Sexta-Feira 13 - Parte 2: a estreia do maior personagem entre os ícones do slasher

Sexta-Feira 13 - Parte 2: A estreia de Jason no cinemaSexta-Feira 13 Parte 2 é quase tão icônico quanto o primeiro filme entre outros motivos, por ser a estreia do personagem central da franquia, o assassino Jason Vorhess, ainda sem todos os seus elementos visuais marcantes. Dirigido por Steve Miner, produtor e diretor de segunda unidade do original, o longa-metragem lançado no ano de 1981, com apenas um ano de diferença para o Sexta-Feira 13, a ideia era obviamente explorar um detalhe da conclusão do longa de Sean S. Cunningham, em que a final girl Alice, acredita que Jason simplesmente não morreu no lago de Crystal Lake, e está lá, embaixo d'água até aquele momento.

No entanto, Adrienne King e os produtores encabeçados pelo idealizador do primeiro (e diretor) Cunningham não chegaram a um acordo. Diz-se que o motivo foi financeiro, mas ela alegava ser perseguida também por um fã stalker, desse modo a participação da personagem foi diminuída, ao ponto dela falecer já nos primeiros momentos do filme.

As primeiras cenas dessa segunda parte são inocentes, com uma moça atravessando as ruas alagadas da cidade cantarolando. Se engana quem pensa que a trama será tranquila, já que ainda no início, Alice sonha com os momentos terríveis do fim do filme original, para logo depois sofrer um ataque.

Sexta-Feira 13 Parte 2 tem mais de 30 anos de idade, portanto falaremos livremente sobre a trama, com spoilers e tudo. Leia por sua conta e risco.

Sexta-Feira 13 - Parte 2: A estreia de Jason no cinema

Os momentos finais de Alice ocorrem de uma forma macabra e estranha, envolvendo invasão domiciliar, um gato sendo testemunha de seu fim, além de uma surpresa em sua geladeira: a cabeça de Pamela Vorhess, conservada dentro do refrigerador.

Curiosamente o mago dos efeitos de maquiagem Tom Savini não retornou para esse filme por não acreditar que haveria futuro para a franquia, já que Pamela morreu, mas esse trecho em si é muito bem feito, ponto para Carl Fullerton, novo responsável pela área.

Na ideia de Savini, trazer Jason como antagonista era algo esdrúxulo, e por mais que estivesse redondamente enganado (afinal essa virou uma das mais longevas séries de filmes de horror) é bastante bizarro que o rapaz tenha saído da sua reclusão para matar a algoz de sua mãe e para isso ainda tenha se dado ao trabalho de levar a cabeça dela sabe-se lá como.

Entre as bizarrices de filmes de matança, essa certamente fica entre as maiores. Se salva claro pela brutalidade que Miner registra em tela.

Essa continuação é tão feita na rebarba de Sexta-Feira 13 que há um longo flashback, que recorda todo o desfecho de Pamela Vorhess até o minuto seis, com pequenas variações entre o sono da antiga protagonista e as lembranças traumáticas.

O roteiro de Ron Kurz é esperto, colocando algumas referências nesse epílogo a Psicose, primeiro mostrando novamente um ataque em primeira pessoa, depois referencia a cena do chuveiro, tal qual na primeira morte que Norman produz, depois utiliza a cabeça da mãe do vilão como objeto de medo e susto, embora aqui não haja a sutileza de Alfred Hitchcock, e sim uma imperadora cara de pau.

Reza a lenda que Miner rodou rápido o filme, em um mês. É por isso que o longs tem vários erros de continuismo - fato que se tornaria uma marca da saga - pois houve pressa. O motivo seria para impedir que a Paramount seguisse a ideia de fazer um segundo Sexta-Feira 13  sem Jason como vilão, já que a ideia era copiar Halloween 3, fazendo da franquia uma série de antologias. O diretor ganhou rdda queda de braços, enfim o filme ganhou a configuração atual.

