Scarface, a Vergonha de Uma Nação : Um quase Al Capone e um pré-Tony Montana

Scarface, a Vergonha de Uma Nação : Um quase Al Capone e um pré-Tony MontanaScarface, A Vergonha de Uma Nação é um filme denúncia, que se encontra entre os gêneros policiais e noir, mas é mais conhecido por ser parcialmente baseado na história do mafioso italo-americano Alphonse Gabriel "Al" Capone, que ficou famoso em Chicago com a alcunha Al Capone.

O longa também é conhecido por ser uma obra sobre a máfia ítalo-americana e por ter ajudado a estabelecer a estética vista nas obras que tratariam do assunto.

Dirigido por Howard Hawks, a obra é possivelmente mais lembrada por seu remake Scarface de Brian de Palma, no entanto esse original é uma obra rica por si só, graças claro aos temas sobre a criminalidade, mas também por lidar com assuntos espinhosos, polêmicas incestuosas, além de tratar uma figura bandida de maneira realista e humaniza, mesmo que exagere em alguns pontos.

Lançado em 1932, é uma obra "refém" de sua época, já que captura toda a atmosfera do pós Crise de 1929 e da Grande Depressão. O clima de tristeza e desolação só deixaria o povo estadunidense após o ingresso do país na Segunda Guerra Mundial. Não é à toa que Scarface é uma obra regado a melancolia, que dá voz a um personagem marginal.

Antes da trama iniciar entra uma música de fanfarra, muito bonita, orquestrada pelo compositor Adolf Tandler, que aliás, nem recebeu os créditos por esse trabalho. O título da obra e dos envolvidos possui uma estilização própria, em um letreiro cinza, com X atrás, símbolo esse que seria repetido sempre em momentos chave da obra, como detalharemos mais à frente.

Logo entra um letreiro, dizendo que a intenção da obra é denunciar a criminalidade e a vida bandida. O texto termina fazendo uma pergunta ao governo: o que vocês vão fazer a respeito disso?

O artifício é quase uma quebra de quarta parede, já que propõe um nível de interação institucional e obviamente foi proposital.

O roteiro foi baseado no livro Scarface, de Armitrage Trail, de 1930. A adaptação ficou a cargo de Ben Hecht, um ex-jornalista de Chicago familiarizado com os gangsteres da era da Lei Seca da cidade.

Durante as filmagens, o escritor teria encontrado dois sujeitos, que se proclamavam homens de Capone, perguntando se o filme era sobre o chefão. Ele garantiu que não, dizendo que o personagem principal era baseado em gangsteres como "Big" Jim Colosimo e Charles Dion O'Bannion.

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Também teria dito nessa conversa que a razão do nome da obra fazer menção a cicatriz - que Capone também tinha - era justamente para despistar e para chamar a atenção do público. Os capangas teriam gostado da forma que ele falou e deixaram ele em paz.

Hecht trabalharia bastante no cinema, seguiria escrevendo e até dirigindo, como em O Energúmeno, de 1935 e Anjos da Broadway de 1940. É mais lembrado por escrito o filme mudo Paixão e Sangue (Underworld) de 1927, junto a Hawks inclusive, obra essa que ganhou o Oscar. Também trabalhou em Interlúdio, filme de Alfred Hitchcock que estrelava Cary Grant e Ingrid Bergman.

O texto ainda possui os créditos de diálogos para Seton I. Miller de As Aventuras de Robin Hood e Meu Amigo, O Dragão, W.R. Burnett de Contra a Lei e Fugindo do Inferno e John Lee Mahin de Marujo Intrépido. Também teve como roteirista não creditado Fred Pasley, além de Hawks também.

No livro de Trail, Antonio 'Tony' Camonte nasce Antonio 'Tony' Guarino e cresce com seu irmão Ben Guarino. Depois de cometer vários crimes, a polícia procura ele, então Tony decide ir a Primeira Guerra Mundial, em uma tentativa de fugir. No conflito ele recebe sua cicatriz, fica tão desfigurado que não o reconhecem. Como ele foi dado como morto, ele assume a persona de Antonio 'Tony' Camonte e começa uma nova vida.

