
Pelo Prazer de Matar é um filme de faroeste europeu lançado em 1966. História sobre um caçador de recompensas que presta serviços a um homem rico. O seu maior diferencial em relação a outros filmes de velho oeste da Itália é a forma como o longa lida com o caráter dúbio do seu personagem central e do seu antagonista.
Conduzido por Tonino Valerii, protagonizado por Craig Hill, tem participações breves de veteranos dos Westerns Spaghetti como Fernando Sancho e Franco Ressel. Essa é uma coprodução entre Espanha e Itália e foi filmada em ambos os países.
A história segue um caçador de recompensas de mira muito precisa, que depois de arrumar algum dinheiro roubando outros bandidos, acaba sendo contratado por um milionário dono de uma mina.
Sua missão seria a de proteger a fortuna desse homem, que está depositada em um banco local. No meio do drama ele acaba descobrindo que uma das pessoas envolvidas é justamente um homem que marcou negativamente o seu passado.
A visão além do alcance
Como era comum aos heróis dos Bang Bang à Italiana, esse também tem uma diferença visual básica, que é o costume de utilizar uma lente acoplada a sua arma, utensílio esse que facilita a mira já muito precisa do sujeito, tornando ele ainda mais mortal do que os outros cowboys.
Conduzido por Tonino Valerii, o longa tem roteiro de Víctor Auz e argumento de Valerii. Frank Gregory foi o responsável por fazer os diálogos da versão em inglês.
Lucio Bompani é o produtor executivo, enquanto o quarteto Francesco Genesi, Vincenzo Genesi, José López Moreno e Daniele Senatore são produtores, todos sem créditos para a função.
Estreia e nomenclatura
A obra chegou à Itália no dia 6 de agosto de 1966. No Japão chegou em fevereiro de 1967, na Turquia em abril de 1967, assim como na Alemanha Ocidental. Na Dinamarca chegou em maio do mesmo ano.
O título original do longa é Per il gusto di uccidere, mas também foi chamado na Itália como Bounty Killer. Em inglês pode ser encontrado como For the Taste of Killing, Lanky Fellow e Taste for Killing. Ele pode ser encontrado no Brasil como Pelo Gosto de Matar.

Na antiga Iugoslávia tem dois nomes. Em croata é Pratilac zlatne posiljke enquanto na língua sérvia é Sam protiv bande. Na Alemanha Ocidental era Lanky Fellow - Der einsame Rächer. Em Portugal O Prazer de Matar.
O longa foi rodado na Espanha e na Itália. O grosso das cenas foram em Almería, na Andalucía, tanto no Desierto de Tabernas quanto no Cabo de Gataem. Ainda em Almería, houveram cenas na Mini Hollywood, em Tabernas, já as tomadas internas foram rodadas em Roma, na Titanus Appia Studios.
Os estúdios por trás do longa foram a Hercules Cinematograficae a Films Montana. A distribuição espanhola ficou com a Altamira Films, enquanto a famosa Constantin Film fez o mesmo serviço na Alemanha.
Quem fez:
Valerii estreou na direção nesse longa-metragem, depois conduziu O Dia da Ira, O Preço do Poder, O Carrasco da Mão Negra, Trinity...Os Sete Magníficos e Meu Nome é Ninguém.
Auz escreveu Agente S 03: Operazione Atlantide, Brillante Povernir e Codo com codo. Gregory escreveu O Rapto das Sabinas e O Gladiador Invencível.
Francesco Genesi produziu John Bastardo e foi produtor associado em Juízo Final. Vincenzo Genesi produziu Addio, amore!, A Sombra de um Revolver e John Bastardo. José López Moreno produziu Codo com codo, foi produtor executivo em Uma Vela para o Diabo e A Noiva Ensanguentada, mas sem créditos.
Senatore produziu A Procura do Meu Homem, Mimi, o Metalúrgico e Juízo Final. Bompani produziu Um Osso Duro de Roer e a série Lucky Luke. Foi produtor executivo em 15 Forcas para um Assassino.
