A Orfã 2 - A Origem: a pequena prequel do clássico recente

A Orfã 2 - A Origem: a pequena prequel do clássico recenteA Orfã 2: A Origem é um filme que se aproveitou do hype do clássico instantâneo de A Orfã sendo em si tanto uma continuação para o filme anterior e também um prequela do mesmo, já que se situa cronologicamente antes do longa de Jaume Collet-Serra.

A obra, dirigida por William Brent Bell se passa em 2007, na Estônia, e segue os passos de Leena, uma adulta de mais de trinta anos que tem um problema glandular desde os seus dez anos, ou seja, a personagem de Isabelle Fuhrman não cresce há mais de duas décadas.

A ideia de sequência se dá especialmente pelo fato de que não há cerimônia em mostrar a vontade assassina e o perigo que a personagem representa.

Sequências de filmes de matança (ou slasher movies) não se demoram em criar atmosfera ou expectativa sobre o personagem central ser ou não um assassino, e isso ocorre aqui também.

Leena vive em um hospital psiquiátrico, parece ter uma certa autoridade sobre os outros pacientes, causa tumulto, alvoroço, manipula os insanos ao seu bel prazer, tem uma habilidade que beira o sobrenatural.

A Orfã 2 - A Origem: a pequena prequel do clássico recente

Ela é como um titereira em um teatro de marionetes, mas isso não a impede de agir sozinha, já que ela sabe assassinar com as próprias mãos. Ela coleciona um cartel de homicídios considerável, dentro e fora do lugar onde estava internada, o Instituto Saarne.

Já no sentido prequel, há de citar questões obvias da cronologia, como os créditos iniciais, que carregam os tons de tinta roxa neon utilizada anteriormente. No entanto essa é spo uma das tantas perguntas propostas no primeiro e respondidas nesta sequência sem qualquer apelo para que tivesse uma resposta.

A grande polêmica do filme é a utilização de Fuhrman como protagonista. A atriz marcou época no lançamento de A Orfã.

Atuou de forma exemplar, mesmo sendo uma criança. Conseguiu fazer a a psicótica Esther nas duas variações, no disfarce de menina doce e encantadora, e também como uma pessoa violenta, aí já sem máscaras.

Quase quinze anos se passaram e ela retorna, agora já adulta, e Brent Bell tentou a todo custo mascarar o claro envelhecimento dela. Se utiliza de técnicas validas, como perspectiva forçada, saltos plataformas nos personagens adultos e dublês infantis quando a personagem está de costas.

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O problema é que para a maioria das cenas, foi usado uma espécie de filtro, que faz uma névoa permear todo o filme, matando assim um aspecto que na obra de Collet-Serra era absolutamente lindo: a fotografia.

Aqui parece que há fumaça ou gelo seco o tempo inteiro. Isso não só desconcentra espectador, como também desmerece o trabalho visual, e em uma arte como o cinema, enfeiar o que se vê é um pecado mortal.

Seria tão mais fácil arrumar uma desculpa, de que a personagem tem a pele deteriorada graças ao envelhecimento e ainda não sabe se maquiar tão perfeitamente quanto em 2008, quando seria adotada pela família Coleman. Mas não, todos os atores têm que fingir que não se importam com o fato dela claramente parecer uma adulta.

Ainda assim o saldo poderia ser positivo, caso o longa fosse assumidamente engraçado. O roteiro de David Coggeshall (com argumento de David Leslie Johnson-McGoldrick) poderia ser menos preocupado em tentar bolar tramas mirabolantes, fosse assim a questão visual pesaria menos, certamente, pois abraçando a piada, o filme se tornaria palatável.

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O texto tenta se apresentar como inteligente, consegue ser ainda mais pretensioso que o primeiro, que é bem superestimado do ponto de vista do roteiro. Toda a trama de Esther é só esdrúxula, tentar forçar algo além disso soa bobo.

Considerando que Brent Bell fez obras como a duologia Boneco do Mal, onde nada é levado a sério, ver ele tentando disfarçar a falta de conteúdo e discussões do seu filme, e tentando fazer o público levar a sério toda a celeuma, é um exagero demasiado.

Certamente seria mais divertido acompanhar Leena/Esther só saindo do sanatório, matando gente, pregando peças em famílias inocentes, mas aqui, ela tem que se fingir de uma criança americana desaparecida que surge no leste europeu.

É muita conveniência, é pedir demais da suspensão de descrença, até mesmo do fã de filme B, fora outras questões menores, como o fato de que todos na Estônia falam inglês.

