Review: Louie S05E06 - Sleepover

Não, você não leu errado no título: pulei um episódio pois tenho planos futuros para ele aqui no Cine Alerta 😉

louie506bApós a entrada mais sombria da temporada, o que foi entregue neste episódio foi uma espécie de esperança feita para nos acalmar e fazer com que não passemos muito tempo remoendo toda a complicação do capítulo passado. Seja por conter oito crianças gritando por quase vinte minutos ou por ter momentos extremamente caricatos e divertidos como a encenação da história de Bob sobre o porquê de ter sido preso, ou até mesmo após um início aparentemente soturno a mostra positiva de que mesmo quem mexe no celular durante uma experiência coletiva consegue sim experienciar o que está sendo apresentado.

E é bastante curioso trazer novamente o domínio de Louis C.K. sobre o material que apresenta. Seja no domínio contínuo que atinge etapas metalinguísticas durante seu processo ou do ritmo e técnicas que são apresentadas a cada versão semanal do programa de TV. Aqui, por exemplo, o comediante dá início a tudo mostrando trechos de uma peça bastante sombria a qual assiste com a sua filha mais velha, Jane. O que é nada mais do que um eco do episódio passado e que nos faz retomar aquele mesmo tom, mas ao mesmo tempo, por ser breve, nos faz respirar novamente e nos apropriarmos do frescor que começa a se apresentar quando Louie, ao confrontar sua filha por esta ter mexido no celular no momento mais pesado e importante da peça, se cala ao ouvir a argumentação da garota que diz ter pesquisado sobre a peça, e inclusive aprendeu e reproduziu muito mais do que sabia sobre a peça do que seu próprio pai. Aqui podemos já ter em mente aquela velha reflexão que a temporada faz ao colocar a persona de Louie em outros personagens e quem acompanha os stundups de C.K. sabe que ele detesta celulares durante programas como cinema, teatro ou as próprias apresentações de comédia no palco. Ele tem piadas sobe, ele é até agressivo às vezes, e quando ele transforma a Jane no receptáculo de uma reflexão que provavelmente ele deve ter feito por bastante tempo consigo mesmo, ele traz uma resposta e argumentação que faz seu personagem se calar. Um silêncio reflexivo e de aceitação, por suas próprias palavras (lembrando que a série é escrita pelo ruivo e sendo assim todas as palavras derivam dele mesmo) que o fazem pensar que não basta só a opinião ou conceito fechado de algo que ele tem, o mundo não anda conforme a vontade pessoal dele, mas mesmo sem sua aprovação, pessoas conseguem experienciar arte mesmo que distraídas por aparelhos eletrônicos.

Então saindo de uma peça que faz referência a depressão e suicídio (sentimentos que o protagonista sentiu após o término de relacionamento com Pamela) saltamos para o centro do episódio. Voltado para a festa do pijama que sua filha mais nova dará para suas amigas. Louie faz questão de se filmar de forma pastel, não no sentido de cores, mas no sentido de o personagem estar em um momento morno emocionalmente. De não estar vivenciando nada triste ou feliz demais, a não ser responsabilidades e seu sempre senso de salvador, quando ao tentar se conectar com uma das crianças da festa por saber que seus pais podem se divorciar, acaba revelando para a garotinha, que até então não sabia de nada, que seus pais podem não ficar juntos. Mas até isso, seja no momento que ocorre, seja na repercussão final, seve como gag humorística e mais diverte do que causa reflexão ou pensamentos mais profundos. Como eu disse, é um episódio “distração”, uma vírgula no manto negro apresentado recentemente.

Agora, é curioso notar como os tons dos capítulos são estabelecidos pela presença ou falta da Pamela. Aqui ela manda uma mensagem de texto preocupada com Louie e daí surge uma ligação que leva pra sexo por telefone. Essa relação foguete que os dois não conseguem evitar seja com Louie sempre se atirando para precipícios sem nem antes pensar ou de ela sempre levar tudo para o mínimo de compromisso possível sem se importar com o depois é algo a se tirar nota e pensar sobre. Até por que, como a personagem aparece, não só o episódio todo já tem um tom mais animador e divertido, como as cenas que seguem o “reencontro” de Pamela e Louie são as mais divertidas e engraçadas do episódio. Ou seja, o tom de todo o arco emocional do personagem é mantido por como está sua relação com Pamela. Note que durante a ligação ele sai da cozinha fria e blazé e vai para seu quarto, escuro, porém aconchegante, quente, pessoal, e ainda se tranca e se aperta mais, colocando uma luz próxima a seu rosto durante a ligação. E toda a arquitetura da cena apenas traduz o que Louie sente por Pamela, é sim amor, amor do tipo que nada mais importa, sejam oito meninas esperneando que de repente já não fazem barulho, ou seja, de locais que não trazem uma sensação humana, ao se isolar do planeta em sua cadeira com sua lâmpada e seu desejo carnal e sentimental por Pamela. E tudo isso é magistralmente encenado por Louie apenas com visuais, com a mise en scéne.

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E ainda há um retorno de Bob, irmão de Louie, novamente precisando de ajuda fraternal e mesmo sendo o mais velho, agindo como o mais novo, quase como um terceiro filho de Louie. Não há muito do que falar sobre a ida a delegacia a não ser dos absurdos e engraçados momentos proporcionados por oito meninas que não se cansam de gritar e pular. Uma cena feita para alívio em um episódio alívio. Mas na volta, Bob conta uma estória de o porquê de ter sido preso e Louie, sendo cinéfilo e cineasta que é, faz questão de filmar o absurdo em preto e branco e com exageros expressionistas que remetem diretamente ao cinema mudo. Um momento surreal e divertido trazido por alguém que mesmo tendo consciência e noção da seriedade que já estabeleceu, se permite demonstrar até como uma forma livre de se fazer audiovisual sem com que quebre a lógica apresentada no episódio ou na série, que está repleta desses pequenos absurdos, ora feito para diversão, ora feitos para reflexão.

Fazendo um panorama geral, mesmo sendo o episódio mais “claro” da temporada, é também o que mais agrega no quesito jornada dos arcos. Ele trás os conflitos centrais do protagonista, os personagens que foram centro até então (Pamela e Bob), os problemas recorrentes na vida do comediante (divórcio, por exemplo) e fecha tudo com uma discussão divertidíssima sobre origem de iogurte que deve ser vista mesmo que de forma isolada.

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