Dica cultural : Mondo Giallo

Confira a nossa recomendação mensal, dessa vez falando do podcast de Mondo Giallo, um programa especializado em filmes de horror, especialmente os da Itália.

Dica cultural : Mondo Giallo

Muitas pessoas perguntam pra mim quais podcasts costumo ouvir. Imagino que isso ocorra com quase todo mundo que produz ou participa de programas e podcasts. Não posso falar pelos meus companheiros, já que não sei se meus companheiros de Cine Alerta Alexandre e Davi costumam ouvir muita coisa, especialmente em produções ligadas a cultura.

No meu caso, posso afirmar que consumo muita coisa de futebol e basquete - afinal, também sou jornalista esportivo, no Voz do Ninho e em outros lugares, eventualmente - mas também ouço programas sobre cultura pop e cult, por puro prazer, para pesquisar materiais de resenha ou só para passar o tempo.

Foi assim que cheguei no Mondo Giallo, juntando exatamente os três motivos citados. Esse é um podcast temático, que é voltado para estudar temas relacionados ao cinema de horror.

Organizado e apresentado pelo estudioso Marcelo Carrard, esse é um espaço que fala dos lançamentos de cinema, mas também analisa material clássico, cult & trash.

O conteúdo versa sobre cinema do mundo todo, mas é especialmente focado no cinema italiano ou nos filmes gialli, embora eventualmente fale de cinema espanhol, alemão e norte-americano também.

O que é giallo?

Giallo - ou no plural gialli - é um tipo de história de mistério, normalmente ligada ao cinema e a cultura italiana, inspirada na estética noir.

Tem origem literária, nos livros de contos e mistérios de capa amarela (giallo é amarelo em italiano) materiais esses que continham novelas e contos góticos estrangeiros e também italiano.

Dica cultural : Mondo Giallo

Não demorou para que o formato ganhasse o cinema, em produções normalmente coloridas, com uma estética única, de cores gritantes, diferente do que era comum ao cinema noir, em preto e branco.

É possível haver Giallo preto e branco, mas o comum é ter cor.

Para muitos, o Giallo é o pai do gênero Slasher. Aqui tratamos esses dois tipos de filme e os Krimi - vertente alemã parecida com os gialli e slashers, mas com suas particularidades diferenciadas - como os Filmes de Matança, em atenção ao termo cunhado pelo especialista no gênero Carlos Primati.

O Giallo geralmente é um filme de assassino cruel, de identidade escondida, com tendências homicidas ligadas a loucura ou insanidade. Destacamos o termo politicamente correto em atenção a como ele é utilizado normalmente, afinal, os gialli são em maioria, obras de época.

Na maioria das vezes, o matador usa máscara, luvas pretas e é descoberto apenas na conclusão do filme. É também natural que ele tenha alguma condição física chamativa, algum segredo grave ou uma "anormalidade", seja de ordem física ou manifestação de neurodivergência.

O caráter misógino dos assassinatos traz graves reflexões e problemas, sobretudo quando o assassino da vez se traveste ou é do espectro LGBTQIA +.

Para boa parte dos espectadores mais atentos, os gialli são filmes e livros possivelmente transfóbicos e homofóbicos, mas há quem defenda que não, que é uma maneira de mostrar gente não heteronormativa se vingando de quem a excluiu.

Boa parte desses tem inspiração nos filmes de Alfred Hitchcock, especialmente em Psicose. Alguns passam por um formato diferenciado, como os Psicogialli, que misturam elementos Hitchcock a Henri-Georges Clouzot, que em seu As Diabólicas acabou ajudando a formatar o que seriam os Filmes de Matança também.

Até separamos alguns textos aqui, em uma tag chamada Giallo, com uma lista grande, com alguns textos nossos sobre o filão. Exemplos de clássicos não faltam, esse é um gênero prolífico, com vários clássicos e grandes diretores.