O roteiro do filme começa a partir desse retorno, ou seja, caso Hecht decidisse ser fiel ao livro, o policial Ben Guarino seria irmão de Tony, no entanto isso foi ignorado e uma nova família foi estabelecida para o homem da cicatriz.

Embora ambientado em Chicago, Scarface só estreou na cidade quase dez anos depois, em 20 de novembro de 1941. O filme foi proibido pelo Chicago Film Review Board, um departamento do Departamento de Polícia de Chicago.

Teve como produtores não creditados Howard Hawks e seu xará Howard Hughes, de Anjos do Inferno e Vendetta. Hecht fez Hughes dar luz verde ao filme, dizendo-lhe que seria uma versão moderna da vida dos Bórgias, especialmente graças as questões polêmicas familiares.

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De acordo com o Daily Star, Hughes anunciou que iria iniciar uma luta legal em todo o país para forçar "Scarface" a ser exibido sem exclusões de censura, começando pelo estado de Nova York, que tinha proibido o filme assim que ele estreou.

A liberação demorou bastante, graças as acusações de que a obra glamourizava um estilo de vida marginal. Curiosamente obras como Os Bons Companheiros e O Poderoso Chefão também foram acusadas da mesma forma, em décadas posteriores a esse. Para além de qualquer censura abominável, é fato que as três obras flertam com essa condição, embora Scarface seja mais pontual na condenação de seu personagem central.

Em algum ponto da pré-produção se usaram outros nomes, como The Shame of a Nation, The Menace, Yellow, Man is Strange e The Scar. O título oficial variou pouco no mundo, sendo encontrado como Scarface: Cara cortada na Argentina, El terror del hampa na Espanha, Scarface: The Shame of the Nation no Canadá, ou meramente The Shame of the Nation em exibições nos Estados Unidos. Na Itália recebeu o nome Scarface - Lo sfregiato.

O filme foi rodado em Los Angeles nos Metropolitan Studios de Hollywood, com locações em Mayan Theater, em Downtown. Embora tenha sido distribuído pela United Artists, a maior parte do filme foi filmada no Warner Brothers Studios em Burbank, Califórnia.

O estúdio que fez ele foi The Caddo Company, mas nos releases mais recentes, é possível achar ele com cartelas da Universal Pictures.

Havia um rumor de que Al Capone gostou tanto do filme que tinha uma cópia do mesmo, mas essa história é, no mínimo, um exagero ou apenas uma lenda urbana, já que o gangster foi julgado e considerado culpado em 1931, cerca de cinco ou seis meses antes da estreia do filme.

Como a obra foi proibida pouco tempo depois de sua estreia, é improvável que Capone tenha visto após sua libertação, especialmente porque ele estava doente quando foi liberto, em um estágio avançado de sífilis. No entanto, Hawks aproveitou o boato para tentar capitalizar em cima disso, afirmando que Capone gostou tanto da obra que enviou um presente de Natal, uma metralhadora real.

Hawks se tornaria um grande cineasta, tendo feito dezenas de obras clássicas, como Uma Aventura na Martinica, filme de 1944 com Humphrey Bogart, além de ser responsável por clássicos westerns como Rio Vermelho em 1948, Onde Começa o Inferno de 59 e El Dorado em 1966.

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Os censores da época pensaram que o filme retratava a vida de um criminoso como algo muito fácil e que Tony ainda havia escapado impune de seus crimes e isso influenciou diretamente em alguns dos rumos dramáticos da história.

Se pensou em filmar um outro final, com Tony sendo levado pela polícia, para ser condenado e enforcado, mas o protagonista Paul Muni havia retornado a Nova York para atuar em uma peça, não conseguindo fazer a nova cena.

Houve então uma refilmagem, de uma cena com dublê, fazendo o personagem Tony Camonte. Também foi reeditada uma cena de morte, no final, em nome de tirar o potencial incestuoso. Essas mudanças não foram suficientes para satisfazer a vontade dos censores, então o Hawks decidiu abandonar essas novas tomadas e lançou a obra como foi concebida, sem aprovação mesmo, com o subtítulo do filme: "A Vergonha de uma Nação".