Mas a maior forçada de barra é a apresentação da família, os Albright.

Patricia (ou Tricia) e Allen, interpretado por Julia Stiles e Rossif Sutherland são os pais da desaparecida Esther, além deles, há também o filho primogênito Gunnar (Mathew Finlan). São pessoas aparentemente comuns, de boas intenções, mas escondem um segredo familiar traumático e bizarro, compartilhado por dois dos três parentes, apenas, e que fica evidente que existe desde antes do anúncio oficial.

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A ideia de mostrar a personagem entrando em uma família imperfeita é uma boa sacada, uma novidade bem-vinda, mas a boa construção da premissa não garante o resto da trama. A motivação dos personagens é repleta de furos, com uma mãe protetora que age para guardar um dos seus, ao passo que não pensar no bem-estar e na vida dos outros parentes.

Nesse caso é bom economizar em spoilers, mas certamente se Tricia realmente fez o que diz ter feito, não há lógica em ela viajar para outro país e aceitar "adotar" uma pessoa que claramente não é sua filha só para manter as aparências.

Depois que ela chega a conclusão de quem Esther realmente é, o drama fica ainda menos congruente. Deixar uma mulher de intenções homicidas morar com ela, ainda mais sabendo das suas vontades carnais que ela nutre pelo pai dessa família, não faz sentido.

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Os pontos altos do filme residem na bagaceira, como na troca de farpas entre Leena e Tricia, que inclui até um milk shake sabor rato morto, ou nas tentativas de envenenamento mútuas.

Também há de se destacar que Esther faz de um roedor o seu único amigo, resultando em uma melancolia que não condiz com uma mulher de 31 anos que é fria o suficiente para se fingir de menina. Inexperiente ou não, essa atitude não cabe em seu arquétipo.

Nos momentos finais há eventos completamente insanos, que incluem uma tentativa de flerte, um incêndio e quedas, tudo isso em cima do telhado da casa. São apenas mais alguns absurdos somados ao montante de bizarrices apresentadas.

Fuhrman segue bem, ela atua de maneira convincente, quase faz o espectador esquecer a clara bizarrice visual que lhe foi imposta. O roteiro tenta ajudar nessa construção, colocando ela falhando em demonstrar as memórias de Esther, mas ainda assim, há problemas na concepção. Falta a doçura de sua persona anterior, ela não parece dúbia, resta apenas uma face maléfica e malvada

Outra questão é a falta de conexões entre a parte um e a origem. Não há personagem freira de CCH Pounder, não há a família Sullivan, que foram seus hospedes anteriores, no entanto, se resgata um momento descartado do roteiro original de Alex Mace, ao menos teoricamente.

Em um dos primeiros tratamentos do roteiro de A Orfã, se dizia que Esther foi abusada pelo pai. Isso causou nela uma paixão incestuosa, que resultou em uma tragédia familiar depois, que a marcaria e faria com que ela sempre buscasse a figura sexual nos padrastos em seus novos lares.

Isso é meio que resgatado, já que ocorre com os Albright o mesmo que ocorreu com os Coleman, e se houver um terceiro filme, com os Sullivan, dificilmente esse clichê será driblado.

A Orfã 2 - A Origem: a pequena prequel do clássico recente

A maior das surpresas é a tortura submetida a Esther. Se no primeiro ela era uma pessoa que parecia injustiçada, já que sofria bullying e tinha um pai adotivo meio canalha, aqui as pessoas são deliberadamente escrotas, se valem do fato de serem americanos nativos para humilhar a garota, ameaçam e planejam sua morte, sequer fazem segredo sobre isso.

Os atentados aos Albright são mais do que justificados, e em algum ponto o filme parece ser autoconsciente de quanto sua trama é uma galhofa, tanto que insere uma cena engraçada, de Fuhrman dirigindo em uma tentativa de fuga, com óculos escuros, fumando, ao som de Maniac de Michael Sembello.

A mensagem final de A Orfã 2: A Origem é de que aberração não é Leena, e sim a sua família postiça, já que é formada por pessoas hipócritas e aproveitadoras, que se valem de um discurso supra moralista para esconder os esqueletos no armário que carregam. A crítica social sobre a falha tentativa de manter as aparências é bem passada, mas ainda resulta em um desperdício de história trash, certamente a obra de Brent-Bell seria mais memorável caso fosse mais solta e menos séria.

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