Craig Hill fez A Malvada, O Escudo Negro de Falworth, Mãos de Pistoleiro e O Mundo Treme.
Narrativa
A trama inicia "musicada", trazendo uma canção que narra a jornada de um pistoleiro chamado Lenky.
Curiosamente, esse mesmo personagem seria chamado de Hanky Fellows no filme. Dependendo da tradução é comum achar ele sendo tratado por um desses nomes.
Segundo a letra, ele só quer buscar sua recompensa e é alguém normal e comum, como "eu e você", aparentemente a música de Nico Fidenco (Zumbi Holocausto) mira pessoas que vivem à margem da lei, tentando mostrar elas como gente comum.
O personagem central é interpretado obviamente por Craig Hill, que aparece no deserto, de chapéu preto, em cima do seu cavalo. Sua postura é altiva e segura, como um anti-herói clássico do cinema do faroeste contemporâneo, embora pareça ser mais solto e amoral que o pistoleiro sem nome que Clint Eastwood viveu na trilogia dos dólares de Sérgio Leone.

Sob o olhar do protagonista da canção, um grupo de mexicanos embosca uma comitiva, que carrega bastante dinheiro.
O grupo latino
Lenky cerca Sánchez, o chefe do bando mexicano, interpretado por Fernando Sancho. Seus capangas são facilmente rendidos e o ataque ao chefe ocorre só quando ele está isolado. Ele sabe a hora certa de atacar e dar o bote.
O mexicano tenta a sorte, diz para que Lenky ataque eles, que seja bravo e másculo, ao que o personagem caucasiano simplesmente responde que não vai aonde suas balas podem ir.
A frase de efeito funciona, se torna marcante, demonstra que ele tem muita confiança em si. Também marca que ele é adepto a ideia do mínimo esforço possível.
Se fosse possível atirar em alguém, ele faria, não correria atrás dos seus alvos, simplesmente atiraria na perna, caso fosse para pegar ele vivo, ou na cabeça e peito, se fosse para trazer o mesmo morto.
Depois de falar com o personagem, ele acerta as contas com cada um dos latinos, atirando sem nenhum tipo de hesitação ou misericórdia com eles.
É implacável e como dito no título, parece refém da vontade de matar seus adversários, de forma tão cruel que beira o sadismo.

A segunda diligência
Não demora até que outro grupo apareça, dessa vez de agentes da lei, que correm pelo deserto, na verdade é um grupo de pessoas disfarçadas, que fingem ser uma escolta militar trazendo uma remessa de 100 mil dólares de Port Lawrence.
Na conversa entre os bandidos, o líder deles pede atenção e cuidado com Kennebec, que pode acabar pegando o cofre deles.
O trato com o banqueiro
Hanky conversa com o endinheirado mr. Collins (Piero Lulli) uma espécie de barão local, sujeito ligado ao banco, que pede que o protagonista o ajude, usando seus talentos para proteger o seu ouro.
Como Lenky mesmo guardava o seu dinheiro, aceitou o trato, também para proteger o dinheiro que roubou anteriormente, no banco. Dessa forma, ele "lavaria" o dinheiro sujo, deixando no cofre da instituição bancária, aceitaria a escolta, protegeria a sua verba e a do patrão, além de também se antecipar ao "vilão" procurado, o senhor Gus Kennebeck, cuja má fama antecede até a sua aparição de fato.
Curiosamente, aceitando isso, ele provavelmente se coloca na linha de frente da batalha contra esse bandido. Nesse ponto não é sabido, mas ele tinha um bom motivo para se arriscar.
Fellows é louvado por desconhecidos, um senhor mendicante até o compara com Kid Carson, uma figura histórica e pioneira no Velho Oeste, que teve forte participação em guerras contra os nativos americanos.
Não foi em vão essa comparação. Hanky é violento e implacável, mata pessoas do passado, gente que aparece na cidade de forma que parece ser ao acaso, mas que também é conveniente, estranhamente.
