Psicopata Americano é um filme bastante comentado desde a época em que saiu. Elogiado por boa parte de crítica e público, é em essência uma obra polêmica graças a sua abordagem e até a sua sinopse, que narra a história de um jovem adulto rico, desocupado, que comete crimes e é absolutamente misógino.
O longa é baseado na obra do "proscrito" Bret Easton Ellis, autor conhecido por abordar temas pesados e de conteúdo politicamente incorreto. É até difícil localizar tanto o romance quanto o filme em algum gênero, já que ele passa por diversos estilos.
Lançado em 2000, se tornou um clássico instantâneo, que se insere normalmente no filão de filmes de terror, mas é possível enxergá-lo como uma obra de drama e até de humor ácido. Ele lida com a exploração de um mundo podre, com um personagem principal sendo um assassino, supostamente.
Adaptação do romance homônimo de Ellis, é uma coprodução entre Estados Unidos e Canadá lembrado por ter revelado o ator galês Christian Bale, bem antes dele fazer os filmes da trilogia Batman de Christopher Nolan e antes dele ser um sujeito oscarizável.
Dirigido por Mary Heston, é conhecido também pela dicotomia bizarra de ser baseado no livro de um autor que normalmente é associado ao adjetivo misógino, enquanto é dirigido por uma feminista assumida.
O longa-metragem foi lançado nove anos após a publicação do romance e esse é o segundo filme baseado em livros de Ellis, após Abaixo de Zero em 1987.
A história de uma adaptação dessa história é antiga, de quase uma década antes dele chegar aos cinemas. No início da década de 1990, Ellis escreveu um roteiro para David Cronenberg, que deveria ter Brad Pitt no papel principal, mas o projeto não saiu do papel. Segundo Ellis, Cronenberg não gostava das cenas do excesso de cenas em restaurantes e boates, além de achar que havia muita violência no script. Pediu então que ele modificasse esses pontos, mas o escritor ignorou as exigências, então o realizador contratou seu próprio escritor e como isso também não deu certo, acabou deixando o projeto.
O produtor Edward R. Pressman pegou os direitos do romance um ano depois de sua publicação. Ele acabou sendo produtor do filme que chegou aos cinemas, já com a equipe definitiva. Também se pensou em um longa dirigido por Stuart Gordon (Do Além e Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos) e nessa versão, Johnny Depp estrelaria. Gordon queria fazer o filme em preto e branco e ficar o mais próximo possível do livro, o que significa uma classificação X, fato que afastou os produtores.
Ellis também escreveu outra versão do roteiro para o produtor Rob Weiss (de Entre Amigos) em 1995, mas também não deu certo. Em algum estágio de desenvolvimento, Oliver Stone foi cogitado para ser produtor executivo (também foi cotado para dirigir, como falaremos à frente), enquanto Rob Weiss dirigiria. Weiss pretendia escalar Shannen Doherty (Barrados no Shopping) como Evelyn Williams, mas o projeto foi mais uma vez engavetado.
A certa altura foi cogitada a possibilidade de fazer um programa de televisão na NBC, estrelado por Kevin Dillon, mas isso também não foi para a frente, se tornando uma piada interna que anos mais tarde, seria utilizada em Entourage: Fama & Amizade, seriado que era estrelado por Dillon, que era um ator decadente, que fez uma versão do livro para a televisão.
O personagem de Patrick Bateman foi oferecido a muitos atores, como Billy Crudup, Ben Chaplin, Robert Sean Leonard, Keanu Reeves, Jonny Lee Miller, até mesmo Jared Leto que acabou assumindo outro papel aqui. Posteriormente, o papel foi oferecido a Ewan McGregor, mas recusou.
Quando Harron assumiu a direção, decidiu oferecer o protagonismo a Christian Bale, que aceitou, também por insistência de McGregor, que achava ele sujeito ideal para viver Bateman.
Membros da produção tentaram convencer ela a escalar Edward Norton, mas ela insistiu em sua escolha.
Os produtores Pressman, Christian Halsey Solomon e Chris Hanley aceitaram em determinado ponto, mas com a condição de escalar pelo menos dois outros atores de grande nome para papéis coadjuvantes.
Para tanto, Harron contratou Willem Dafoe para interpretar o detetive Kimball e Reese Witherspoon para interpretar Evelyn. No entanto, depois de concordarem em aparecer, Lions Gate disse a Harron que fariam uma oferta a Leonardo DiCaprio.