Nessa realidade, Jason vivia na floresta, tinha intimidade com o local, e aparentemente ele observava tudo, mas não fez contato com a sua mãe.

Cronologicamente, dá para afirmar que eles poderiam ter se encontrado e até ensaiar uma relação familiar, mas é bem improvável isso, até pelo fato dela matar em nome dele.

Outra possibilidade é que o acidente tenha feito tão mal ao garoto que ela não reconhecia nele mais o seu filho, e isso a faz pirar. Uma vez que ela matava e foi morta em 1980, ele assumiria o manto dela.

Há quem defenda isso, há quem defenda que é elaboração demais para um simples filme de assassinato de jovens no campo elucubrar tanto, o que se segue é de fato algo menos pensado em matéria de mitologia e mais caucado em assassinatos.

Há algumas marcas anteriores que são retomadas, entre elas, a presença do profeta caótico Crazy Ralph, de Walt Gorney, mas a ideia central do filme não é restaurar Crystal Lake, e sim preparar a paisagem para receber novos acampamentos.

O pretenso protagonista é o chefe conselheiro Paul Hoult, de John Furey, que está treinando jovens para fazer o mesmo serviço de cuidar de crianças em uma localidade próxima do primeiro filme, sob o nome de Packanack Lake Region Counselor Training Center.

Os jovens são pessoas sem destaque, bem comuns. Variam entre meninas sexualmente ativas que gostam de se mostrar, piadistas, gente nova e inconsequente. O mais diferente ali é justamente Paul, que é a consciência de todos, o único ciente da lenda de Jason, que serve de guia de narrador da história.

O legal é que não bastou o flashback enorme do começo, o roteiro precisa reforçar a mesmíssima história, recontada como se ninguém soubesse. Caso um espectador entrado atrasado na sessão ou tenha se ausentado para ir ao banheiro, terá a segunda chance de sustos, dessa vez até com a intervenção mascarada do metido a engraçadinho que Ted (Stuart Charno) faz, revisitando o clichê já utilizado em Chamas da Morte.

Outra personagem mais "diferente" é Ginny, a namorada do rapaz, interpretada por Amy Steel, que servirá de guia ao público. Sua grande diferença para as sobreviventes de filmes slasher é que ela transa, e de certa forma, a moça protagoniza o primeiro assassinato, já que Crazy Ralph morre ao observar ela e Paul se beijando.

Os policiais dizem que o lugar está tranquilo há cinco anos, então teoricamente esse é o tempo entre os eventos do filme, no momento presente pelo menos do treinamento até os eventos do outro filme.

Pela deterioração da cabeça de Pamela no barraco em que Jason vive, possivelmente o epílogo ocorreu no momento posterior ao final de Sexta-Feira 13 Um, mas quando o texto precisa ser expositivo, ele resolve não ser e isso fica no ar.

O casebre de Jason é surrado, imundo, insalubre, lembra uma arquitetura rústica tal qual a casa da família de Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica.

Sexta-Feira 13 - Parte 2: A estreia de Jason no cinema

Jason é silencioso, sorrateiro e misterioso, e demora a fazer as pessoas realmente crerem que é ele quem ataca. Aparentemente, Miner tinha pouca pressa nessa versão.

O desenrolar lento inclui até elementos caros a franquia, como a exposição de nudez explicita. Kristen Baker vai nadar nua a noite no lago (sem motivo aparente) apenas os 46 minutos de tela, com mais de metade do filme passado.

Mas o pudor para por aí, uma vez que as insinuações sexuais deixaram de ser leves. As meninas usam decotes mais generosos, os rapazes têm os músculos à mostra, e obviamente que Jason pega um por um, seja com armadilhas ou simplesmente com armas brancas, sempre em posições estratégicas.

