Sete Orquideas Manchadas de Sangue : Um giallo agressivo e violento de Umberto Lenzi

Sete Orquideas Manchadas de Sangue : Um giallo agressivo e violento de Umberto LenziSete Orquídeas Manchadas de Sangue é um filme de horror italiano, baseado nos clichês do gênero que explora histórias de assassino, o famoso Giallo. Lançado em 1972, narra a história de um misterioso matador misógino, que encerra a vida de jovens mulheres com brutalidade, como aliás é bem comum dentro do cinema do diretor Umberto Lenzi.

A trama segue a partir da experiência de Giulia, uma moça interpretada por Uschi Glas, que quase se torna a terceira vítima do criminoso conhecido como Half Moon Maniac. Quando ela sobrevive ao ataque, seu namorado Mario, de Antonio Sabàto e o investigador do caso Vismara (Pier Paolo Capponi) decidem simular a morte dela, para tentar entender as motivações por trás dos assassinatos.

Coprodução de Itália e Alemanha Ocidental, o longa possui roteiro de Lenzi e Roberto Gianviti que também escreveu o clássico brutal O Segredo do Bosque dos Sonhos dirigido pelo mestre do horror italiano Lúcio Fulci. O argumento é de Lenzi e Edgar Wallace na versão italiana e Paul Hengge na versão alemã, a história por sua vez é baseada no livro Rendezvous in Black, publicado em 1948 pelo autor americano Cornell Woolrich.

Tal qual ocorre normalmente com obras do cinema de terror italiano, esse possui alguns nomes, mas sem grandes variações nessas alcunhas. No original se chama Sette orchidee macchiate di rosso, em inglês Seven Blood-Stained Orchids, além de 7 orquídeas manchadas de sangre e Siete orquídeas manchadas de rojo, ambas nomenclaturas em países de língua espanhola.

O filme foi rodado na Itália, com a maioria das cenas sendo em Roma. A equipe filmou também em Trinita di Monte - Spanish Steps, Nuova Pesa Gallery, Lei di Filippo, além de cenas internas no Paolis Studios em Roma. Também teve momentos filmadas em Spoleto, Umbria.

A altura do dos anos 1960 e começo de 1970 Lenzi vinha fazendo trabalhando em obras de espionagem como Superseven: Agente Para Matar em 1965. Trabalhou depois em filmes de faroeste - ou western spaghetti - como A Outra Face da Coragem e Uma Pistola para 100 Sepulturas. Faria no ano seguinte a esse Giallo o "extremo" Canibal Ferox e Ghost House: A Casa do Horror.

A trama começa no meio da estrada, com a música instrumental de Riz Ortolani, musicista inspirado, que já comentamos em O Dia da Ira e A Casa do Fundo do Parque. A composição é meio psicodélica, tendo um baixo marcando bastante, acompanhada de um tecladinho agudo.

Sete Orquideas Manchadas de Sangue : Um giallo agressivo e violento de Umberto Lenzi

O tema musical conhecido como "Porquê", foi reciclado do longa anterior de Lenzi, Tão Doce Quanto Perversa, de 1969. Aqui é utilizado para reforçar a ideia do mistério a respeito não só da identidade, mas também da motivação do antagonista.

Na cena inicial aparecem mãos cobertas por uma luva preta, um portão se abre e a câmera flagra uma pequena faca surgindo. O sujeito entra na casa e mata uma senhora, enquanto ela está na cama, depois, se encaminha até um ponto de prostituição, pega uma profissional, e ata a moça de maneira, com pauladas tão brutais que os ferimentos causam espanto em quem vê, inclusive nos legistas.

O assassino deixa com ela um objeto prateado em formato de lua, fato que chama a atenção do inspetor Vismara, já que a crença na astrologia não combinava com os toscanos, considerando o apelido dela (La Tuscana). Depois da análise, é comprovado que na verdade a moça assassinada era do sul, siciliana ou calabresa.