A diretora disse que se os produtores fizessem isso ela deixaria o projeto e foi exatamente o que aconteceu. Oliver Stone foi posteriormente contratado para substituir Harron, trabalhando a partir de um roteiro de Matt Markwalder, nessa época, se cogitava escalar James Woods como Kimball, Cameron Diaz como Evelyn, Elizabeth Berkley como Courtney. Stone decidiu manter dois atores que Harron escolheu, no caso, Chloë Sevigny como Jean. Stone e Leto como Paul Allen.
DiCaprio acabou ficando sem agenda, uma vez que estava com Danny Boyle filmando A Praia. Com sua saída o orçamento diminuiu, Stone também saiu do projeto, o que levou a Lionsgate a recontratar Harron, que voltou às suas decisões originais de elenco.
Quando DiCaprio ainda estava ligado ao projeto, a ativista feminista Gloria Steinem o pressionou para que não fizesse o filme, já que sua base de fãs era formada por adolescentes. Para ela, Bateman era mal exemplo e interpretar ele poderia arruinar a carreira de Leo. Não sabe se isso pesou na decisão de DiCaprio, mas o boato que correu é que Bale teria aceitado o papel para irritar ela, já que a mesma havia casado com seu pai.
Mais tarde, Bale refutou esses rumores, disse que decidiu fazer por conta de si mesmo e não para irritar sua madrasta.
O ator aceitou o papel apesar dos muitos avisos sobre o papel. Havia na época um receio de que ele interpretasse Patrick Bateman, tanto que boa parte dos seus amigos ligados à inustria igualavam isso a um suicídio profissional.
As falas e reprimendas causaram nele um efeito reverso, já que o ator ficou ansioso para assumir o papel. Quando pensou em como executar o modus operandi de Bateman, o ator se inspirou em aparições de Tom Cruise, copiando dele a máscara de simpatia intensa e olhar que esconde intenções, inspirando sua agressividade no papel curioso e pouco falado de Nicolas Cage em O Beijo do Vampiro de 1989.
O desempenho dele foi elogiado, considerado inovador e permitiu-lhe mudar de patamar na carreira, deixando assim os papéis pequenos e de coadjuvantes para seguir o status de protagonista. A partir desse ele estrelava filmes de Oscar, obras indie e também em franquias como Batman e Exterminador do Futuro.
O roteiro foi escrito por Harron e Guinevere Turner, atriz que interpretou Elizabeth, uma das amigas do personagem central.
Os estúdios por trás foram a Lionsgate, Edward R. Pressman Productions e Muse Productions distribuído pela Lionsgate.
As filmagens duraram sete semanas, do final de fevereiro a abril de 1999. Foi filmado em Ontario e Nova York, com cenas no Phoenix Concert Theater, Monsoon Restaurant, Shark City Bar and Grill - 117 Eglinton Avenue, Boston Club - 4 Front Street East, Montana Restaurant Bar - 145 John Street, Pearl Street em Toronto, Ontário no Canadá. Também houveram cenas filmou em Nova York, na Alley at 51 Nassau Street, Solomon R. Guggenheim Museum - 1071 Fifth Avenue e World Trade Center na ilha de Manhattan.
Ainda sobre as locações, ocorreu um lobby no Canadá, um ensaio de boicote as filmagens, oriunda de locais preocupados com a violência no entretenimento, que protestando contra o governo, por ter permitido arrecadação de fundos e financiamento do filme com leis de incentivo local.
O longa se chama American Psycho em países de língua inglesa e em outros como Itália, Israel, Noruega e Filipinas. Na Argentina, Equador, Venezuela e Chile é Psicópata americano.
Harron era uma diretora com pouca experiência, mas sempre elogiada. Fez Um Tiro para Andy Warhol, depois trabalhou em seriados, especialmente, dirigindo episódios em Oz, A Sete Palmos, também fez o longa Bettie Page e Os Discípulos de Charles Manson, esses dois últimos, escritos junto a Guinevere Turner.
O trio de produtores fizeram filmes bem diferentes desse, Solomon é mais conhecido por O Legionário, já Hanley trabalhou em Virgens Suicidas. Pressman talvez seja a exceção, já que trabalhou em Wall Street: Poder e Cobiça e a adaptação de quadrinhos O Corvo, que é bem sombria, tal qual esse Psicopata Americano.