Para essa continuação voltam Harry Manfredini na música, Virginia Field no design de produção, e isso garante ao filme uma unidade visual com o primeiro. Tanto a música quanto os cenários são bem familiares ao público, fato que facilita a imersão.

A montagem ficou a cargo de Susan E. Cunnigham (esposa de Sean Cunningham), que ajudou a editar o primeiro, e os efeitos de maquiagem estão sob a responsabilidade de Fullerton que trabalhou anteriormente no seriado Os Monstros e mais tarde em Lobos, Fome de Viver, A Volta do Monstro do Pântano, Warlock: O Demônio e Silêncio dos Inocentes, estando ainda na ativa, especialmente em filmes que Denzel Washington trabalha desde Roman J Israel, O Protetor e Sete Homens e um Destino.

Dentro da equipe, estava Stan Winston, que ganharia notoriedade por trabalhar em blockbusters como O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final, Batman o Retorno, Jurassic Park e Predador, mas aqui não foi creditado.

Jason é feito por Warrington Gillette, ator jovem, que jamais voltou a franquia e seu visual é todo retirado do clássico The Town that Dreaded Sundown, chamado no Brasil de Assassino Invisível.

Sexta-Feira 13 - Parte 2: A estreia de Jason no cinema

Aqui ele é bestial, uma máquina assassina em busca de vingança, insensível, violento e punitivo. Em sua ânsia por cometer homicídio, não poupa sequer o cadeirante Mark, de Tom McBride, acertando uma lâmina nele, após ele quase fazer sexo.

Incrivelmente o roteiro antes determinava que apesar de não ter os movimentos das pernas, Mark tinha desejo de voltar a andar, tanto que era forte, vencia na queda de braço de todos os outros garotos. Ou os rapazes deixavam ele ganhar ou Jason era tão supremamente forte, que não permitia nenhum tipo de reação.

A criatividade com a violência segue firme, com Jason enfiando uma lança com espinho na ponte através do dorso de um casal que dormia na cama pós coite.

O Jason versão saco na cabeça é atrapalhado, mas é violento e certeiro. Sua caracterização é bem curiosa, pois ele tem vergonha de sua imagem, cobre seu rosto, mas tem apenas um furo no pano branco. Fica a dúvida se a ideia era fazer ele parcialmente cego.

Sexta-Feira 13 - Parte 2: A estreia de Jason no cinema

Em uma cena desmascarado, fica patente que ele tem os olhos desalinhados. Curiosamente, no próximo capítulo seu rosto seria bem diferente, fato que se tornou prache na franquia, uma vez que ele muda a feição quase sempre que é mostrada em um novo filme.

Além disso, ele corre com um espeto de três pontas, uma peça de lavoura, típica de ambientes rurais que é quase como um tridente, arma utilizada por figuras diabólicas clássicas.

É assustador ao ponto de fazer Ginny se urinar embaixo da cama, embora a causa desse pânico seja discutível, uma vez que ela se alivia depois de ver um rato saindo debaixo do móvel.

Mas ele é estratégico, fica em cima de uma cadeira para pregar um susto na moça, mas é tolo o suficiente para cair dela no meio da perseguição, sem falar que tem medo de uma motosserra, possivelmente em um aceno de Miner para o clássico de Tobe Hopper.

A batalha final entre mocinha e vilão é bem emocionante, um dos pontos altos em termo de dramaticidade, embora tenha momentos anti-climáticos.

O apelo a memória da mãe e a participação de Betsy Palmer são pontuais e reforçam a ideia de que Jason está longe da perfeição, afinal, é um exímio matador mas com a mente de uma quase criança, sem falar que resgatam uma das pistas deixadas anteriormente, já que Ginny é uma moça que estuda psicologia infantil.

Sexta Feira 13 Parte 2 é o exemplo maior do mais do mesmo. Tem seus sustos, seus apelos a fórmula e um final baseado em pesadelo cuja ideia é grande e boa, mas sem o mesmo impacto do filme anterior.

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