Por mais que o roteirista tenha negado, há evidentes semelhanças entre as situações dramáticas do filme com eventos reais da guerra da lei seca de Chicago. Os capangas de Al Capone mataram Charles Dion O'Bannion em sua floricultura, tal qual ocorreu com O'Hara no filme. Outro momento tem a ver com uma caravana de carros, que vão atirar contra Tony.

Essa última foi baseada em um incidente de 1927, quando Hymie Weiss, fez a mesma coisa com Capone. Outra semelhança tem a ver com um massacre no dia de São Valentim, que tem base no Massacre do Dia dos Namorados de 1929.

A narrativa ficcional começa na Rua 22, onde um comerciante recolhe uma placa na parte externa de seu bar. Hawks coloca a câmera para acompanhar todo o caminho do sujeito, viaja ao interior do estabelecimento, flagrando três homens, que conversam.

O mais vocal entre eles fala praticamente só de si, vaidoso que é. O sujeito se auto intitula Big Louie Costillo (Harry J. Vejar) e passa seus minutos de tela louvando a própria figura, prometendo que em breve haverá uma festa ainda maior que a que acabou de terminar.

Depois de se despedir dos seus amigos, Louie vai até outro cômodo, fazer uma ligação telefônica. No meio disso é pego de surpresa, por um homem de terno e chapéu, do qual se vê apenas as sombras. Ele chega, cumprimenta Costillo e o mata.

Ao sair ele assobia uma música, famoso quarteto de Lucia di Lammermoor de Donizetti. Essa é uma sequência que lembra como Capone atirou em Big Jim Colosimo que era dono de boate.

Não demora a aparecer a dupla Guino Rinaldo (George Raft), o Little Boy, e o protagonista Tony Camonte, um homem altivo, resoluto e marrento, que se diferencia por uma questão física pontual, tendo uma grande cicatriz no rosto. Ele é vivido por Paul Muni.

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Muni era um ator de teatro, austro-húngaro, cujo nome civil era Frederich Meshilem Meier Weisenfreund. Ele trabalhou bastante nessa época, chegou a ser indicado pela academia várias vezes e até ganhou um Oscar por atuação, no drama A História de Louis Pasteur em 1937, também ganhou o prêmio Tony Award de Melhor Ator em 1955 pela peça O Vento Será tua Herança, ou Inherit the Wind no original.

O produtor Irving Thalberg sugeriu Clark Gable para o papel de Camonte, mas Hawks recusou, pois queria um ator com capacidades dramáticas. Escolheu bem, já que Muni se entrega bastante, tanto que ficaria famoso por representar papéis semelhantes a esse.

Esse foi o primeiro grande crédito em atuação para Raft. Sua fonte de inspiração para atuar como Rinaldo foram os bandidos locais de seu bairro em Nova York. Ele viu de perto gente como Bugsy Siegel, Meyer Lansky, Joe Adonis e Salvatore 'Lucky Luciano.

Quando Guino e Tony são apresentados, também aparece um policial, chamado Ben Guarino (C. Henry Gordon), que atravessa a rotina deles da maneira abrupta, enquanto eles estão em uma barbearia

Os pequenos sinais denunciam como a sociedade vê os bandidos, já que o dono da barber shop permite que eles escondam suas armas no meio dos pertences comuns do estabelecimento. Se a polícia pegasse, certamente poderia dar muitos problemas. Mais tarde é dado que aquele era na verdade o esconderijo de Tony, tendo inclusive um cômodo secreto para ele, mas até esse momento isso não era dado.

A ficha criminal do personagem central é extensa. Ele já foi acusado de agressão, porte ilegal de armas, arruaça, furto, assalto à residência, violação à Lei Seca, além de ter sido indiciado pelo homicídio de Buck Kemper.

Tal qual ocorria com mafiosos reais, esse também tem várias alcunhas, sendo chamado de Cabrone e Joe Black. Foi membro da gangue Five Points de Nova York, guarda-costas e capanga de Louie Costillo, ou seja, é dado já no início que ele assassinou o seu patrão, já que é Tony o principal suspeito do primeiro assassinato.