A produção executiva ficou a cargo de Jeff Sackman, Joseph Drake e Michael Paseornek. Esse último foi o produtor executivo da bomba Psicopata Americano 2, junto a Hanley e Solomon, que retornaram também, como produtores executivos.
Como a história se passa em altas rodas sociais, era preciso que seus personagens usassem roupas e assessórios de grife. A casa de moda Cerruti concordou em permitir que Bale usasse suas roupas, mas pediu que não utilizasse quando o personagem estava matando alguém, já a marca Rolex concordou que qualquer pessoa no filme poderia usar seus relógios, exceto Bateman.
A Calvin Klein desistiu do projeto em cima da hora, a Comme des Garçons recusou-se a permitir que uma de suas malas fosse usada para transportar um cadáver, então Jean Paul Gaultier foi usado em seu lugar.
A trama se passa ao longo de vários meses, do final de 1986 ao início de 1987, passando pelo período de festas de fim de ano. Isso também é determinado pela cena final em que o discurso de Ronald Reagan estava sendo transmitido em 4 de março de 1987, já o romance se passa em 1989.
A mudança provavelmente ocorreu justamente para comportar o discurso do presidente republicano, a fim de deixar a mensagem que o reacionarismo do seu discurso ajudou a formar uma geração de jovens adultos que odeiam minorias, que incluem as mulheres.
A classificação seria NC-17, o que seria ruim obviamente. Mary Harron argumentou veementemente contra a classificação, mas foi forçada a fazer alguns pequenos cortes para diminuir a classificação e evitar que só o longa só pudesse ser visto por adultos.
Em algumas versões do pôster do filme, uma mulher é vista refletida na faca de açougueiro na mão de Patrick Bateman. A mulher é a atriz Krista Sutton, que interpreta Sabrina, a garota de programa.
A grande maioria dos diálogos do filme é retirada palavra por palavra do romance de Bret Easton Ellis e a história se localiza na Roma moderna, Nova York e começa mostrando a juventude yuppie agindo, se comportando de forma infantil e caricatural
Patrick e seus iguais agem quase que por instinto, são o resumo da perversão do ideal de conduta que se esperava dos jovens adultos endinheirados millennials, já que nenhum deles trabalha ou estuda, só esbanjam suas fortunas.
Talvez por isso o personagem central seja tão adulado pela parcela reacionária e virginal que se auto intitula redpill. Para essa parcela de gente da extrema direita, é natural não entender subtexto ou ironia. Boa parte deles pode encarar que a diretora está louvando a figura de Patrick, ao invés de criticá-lo.
Os personagens comem pratos caríssimos, em restaurantes cujos pratos valem um dinheiro que meros mortais usam como orçamento para uma casa inteira muitas vezes. Há um destaque para um prato onde predomina o vermelho, fato que se torna quase premonitório, afinal, essa seria uma história sanguinolenta.
Os protagonistas são rapazes bonitos, brancos, ricos e bem-apessoados, que agem como meninos no recreio, competindo entre si para ver quem chamaria mais atenção, com seus ternos de linho e cartões brancos bordados com seus nomes e cargos das empresas de seus pais.
Entre eles está o narrador da história, um homem de 27 anos que se orgulha da rotina de beleza, das centenas de abdominais que consegue fazer e do penteado impecável que ostenta e de ser vice-presidente da empresa de seu pai, que aliás, não aparece jamais. Esses são todos filhos bem-nascidos, cujas famílias não aparecem.
Ele é a personificação do narcisismo e do egoísmo, além de se revelar um odiador do sexo feminino, já que quando está em uma boate, pragueja horrores para uma bartender, basicamente por conta do estabelecimento não aceitar cartão de crédito. Ele culpa a moça unicamente por esse inconveniente, a xinga e esconde seu discurso e intenções no alto barulho da boate.
Seus impropérios são ditos, mas não ouvidos, fato que certamente poderia ferir a própria vaidade dele, se ele tivesse a capacidade de percebe o quão patético foi o gesto e o quanto aquilo não muda em nada nem o seu dia e nem o da menina. Seria esse um indício de que suas covardias só ocorrem dentro de sua conturbada e imaginativa mente? Talvez.
