Paris, Te Amo, foi um filme coletânea lançado em 2006 e iniciou um subgênero cinematográfica que focava em valorizar grandes cidades do mundo. O longa é composto por histórias curtas, conduzidas por cineastas e realizadores que traçam narrativas breves a respeito da Cidade Luz.
Cada segmento possui uma história diferente, nomeado de acordo em algum bairro, praça, rua famosa ou algo que o valha dentro de Paris. Foram 18 diretores diferentes e em comum, está a ideia de que a capital francesa é o lar urbano do romantismo, e alguns deles focam bastante no horror.
Neste artigo destacamos os momentos mais memoráveis, especialmente os que lidam com sensações como melancolia, agonia, medo e, principalmente terror.
Um dos curtas mais divertidos é Tuileries, uma comédia passada na estação de metrô que dá nome ao segmento, onde Steve Buscemi tenta entender o modo de agir dos jovens franceses.
O sujeito é um estrangeiro que está turistando, e enquanto aguarda no subterrâneo pelo trem que não chega, ele lê um dicionário francês-inglês, e acaba tendo contato com um casal de namorados, que não tem pudor nenhum em se pegar de maneira íntima mesmo estando em público.
O choque ao ver a volúpia dos dois só não é mais agressivo que o nonsense quando ele é confrontado por um deles, pelo rapaz.
O curta se torna engraçado pelo fato de que os dois jovens utilizam sua condição romântica para debochar do homem mais velho. Esse movimento vai bem na direção da filmografia dos irmãos Joel e Ethan Coen, os irmãos Coen, que trabalharam algumas vezes com Buscemi ao longo dos anos e gostavam de fazer peças de humor politicamente incorretas e cheias de momentos pitorescos.
Outra boa sequência é Loin du 16e, da dupla brasileira Walter Salles e Daniela Thomas, que mostra uma cuidadora de crianças estrangeira, que se vê obrigada a cuidar dos filhos dos outros, enquanto tem que deixar de lado o seu próprio bebê.
A abordagem é direta, remete ao medo comum que habita na mente do trabalhador pobre, do proletariado estrangeiro na Europa, que tem o receio não só de abrir mão da individualidade, como também do convívio comum com os próprios familiares, drama semelhante ao premiado Que Horas Ela Volta? de Anna Muylaert, lançado quase dez anos após este breve conto.
Há histórias melancólicas, como em Place des Victoires, onde a personagem de Juliette Binoche tem de lidar com o luto de ter perdido um filho, ou Bastille, que mostra um homem desistindo de fugir com sua amante quando descobre a doença terminal de sua esposa, ficando com ela até o fim da mesma. O amor claramente não é formado só por momentos de alegria, e se prova exatamente nas agruras.
Um dos curtas mais impactantes visualmente é Quartier de la Madeleine, de Vincenzo Natali, realizador italiano de O Cubo, especialista em direção de fotografia, que coloca Elijah Wood e Olga Kurylenko em uma trama de vampiros.
O filme é bem direto, praticamente sem palavras, mostra um rapaz que tem contato com uma morta-viva. A disputa entre o estrangeiro e uma figura oriunda do além termina de uma forma que mistura prazer e morbidez.
Curiosamente, o diretor especialista em horror Wes Craven faz uma história que mira o drama, e não o medo.
Seu curta se passa em um cemitério, mas é registrado de modo comum, sem qualquer menção há eventos ou coisas macabras, apenas explora os conflitos normais entre um casal.
O segmento se chama Père-Lachaise, o nome do cemitério e tem dois personagens centrais, William e Frances interpretados respectivamente por Rufus Sewell e Emily Mortimer. Eles são recém-casados, e em meio a uma banal conversa sobre as possibilidades de futuro, enquanto resgatam as histórias das pessoas famosas que estão ali encerradas.
Esse é outro momento de choque cultural, dessa vez por duas pessoas que deveriam ter semelhanças, já que viverão juntas até o fim de suas vidas, se chocando fortemente.
As personalidades das partes do casal são bem diferentes, com uma moça sonhadora enquanto o sujeito é pragmático e incapaz de alimentar os arroubos de imaginação.
Ao perceber que poderia perde-la, ele tem uma epifania, que por sua vez se dá depois de ter um contato com um "fantasma" de Oscar Wilde, o célebre escritor de Retrato de Dorian Gray. Não fica claro se este era uma aparição ou uma alucinação do homem, o que de fato ocorre, é que o escritor, interpretado pelo diretor Alexander Payne convence a rapaz a se deixar levar pelo lúdico, afinal, o amor abrasa as pessoas e as deixa parecer meio bobas.
Paris Te Amo é divertido, não se estende mais do que deveria, é correto e ainda consegue no final achar um fio condutor entre as tragédias, encontros e reencontros que exibe ao longo de seus 120 minutos, mostrando eles juntos, em uma confraternização.
É belo, poético e simples, e gerou spin offs e imitações que não herdaram sua graça e leveza, infelizmente. Entre dramas e horrores, esta inauguração de franquia acertou em cheio no alvo, valorizando a cidade e a arte que permeia toda a sua história.
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