônico o suficiente para falar do seu desejo com seu possível sogro dessa forma. Quando o homem interrompe a menina nos espirros, desejando saúde, o duende amaldiçoa a família, prometendo que pegará uma de suas descendentes.
Os créditos iniciais mostram as mulheres da família, em belos desenhos, todas com o mesmo rosto estampado, em versões realistas de Shevonne Durkin. Aparentemente todas as descendentes da família tem o mesmíssimo semblante.
A música de Jonathan Elias é pontual, evocando de maneira moderna canções irlandesas tradicionais. Por mais que não seja um trabalho sensacional, é inegável que existe um cuidado, fato que não seria repetido nas sequências.
Mil anos depois, no presente, está Bridget Callum, mais uma vez feita por Durkin, uma linda menina, de comportamento e postura virginal, que está sempre andando com seu namorado o trambiqueiro, o personagem Cody de Charlie Heath.
O jovem aparece próximo de um carro de turismo, pratica golpes em pessoas que viajam para Hollywood junto ao veterano Morty, que está longe da ação nesse momento.
Nesse trecho, Cody interagem com um personagem interpretado pelo ator Clint Howard, até manda ele tomar um sorvete, para ganhar tempo enquanto localiza o motorista do carro que maneja. De certa forma, acaba referenciando uma fita de horror de 1995, chamada O Sorveteiro, que teria em Howard o seu astro principal.
O papel de Bridget teria sido oferecido a Heather Langenkamp, que recusou para trabalhar em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger. Denise Richards também foi cogitada, mas não acabou selecionada. Curiosamente ela e Shevonne Durkin estrelaram Tammy e o T-Rex no mesmo ano em que Leprechaun 2 foi lançado.
Além dos é apresentado também o velho Mortimer Ingalls, o Morty (Sandy Baron) que é não só o mentor de golpes, mas também o condutor do carro chamado de Darkside Tours.
Como ele está totalmente embriagado, sem condições sequer de andar, Cody tem de assumir o volante, mesmo que o idoso seja contra, afinal, a regra maior dos trambiques mirava não devolver o dinheiro de um golpe.
A viagem é ruim, mesmo considerando que é um evento falso. Não há quase nenhum momento digno de nota em matéria de entretenimento, exceto por alguns sustos involuntários.
Em determinado ponto um senhor idoso, também bêbado, esbarra em uma árvore, com uma dedicatória a Harry Houdini.
O monstrinho aparentemente é liberado por conta de um whisky irlandês, que bate na madeira, mas o motivo dele ter sido preso jamais se explica. No caminho, ele percebe que o senhor tem um dente de ouro e arranca o mesmo, graças a sua compulsão e caráter sovina, claro.
O filme brinca com expectativas, tanto que deixa as pessoas acreditarem que o duende está próximo de Cody e Bridget. Na verdade, era Andretti, o cachorro rottweiler do amigo/colega de Cody, chamado Ian, interpretado por Adam Biesk.
O personagem possuiria mais destaque nos outros rascunhos do roteiro, boa parte de suas piadas foram dadas a Morty no texto final. Ele também teve participação "sentimental" reduzida, já que originalmente faria parte de um triangulo amoroso junto ao casal Cody e Bridget.
Nessa versão ele é reduzido basicamente a um bully tarado pela mocinha. A cópia alemã em VHS de Destino Fatal inclui um trailer de O Retorno do Duende, que mostras algumas cenas que acabaram de fora do corte final, como uma uma cena em que Bridget se insinua para Ian, uma cena na pista de corrida onde o Leprechaun usa sua magia para deixar Bridget vencer uma disputa que perdia, outra com Ian e Cody bebendo no bar em vez de Morty etc.
Aqui o personagem é tratado não só como abusador, mas também como assediador, tanto que tenta forçar um beijo na menina. Sua morte acaba sendo tosca e engraçada, já que ele cai em uma armadilha onde o duende projeta a imagem da menina, se despindo para seduzir ele, a fim de que ele se corte em um cortador de grama.
Claramente é utilizada uma dublê de corpo, já que a imagem do rosto da atriz está em um quadro, enquanto o top less está em outro, mas a cena é tão ridícula e cara de pau que se torna engraçada.
