Em toda a sua carreira Wes Craven ficou famoso por dirigir filmes de terror, e em 1988 ele teve a oportunidade de conduzir A Maldição dos Mortos Vivos, um drama e thriller, temperado com elementos de horror. O longa mostra o antropólogo de Harvard Denis Alan, interpretado por Bill Pullman, viajando até o Haiti, um país de história política repleta de conflitos armados e que desde sempre gera uma curiosidade em países estrangeiros graças a mística de suas religiões típicas.
O drama é baseado em livro não ficcional e pseudo-científico, chamado A Serpente e o Arco Iris de autoria de Wade Davids. O conteúdo literário discorre sobre a zumbificação e seus mitos, resultando em um estudo antropológico sobre o processo de "retornar" os mortos residentes da ilha a vida, e suas implicações reais, já que esse fator supostamente não tem qualquer aspecto fantástico.
Na prática, o personagem de Pullman é um Indiana Jones menos fantasioso, um pesquisador aventureiro audacioso, que lembra de leve o professor criado por George Lucas e Steven Spielberg.
Ao invés de ter um clima escapista como em Caçadores da Arca Perdida, a obra de Craven dá vazão a uma exploração de mistérios, com alucinações que podem ou não ser fruto do uso de psicotrópicos, e também de um cenário de conflitos políticos civis.
O estudo de Denis investiga uma história bizarra, que se dizia fruto de um secto religioso repleto de sincretismos, onde as pessoas eram transformadas em mortos vivos sem liberdade de escolhas. Nessa pesquisa, descobre o uso de uma droga estranha, que ajuda a derrubar a pessoa para registros de vida quase mínimos, e as faz reacender depois, em um movimente de pós morte.
Com a ajuda de locais, entre médicos, feiticeiros e enfermeiras, Alan junta as peças de um mistério que ao ser desenrolado, se demonstra perigoso e possivelmente mortal.
O roteiro se aventura a fazer paralelos com a realidade, mostrando a autoridade local como uma versão de Françoise Duvalier, o Papa Doc, antigo presidente do Haiti, que usava a magia e o misticismo ao seu favor como plataforma política.
Doc era extremamente violento também, os relatos da época afirmavam que o líder político mergulhava seus inimigos em ácido sulfúrico, e a associação da zumbificação de pessoas é facilmente estabelecida como uma artimanha dele contra qualquer pessoa que se insurgisse politicamente contra ele.
A trama gira em torno da perigosa jornada de Dennis, que vai aos poucos desafiando as normas do país, se tornando alvo de perseguição do governo local, que enxerga a pesquisa como uma ameaça a soberania local.
Do lado de fora da produção houveram momentos de turbulência. Conflitos armados fizeram com que o governo não pudesse garantir a segurança de Craven e sua equipe, e as filmagens foram finalizadas na República Dominica, nação vizinha do Haiti.
Esses conflitos foram inseridos dentro da trama, mostrando mais uma vez uma mistura de ficção e realidade que torna a história do filme em algo bem visceral.
A obra mostra de maneira rica os ritos e hábitos comuns dos nativos, inclusive na incapacidade do homem branco de assimilar as alucinações das bebidas administradas a ele - Pullman age quase como uma criança, quando toma algumas versões dos chás alucinógenos - fora claro os cultos, que lembram os ritos em terreiros brasileiros, ao menos no visual.
O aspecto visual é bem explorado, a fotografia assinada por John Lindley, que era acostumado a fazer fitas de horror como O Padrasto e A Noite das Brincadeiras Mortais, passaria então a produzir filmes de um cunho diferente, mais sério, como Campo dos Sonhos e O Anjo Malvado.
Também se percebe uma reverência e seriedade a cultura estrangeira, de um modo que não era tão comum em Hollywood. Para o diretor era importante soar respeitoso com as crenças alheias, tratadas como sagradas de fato.
Como se esperava, Craven impõe suas marcas ao longo da exibição, abusa de cenas com corpos putrefatos com vermes e bichos os corroendo, apela ao misticismo e retrata do mundo dos sonhos repleto de elementos macabros, mas não abre mão do pensamento crítico a respeito da superioridade que os estadunidenses carregam ao olhar para seus vizinhos da América Latina, inclusive punindo os estadunidenses por sua postura altiva, vide a cena bizarra do jantar na América.
O roteiro combate a condescendência com os latinos, mostrando que o motivo da expedição era a ganância dos nativos dos Estados Unidos, especialmente por condenar a sede dos executivos em tentar achar o elemento anestésico, para comercializar no mercado farmacêutico, e obviamente, há uma retribuição espiritual a eles.
A narração de Bill Pullman serve bem a trama, mesmo que seja um artifício normalmente clichê. Seu relato confere uma atmosfera realista, que aproxima o formato do documentário. A jornada d0 homem cético e materialista rumo a um mundo que não lhe pertence é bem explorada.
Esse é um filme que ajuda a mostrar o quando Craven evoluiu como contador de histórias. Seis anos antes ele fez O Monstro do Pântano, e uma das grandes dificuldades como contador de histórias era em reproduzir o ideal sujo e enlameado que envolvia o personagem que Len Wein, criou, e graças a um conjunto de problemas de produção, isso não foi alcançado.
Boa parte dos elementos que poderiam tornar a adaptação exitosa, estão bem distribuídos neste A Maldição dos Mortos-Vivos, tanto pela performance do elenco, especialmente com o Dargent Peytraud de Zakes Mokae, que faz um vilão que varia bem entre o caricato e o assustador, como o desempenho de Pullman ao ser exposto aos sonhos aterradores que sofre.
Também existem semelhanças ideológicas entre Dennis Alan e Allec Holland, como o amor a ciência, dilemas éticos ligados a estrangeiros em situação paupérrima. O cuidado ao tratar essa história lançada em 1988 faz toda a diferença para conseguir levar a sério este drama.
Fato é que, independente de acreditar ou não na espiritualidade, Dennis sai do país diferente de como entrou, se em toda a trajetória do filme se buscou uma história de exploração do desconhecido e de conhecimento de outras culturas, o final é um retorno do diretor a suas origens, o terror absoluto de permanecer no limbo entre a vida e a morte.
A história vai da sensação claustrofóbica unida a letargia, para um movimento político revolucionário e popular. As cenas de body horror são de fato muito boas, fogem da caricatura, mérito da direção de arte de David Brisbin, mas a riqueza maior é a fluidez entre momentos realistas com os ilusórios, causados pelo efeito que não se sabe ao certo se é místico, alucinógeno ou uma mistura dos dois.
A dubiedade serve bem a Maldição dos Mortos Vivos, que supera até o estigma da péssima nomenclatura brasileira, se impondo como um bom suspense, reunindo elementos espirituais que não soam desrespeitosos com outras culturas.
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