A Tara Maldita é considerado um clássico do cinema de horror. Conhecido por se basear em uma peça famosa, o filme contém um drama familiar assustador, que perverte a ideia lugar comum de que as crianças são entidades de pureza e ingenuidade.
Lançado em 1956, o longa é normalmente classificado dentro do gênero drama, mas reúne elementos de suspense e ação policial. Conduzido por Mervyn LeRoy, é lembrado por seu premiado elenco, que inclui Nancy Kelly e Patty McCormack.
A história segue a vida e rotina de uma mulher de meia idade, a mãe de família Cristine, uma gentil e honesta esposa, que é mãe de uma linda menina. Ela tem uma vida feliz e comum, mas sente um pequeno incômodo em ser ignorada por todos.
Em determinado ponto, a entropia encontra o seu cotidiano e o incomodo passa a crescer, se avolumar, ganhar vulto, se transformando em algo muito pior, já que ela tem uma espécie de percepção e revelação única, que é outra vez ignorada.
Christine é casada com um comandante da Marinha, portanto ela vive quase o tempo toda sozinha, com a filha Rhoda, tendo como companhia a senhoria da casa onde moram de aluguel.
Até então a sua rotina é teoricamente perfeita, fora a sensação ruim citada acima. Com o tempo ela passa a suspeitar que algo de errado ocorre com os seus, graças a sua própria natureza e sangue.
Essas suspeitas são atendidas, como suplicas não pedidas conscientemente e a percepção de que há alguém péssimo morando em sua casa a faz se sentir culpada. A trama é curta e gira em torno dela chegando a essa triste conclusão.
O longa é foi dirigido e produzido por LeRoy, O roteiro é de John Lee Mahin, baseada na peça de Maxwell Anderson e no romance homônimo de William March, embora o livro (e peça) se chamem Menina Má no Brasil.
Boa parte do elenco é retirado da exibição teatral, que era uma produção da Broadway que ficou em cartaz até dezembro de 1954, com 334 apresentações.
Nancy Kelly ganhou o prêmio Tony de Atriz em Drama em 1955 e reprisou seu papel no filme da maneira muito elogiosa por parte de crítica e público na época. Patty McCormack também, além de Eileen Heckart, Evelyn Varden, Henry Jones e Joan Croydon que igualmente retornaram seus papéis de palco na versão cinematográfica.
Enquanto se pré-produzia o filme se pensou em Rosalind Russell (de A Mulher do Século) para o papel de Christine Penmark, até que o estúdio decidiu optar por reprisar os atores da montagem teatral.
Uma das grandes críticas feitas ao longa foi a direção de atores. LeRoy teria feito pouco para persuadir Nancy Kelly a modular sua atuação em tela. Ela basicamente replicou o mesmo papel diante das câmeras, repetindo as expressões faciais, gestos e movimentos exagerados que fazia no palco.
Isso incomoda um pouco, eventualmente o espectador se acostuma, já que a dramaticidade exagerada ajuda a aplacar questões básicas, como a ausência de gore e um texto mais direto ao ponto no quesito violência.
Os códigos de conduta da época não permitiam que fosse muito explícito, por isso as reações do elenco ajudam a reforçar essa questão.
Alfred Hitchcock foi cogitado para fazer o filme, mas recusou a chance de dirigir. Quase coube a condução também a Billy Wilder. Ele nutria vontade de dirigir uma versão baseada na peça, mas não conseguiu permissão da PCA (Production Code Administration) cuja recusa teria a ver com o desejo dele de não punir os pecados que ocorrem no filme, entrando assim em contradição com o romance e com a peça.
Paul Henreid também tentou comprar os direitos da peça. Ele queria dirigir e planejava escalar Bette Davis para o papel da mãe.
A estreia nos Estados Unidos foi em uma premiere em Atlantic City, Nova Jersey, em 16 de agosto de 1956, enquanto no resto do país saiu em 12 de setembro de 1956. No Reino Unido saiu no dia 27 do mesmo nome.
O título original é The Bad Seed. No Brasil pode ser encontrado como A Semente Maldita, no título em DVD, A Tara Maldita ou apenas Tara Maldita.