O nome Bateman é derivado do personagem principal da franquia de filmes Psicose, Norman Bates, mas a realidade é que a inspiração em matéria de caráter não é o pacato e psicótico dono de hotel e sim os vilões dos filmes gialli italianos.
O cotidiano dele é ocupado por pessoas tão ou mais fúteis quanto ele, exceção talvez a Jean, sua secretária, que é interpretada por Sevigny. Todo o resto do elenco parece de pessoas irreais, alienadas de um universo real, tão ricos, entediados e imbecis que não percebem a sorte e a fortuna que tem.
Em uma conversa informal, Bateman acaba sendo inconveniente, elogiando a beleza da funcionária, pedindo para que ela se vista de maneira mais reveladora, afinal, ele a acha bonita. Como ele é um homem bonito, acaba interferindo no modo dela se vestir, afinal, ela acredita que isso poderia aproximar os dois. Ele é um bom partido, se olhado de longe.
Curiosamente a fotografia de Andrzej Sekula registra a moça de maneira diferenciada, modificando o estilo de filmagem à medida que ela muda de roupas, com a câmera se aproximando mais do seu rosto e se afeiçoando mais a ela de acordo com o que o vestuário revela.
A atuação dele é blasé, ele tenta parecer alguém inatingível e inabalável, mas não consegue, é afetado, claramente frágil, um menino tolo e inseguro, que tenta fingir sofisticação, mas que não passa de um repetidor de clichês e frases prontas, retiradas quase sempre de resenhas da internet sobre manifestações de arte.
É tão medíocre e tão crente na falsa grandeza que ao arrotar suas linhas de diálogo, parece acreditar de fato no que discursa. Essa perfeição reside na cabeça dele somente, já que até seu companheiro, Paul Allen (Jared Leto) confunde Patrick com outro rapaz.
Bateman sente raiva dele também por conta de ele ter conseguido vaga no Dorsia, um restaurante muito requisitado, também por seu cartão ser ligeiramente diferente de todos os outros amigos.
Essa questão dos cartões de visita tem muita importância para os jovens. Curiosamente, os cards contêm o mesmo erro de digitação. No canto superior direito, abaixo de onde o nome da empresa Pierce & Pierce - que é referência ao filme Fogueira das Vaidades - Mergers and Aquisitions ao invés de Mergers and Acquisitions.
Pat pensa muito em si, vive com fones de ouvido, impedindo a si mesmo de ouvir as pessoas, sobretudo Evelyn Williams, sua noiva, interpretada por Witherspoon.
Essa questão de falar para si reforça a ideia do roteiro de ser deliberadamente dúbio. Boa parte das teorias sobre o filme versam sobre o drama todo ser apenas um delírio do personagem principal.
Dessa forma, não fica claro se ele de fato ofende as mulheres, se ele apenas pensava de maneira misógina, se ele somente xinga as mulheres enquanto a violência é uma representação material desses impropérios já que ele não consegue fazer qualquer mal físico a elas, ou se de fato tudo é literal.
Segundo a teoria dos devaneios, Patrick é o ápice da inércia e impotência, o avatar do sentimento de inadequação masculina e da não aceitação do próprio caráter tolo.
Em sua intimidade ele consome bastante pornografia, de uma maneira caricatural até, deixa ligado em televisores, com som alto, de um modo que não é difícil ouvir do outro lado da linha telefônica que ele carrega.
Há referências a obras pornô reais, como White Angel de 1998 e Red Vibe Diaries: Object of Desire 1997.
Witherspoon atua bem, consegue fazer um belo dueto com Bale, sendo tão afetada quanto ele, embora em outro nível. A atriz estava grávida de três meses quando fez o filme, assim como Mary Harron. Curiosamente, a diretora e o ator tentaram convencer Winona Ryder a interpretar Evelyn Williams, mas no final, decidiram por esta.
Anos mais tarde, seria a Reese quem entregaria a Christian o seu primeiro Oscar, por seu papel em O Vencedor em 2010. O elenco inclui três vencedores do Oscar, que são Bale, Witherspoon e Jared Leto, além de dois indicados, Willem Dafoe - que voltaria a fazer um filme com Bale em Tudo por Justiça - e Chloë Sevigny.
Apesar de estar noivo (ao menos na cabeça de Evelyn) ele sai com moças belas e entediadas. Ele arrasta Courteney (Samantha Mathis) para um jantar caro, enquanto ela praticamente dorme no caminho e na mesa do restaurante, de tão dopada que está.
