A Christmas Horror Story : A boa e surpreendente antologia de horror canadense

A Christmas Horror Story é um filme de horror natalino, no formato antologia, lançado em 2015. É uma história que, obviamente, se passa no natal, mas que inverte a perspectiva de alegria e boa vontade típicas da data dar vazão a um massacre bizarro, que corta várias histórias paralelas.

É uma produção canadense, conduzida por um trio de diretores, que contam histórias separadas, diversificadas e simultâneas, todas voltadas para a época de fim de ano e que resultam em uma história cheia de gore.

Com direção de Grant Harvey, Steven Hoban e Brett Sullivan, o longa se passa na cidade de Bailey Downs, durante os últimos dias de dezembro. Ali ocorrem fatos esquisitos, como a libertação de uma besta maligna, um aprisionamento de adolescentes em um porão, além de ter uma aparição de um Papai Noel bizarro e seus elfos anões com uma aparição legal.

O roteiro ficou a cargo de James Kee, que estrelou Contos da Cripta e Terra: Conflito Final e escreveu Darknet. Também colaborou Sarah Larsen de AftermathDoug Taylor de Em Nome do Rei, Pascal Trottier de Mal Intencionados e o não creditado Jason Filiatrault, do telefilme No Limite da Loucura.

O longa tem como produtores Hoban e Mark Smith, de Não Feche os Olhos. A produção executiva ficou a cargo de David Hayter, conhecido por dirigir Lobos (2014) e por escrever o roteiro de X-Men: O Filme, X-Men 2, O Escorpião Rei e Watchmen: O Filme. Também foi produtor executivo Billy Watson de Last Night a DJ Saved My Life.

O longa é conhecido em quase todo mundo por seu nome original mesmo, A Christmas Horror Story. Há poucas variações, como A Holiday Horror Story, alcunha utilizada nas vendas em algumas lojas Walmart dos Estados Unidos, mas a mudança de título foi feita apenas para a capa externa e não na impressão em vídeo.

O longa foi filmado em Toronto, Ontário no Canadá e o estúdio por trás dele foi a Copperheart Entertainment, distribuído pela Image Entertainment em DVD e pela RLJ Entertainment nas outras mídias.

Os diretores tem em comum a ligação com produções pregressas, ligadas aos diretores e produtores. São elas a saga Possuída ou Ginger Snaps, a trilogia de filmes sobre lobisomens adolescentes produzidos no Canadá e o seriado Orphan Black. Entre os fãs dessas franquias, há o comentário geral de que todas essas histórias fazem parte do mesmo universo compartilhado.

A ideia original do longa-metragem foi de Grant Harvey, que era produtor de Possuída. Ele dirigiu Possuída: O Início - terceiro longa da franquia - além dos telefilmes No Limite da Loucura e A Mulher Mais Procurada da América. Também fez episódios de várias séries como Flash Gordon (2007), A Bela e a Fera (de 2012), Helix, 12 Macacos, Orphan Black, além de dirigir várias partes cinemáticas de jogos de video game, como em Watch Dogs:Legion e Far Cry 6.

Steven Hoban dirigiu pouco, fez episódios da minissérie Darknet. É mais lembrado por ser produtor, não só da trilogia lobisomem, mas também em Natal Negro, Assombradas Pelo Passado, Lobos, Splice: A Nova Espécie e Campo do Medo.

Já Brett Sullivan, dirigiu Possuída 2: Força Incontrolável e The Chair, trabalhou no ramo da música, conduzindo clipes de Michael Bublé e episódios de séries, como Darknet, Orphan Black, Wynonna Earp e Frontier.

A partir desse ponto, falaremos com spoilers, esteja avisado.

A Christmas Horror Story : A boa e surpreendente antologia de horror canadense

O longa inicia com a canção natalina It's Christmas Eve, passeando por Bailey Downs, um lugar suburbano, uma cidade pequena, de população pequena e rotina calma.

Algo que é bastante elogiável na produção é a sua unidade visual. Todos os segmentos são conduzidos pelo mesmo diretor de fotografia, Gavin Smith, que foi cinematógrafo de segunda unidade do primeiro Ginger Snaps e diretor de fotografia do segundo filme da saga.

As cenas iniciais são misteriosas, aparecendo um homem idoso, ferido, com vestes vermelhas, feito por George Buza, ator mais conhecido por seus trabalhos de dublagem, especialmente em X-Men: Children of the Atom (dublou Colossus, Fanático, Omega Vermelho e Magneto), além de ter feito a voz do Fera em X-Men : A Série Animada. Ele também teve uma breve aparição em X-Men o Filme e em Diário dos Mortos de George A. Romero.

Aqui ele faz o Papai Noel fortão e mal-encarado, que vai crescendo de importância ao longo da história e que nesse início, parece ser apenas uma versão do Papai Noel clássico mesmo.

As histórias tem em comum a mesma apresentação/narração, no caso, de um radialista, interpretado pelo icônico William Shatner. Seu nome é DJ Dangerous Dan e em seu trabalho no feriado, acaba executando uma espécie de amarração entre as partes da antologia.