Na Argentina é La mala semilla, na Dinamarca é Ondskabens sæd, na Finlandia é Vaarallista kylvöä, na França é La mauvaise graine. Na Grécia é Katarameni spora, na Hungria é Elátkozottak gyermekei, na Itália é Il giglio nero, na Espanha é La mala semilla.
As filmagens ocorreram entre setembro e novembro de 1955, em Burbank, na Califórnia, no Midwest Street, no Warner Brothers Burbank Studios - 4000 Warner Boulevard, que são a base para o apartamento da família
Foi a própria Warner Bros que produziu o filme, também distribuiu o longa nos Estados Unidos e em boa parte do mundo. No Brasil foi lançado pela Magnus Opus em DVD, no ano de 2011.
Leroy é conhecido por ter sido produtor em O Mágico de Oz e Os Irmãos Marx no Circo, pelo épico Quo Vadis e também Em Busca de Um Sonho. Foi o diretor não creditado em Os Boinas Verdes.
John Lee Mahin escreveu Scarface: A Vergonha de Uma Nação, Marujo Intrépido, O Céu é Testemunha e Marcha de Heróis.
Maxwell Anderson escreveu Uma Sombra que Passa e a peça Os Predestinados. Ele adaptou a versão de Sem Novidade no Front de 1930 e contribuiu com o texto do clássico Ben-Hur.
William March teve vários textos adaptados, como Company K em 2004, versões desse para televisão The Bad Seed de 1985, Tara Maldita de 2018 e The Bad Seed Returns de 2022.
Nancy Kelly fez Máscara Oriental, A Mulher que Voltou, A Mão Cortada, O Crime do Music Hall. Apesar de ter recebido uma indicação ao Oscar por este filme, ela nunca fez outro filme para cinema, concentrando-se apenas em projetos de TV, como Studio One, Climax!, Impacto e The Alfred Hitchcock Hour.
Na época em que a peça estava em cartaz na Broadway, McCormack tinha um papel recorrente no seriado da CBS Mama, baseado em Nova York e que era transmitido ao vivo.
Depois que ela foi escalada para a peça, ela teve que se desdobrar para atender as demandas, se apresentando ao vivo às 20h às sextas-feiras no seriado, tendo que sair correndo do estúdio na West 52 Street e pegar um táxi até o 42 Street Theatre na Broadway, trocando de roupa no táxi, já que estaria no palco às 20h40. Apesar da agenda lotada, ela nunca perdeu uma apresentação de sexta-feira.
Patty McCormack fez As Aventuras de Huckleberry Finn, Geração Violenta e Praga Infernal. Ainda está na ativa, participou de clássicos modernos, como Frost/Nixon, O Mestre, além de ter uma participação no telefilme Tara Maldita de 2018 e na sequencia The Bad Seed Returns.
McCormack tinha dez anos e interpretava uma criança de 8, a equipe de caracterização (cabeleireiro, maquiadores e figurinistas) a vestiram e pentearam para parecer mais jovem, colocando vestidos grandes, deixando a franja mais proeminente, além de apelar para uma maquiagem facial que deixa ela mais pálida.
Patty McCormack confessou que foi divertido para ela interpretar uma criança tão malvada e vaidosa como essa.
A indicação de Patty McCormack ao Oscar marcou época, já que foi uma das primeiras vezes que uma atriz infantil foi indicada ao prêmio. Antes da década de 1950, estrelas infantis e adolescentes como Mickey Rooney, Judy Garland e Margaret O'Brien receberiam um Oscar juvenil honorário, mas concorrer de fato ao prêmio não era possível.
A indicação gerou a tendência de incluir jovens atores no processo de indicação para atuação. Em 1962, Patty Duke – que curiosamente adotou seu primeiro nome devido ao sucesso de McCormack – se tornaria a primeira jovem estrela a ganhar um Oscar por O Milagre de Anne Sullivan.
A direção de LeRoy foi bastante criticada pelo apresentador do TCM, Robert Osborne que expressou desapontamento com o fato dele não diminuir o tom das atuações, especialmente com Kelley e Eileen Heckart. Ainda assim, Osborne elogiou a execução do filme, especialmente por assustar o público com seu tema tabu.
A bilheteria foi um sucesso, um dos maiores tentos do estúdio em 1956, também graças ao foco na noção de "natureza versus criação".