Em certo ponto, um sujeito que ele poupou no passado aparece em um saloon/hotel, solta bravatas, ameaça o personagem central, depois cai, com um tiro rápido do personagem de Hill. O cowboy não se dá ao trabalho nem de recolher o corpo, só pede ao bartender que chame o xerife, para que dê a recompensa em sua conta no banco.
Um homem comum, com defeitos
Aparentemente, o personagem é analfabeto, tanto que pede ao auxiliar do xerife que leia um anúncio de procurado, cuja foto é conhecida dele.
Trata do já citado Kennebeck, atrelada a 1000 dólares de recompensa. Curioso que o personagem central é alguém bem vestido, elegante, mas iletrado. Valerii não tem receio de mostrar o seu protagonista como alguém com qualidades negativas.
Ele é um sujeito do povo, acima de tudo, mesmo que tenha um caráter duvidoso.
O real Gus Kennebeck
O tal bandido, Gus Kennebeck, enfim aparece. Ele é interpretado por Jorge Martin (que protagonizou O Magnífico Robin Hood e assinava em ambas as épocas como George Martin) é um sujeito complexo, que é mostrado como um homem cruel, um matador implacável e covarde, que matou o irmão de Hank e que escraviza uma mulher, que anda consigo o tempo inteiro.
No entanto, naquela cidade, se esconde uma paixão secreta sua.
Gus se encontra às escondidas com a linda Isabel ou Isabelle, de Rada Rassimov (de Três Homens em Conflito).
O plano do suposto vilão era pegar o dinheiro da interceptação para usar em uma fuga com ela, a fim de viver em paz, longe dos perigos de tiros, roubos e afins típicos do velho oeste estadunidense.

Ou seja, o vilão tem anseios mundanos, só quer paz e tranquilidade ao lado da pessoa que ama. Talvez se houvesse mais oportunidades lícitas de enriquecer e subsistir ele não ocuparia a posição de assassino e de ladrão.
Collins e Aarons - o banqueiro, amigo de Collins, interpretado por Franco Ressel - percebem que o ouro sumiu. Os dois vão atrás de Lenky no ato, mas ele nega que pegou o dinheiro.
Enquanto é mostrado Mingo (George Wang) o capanga de Kennebeck, sendo pego pelos homens da lei pouco depois de ter momentos de alegria com o filho de Isabel.
Esse momento é de uma inversão moral tremenda, já que os agentes da lei vão atrás de uma criança para raptar ela, a fim de emboscar um bandido. Considerar que os policiais deveriam ser os mocinhos esbarra nessa condição moral conflitante e bizarra. Esse trecho faz o espectador perguntar qual é o lado bom e o ruim da história, embora Fellows não pareça concordar com esse tipo de perseguição e opressão.
No mínimo, o personagem principal é conivente com as torturas e fica claro também que a polícia aqui é corrupta e malvada, de uma forma quase demoníaca.
A história se desenrola, com assaltos e explosivos distribuídos pela cidade, depois acaba em uma rivalidade entre herói e mocinho, tentativas de sabotagem e armadilhas mútuas.
O duelo
Hank se mostra um exímio atirador, mesmo deixando a arma com telescópio para Gus observar.
Os dois tem um embate final emocionante e trágico, que poderia ter pendido para qualquer dos lados, mas, obviamente, favorece Hanky, que demonstra ser um bom matador mesmo sem sua arma de precisão, tendo não só uma grande visão, mas também muita rapidez no gatilho.
Antes do final, os reais agentes da lei chegam na cidade. O fim é súbito, sem reflexão ou discurso positivista, ao contrário, a sensação que predomina ao final é de melancolia.
Pelo Prazer de Matar é dúbio. Sua riqueza mora exatamente no fato de não ser óbvio ou de fácil processamento de filiação bondosa ou maldosa. Acaba sendo uma obra que tangencia temas pesados, situações de abuso e que possui personagens complexos, de uma forma que era bastante incomum para o ápice do cinema de ação da época, que eram esses faroestes europeus. O filme tem potencial para agradar tanto os ávidos por obras de western como os que são pouco aficionados e mais ligados em histórias profundas.