Sua personalidade é curiosa, uma vez que ele se apresenta de maneira animada, afinal, é um locutor, ao passo que também é um sujeito triste, melancólico e entediado, visto que tem que passar o feriado mais celebrado do mundo trabalhando.

A Christmas Horror Story : A boa e surpreendente antologia de horror canadense

Há já nesse trecho alguns easter eggs, especialmente na mesa de som de Dan. Há nesse espaço pequenos enfeites, adereços festivos, como a caneca com uma foto de Kuddle Kat do episódio seis de Darknet.

O início é melancólico, dada a condição de bêbado solitário do trabalhador, mas logo a trama se movimenta de maneira animada.

A sequência de fatos se torna confusa, já que as histórias se misturam. Uma delas mostra três estudantes verificando a veracidade de um suposta onda assassinatos que a polícia local não resolveu. O trio invade a escola para filmar sua ação e se prendem no porão, acidentalmente. Outro momento mostra a convivência de algumas famílias em conflito, além do cotidiano de Noel, que se prepara para distribuir presentes no aniversário de Cristo.

Há muitos personagens, a maioria são arquétipos comuns e clichês, pessoas como quaisquer outras, que lembram como o natal pode ser bonito, mas também uma época incômoda e chata, de reencontro com familiares insuportáveis.

Do elenco se destacam Percy Hynes White, conhecido por anos depois fazer The Gifted e Wandinha, Rob Archer de O Homem de Toronto, Shannon Kook de Invocação do Mal, Amy Forsyth de Parque do Inferno e A Novata, Adrian Holmes de Elysium e Julian Richings de Lenda Urbana, Pânico na Floresta e O Gabinete de Curiosidade de Guillermo Del Toro.

Apesar de apresentar histórias bem simples, elas vão aumentando o nível de medo e sustos gradativamente. Um dos fatores em comum entre os segmentos é um tipo de contágio, de origem desconhecida, mas que parece viral.

A condição modifica as pessoas, as faz agir de maneira violenta e sanguinária, tal qual a contaminação zumbi. Isso ocorre com o pequeno Will, interpretado por Orion John, que é filho de uma família suburbana, mas contamina também os elfos/duende do Polo Norte.

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Um dos fatores legais do filme é a mistura entre horror e humor, sejam em gags visuais ou questões textuais, como o aviso nos créditos finais, onde se afirma que nenhum duende foi ferido na produção deste filme.

As brigas têm momentos legais, de gore considerável, além de um bom trabalho de efeitos de maquiagem, do designer David Scott. O que fato irrita um pouco é o CGI, que é mais presente nas tomadas aéreas e nos cenários grandiosos.

Alguns personagens parecem ser trocados por cópias malignas, fato que lembra também a transformação das irmãs Fitzgerald, em Ginger Snaps. Mesmo que essas histórias não sejam do mesmo universo compartilhado, é fato que há muitas coincidências entre elas.

Como as desventuras de horror são curtas, não vale tanto a pena se ater a elas, mas vale dizer que as intersecções entre os contos funcionam, assim como os acenos a lendas locais. De certa forma esse funciona como O Conto do Dia das Bruxas de Michael Dougherty fez com o halloween.

A meia hora final se torna uma grande e bizarra carnificina. Todos os plots encaminham para lutas violentas e divertidas, que contêm duelos com armas brancas e lâminas.

A parte do Papai Noel então é muito legal, já que vira uma chacina de duendes. É nesse terço final que ocorrem os primeiros vislumbres da figura do Krampus. Aqui se escolheu retratar ele branco, alvo como a neve que cai no hemisfério norte em dezembro.

A Christmas Horror Story : A boa e surpreendente antologia de horror canadense

Krampus é um espírito natalino e como tal, pode possuir qualquer pessoa. Ele pode se apossar de pessoas, como aliás faz.

A dúvida que fica é se ele de fato pune as pessoas que foram más durante o ano ou não. O roteiro apenas brinca com a ironia dele aparecer vez por outra, ficando dúbia até a possibilidade dele existir, de ser um devaneio de um personagem especifico ou não.

Passados 91 minutos, finalmente o ocorre a tão esperada batalha entre o espírito vil do natal e o seu guardião. Krampus e Noel tem uma batalha épica, digna dos filmes bons de ação. Eles entram em conflito como verdadeiros gladiadores, com direito a momentos bonitos, como quanto o chifre do monstro é decepado, cai no chão e se desfaz, como se fosse de gelo.

O final tem uma baita virada, que é a ilusão de Norman, um funcionário de shopping, revoltado, no estilo de Michael Douglas e seu William Foster em Dia de Fúria. Fica a dúvida se todos os momentos mostrados foram parte da ilusão de Norman ou se só esse trecho foi um devaneio. O caráter duplo da história acrescenta demais, inegavelmente.

Christmas Horror Story captura bem o que deve ser um filme de horror natalino, além de ser uma boa antologia de terror, sangrenta, louca, desvairada e com grandes reviravoltas. É uma ótima opção para o espectador ávido por um filme natalino com sustos, já que tem uma boa exploração de humor além de construir bem as suas bobagens.

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