Os dias do seu personagem são cheios de tédio e as noites são animadas. Ele cuida do próprio corpo e aparência pela manhã e passa a cometer crimes quando cai a noite, começando por matar mendigos.
Esse é o primeiro filme em que ator teve um tipo físico diferente do que era comum a si. Depois ele ficaria marcado por papéis em que teria mudanças drásticas de visual, sendo os principais deles Reino de Fogo, O Operário, Batman Begins, O Sobrevivente, O Vencedor, Trapaça, A Grande Aposta, Vice e Ford versus Ferrari.
Bale está bastante forte, tanto que nos comentários de DVD, Harron diz que a primeira cena do banho todas as mulheres no set se reuniram para assistir ele se banhar.
Além de passar 40% do filme sem camisa, de cueca ou nu, o interprete impressionou o elenco ao demonstrar uma incrível resposta de controle corporal em seu papel de Patrick Bateman, tanto que, segundo a cineasta, os colegas de elenco Josh Lucas e Justin Theroux reparam que ele conseguia controlar o momento em que começava a suar.
O cenário do quarto de Bateman foi cuidadosamente arquitetado pelo desenhista de produção Gideon Ponte. O profissional aproveitou da sua experiência em negociar arte na cidade de Nova York para povoar o local com diversos tipos de obra de arte diferenciadas.
As pinturas pretas emolduradas penduradas fazem parte de uma série chamada Pinturas substitutas, de Allan McCollum e ajudam a compor uma visão alternativa do personagem principal.
A fim de se preparar para o papel, Bale estudou extensivamente o romance American Psycho. Ele se distanciou dos outros atores no set para criar uma vibração misteriosa e perturbadora para o seu Bateman, também insistiu em obter a aprovação de Bret Easton Ellis para sua interpretação antes das filmagens, até marcou um encontro com o escritor.
Bale apareceu em uma reunião vestido e arrumado como Bateman, chegando a se apresentar como o próprio, mas estava sendo tão impertinente que Ellis implorou a Bale que parasse de agir como o personagem.
O autor afirmou que foi um dos momentos mais assustadores de sua vida.
Durante a produção, Christian Bale seguiu uma rotina matinal severa, que coincidia com a que seu personagem descreve no início do filme.
Ele também se obrigava a falar com sotaque estadunidense o tempo todo. Na festa de encerramento, quando ele começou a falar com seu sotaque britânico nativo muitos membros da equipe pensaram que ele estava falando assim a fim de se preparar para outro filme, de tão convincente que ele parecia ao falar acharam que ele tinha um sotaque tipicamente nova-iorquino.
No entanto, há de notar o sotaque galês brevemente durante a cena em que Bateman confessa os assassinatos por telefone para seu advogado. Era um momento de forte emoção, de fato.
Ele também passou por um tratamento odontológico extenso. Não ficou claro se foi uma escolha pessoal ou se ele foi instruído a fazê-lo pela diretora. Também teve que ganhar músculos e massa para atingir sua meta de cento e oitenta libras ou oitenta e dois quilos. Ele passava várias horas por dia na academia e depois três horas por dia com um treinador no set.
Depois que o filme foi concluído ele admitiu para Guinevere Turner que estava muito farto de ter que comer peito de frango somente.
Pouco antes de completar trinta minutos, ocorre a primeira morte em cena, no caso, o personagem Paul Allen, de Jared Leto. Fica evidente que o motivo dele perecer é a inveja de Patrick, que não aceita que alguém tão tolo tenha conseguido vaga no restaurante Dorsia, sendo que isso nem fica provado de fato.
Aqui ele acaba cumprido o desejo de muitos fãs de cultura pop, já que assassina o interprete de Morbius e Coringa com um machado, ao som de Hip to be Square, música que faz trocadilhos sobre quadris balançando (graças a dança) referenciando também a predileção por fugir de uma categorização mais quadrada.
No livro o nome do personagem é diferente, sendo chamado de Paul Owen. Seu assassinato é mais gráfico. Curiosamente, o personagem é citado o tempo todo, mas só aparece em 3 cenas.
O homicídio ocorre quase sem sujeira, já que Bateman cobriu os móveis e o chão com papel laminado, além de usar capa de chuva em si e lençóis nos móveis. Quando acerta Allen com um machado, ele não suja suas posses, só seu rosto, que é facilmente limpável.