Começaremos a falar sobre a narrativa, com spoilers. O aviso está dado.
A narrativa começa animada, com a música instrumental de Alex North tocando bastante alto, enquanto mostra os créditos, depois o cenário campestre onde a história se passará.
A câmera vai até a cidade, registra a chegada de um pai a sua casa. Ele é o coronel Kenneth, interpretado por William Hopper. Assim que chega ele procura sua filha, Rhoda (McCormack) que está tocando Au Clair de la Lune no piano.
Ele se prepara para viajar, vai em casa para se despedir de sua família. A casa é um cenário fixo, onde as pessoas transitam, lembra demais a estrutura de uma peça, tal qual ocorre com o material base. Até por conta disso, a cena inicial se dá do lado externo, passando por uma plataforma de madeira que leva até um lago, antes mesmo de Hopper entrar em cena.
Assim como o personagem Coronel Penmark vários membros do elenco e da equipe eram militares veteranos, boa parte serviu na Segunda Guerra.
Hopper, serviu na Marinha, Henry Jones e Gage Clarke estavam no Exército. Lee Mahin e Frank Cady serviram nas Forças Aéreas, o diretor Mervyn LeRoy trabalhou para o governo, fazendo filmes de informação pública sobre assuntos como combate a bombas e extinção de incêndios, para ajudar a preparar o país para um possível ataque durante a guerra.
Alguns membros da produção serviram na Primeira Guerra, como o autor William March, que serviu no Corpo de Fuzileiros Navais enquanto o diretor de fotografia Harold Rosson serviu no Exército. Paul Fix serviu na Guarda Nacional, no Exército e como paramédico.
Além da mãe da família e sua filha, também frequenta o recinto a idosa Monica Breedlove (Evelyn Varden) a dona da casa onde eles moram. Ela age como parte da família, dá pitacos sobre a criação da menina, funciona como uma quase governanta, madrinha ou avó postiça, já que essa é uma família cujo pai está sempre ausente.
Ela gosta de presentear a menina, dá conselhos a Christine e até defende a menina, mesmo quando isso é desnecessário.
Entre os personagens assessórios há também o serviçal LeRoy, de Henry Jones, que também interpreta o locutor de rádio que relata a tragédia da Fern School.
O sujeito parece ter necessidades especiais, tem dificuldades de concentração e um comportamento errático, tanto que tem a pachorra de xingar a menina, apelidando-a de sra. Insolência. Ele molha os sapatos da menina, de uma forma que parece ser uma brincadeira, mas que desagrada muito Monica.
A senhora toma as rédeas da situação e o humilha, diz que achava que ele era doente. O chama de vários adjetivos péssimos, como psicopata e neurótico, enquanto Christine segue passiva, sem autoridade sequer para impor limites a senhora, já que ela não tem qualquer ligação sanguínea com Rhoda, para agir assim.
Apesar de agir de maneira um pouco passiva e anestesiada, fica claro que a mãe se preocupa demais com o bem-estar da filha, até pergunta a pessoas próximas, como a uma professora, se Rhoda se entrosa com outras crianças.
O receio dela segue em outras conversas, como quando ela conversa com Monica, Reginald "Reggie" Tasker (Gage Clarke) e Emory (Jesse White) sobre as dificuldades de criar uma criança em tempos tão modernos e violentos, ou seja, a reclamação dos anos 1950 e bem semelhante as décadas pós 2000.
Entre gracejos e falas desinteressantes sobre a vida pessoal de cada um deles, se destaca o fato de que Reggie é fã do pai de Christine, que é Richard Bravo, um escritor famoso, que foi correspondente de guerra e romancista sobre crimes.
Ele pergunta se o medo de Christine tem a ver com a natureza do trabalho do pai, acreditando que o meio influencia o homem, portanto, o ambiente da casa de Bravo poderia gerar receio nela enquanto menina e agora mulher.
No entanto, ela se diz muito diferente de seu pai, tanto que afirma acreditar que era adotada.
Há vários elementos visuais que "preveem" a trama mais chocante, como manchas nas paredes da casa, que lembram os testes de Rohrschach. Uma dessas mostra uma mulher segurando um bebê ou uma boneca com os braços estendidos, de uma forma ameaçadora, prevendo parte da revelação final.