No início, Camonte não é preso, ele aproveita da influência quentes do seu patrão, John Johnny Lovo (Osgood Perkins) mas desde esse início é dado que ele tem interesses gananciosos e gostos caros.

O sujeito se interessa por Poppy (Karen Morley), a mulher do seu chefe e quer acertar as contas com O'Hara, um outro chefão. É Lovo quem segura o seu ímpeto expansionista, afirmando que ele mesmo não tem um exército forte o suficiente para entrar em guerra contra esse criminoso citado.

Lovo é baseado no famoso mafioso Johnny Torrio, que trouxe Capone do Brooklyn para Chicago. Torrio sofreu dois atentados, sobreviveu no primeiro, mas foi morto com quatro tiros na segunda vez, supostamente a mando de Capone. Johnny teria sido também a fonte de inspiração para Mario Puzo fazer Don Vito em O Poderoso Chefão, ao menos na parte que toca o atentado contra o sujeito.

Nas reuniões entre os bandidos já se percebe elementos que ficariam famosos na saga O Poderoso Chefão e nos filmes sobre criminalidade de Martin Scorsese como Os Bons Companheiros e Cassino.

Os bandidos ítalo-americanos são elegantes, bem posturados, usam chapéu e se reúnem em bares onde bebem, fumam e aproveitam de vícios de jogos, passam seus dias em meio a ação e gastam o tempo livre confraternizando entre eles.

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A história segue mostrando Tony vivendo de maneira despreocupada, causando mal aos seus opositores, quase sempre arrumando problemas. Ele mata sem dó, parece sentir prazer nisso, tanto que a situação que mais tem breves variações são os trechos sobre assassinatos.

A sequência de invasão do hospital para matar um alvo convalescente faz lembrar a sequência em que Michael Corleone se preocupa em proteger Don Vito de um possível ataque.

Aqui o fim da cena é mais trágico, acompanhado depois de uma transição temporal icônica, com tiros saindo de uma metralhadora, enquanto os papéis de um calendário caem.

As cenas com buracos nas paredes eram feitas manualmente. Tiros reais aconteciam no set, feitas por militares acostumados a praticar tiro ao alvo. Os efeitos de som também eram feitos com armas atirando balas comuns e reais. Os atores apareciam atirando, com armas sem pólvora enquanto ao lado, fora do quadro, havia atiradores reais, que apertavam o gatilho de forma sincronizada para dar um efeito de som verdadeiro ao trecho.

Havia muito cuidado da parte da produção, mas ainda assim houveram acidentes. Na biografia de Howard Hawk escrita por Todd McCarthy, é dito que Gaylord Lloyd, irmão de Harold Lloyd, perdeu um olho devido a um fragmento de bala que caiu nele, enquanto ele visitava o set. A munição ricocheteou e acertou ele.

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Os ataques de Camonte ao território de O'Hara seguem ocorrendo e Lovo tinha razão em se preocupar, tanto que houve uma retaliação imediata aos atos de Tony.

A diferença primordial entre personagens é que Camonte gosta da ação, tem prazer em matar e é interessado em tudo que abranja esse assunto. Quando ele percebe os capangas do seu rival usando metralhadoras leves, fica fascinado e trata de arrumar uma logo.

Esse aliás foi um dos primeiros filmes a apresentar a submetralhadora Thompson, conhecida na história como a Tommy Gun. Os personagens chamam a arma de forma genérica, apenas como metralhadora, exceto Poppy, que a chama de "atirador de feijão", em atenção ao tambor dela, que lembrava uma lata de feijão.

O apelido da Tommy Gun era máquina de escrever de Chicago.

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A violência cresce rápido na cidade, de maneira tão veloz que até Lovo se ausenta, se esconde por acreditar que não é capaz de lidar com esse nível de selvageria.

Uma das grandes baixas na segunda parte do filme é o personagem de Boris Karloff, Tom Gaffney. De certa forma, o filme previu o assassinato do ex-mafioso Machine Gun Jack McGurn, um dos mentores do Massacre do Dia dos Namorados e atirador de Capone, que também morreu enquanto jogava boliche, tal qual esse personagem.