Nesse ponto, Bale improvisou, dando passos de dança ao estilo moonwalk . Ellis considerou esse ato desnecessário, assim com a narração do personagem, que foi muito explícita.
Bateman acaba sendo a personificação do ditado cabeça vazia oficina do diabo... Mesmo ele sendo um VP de uma empresa, a realidade é que ele nada faz, então matar gente e arrastar seus cadáveres acaba sendo uma ocupação que de fato lhe dá trabalho, que o faz sentir vivo.
No entender de Breaton, a burguesia fede
Logo depois aparece o detetive Kimball, personagem de Dafoe, contratado para solucionar o desaparecimento de Paul Allen. Ao encontrar com ele, Patrick teme, afinal, é um homem real, de fora daquela realidade fresca e limpa, que não é frágil, tampouco efeminado. Não é uma presa fácil, é na verdade um possível predador. Mesmo que o detetive seja educado, ele teme.
O elenco e a equipe técnica assistiram O Alerta Vermelho da Loucura que Mario Bava lançou em 1970, basicamente para buscar inspiração. Um dos produtores do filme, Christian Halsey Solomon é filho de Brett Halsey, que protagonizou os filmes de Bava Roy Colt & Winchester Jack e Quatro Vezes Aquela Noite.
A história segue beirando um caminho de insanidade, com Patrick contratando duas prostitutas, usando o nome de Paul Allen. Ele primeiro chama uma moça que trabalha nas ruas, depois contrata uma acompanhante de luxo.
A primeira é Christie, que foi interpreta por Cara Seymour, amiga da diretora, cujo papel foi escrito para ela. Quando as duas estão consigo, ele as utiliza para inflar o próprio ego, gastando mais tempo com uma exibição própria do que com troca de fluídos.
Ele parece mais preocupado em gravar o sexo, em ouvir as músicas de Phill Collins, além de fazer os seus monólogos sobre curiosidades do musicista dentro e fora da banda Gênesis. Não se preocupa em gozar ou ejacular, já que se exibir e se admirar já é o equivalente a gozar.
Para fazer a cena de sexo a três com duas prostitutas, Harron e Christian assistiram a fitas pornográficas. A diretora disse que Bale fez desenhos das posições que achou que funcionariam melhor.
Na transa ele quase não olha para as meninas, mira o próprio reflexo, aponta para o espelho, olha a câmera. As suas parceiras, resta apenas ordens e ferimentos, já que depois ele machuca ambas, mas off camera.
O custo realmente alto de filme foi o de compra dos direitos das músicas utilizadas. Entre os vários percalços, houveram recusas, como de Whitney Houston que não permitiu que qualquer uma de suas canções fosse usada no filme graças ao livro. Duas músicas se destacam, Something in the Air de David Bowie, que tocam nos créditos finais - também esteve em Amnésia, de Nolan - e Hip to Be Square de Huey Lewis & The News.
Essa aparece no filme, mas foi removida do CD da trilha logo após o lançamento por questões de direitos de publicação. O álbum foi recolhido e relançado sem a música, embora algumas versões do lote inicial já tivessem sido vendidas.
Curiosamente, Patrick se permite aparecer vulnerável em alguns momentos, incluindo Kimball e Jean.
A secretária o abala de maneira mais pontual ainda, já que ele prepara para disparar uma pistola de pregos, quando surge um recado da secretária eletrônica, vindo de Evelyn.
Ela sente vergonha, por estar com um sujeito comprometido e ele fica ainda mais embaraçado, não por conta do conteúdo do recado e sim por ter tido a intenção de machucar uma pessoa essencialmente doce, ingênua e que dependia de si.
Jean é o único personagem que percebe que Patrick está de fato perturbado, após um telefonema que ele faz para ela, que acarretam nela achando os seus rabiscos perturbadores e medonhos na agenda em sua mesa.
Ela é possivelmente a personagem mais forte da trama, já que mesmo tendo oportunidade, não sucumbiu à cultura consumista e materialista que Bateman e aqueles que o cercam têm, mesmo que ela tenha flertado sexualmente com ele.
O seu interesse parecia ser mais pela pessoa, por sua beleza e não pelos bens. Mesmo que fosse uma motivação volúvel, não era materialista.