As pessoas estão na casa ouvindo o rádio e a transmissão é interrompida graças a uma tragédia que ocorreu no Camp Fern, um afogamento.
Christine fica desesperada, achando que foi a filha, mas respira mais aliviada, quando descobre ter sido Claude Daigle de 8 anos, menino que caiu do pier, se afogando, com estranhos hematomas nas mãos e nos pés.
A mãe se preocupa em transmitir para a filha a notícia da morte do colega, pouco depois que ela chega, mas Rhoda já sabia e não se assusta com o fato, inclusive achava empolgante o fato de um menino ter morrido.
A mãe não tem tempo sequer de se chocar, já que chega a Sra. Fern, funcionária da escola, que é interpretada por Joan Croydon vai visitar a família.
Segundo ela, o menino que morreu e Rhoda disputavam uma competição, que daria uma medalha para quem tivesse melhor caligrafia. Claude venceu, mas a medalha não estava com o corpo, além disso a menina foi a última pessoa a ver a vítima com vida.
O livro que Rhoda usou para "vencer" o concurso é Elsie Dinsmore, escrito por Martha Finley em 1867. Esse é o volume um da série literária de mesmo nome, que reúne temas religiosos sobre uma piedosa menina de oito anos que era extremamente obediente aos mais velhos, conhecida atualmente por ser estranha, já que a tal menina suportava até abusos verbais de seu desagradável pai.
No romance há uma diferença clara sobre os concursos de caligrafia. É dito no livro que Rhoda foi excelente durante todo o ano letivo, deixando pouco espaço para melhorias até o fim do ano. Já Claude Daigle melhorou de maneira surpreendente, por isso deram a medalha para ele, para incentivá-lo.
Dessa forma, é dada mais ênfase ao pensamento vaidoso e quase irracional de Rhoda, que se enfurece por se sentir desprestigiada com uma premiação de simples compensação.
Também fica patente que a menina leu o livro, fez suas tarefas, mas não refletiu em nada sobre o conteúdo defendido, afinal, suas ações são o exato oposto da pequena Elsie.
Os pais de Claude vão até a casa dos protagonistas, são eles Eileen Heckart como a mãe bêbada Hortense e Frank Cady como Henry Daigle.
Ela chega ébria e desesperada, triste e indignada pelo que aconteceu, mas também acusadora, apontando dedos para a professora e para a mãe de Rhonda, inclusive pergunta da tal medalha, suspeitando desde o momento inicial que a menina pudesse ter feito algo contra ele.
É evidente que a suspeita da mãe desesperada é movida mais por luto e indignação do que por fatos, afinal, não haviam indícios tão evidentes da culpa de Rhoda no caso. Ainda assim fica o alerta, afinal, quase todas as pessoas parecem estar a frente de Christine no caso, mais avançados na verdade dura que ela não encara.
O fato de se passar a história inteira em um mesmo lugar deixa uma sensação de monotonia no ar. Mervyn LeRoy tenta solucionar isso mostrando momentos fora da casa sempre que pode, como quando o pai da família atende o telefone do trabalho.
Poderia ser apenas a voz dele em off, mas não, Hopper aparece fardado, em sua mesa, sendo absolutamente frio com sua esposa, sendo mais uma vez o marido protocolar que ele acredita que deve ser.
No entanto quem chama o longa-metragem de enfadonho se engana ou é simplesmente impaciente, já que o ritmo acelera à medida que Christine percebe a desonestidade de sua pequena.
A negação dá lugar a uma enorme indignação quando ela finalmente encontra a medalha que Claude "perdeu" antes de cair na água. A música muda, a trilha fica mais urgente. Rhoda tenta convencer sua mãe de que há um motivo plausível e inocente para estar com o item.
Usa suas armas sentimentais de maneira maldosa e madura, McCormack tem total domínio sobre sua personagem, consegue convencer, variando entre a docilidade maquiavélica e crueldade calculada de maneira natural e fluída.
Mesmo com esse conflito inicial, Rhoda segue intacta, a mãe entra em um novo estágio de mentira auto infligida, não fica claro se essa é uma arma vaidosa ou se é só inconsciente mesmo. Fato é que ela não enquadra a filha de maneira definitiva, mas ensaia entregar a menina.
