Dia dos Namorados Macabro 3D : o remake sombrio do slasher canadense

Dia dos Namorados Macabro 3D : o remake sombrio do slasher canadenseDia dos Namorados Macabro 3d é um filme de horror que se vale de uma data comemorativa para estabelecer seu terror. Dirigido por Patrick Lussier, o longa da Lionsgate faz toda uma exploração de um assassino em série que ataca no Dia dos Namorados, sendo parte do submovimento dos remakes sombrios, fenômeno modal que ganhou espaço nos anos 2000.

Vale lembrar que nos Estados Unidos a data festiva se refere ao louvor de São Valentim, que é um feriado comemorado em 14 de fevereiro, não em junho como é no Brasil. De qualquer forma, escolhemos falar dessa produção de Estados Unidos e Canadá em atenção a data comercial brasileira.

Boa parte da mitologia de Dia dos Namorados Macabro é refeita nessa versão. A obra que se chama originalmente My Bloody Valentine conta com roteiro de Todd Farmer - que vinha do divertido Jason X - e de Zane Smith, que tem nesse seu único trabalho registrado.

O drama obviamente se baseia no texto original de John Beaird e Stephen A. Miller, mas tem abordagem diferenciada e sensacionalista logo de início, já que começa com anúncios em jornais e informes de rádio sobre Harry Warden, um sobrevivente de um soterramento em uma mina de carvão.

Warden é acusado de ter matado seus companheiros depois de um vazamento de metano na mina de carvão da cidade de Harmony. Ele fez isso por medo de não sobrar muito oxigênio para ele. Nesse momento só sobrou ele e o filho do dono dessa mina, Tom Hanniger.

A dúvida que fica é se ele fez isso propositalmente, de cabeça fria e caso pensado, ou se ele agiu de maneira instintual, graças a um surto, e já no início é dado que o culpado por esse vazamento, foi Hanninger.

Depois do resgate Warden vai para o hospital e entra em coma. Lendo assim essa parece ser uma solução rápida, rasteira e óbvia - e de fato é. Em um determinado momento, ele desperta, foge do hospital e deixa um rastro de corpos pelo caminho.

A partir daqui falaremos mais abertamente sobre spoilers. Como há diferenças substanciais entre as versões de 1981 e 2009, recomendamos ao leitor que liga para isso só ler a partir daqui depois de ver o filme.

O aviso está dado.

Dia dos Namorados Macabro 3D : o remake sombrio do slasher canadense

O roteiro não tenta parecer mais inteligente do que é, tanto que não faz cerimônia com a introdução dos personagens. O policial e xerife Burke é mostrado como um homem justo, bom e moral.

O personagem é interpretado pelo icônico e experiente Tom Atkins, que foi por muito tempo o muso inspirador de John Carpenter, tanto que protagonizou Bruma Assassina e Halloween III - A Noite das Bruxas. O sujeito encontra os corpos no hospital, onde se percebe (claramente) que os cadáveres são bonecos bastante fajutos. Para o fã de cinema B e trash isso não é uma grande questão. O que realmente incomoda em produções assim é a economia na sanguinolência, mas aqui, não falta gore.

A maquiagem de efeitos é de Gary J. Tunnicliffe, veterano de franquias de terror. Ele fez O Mistério de Candyman, participou de algumas continuações de Hellraiser, e trabalhou em Blade: O Caçador de Vampiros, O Mestre dos Desejos e Drácula 2000. A grande questão aqui é que mesmo tendo um profissional tão bom no quesito de efeitos práticos, Lussier aposta demasiadamente em tecnologia de CGI.

Isso deixou o filme rapidamente datado. Boa parte das cenas de morte são sofríveis, especialmente no começo, com picaretas invadindo rostos, com um efeito digital que fica bem feio, quase sem textura.

Dia dos Namorados Macabro 3D : o remake sombrio do slasher canadense

Diferente do original, Dia dos Namorados Macabro 3D foi um sucesso comercial, gerando quase 10 vezes o seu custo. Sabiamente se explora a violência e os elementos bizarros do original, além de pautar seu elenco em alguém consideravelmente famoso, no caso, Jensen Ackles, que já estava em Supernatural.

Os personagens são descartáveis, mesmo Ackles, que faz uma espécie de filho pródigo de volta a sua terra. O elenco é cheio de jovens sem motivação, parecem só figuras genéricas, derivativas, que estão ali só para morrer.

Como esse é um produto 3D, o matador joga toda sorte de objeto para a câmera. Isso irrita consideravelmente, deixa o espectador angustiado. Dentro do cinema, certamente tinha um efeito diferenciado, ver em home video faz o esforço parecer uma tolice.

A cidade de Harmony, onde se passa toda a trama, é conhecida como a capital dos assassinatos da América. Mesmo 10 anos depois do massacre que Warden fez, matando 22 pessoas, o lugar segue com a fama de ser o lar da chacina.