Karloff tentou forçar um sotaque diferente, mas sua voz acabou ficando difícil de entender. Em sua terceira cena, ele atua com seu sotaque inglês habitual, alternando entre os dois sotaques, quando outros atores se dirigem a ele.

Gaffney é um dos muitos personagens que aparece em tela com X em algum lugar do cenário. Quando essa letra aparece em destaque, é um sinal de que uma morte ocorrerá, semelhante ao acréscimo das laranjas em O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola.

Isso foi feito por um motivo: os jornais da época publicavam fotos de cenas de crimes. O “X” seria usado para marcar o local onde o corpo foi encontrado.

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Lovo só reaparece na trama bem depois, basicamente para "entregar" Poppy a Tony. Quando ele surge, acaba protagonizando uma cena de ciúmes, fato que é curioso, já que o flerte entre Tony e Poppy ocorreu de maneira vagarosa, sempre sendo diminuída pelo chefe do crime.

A sequência ocorre pouco antes de um momento violento, que faz parecer que ele teria um ataque de raiva, mas logo a câmera desmente essa sensação. Esse trecho na boate é bem doido, pois também mostra Tony tendo um ataque de ciúmes com sua irmã Cesca (Ann Dvorak), parte essa que seria ainda mais explorada na versão com Al Pacino e Mary Elizabeth Mastrantonio.

Esse trecho ocorre de forma tão inesperada e repentina que por muito pouco não tem contornos diferentes. Tony poderia tranquilamente ter visto sua irmã flertando com seu melhor amigo Guino. Talvez se tivesse visto, uma das surpresas no final seria diferente.

Nessa versão já fica mais evidente o subtexto incestuoso de Tony, embora o ciúme dele pareça menor do que a intenção do texto previa, afinal, uma obra dos anos trinta tinha que ser discreta, na hora de mostrar sentimentos, ainda mais um que fere o sagrado e o conservador.

Tony acerta as contas com Johnny e leva a esposa dele como troféu. O seu mundo vai ficando completo, enquanto ele observa um letreiro de uma fábrica de biscoito, "The World is Yours".

Ao passo que isso ocorre, as curvas finais do drama tratam de reaproximar Cesca e Guino, basicamente por conta das ações da moça, que decide abordar o homem por ela mesma, ignorando a inércia dele. Questões como a distância de idade são tabus driblados por eles, fato que diferencia a obra de seus pares. Hawks ousava em seus textos e os dois se envolvem, aproveitando a ausência de Tony, por um mês.

O final é meio rápido, mostrado de forma abrupta. Tony abre mão de uma amizade íntima, em nome de um ciúme bobo. Essa é a manifestação mais sólida da derrocada do personagem, tanto que propicia momentos ímpar, como quando Cesca quase consegue atirar nele, com ela desistindo ao ouvir as sirenes da polícia, que por sua vez, recebeu o informe de que Camonte matou Rinaldo quase imediatamente após o ocorrido.

Tony está inebriado, embora não perceba isso de primeira, tanto que acredita que tem chances de escapar. Na cabeça dele, eles não conseguiram o intento de se isolar.

Camonte estava tão envaidecido, mostrando para a irmã que não há como entrar nessa fortaleza que começou a louvar a si mesmo, tendo o mesmo tipo de atitude que condenou Louie no início do filme.

É nesse interim que uma bala ricocheteia no aço e atinge Cesca no ventre. Ele se apavora, não quer ficar sozinho. Nos últimos momentos da vida de sua irmã ele só fala de si mesmo, afirma ter medo da solidão. Ela lembra que Guino não era medroso e lamenta que seu irmão não seja como o seu amado.

Camonte é revelado como um nada, que sem armas, sem Angelo, Big Boy e sem os outros é meramente um qualquer, um sujeito indigno, digno de desprezo. Nem mesmo sua irmã o quer bem.

Scarface A Vergonha de Uma Nação é um clássico indiscutível, uma obra que pautaria o estilo e o gênero. Não deixa nada a desejar a sua bela refilmagem e é consideravelmente moderno, se levar em conta os seus pares do gênero policial. É rápido, conciso e violento na medida.

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