Christmas Bloody Christmas é mais um filme de horror com elementos de ficção científica que se passa no feriado do natal. Dirigido por Joe Begos, é mais um lançamento do streaming de terror Shudder, que é um serviço ainda não lançado no Brasil.
Sua história é simples, Tori quer festejar e ficar bêbada no dia 24 de Dezembro, mas um Papai Noel robô em uma loja próxima de seu trabalho ganha vida e transforma sua noite em um pesadelo.
Em algum ponto do projeto, esse seria um remake de Natal Sangrento (do original Silent Night Deadly Nighty, 1984), mas a premissa foi se distanciando, ao ponto de se misturar a outras referências como a Exterminador do Futuro de James Cameron.
O filme ganhou vulto próprio, e é uma boa mistura desses outros dois produtos do cinema de terror, brincando com um Papai Noel malvado e homicida, além de apelar para o famoso Complexo de Frankenstein, que é o temor humano de que as máquinas se revoltem contra o seu poderio.
Para começo de conversa, é bom valorizar o esforço da produção em conseguir um número tão grande de salas de cinema como foi com esse lançamento. Apesar de ser um produto pensado para o streaming, houve uma boa adesão do público, e uma distribuição considerável em cinemas especializados no território norte-americano.
A despeito disso, não há qualquer previsão de estreia no Brasil nos cinemas.
Com relativo sucesso de bilheteria, a produção surpreendeu público, crítica e realizadores, especialmente por ser uma obra com orçamento limitado, como boa parte dos slashers atuais.
Tori Tooms é vivida por Riley Dandy, atriz conhecida por várias produções da Netflix, inclusive dois longas natalinos: Um Brinde de Natal - Luzes da Cidade (2021) e Natal em Hollywood (2022). Ou seja, a figura dela já é conhecida por exibições festivas.
O roteiro se encarrega de mostrar ela bebendo, conversando com seus amigos jovens e cheios de energia, que se acham muito interessantes já que todos eles têm um gosto alternativo sobre cultura. Se julgam superiores pelos motivos mais banais possíveis.
São pessoas com comportamento típico da geração Z, que não sabem seu lugar no mundo, e acreditam que a própria mediocridade e bebedice são sinais de que elas são diferenciadas, sendo que são iguais a tantas outras pessoas.
No entanto, elas claramente são millenials, uma vez que a narrativa data do século XX, ao menos no que diz alguns indícios nas extremidades iniciais e finais do longa.
O início é indiscutivelmente enfadonho, com conversas completamente desinteressantes entre Tori e seus conhecidos, enquanto eles matam o trabalho, já que estão em escala na época dos feriados de fim de ano.
Possivelmente ouvir essas conversas terríveis ajudaram a despertar o instinto de máquina assassina do robô, fazendo com que ele começasse seu movimento rumo a chacina daquela pequena comunidade onde ele se encontra.
Melhor (muito melhor mesmo) que a premissa óbvia, são os comerciais natalinos do início, que variam entre propagandas de bebidas maltadas para toda família (com crianças na peça publicitária), e spots de TV sobre de filmes de horror natalinos, todos falsos obviamente, com premissas que poderão ou não ser abordadas nos próximos anos tal qual ocorreu com Machete a partir do projeto Grindhouse.
Entre esses comerciais, se destaca a propaganda da empresa robótica Sowell, que adapta o esforço do governo em robótica no RoboSanta+, que está em processo de teste, no Midland Mall e Ge Bonkers.
O mais curioso é que nessa peça específica, se assume que o governo gastou trilhões de dólares em esforço de guerra, mesmo sem conflito nenhum iminente, e essa verba seria usada para entretenimento familiar, com toda a carga de cinismo de um produto que parodia festas, como esse longa.
No início há uma série de referências aos filmes de matança, primeiramente pelo fato dos primeiros assassinados serem de personagens que estavam transando no ato de despertar do Papai Noel mecânico interpretado por Abraham Benrubi.
Segundo pelo olhar em primeira pessoa da máquina, que tenciona imitar os primeiros passos de Michael Myers em Halloween: Noite do Terror, além do bicho assassino de Tubarão de Steven Spielberg.
A ideia é boa, e por ser fundamentada em boas referências, tende a ser bem digerida por parte do público, mas é uma escolha meramente cosmética. Não faz tanta diferença, por mais que faça sentido, uma vez que o homicida é uma máquina.
Begos é acostumado com produções B e ligadas ao horror, como Quase Humano (2013), The Mind's Eye (2015) e Bliss (2019). Experiente, ele faz seu monstro andar vagarosamente, lentamente indo na direção da morte, punir os jovens adultos que enchem a sua paciência e a da plateia, chegando no exato momento em que a protagonista e seu amiguinho começam a se pegar. Fica claro que ele vai atacar primeiro uma casa, e não o estabelecimento comercial onde a dupla está.
A fotografia de Brian Sowell se vale demais de tons escuros, desse modo, em ambientes com luzes neon, a textura da imagem tem um efeito granulado que lembra produções baratas e antigas, as que permeavam os cinemas que exibiam principalmente filmes de terror, splatter e exploitation de baixo orçamento.
Os efeitos de morte são em sua maioria muito bons. Há um bom uso de bonecos realistas. Como a proposta do filme é completamente sem vergonha, a ação predatória do robô assassino é muito bem-vinda, e dada toda a construção do texto, poderia ser até maior essa condição.
O Papai Noel mecânico é um vilão formidável, claramente os personagens do pequeno lugarejo não são páreo para ele, e dado que todos eles são pessoas insuportáveis, é muito mais fácil torcer para o androide mecatrônico com machado.
Não há nem meia Laurie Strode, ou uma Sidney Prescott. Tori é uma garota final das piores possíveis, não gera simpatia, é sem sal, não causa furor em ninguém, nem mesmo por sua beleza. Não é que a atriz é feia, pelo contrário, mas ela não fotografa tão bem, nem tem um ar de sobrevivente improvável que passa por cima das circunstâncias.
O máximo de positivo em sua construção é a clara imitação que ela faz de Sarah Connor, já que ambas conseguem, as duras penas, tombar seu adversário metálico depois de muito sofrer.
Qual não é a surpresa desse analista que vos escreve, ao perceber que essa é uma produção de época, que só tem esse caráter revelado quando a moça entra numa videolocadora repleta de fitas cassetes.
Caso abrisse mão dos diálogos super expositivos no começo, certamente lograria mais êxito, mas sendo do jeito que é vale demais pelas mortes criativas e pelos bons efeitos práticos que possui.
Christmas Bloody Christmas reúne referências também a Conan: O Bárbaro, (outro filme protagonizado por Arnold Schwarzenegger), mas segue mesmo como uma comédia de horror mambembe, que acerta mais quando não se leva a sério, e que certamente pode se tornar a ponta de lança de mais uma franquia de filmes de horror.
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