Dessa vez o Leprechaun não tem receio em aparecer na claridade, fato que põe a prova o trabalho de maquiagem de Gabriel Bartalos, que na época assinava Gabe Z. Bartalos.
Ele vinha de Darkman: Vingança Sem Rosto, Basket Case 2: A Vingança, Que Pedaço de Mulher e Às Vezes Eles Voltam. Está ativo até hoje, tanto que fez o cavalo zumbi de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas.
A maquiagem conta agora com um sombreamento mais escuro nas rugas e nos olhos, para fazê-lo parecer mais ameaçador, com mais espinhas e verrugas.
O profissional costume designer Meta Jardine mudou consideravelmente a aparência de Davis, colocando cores mais escuras, substituindo vermelho por preto, escurecendo dentes também. O trabalho ficou tão bom que seria reaproveitado nas sequências.
O que soa gratuito são os subterfúgios narrativos e as inserções de mitologia, como o caldeirão cheio de ouro do vilão, que aparece do nada.
Em 1999 foi publicado um livro chamado Leprechaun Companion, que desnudava a mitologia e folclore das criaturas conhecidas como duendes ou leprechauns.
Haviam semelhanças com as regras do filme, incluindo uma história sobre um duende sinistro de 1.000 anos desesperado por uma noiva, que deve espirrar três vezes sem que ninguém diga "Deus te abençoe ou saúde".
O livro não cita suas fontes, mas nada indica que o autor tenha obtido informações assistindo aos filmes da franquia, aparentemente, os escritores pesquisaram sobre o folclore irlandês, incorporando ao filme e mais tarde o livro usou uma fonte semelhante.
A trama segue mostrando embates entre Cody e o duende, com o primeiro lançando ferro no monstrinho, queimando a pele do mesmo. Ainda assim o vilão consegue seu tento, captura a Bridget e se teletransporta com ela, transformando a mesma no arquétipo de garota refém.
O Retorno do Duende tem sua própria cota de piadas politicamente incorretas, especialmente ao mostrar o pub onde Morty e Cody bebiam sendo invadidos por vários anões irlandeses. Nesse trecho, os homens pequenos cantam One of Us!, uma homenagem a uma cena semelhante de Monstros (Freaks) de Tod Browning.
Nesse trecho há participação inclusive de Tony Cox, que interpretou um Ewok junto a Warwick Davis em O Retorno de Jedi e que foi o dublê de Davis em O Duende.
Logo o personagem-título aparece ali, de maneira assustadora, provavelmente atrás de uma de suas moedas perdidas. Mesmo em posse de sua amada, ele precisa ter o controle sobre tudo. Ele entra em uma disputa de virar copos com Morty, fica obviamente embriagado e perde a disputa para o velho, ou seja, a habilidade de bebum do personagem finalmente funcionou para algo.
No meio do porre, discute com um funcionário do bar (e futura vítima), dizendo que não é um elfo e nem um anão, deixando claro que ele possui um certo orgulho em ser quem é.
As mortes não são muitas, mas o número pequeno é compensado pelo fato de serem sangrentas e criativas.
Uma coisa que se destaca é o cenário do covil do vilão, lugar esse de visual simples, mas de design criativo parece uma caverna de papel machê.
O duende se mostra vulnerável, pouco antes de resgatar a moeda de ouro que tanto procurava. Quando seu chapéu cai, ele se sente desnudado basicamente por conta de ter a calvície exposta. Quem é careca não gosta de ser mostrado como tal, é um mal universal mesmo.
Há um final feliz para os mocinhos, mesmo com tantas perdas. Claramente a ideia é não refletir nem um pouco nos motivos trágicos vividos por Cody e Bridget. Eles já se sentem bem só por estarem vivos e dada a qualidade do restante da franquia, esse é dos desfechos melhor construídos.
O Retorno do Duende investe ainda mais em humor, acerta mais que o primeiro certamente, especialmente por não ter uma história tão truncada quanto o de Mark Jones, além de ser menos pretensioso. É divertido, galhofeiro e bem dirigido, resultando em um bom trabalho tanto do diretor quanto dos roteiristas, claro, levando em conta de que esse é uma peça do cinema trash, além de ser uma oportunidade para Davis poder brilhar de maneira mais solta e desinibida.
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