O romance implica que o protagonista sofre de doenças mentais graves, de forma bem mais literal que no filme. No livro Bateman teria muitos colapsos psicóticos emocionais, ataques de raiva explosiva e imagina coisas que não existe, como a transformação da cidade de Nova York em uma selva, com ele sendo convidado para um talk show no meio da mata.
Ele tem características de Transtorno de Personalidade Narcisista, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Personalidade Anti-Social e Esquizofrenia.
Também utiliza muito algumas mais armas a mais, como machados, pistola de pregos, motosserra, maça, ácido, facas e revólveres. No filme ele usa quase tudo isso, menos a maça e ácido.
Ainda há espaço para uma última sequência insana e curiosa. Em um menage à trois, Patrick mata sua parceira com facadas enquanto se agarram entre lençóis, depois ele persegue Christie, a quem ele convenceu a voltar, mesmo depois das agressões.
Ela assiste a colega ser morta, depois é mordida – que é um sinal canibalismo, uma alusão ao livro, onde ele de fato come carne humana - e então foge, ainda que o faça futilmente, já que Patrick a alcança, mesmo que esteja segurando uma motosserra, nu, todo ensanguentado.
O ator adorou fazer essas cenas, ficava genuinamente feliz, aparentemente até se excitava entre as tomadas. Ele corria vestindo apenas uma meia sobre o pênis e alguns tênis. Ainda acerta a menina de um andar alto, de maneira conveniente.
Fica a sensação de que qualquer coisa que ele faz, não possui consequências. Ele faz o que faz, assume, mas nada ocorre. Evelyn ignora o que ele fala, mesmo quando narra suas matanças. É tão fútil e tola que não percebe que ele está terminando a relação com ele. Ele é um sujeito tão mentalmente prejudicado, é tão frágil que é difícil acreditar em sua narrativa.
Ele explode carros, mata o porteiro do trabalho e o faxineiro, como não tem consequências, provavelmente foi tudo mentira. Até um helicóptero vai na direção dele, mas são incapazes de pegar ele.
Até mesmo a ligação que ele faz a Harold, o advogado, parecem um delírio de grandeza, visto que tudo que é mostrado faz pouco sentido, aparentemente tudo não passou de um devaneio, reforçado pela cena de Jean achando o caderno de desenhos.
A confissão foi filmada em 14 tomadas. A diretora Mary Harron continuou pressionando Bale para fazer outra tomada enquanto ele melhorava a cada uma. O que ele menciona na mensagem telefônica incluem alguns acontecimentos exclusivos do livro de Bret Easton Ellis.
No entanto ele é demovido mais tarde do fato de ter matado Paul. O personagem de Leto não reaparece, mas é dado que ele está na Europa, alguém encontrou com ele. Isso tudo pode ser uma armação, um ardil para manter o riquinho vivo, solto e impune, Patrick pode ter feito tudo, pode não ter feito nada e pode ter feito uma parte dos crimes enquanto fantasiou outros.
O fato da maioria dos assassinatos ocorrerem de maneira tão perfeita mais coloca dúvidas do que responde. A resposta mais plausível talvez seja a de que ele cometeu alguns atos criminosos, mas se convenceu de que nada fez especialmente pelo sentido de autopreservação. Narcisista como era, poderia facilmente cair nessa esparrela.
Ele não fez nada ou ele fez e tem sangue tão azul que simplesmente apagaram o histórico? O que é a cena próxima do fime no apartamento do Paul? Uma ilusão, uma descoberta ou um delírio dele. A inconclusão ajuda a deixar o filme na memória do público.
Termina com um monólogo, como o começo. É a saída de um transe, que só pode ser retirado pela mesma pessoa que fez o convite, ou seja, o patético rapaz rico que faz desenhos de gente morta, mas provavelmente é impotente e incapaz de matar, causar mal ou até gozar.
A vida para Patrick é um arrastar de dias e nada mais. Não mais o que sentir ou o que vivenciar. Tudo é tédio, até dar fim a vida das pessoas é assim.
Psicopata Americano é melancolia pura, uma opereta de um homem entediante, desocupado e isento de caráter, que precisa se pôr a prova o tempo inteiro e que precisa esconder as próprias fragilidades. Não é à toa que é o herói dos redpillados, uma vez que é tolo, infantil e injustificado, o herói de tempos deprimentes, a figura patética elevada ao posto de esperto e genial, mesmo que não tenha nenhum motivo para tal.
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