Vale lembrar que o assassino do Zodíaco, jamais pego, ficou em atividade pouco tempo depois, nos anos 1970, enviando materiais para a imprensa em 1974.

O homicida segue cercando mulheres sexualmente ativas, até envenena o leite dos gatinhos de Kathy Adams (Marina Malfatti), mostrando uma crueldade com bichos que se tornaria até mais presente nos filmes de canibais que Lenzi faria a partir de Mundo Canibal, lançado nesse mesmo ano de 1972.

Depois do ataque a Giulia Torresi a polícia pega um suspeito, interrogam ele, mas não conseguem nenhuma informação ou provam de que foi ele. É nesse ponto que Mario, o parceiro de Giulia ganha destaque. Quando eles vão para casa, ela encontra um chaveiro de lua minguante em seu carro, fato que deixa claro que ela ainda pode ser um alvo.

Sabàto era um ator tarimbado, conhecido por ter feito Grand Prix e Fuga do Bronx de Enzo G. Castellari. Já Glas era conhecida por ter trabalhado em O Castelo dos Amores Proibidos.

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Outra atriz de destaque é Marisa Mell, artista conhecida por fazer muitas obras no cinema de gênero. Ela fez Perigo: Diabolik e Uma Sobre a Outra de Lúcio Fulci. Ela ainda demoraria um pouco a entrar na trama.

O assassino tem métodos bem agressivos. Algumas de suas vítimas saem sujas de sangue, decoradas com as partes internas expostas em suas vestes. A moça morta perto de um ateliê repleto de latas de tinta é um bom exemplo disso, já que termina suja com seu sangue e suja de tinta também.

Outras morrem de maneira limpa e silenciosa, como uma que é afogada em uma banheira. Essa é a prova de que o método do assassino não necessariamente segue um padrão, fato que faz perguntar se ele é um matador em série. O inspetor passa a cogitar que Mário tem algo a ver, por uma questão de proximidade dele de cada um dos casos de morticínio.

Obviamente que essa tentativa de dualidade não captura o público, já que Mário é o personagem que mais se aproxima do papel de herói na trama. Ele vai atrás de um sujeito que pode lhe dar pistas e ficas, no caso, Rafaelle Ferri (Claudio Gora), mas o protagonista só encontra respostas boas perto do fim da fita.

Lenzi trata da juventude transviada com desdém, coloca seu personagem central olhando para os jovens promíscuos de maneira julgadora, claramente se julgando superior a eles. Mário enxerga as pessoas que vivem o amor livre como vendidas, que vivem de maneira errática e que usam a sua liberdade como mercadoria. Ele demora até a aceitar conversar com uma dessas pessoas, com o efeminado Barrett de Bruno Corazzari, e só faz isso para conseguir pistas sobre Frank Saunders, um possível suspeito.

O assassino mata uma professora, chamada Concetta (Petra Schürmann) e essa tem perfil diferente das outras vítimas, já que aparentemente nada fez de errado, sequer foi pega fazendo sexo, tampouco foi pega praticando algum ato libidinoso ou sexual.

Nesse trecho fica claro a tentativa de Lenzi em imitar detalhes de O Pássaro das Plumas de Cristal de Dario Argento, já que a obra de 1971 tentava despistar o trabalho de investigação sempre. A influência se se vê também no nome, que quase imita a temática de animais, que se tornou uma moda na época.

O título coloca uma flor no centro das atenções até gerou uma pequena tendência, de filmes de matança com nome de plantas, como The Flower with Petals of Steel, do original Il fiore dai petali d'acciaio que Gianfranco Piccioli fez em 1973.

Mário vai até um jornal, tentar descobrir onde Saunders mora, já que ele foi assinante do periódico. Ele tem sorte e rastreia um endereço antigo, chega até um casarão abandonado, tão antigo que tem escadas e andares caindo assim que ele chega, além de portas batendo.