Ao ter espaço para "manobrar" a sua situação, Rhoda segue tendo atritos com o empregado, de uma maneira tão suspeita que até a mãe se incomoda.
Em algum ponto da trama, Kelly muda o tom de suas roupas, usa uma peça única, escura, toda preta, como se estivesse de luto após constatar a possível e provável culpa da filha.
Paul Fix finalmente aparece, como o pai da protagonista (e obviamente o avô da menina) ele faz o escritor veterano, Richard Bravo.
Há quem defenda que ele pode ter sido baseado no jornalista Edward Bechly, cujas reportagens investigativas sobre a serial killer norueguesa-americana Belle Gunness o tornaram nacionalmente famoso.
Em sua primeira participação ele fica calado, pensativo, sendo ofuscado por seu admirador, Reggie, que fala a respeito de que uma característica genética assassina está sendo transmitida de geração em geração. Fala a respeito da semente do mal, ou bad seed no original.
Sobre o conceito, o psicólogo Robert D. Hare argumenta que a psicopatia é uma característica inata, em seu livro Without Conscience de 1993 há uma citação do romance. Nela se considera que Bad Seed justifica que como a maioria das pessoas decentes não são muito desconfiados, já que sua natureza não produz a malícia necessária para identificar e antecipar os atos de maldade e depravação que algumas pessoas são capazes de cometer.
Ele também argumenta que o romance de March é um retrato "notavelmente fiel à vida" do desenvolvimento da psicopatia na infância, ilustrando tanto o uso insensível que Rhoda faz dos outros para servir a seus próprios fins, quanto o crescente desamparo e desespero de Christine à medida que ela percebe o comportamento da filha.
Levando em conta o que Tasker falou, Christine acredita que pode ter herdado o gene assassino de seus verdadeiros pais, caso de fato fosse adotada e esse gene pode ter pulado uma geração, ou seja, a "semente ruim" poderia estar na menina, já que ela não sabe quem é o seu pai, uma vez que Bravo tinha muito contato com bandidos e psicopatas.
Pai e filha conversam sobre as inseguranças de Christine, ela cisma que não é filha de Bravo, afirma isso diante dele. Tudo aparenta ser apenas um devaneio da mulher, até por conta dos atores Kelly e Fix se parecerem, mas ele parece tão inseguro com essa suspeita que faz parecer verdade.
Ele enfim assume que a encontrou enquanto viajava a trabalho para Chicago, enquanto verificava um caso.
Christine é de fato uma filha não legítima de Richard, foi encontrada como a única sobrevivente de uma onda de assassinatos. A mãe biológica dela era Bessie Denker, uma notória assassina em série, que morreu na cadeira elétrica.
Denker é vagamente baseada em Belle Gunness, uma serial killer americana nascida na Noruega que assassinou maridos, filhos e pretendentes por dinheiro ou apólices de seguro.
Ela enterrou seus restos mortais em sua fazenda em Indiana, depois fingiu sua própria morte - aparentemente, já que as circunstâncias são bastante suspeitas - e desapareceu em 1908.
Gunnesse matou pelo menos 14 pessoas, ao menos são esses os números que foram atribuídas ao seu caso.

Belle Gunness e alguns de seus filhos
Christine se culpa por transmitir o gene assassino da "semente ruim" a filha, mas se apega à esperança de que Rhoda possa ter matado Claude por acidente.
Quanto a Bravo, fica claro que ele mesmo acreditava nessa tese, mesmo que minta, dizendo que não, já que depois que Christine foi adotada ele mudou sua escrita e pesquisa radicalmente, falando sobre o ramo do petróleo.
A revelação desse parentesco pode não revelar uma natureza ruim para a menina, mas demonstra uma sina para Christine: ela sempre foi ignorada e enganada.
Seu marido a exclui de seus sentimentos matrimoniais, a filha a vê com desconfiança, a senhoria da casa é boazinha, mas também não leva em consideração o que ela fala ou pensa, já seu pai, por mais amoroso que seja, passa por cima de sua vontade de saber a verdade, só revelando o que ela sempre quis saber quando ele mesmo estava velho.