Entre as obras mais famosas do gênero estão Olhos Diabólicos, Seis Mulheres Para o Assassino, ambos de Mario Bava, a trilogia dos animais de Dario Argento, com O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas no Veludo Cinza, o clássico Prelúdio Para Matar que também é de Argento, o filme de Lucio Fulci com elementos de sobrenatural Premonição, além de obras que utilizam os elementos dos gialli, mas são mais voltadas para a fantasia, como Suspíria, também de Argento.

Dentro do gênero, há autores como os já citados Bava, Argento, Lucio Fulci, mas também os especialistas em filmes de canibal Ruggero Deodato, Umberto Lenzi, também Lamberto Bava (o herdeiro de Mario Bava) fora tantos outros menos conhecidos do público menos aficionado, como Sergio Martino, Michele Soavi ou Luciano Ercoli.

Quem faz o Mondo Giallo

A pessoa por trás do Mondo Giallo é o grande Marcelo Carrard, um jornalista, pesquisador, crítico de cinema e colecionista de mídia física, cronista e cinéfilo que compartilha um pouco do seu vasto conhecimento há tempos, seja em material de texto nas coleções de DVDs e Blu-Ray lançados no Brasil, como em seu canal no YouTube, o excelente Cinema Ferox, que se chama assim provavelmente em atenção a Canibal Ferox, filme de Umberto Lenzi.

Eu o conheci por esse canal, onde ele analisava alguns filmes, de forma semelhante ao que fazia no Mondo Giallo - embora de maneira menos detalhada - e onde mostrava também a sua coleção absurda de filmes e materiais assessórios como livros, revistas e outros itens de memorabilia.

Dica cultural : Mondo Giallo

Os apontamentos de Carrard são sempre certeiros e ele fala com uma verdadeira paixão sobre o seu objeto de estudo.

Já fazia isso no vídeo e faz isso ainda melhor em áudio.

Por que ouvir?

Bom, o Cinema Ferox aparentemente está desatualizado ou foi descontinuado. Em episódios mais recentes do podcast Mondo Giallo, Marcelo pouco falou a respeito do canal de vídeo.

Suas últimas referências foram pouco animadoras, aparentemente não deve haver muitas atualizações (o último vídeo é de cinco meses atrás) mas não há do que reclamar, já que é fato que o Mondo Giallo é uma clara evolução do Cinema Ferox.

Os episódios são temáticos, normalmente pegam um filme ou uma filmografia, em alguns momentos, até uma duologia ou trilogia, onde Carrard disseca a obra, traz curiosidade, reflexões e vomita muitas informações.

A escolha das palavras pode parecer forte, mas em momento nenhum quero ser indelicado, escatológico ou desrespeitoso. Ao contrário, a realidade é que Marcelo "pratica gore" com as obras que analisa.

Suas análises desmembram as fitas, citando diversas referências ao longo dos episódios. Quando ouço, normalmente o faço com um caderno do lado, ou com um bloco de notas do celular aberto, para anotar possíveis dicas, já que ele é uma metralhadora de citações.

Não é incomum se pegar dando replay nos episódios, dado que ele dá muitas dicas. Alguém deveria inclusive reunir as citações em algum agrupador on-line, seja na rede social Filmow (que está praticamente em desuso, infelizmente) ou no Letterboxd.

Dito assim pode parecer que Carrard fala de maneira rápida e rasa sobre as suas referências e isso não poderia ser uma mentira maior.

Mesmo ao falar brevemente de uma obra, ele consegue tratar ela com carinho e boas informações de bastidores. Ele entende do que fala e gosta de comentar esse tipo de cinema, por isso o faz tão bem.

O Mondo Giallo é das melhores dicas possível, até para o cinéfilo que não gosta de filmes de horror. Vale muito a pena ouvir, não só pelo conteúdo, mas também pelo carisma de Carrard.

Está disponível em diversas plataformas, como no Spotify e o Cinema Ferox no YouTube. Siga também Carrard no Instagram e Facebook.

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