Esse trecho é consideravelmente estranho. O filme inteiro flerta com a possibilidade de explorar o sobrenatural e esse é o momento onde isso fica mais escancarado. Eventos estranhos ocorrem na casa abandonada, o vento age de maneira quase espiritual, abala as estruturas de forma semelhante a uma assombração.

A sequência é pontuada com o telefone antigo - que parecia desativado - tocado. Ele atende e a pessoa no outro lado da linha indica outro endereço.

O protagonista então vai até lá e finalmente encontra Frank, enterrado, já que aquilo é um cemitério, enterrado. No espaço da lápide se verifica uma porção de orquídeas. De qualquer forma, é estranho que tenham ligado e dado o endereço, sendo que o sujeito morreu. Evidentemente é alguém ligado aos assassinatos.

Com quase uma hora de filme passado, é apresentado um casal que aliás, já é tratado como suspeito. Eles são interceptados em um aeroporto, o homem, Palmieri (Ivano Davoli) é é levado com uma acusação de contrabando de drogas. Esse é obviamente um despiste, uma mentira dita na frente de sua esposa, Ana Sartori (Marisa Mell). Inventaram essa acusação para despistar a esposa, que teve um trauma no passado com assassinatos.

Curiosamente ter o seu par associado a tráfico de drogas não seria algo traumático para ela. Vá entender.

O roteiro acaba julgando os personagens mais boêmios, condenando Barrett, associando ele ao crime graças ao seu vício em heroína, além de associar também os seus problemas a vida sexual que ele tem, já que é claramente homossexual.

Essa aliás seria a motivação de Barrett. Mário acredita que o sujeito matou Saunders por ele ter se apaixonado por uma garota. A ideia de transformar o personagem central em alguém ultra moralista é polêmica, até por conta das revelações no final, que se provaria muito errada. Heróis falham, Mário também,

A partir daqui falaremos não só com spoilers, mas também sobre alguns momentos delicados, que podem dar gatilho. O aviso está dado.

Sete Orquideas Manchadas de Sangue : Um giallo agressivo e violento de Umberto Lenzi

Lenzi aumenta o grau de agressividade no final, colocando um personagem em situação de suicídio, embora não fique exatamente claro se isso realmente ocorreu ou se foi apenas um despiste do assassino.

Barrett é encontrado enforcado e a polícia supõe que era ele o culpado, fato que conversa com a opinião de Mário, dada pouco tem antes. No entanto, o personagem da Sabàto ouve de Palmieri, sobre a perda traumática da irmã de Sartori, fato que faz ele ir atrás da moça interpretada por Marisa Mell

Ao ser confrontada a moça responde bem, de maneira sóbria e calma, sem se alterar, não dando bandeira alguma. Se era ela a culpada, certamente havia muita frieza em seu pensamento e método.

Mell filmou todas as suas cenas em três dias e mesmo aparecendo pouco, ganhou muito destaque nas lentes de Lenzi, estampando também boa parte do material de divulgação, justificando assim o salário superior ao de Uschi Glas.

O testemunho dela faz as suspeitas recaírem sobre um homem careca. Depois disso não demora muito a mostrar que o real matador é o padre apresentado brevemente antes, feito por sua vez pelo ator Renato Romano.

Além da solução ser meio banal e tola, o filme ainda termina como uma horrorosa batalha na piscina, que tenta parecer emocionante e disputada entre o suposto homem de Deus e Mário, que termina patética e engraçada, mas favorável ao mocinho.

Gerar impacto em um combate na água é para poucas obras, não seria brilhante aqui, ainda mais se considerar que o grosso da trama se dá na superfície.

Sete Orquídeas Manchadas de Sangue é agressivo e violento, ainda assim é dos filmes mais charmosos da carreira de Umberto Lenzi. É um bom mergulho do diretor de obras extremas em um gênero que era conhecido por ser mais leve que a maioria e um bom exemplar do que é clássico entre os gialli.

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