Axel Palmer, interpretado por Kerr Smith, é o sub-xerife da cidade e detesta a má publicidade que os canais de TV insistem em relegar a cidade. Ele é casado com Sarah (Jaime King, de As Branquelas), mas é um personagem falho, sendo inclusive infiel com seu compromisso matrimonial.

Tom Hanniger (Ackles) voltou a cidade para vender o antigo negócio de seu pai, mas decidiu ficar, repentinamente. Aparentemente, ficou curioso para entender o desenrolar das tragédias e assassinatos. Isso faz dele um suspeito óbvio para o público e ainda mais para Axel, que tem receio da relação antiga entre Tom e Sarah, já que antes do outro sujeito ir embora, eles eram um casal.

Como é comum nos filmes de Lussier a nudez é bastante explorada, inclusive em uma cena com Frank, personagem do roteirista Farmer, que se colocou convenientemente para protagonizar uma cena picante, com a personagem de Betsy Rue.

Dia dos Namorados Macabro 3D : o remake sombrio do slasher canadense

A gratuidade da exploração do corpo feminino chega a ser engraçada. Depois que o casal termina de se relacionar, a moça sai do quarto de motel segurando uma arma, nua, utilizando um tapa sexo vagabundo, que fica evidente que está ali nos releases em alta resolução. O artefato não esconde de ninguém que Sue não está nua.

Uma mulher indignada, depois de perceber que seu parceiro gravou a transa que acabou de ocorrer dificilmente sairia pelada em espaço aberto, mas convenhamos, essa é uma peça assumidamente trash, que se leva quase nada a sério, e isso não se dá à toa, afinal, a direção é de alguém que anos mais tarde, conduziria o divertidíssimo Fúria Sobre Rodas, com Nicolas Cage.

Lussier é mais conhecido por ser montador prolífico. Seus principais trabalhos foram juntos ao mestre do terror Wes Craven. Trabalhou em O Novo Pesadelo, Um Vampiro no Brooklyn e na trilogia Pânico. Ele estava acostumado a trabalhar em obras que misturavam elementos de horror e comédia, por isso, emprega bem a experiência nessa nova versão.

O minerador assassino é calado, silencioso, preciso e muito irônico. Ele mata de forma sempre criativa, sendo um dos destaques o assassinato de uma anã, em que ele enfia uma picareta na cabeça da moça e a eletrocuta, na altura do teto.

Como no original a contagem de corpos é alta, embora quase todas as mortes sejam iguais, com o assassino empurrando a cabeça da vítima em uma picareta de CGI mal feito.

Ainda assim há alguns momentos bastante tensos e bem conduzidos. Há uma cena, dentro do mercadinho onde Sarah e Megan - a amante de Axel, interpretada por Megan Boone - estão sendo encurraladas pelo assassino com traje de minerador. A cena é tensa, Lussier sabe bem como construir uma sequência desesperadora. Faz as duas lutarem para sair do lugar, utilizando o espaço apertado e claustrofóbico de maneira sábia.

Há um cuidado em homenagear a mortes clássicas, como um corpo que cai de uma máquina de lavar, em atenção a morte de Mabel no original, mas novamente essa boa ideia esbarra nos efeitos digitais paupérrimos.

O roteiro é confuso inclusive na questão das datas. Nessa versão tanto faz os assassinatos terem ou não sido no dia dos namorados, no primeiro filme, a cidade não comemorava São Valentim graças a Warden, que matou pessoas no primeiro feriado posterior a matança, mas aqui isso não ocorre, já que o assassino do passado não retorna, simplesmente some e depois é dado como morto.

Também pesa o fato do elenco não ter nenhum desempenho dramático aceitável. Como as atuações não são boas, a surpresa no final perde força, especialmente porque o assassino parecia não saber dos crimes que cometia, tampouco tinha noção que emulava o matador que Warden foi.

No final há um gancho para uma sequência que jamais ocorreu. Reza a lenda que a Lionsgate em algum ponto iria fazer desse uma continuação do primeiro filme, inclusive trazendo parte do elenco original, mas isso não ocorreu, a despeito das reclamações do produtor John Dunning, que diz ter tido seu projeto sabotado e engavetado, para que essa refilmagem ocorresse.

Ao menos o roteiro foge do maniqueísmo de fazer um mocinho perfeito, já que Axel é falho e adúltero. Isso por si só já é uma construção de personagem bem mais intensa que a maioria dos filmes de slasher, que dirá das novas versões dos clássicos inaugurados na década de 2000.

Dia dos Namorados Macabro 3D tem seus momentos, é um dos remakes sombrios menos indigno, junto a Massacre da Serra Elétrica e A Morte do Demônio e de 2003. Vale pela violência gráfica e se lamenta o excesso de CGI, está longe de ser uma versão indigna, ao contrário, tem vários bons momentos, especialmente quando não se leva a sério.

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