É até esperado que ela fosse tão enganada e ludibriada ao longo da vida, afinal, mentem para ela desde criança. A negação poderia e deveria ser o seu norte, desde pequenininha, mas agora há algo urgente, diante da conclusão terrível que ela encontra, há algo a mais para se preocupar além de sua vaidade ou bem-estar.
Mais pessoas podem ter suas vidas em risco.
Depois de todas as revelações, Hortense retorna a casa dos Penmark, até abraça a pequena Rhoda. Ainda bêbeda, tenta se redimir, sem perceber que sua percepção, por mais que fosse pautada só em raiva, estava certa desde o início.
Mais uma vez Christine muda a cor de suas roupas. Agora usa cinza, como se seu estado de luto tivesse mudado, empalidecido diante do destino inexoravelmente trágico que se acometeu sobre ela.
Ela não consegue mais negar a si mesma a culpa da filha, tampouco consegue esconder bem o que sente.
Ainda assim consegue ser mais uma vez enganada, não demorando a entender a culpa óbvia da menina sobre o incêndio que ocorreu no porão, que vitimou LeRoy.
O fato da garotinha estar tocando piano alto, para abafar os gritos do homem que está morrendo é algo cruel e também poético, sendo para ela a prova cabal de que aquilo não foi um acidente.
De certa forma essa se assemelha muito ao momento em que Henry Evans de Macauly Culkin tenta salvar a irmã no lago de gelo, no clássico noventista O Anjo Malvado. Tanto Rhoda quanto Henry não calculam que podem eles mesmos se machucar ou até morrer, são tão ensimesmados e infantis que não notam o perigo.
Algumas notas de produção da Warner relataram que três finais foram filmados. De acordo com um artigo de novembro de 1955 no Los Angeles Times, o desfecho "real" foi mantido em segredo e as últimas cinco páginas do roteiro não foram distribuídas até o momento da filmagem.
Depois de tudo, depois de um fade out, Christine volta ao centro do palco, muito calma. Já não nega os sentimentos ruins. Tem uma expressão melancólica e toma remédios.
Parece que é para esquecer ou para controlar algo, mas ela dá também a Rhoda. Há um barulho de tiro, que se ouve de perto, fora de tela, mas não tão distante. É dramático.
Ela deu uma dose letal de calmantes para Rhoda, depois atirou em si. Tudo é revelado de maneira expositiva, porém seca. Ainda conseguiram salvar Rhoda, sabe-se lá para fazer o que depois.
O "final real" é meio covarde, a mãe acorda do coma, enquanto a menina vai até o lago, à noite e sofre com um raio, que cai na ponta do cais, o mesmo ponto onde o filme começou mostrando a sua ação. A natureza cuida de tratar a menina, castigando ela, já que o raio cai em cima dela, mostrando que se a justiça dos homens não pegou a garota malvada, a justiça divina sim, sendo poética ao ponto de acertar as contas com esse anjo maligno.
Antes de encerrar o elenco inteiro é apresentado, além de haver uma cena cômica, onde mãe e filha aparecem juntas, com a primeira dando palmadas na segunda.
De acordo com Patty McCormack, a chamada ao palco dos atores no final do filme foi um resquício da produção da Broadway.
O final original da peça, em que Christine morre e Rhoda vive para matar novamente, irritou tanto o público que, quando a apresentação terminou, eles quase agrediram elenco e produção, em uma exibição. Por isso se optou por uma cena onde Christine vira Rhoda sobre os joelhos e bate nela, quebrando assim a tensão, fazendo o público rir, dando também um castigo físico a Rhoda.
De qualquer forma, o Código de Produção Cinematográfica em vigor na época, exigia que crimes deveriam ser apresentados de forma a não gerar simpatia sobre si e sim a favor da lei e a ordem, então certamente haveria uma mudança no cinema, mesmo que a peça não fosse assim.
A Tara Maldita é pontual, sentimental e muito pesado. Um soco no estômago, que mesmo com grandes concessões no final, ainda assim nutre uma história pesada, com reviravoltas e bizarrices que mostram crianças como figuras capazes de fazer o mal. Foi um marco no cinema de horror, mesmo com tantas restrições de assunto, é uma boa opção dentro do cinema de crianças malvadas e macabras.